sábado, 15 de junho de 2013

O "fulgor baço" histórico em síntese


São de  Isaías Afonso as excelentes páginas de síntese crítica da nossa história nacional, publicadas no blog “A Bem da Nação”. Sobre a formação e vicissitudes de um império marítimo que se desmoronou, trazendo, em consequência, a nossa redução pecuniária com, portuguesinhos resistentes, uma ampliação de ambições e corrupções à medida não das nossas reduzidas posses mas de uma alargada e progressiva dimensão na enxurrada da perda de escrúpulos engravatada, em clima de impunidade.

Páginas da nossa história, páginas da nossa desesperança, do nosso medo, da nossa poltronaria contra os actuais líderes dos movimentos de revolta em peso, que se saracoteiam rosnando em pujança, vaidosos dos rebanhos que angariaram para mais depressa liquidarem a nação:

 «A HISTORIA DO DESIGNIO NACIONAL»

«Portugal começou a ter a "noção de império" com o nosso monarca D. João II, quando adoptou a "Doutrina do Mare Clausum", isto é, ninguém podia navegar nos mares descobertos pelos portugueses, sem autorização do rei de Portugal, e a "Politica de Sigilo",em que ninguém podia divulgar os mares onde Portugal navegava nem dar a conhecer a cartografia portuguesa.

O próprio Tratado de Tordesilhas só foi possível alargar o espaço a nosso favor, contrariamente ao que pretendiam os Reis Católicos de Espanha, pelo conhecimento que possuímos das regiões onde as nossas naus sulcavam os mares.

Esta noção ou a "questão colonial" nunca esteve ausente das nossas revoluções e o titulo atribuído a D. Manuel I apenas consolida essa noção, alargando o titulo simples de D. Afonso III, Rei de Portugal e dos Algarves, até ao de Senhor do Comércio e da Navegação, da Guiné, da Arábia, da Pérsia e da Índia.

Vejamos as nossas revoluções principais e acontecimentos históricos sempre ligados ao problema colonial.
 

Comecemos por 1640 que levou à expulsão de Filipe III de Portugal e IV de Espanha. A governação filipina tinha abandonado a defesa das nossas colónias e uma parte do Brasil, de Angola e de S. Tomé já se encontravam na posse dos holandeses. Assim, fez-se a revolução não só para expulsar o Filipe, mas também para recuperar esses territórios. Os próprios " colonos brasileiros" libertam o Brasil e pagam as despesas da armada de Salvador Correia de Sá e Benevides que vai libertar Angola. Os holandeses abandonam S. Tomé, quando têm conhecimento da queda de Angola. Voltava, deste modo, à posse portuguesa o "Triângulo da Escravatura".

Vejamos a Revolução de 1820 dirigida pelo Juiz Desembargador do Tribunal da Relação do Porto, Manuel Fernandes Tomás, com o apoio da Loja Maçónica Sinédrio. A intenção da revolução não era apenas expulsar o inglês William Beresford, substituir a Monarquia Absoluta pela Monarquia Constitucional, mas havia igualmente subjacente uma "questão colonial".Estamos convencidos que já em 1817,com a tentativa do General Gomes Freire de Andrade, enforcado nos Campos Mártires da Pátria, havia as mesmas intenções. A Família Real abandonara Portugal, quando das Invasões Napoleónicas, a caminho do Brasil. A longa permanência neste território levou à elevação do Brasil à categoria de Reino. As transacções comerciais já se faziam directamente com a Europa sem passar por Portugal, o que prejudicou claramente os interesses burgueses do nosso país. A Família Real foi obrigada a regressar a Portugal e o Brasil voltou a ser colónia, sendo restabelecido o anterior circuito comercial. É verdade que foi de curta duração, pois o Grito do Ipiranga levou à Independência do Brasil em 1822 e ao seu reconhecimento em 1825.

Analisemos a implantação da República em 5 de Outubro de 1910.Ela resultou das dificuldades de governação da Monarquia Constitucional, mas igualmente derivou dum "problema colonial", relacionado com o Ultimatum Inglês de 1890 ou com a "Questão do Mapa Cor de Rosa". O território entre Angola e Moçambique era pertença de Portugal, onde tínhamos uma pequena presença militar. O território era conhecido pelo Chire, nome do rio, e que dava acesso ao Chinde. A Inglaterra pretendeu construir uma linha de caminho de ferro, desde o Cabo até ao Cairo, a qual atravessaria a região citada. Deu 48 horas ao nosso Rei D. Carlos para abandonarmos aquela região, pois ser-nos-ia declarada guerra, se o não fizéssemos. O monarca cedeu, mandando retirar a força militar. Os partidários da República aproveitaram a fraqueza do monarca e armaram a mão do Buiça, que assassinou o Rei e o filho mais velho Luis Filipe, ferindo também D. Manuel, no Terreiro do Paço, quando o monarca regressava duma caçada em Vila Viçosa. O novo Rei não resistiu à Revolta de 5 de Outubro de 1910,onde a Loja Maçónica Carbonária teve real influência.

Aproveitemos também o caso da Primeira Guerra Mundial relacionada com as colónias portuguesas. A Primeira República, durante o conflito, sempre defendeu os nossos territórios de África duma possível investida alemã. Por esse motivo, Afonso Costa foi à Conferência de Versailles, depois do final da guerra, exigir o pagamento de indemnizações de guerra à Alemanha, citando a nossa presença em La Lys e a defesa das colónias portuguesas. Na primeira República apenas um deputado fez uma proposta da venda de Angola, que foi rejeitada.

 Passemos à Segunda Guerra Mundial. Salazar adoptou a "neutralidade colaborante" no conflito, que os portugueses aplaudiram e agradeceram. Procurou, desta forma, em caso de vitória ou dos Aliados ou do Eixo poder preservar o "império colonial". Vislumbrando a vitória aliada, cedo influenciou favoravelmente os Aliados para a questão da preservação do império e a concessão da base dos Açores aos americanos insere-se na ideia da defesa e da preservação do império português.

As promessas dos aliados aos povos que ajudaram no conflito foram as independências das colónias. Chamaram a esse facto os "Ventos da História". O termo "colonização", de forte conotação cultural e civilizacional, foi substituído por "colonialismo", com implicações "imperialistas" de domínio e exploração. A colonização é posta em causa precisamente pelos países, de grande potência militar, nomeadamente a ex-URSS, os USA, a China e vários países europeus. Duma forma geral, todos possuíam colónias, a que chamavam zonas de influência estratégica. Sobressaíam a URSS com os países satélites sob o seu domínio e os USA também com "la main mise" sobre países tutelados politica e economicamente.

Fazem-se descolonizações apressadas, a chamada segunda vaga de descolonizações, depois de alguns conflitos com os descolonizados e a normalidade nunca mais voltou aos novos independentes, onde predominaram ditaduras cada vez mais sanguinárias.

Portugal recusou a independência das suas colónias ou das suas Províncias Ultramarinas ou Estados, dentro do princípio do seu "DESIGNIO NACIONAL" que já vinha desde D. João II.

O Estado da Índia é invadido pelas tropas do Pandit Nehru e Goa, Damão, Diu, Dadrá e Nagar Aveli são ocupados pela força, apesar da heroicidade dum Aniceto do Rosário ou de termos ganho a questão da Índia no Tribunal da Haia. O direito da força sobrepôs-se à força do direito.

 Em 4 de Fevereiro de 1961 e 15 de Março do mesmo ano, Angola sofre o ataque à esquadra da policia da Estrada de Catete por elementos afectos ao MPLA e ao ataque terrorista da UPA, mais tarde FNLA, no norte de Angola, onde foram chacinados barbaramente cerca de cinco mil portugueses, desde brancos, mulatos e negros, o que levou ao primeiro êxodo de Angola para Portugal. Seguiu-se depois Moçambique e Guiné-Bissau. Tudo isto aliado à "pirataria" do navio Santa Maria, com Henrique Galvão.

 Salazar, dentro do princípio do "DESIGNIO NACIONAL" recusou ceder às pretensões do General Botelho Moniz, em 1961, para o demitir e entrar em negociações com os terroristas. Dá-se o ataque ao Quartel de Beja por elementos da oposição em nome da luta contra o fascismo. Juguladas as intentonas, Salazar assume o "rapidamente e em força para Angola".

 Começa a Guerra Colonial ou do Ultramar. Em Abril de 74 a revolução é anti-colonial e a guerra de 13 anos termina. Adopta-se um processo de descolonização que configura traição à Pátria e aos povos descolonizados. Os seus autores chamaram-lhe "descolonização exemplar". Como não tivesse sido passaram a denominá-la como "descolonização possível" para finalmente ter sido uma "tragédia" como a definiu Melo Antunes, quase à hora da morte.
 
O processo de descolonização cingiu-se a passar o poder de Portugal para movimentos comunistas, como o PAIGC, o MDLSTP, o MPLA, a FRELIMO e a FRETILIN, desprezando-se outros movimentos como a UNITA e FNLA, a RENAMO ou a UDT e APODETI.A guerra continuou em Angola, em Moçambique e em Timor e na  

Amputar o espaço geográfico e económico num ano criou a indigência de Portugal e situações ditatoriais nos descolonizados.

 Terminou, da pior maneira, o DESIGNIO NACIONAL" e a guerra de 13 anos não estava de molde a fazer-se o entreguismo miserável que se praticou. Havia dificuldades ainda na Guiné, porque perdêramos o controlo do ar, mas em Angola a guerra estava ganha e Moçambique para lá se caminhava.

 O DESIGNIO NACIONAL hoje é a UE. Enquanto foi fornecedora de dinheiro a UE foi o tesouro de Ali Babá. Hoje apenas restam os ladrões e os portugueses que aplaudiram o fim da Guerra do Ultramar atiram-se ferozmente a quem nos quer impor uma disciplina orçamental para evitar que continuemos a ser apenas dissipadores.

Mas quem é que quer fazer sacrifícios nos tempos que decorrem, quando habituaram os portugueses à riqueza virtual???

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