quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Está no hino



No hino francês também. A nossa predisposição para gritar às armas. Mas o hino espanhol não tem esse apelo. É mais ao trabalho e à paz, específico de uma continuidade forjadora de  cidadãos, dedicados fortemente ao seu país, oxalá assim seja, nos tempos que decorrem, os partidos a não se entenderem, o que parece que não causa transtorno, eles lá vão de braços alçados a prosseguir no triunfo de uma grande pátria que supo seguir sobre el azul del mar el caminar del sol.

Viva España!
Viva España!
Alzad los brazos hijos del pueblo español
Que vuelve a resurgir
Gloria a la patria que supo seguir
Sobre el azul del mar el caminar del sol (bis)
¡Triunfa España!
Los yunques y las ruedas cantan al compás
Del himno de la fe (bis)
Juntos con ellos cantemos de pie
La vida nueva y fuerte del trabajo y paz (bis)
¡Viva España!
Alzad los brazos hijos del pueblo español
Que vuelve a resurgir(bis)
Gloria a la patria que supo seguir
Sobre el azul del mar el caminar del sol (bis)

Como muito bem informa António Barreto, o nosso caminho é outro. Tudo numa abstracção perdida nas brumas da memória, numa gritaria de apelo insensato, não de auto-estímulo esforçado para o trabalho e a responsabilidade. O artigo de António Barreto é muito justo muito apropriado, muito inútil. Aqui fica, mesmo depois de não se terem verificado tais desastres, por enquanto, suspensos. Até ver:

Às armas!
António Barreto
DN, 17/7/16    «SEM EMENDA)
Aqui estamos, mais uma vez, a bramar "às armas!". Como sempre. Como noutros séculos. Quando os portugueses, alguns portugueses, não encontram desculpas para as suas asneiras, recorrem ao patriotismo. Quando os governantes não sabem resolver os problemas que herdaram ou criaram, entoam hinos. Quando os dirigentes querem escapar, atribuem as responsabilidades ao inimigo externo. Mas sobretudo quando não têm meios nem razão, logo apontam o dedo a um perigo estrangeiro. Já foi a Espanha dos Filipes, já foi a Inglaterra dos piratas e já foi a França do terror e de Napoleão. Também já foram os americanos. E os comunistas, russos de preferência. Já foi o petróleo e os dólares. Agora, são os europeus. Os de Bruxelas, em geral. Os da Alemanha, em particular. Os da direita, da banca e das finanças, mas estrangeiros. São eles os responsáveis pelas nossas dívidas, os causadores das nossas perdas, os obreiros da nossa crise e os culpados das nossas dificuldades!
Em vez de procurar valorizar o que temos, de aproveitar o que sabemos e de organizar a economia; em vez de investir, de diminuir o desperdício e de fazer obra útil; em vez de apenas gastar o que temos, de atrair investimento externo e de trabalhar e poupar; em vez de estudar, de nos governarmos com mais sabedoria e de fazer com que o Estado respeite os cidadãos, em vez disso, procuram as autoridades comover os sentimentos, confundir os espíritos e mobilizar contra alguém, o inimigo, o adversário, a ficção dos que querem mandar em nós, a invenção dos que não respeitam os portugueses e a fantasia dos que não honram uma nação com oito séculos de história!
António Costa, o seu governo e os partidos que o apoiam estão envolvidos num processo perigoso que vai acabar mal. Desencadearam uma guerra contra a União. Atiraram-se à Europa. Batem o pé, como gostam de dizer. Levantam a voz ou falam com voz grossa, como prometem em comícios vulgares. Não aceitam a chantagem europeia, declaram em tom marialva. Não estão cá para obedecer à Europa! Garantem que em Portugal são os portugueses que mandam e não aceitam lições de ninguém!
O governo recusa mostrar à Comissão um rascunho de orçamento que, aliás, ninguém lhe pediu! Insiste em gastar e distribuir. Não corta na despesa. Contraria a Espanha e o Reino Unido. Critica a Alemanha. Procura aliados na extrema-esquerda, coisa pouca. O governo não tem meios, nem força interna, nem aliados externos que lhe permitam esta espécie de baroud d"honneur, o último combate de uma guerra perdida! De luta simbólica para dar o exemplo. De sacrifício que faça um mártir e nos transforme em heróis! Portugal não tem riqueza, nem recursos, nem capacidade para, sozinho, contrariar as regras da economia europeia e mundial, obter os créditos de que necessita, conseguir os investimentos de que carece. Não se deve cantar mais alto do que a sua garganta. Nem dar passos maiores do que os seus pés. Muito menos cantar de galo, quando não se tem voz nem poleiro. António Costa e o governo estão a preparar-se para desencadear uma luta para a qual não têm meios nem força. E nem sequer razão.
É claro que a União Europeia está em apuros e não sabe qual é o seu destino. Há anos que se espera pela crise em que vivemos hoje. A União Europeia está à beira de morrer na praia, como diz o lugar-comum. Foi longe de mais e não foi suficientemente longe. Não é equitativa, distingue entre grandes e pequenos. Não é justa, só castiga os fracos. Não é igualitária, segue as directivas alemãs. Longe de mais para dar paz e democracia. De menos para a segurança e a disciplina.

Mas nada justifica que o governo português invente uma guerra contra a União. Será sempre uma guerra contra si próprio.

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