segunda-feira, 2 de julho de 2012

Croquis


Escreveu Esopo,
Bom conhecedor dos animais
E dos significados
Das suas acções reais,
De aplicação aos humanos mortais:

«O morcego, a silva e a gaivota»

«Um morcego, uma silva e uma gaivota
Tinham-se associado
Para num negócio se lançarem,
Sem nenhuma artimanha de batota.
O morcego obteve os capitais
Para investir numa sociedade
De qualidade,
A silva fabricou trajes especiais,
A gaivota comprou o cobre para o negócio,
Como terceiro sócio,
Antes de no veleiro embarcarem.
Mas uma tempestade rebentou
Que o navio virou.
Os três sócios até à margem nadaram
Mas toda a carga perderam,
Que se tramaram.
E foi assim que desde então,
Sem nenhuma excepção,
A gaivota mergulha nas profundezas,
À procura do cobre das suas despesas;
O morcego, com receio dos credores
Não aparece de dia mas de noite
Em busca dos comeres;
E a silva, infatigavelmente,
Prende as vestes dos viandantes
À procura das que perdeu para sempre.
A fábula mostra que quando uma questão
Nos toca de perto,
Voltamos sempre ao lugar
Do ponto da confusão
Para procurar
Resolvê-la com acerto.»

Isto disse Esopo,
Mas o que costumamos nós dizer,
Por nos ser mais comum,
É que “o criminoso
Volta sempre ao local do crime”,
Sem receio algum.
Que é como quem diz,
Que os negócios são como um team
Entre os amigos do coração
Que bem podem resultar em trambolhão,
Não para eles mas para o país.
Mas eles todos atingem a margem,
Com muita sabedoria e coragem,
Mesmo que o resto vá para o fundo.
É o nosso mundo.
Não o dos negócios ocasionais
Que metem morcego, silva e gaivota
Sem qualquer artimanha de batota
O que não passa, aliás, de treta.
O nosso mundo de negócios fulcrais
É sempre de vitória com batota,
Para os principais,
Quer tenham ou não frota.
Para outros, a derrota.
A gota.
A bota rota.
A boca torta.
A bolsa oca.
A moca.

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