sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

“Cantando e rindo”: Tem tudo a ver



Respigo, ao acaso da internet, a propósito do artigo de Guilherme Valente - Educação, a prova e a contraprova - títulos de propostas educativas actuais, (comprovativas de que o ensino enferma de muitas maleitas), além de uma apresentação já antiga sobre o mesmo autor, em texto sobre um seu livro - Os Anos Devastadores Do Eduquês - que me lembra Nuno Crato, cujos livros trouxeram em tempos uma lufada de ar fresco aos conceitos de inércia educativa, substituída por sobrecarga burocrática no papel dos professores, para além do descontrolo disciplinar de um laxismo absurdo, impeditivo de seriedade ou responsabilidade educativas.
De modo que repito a frase que encima o texto de Guilherme Valente - «Os promotores da "escola" do vazio e da demissão educativa vivem num mundo da ideologia cega, de ódio ao conhecimento, à ciência, à cultura e à razão- ciente de que,  numa tal sociedade marcada em grande parte pelo desrespeito e a futilidade, dificilmente a recuperação será possível, cada vez mais rareando os seres com qualidade para pôr travão ao tal ódio político orientador da nova sociedade.
Também de João Miguel Tavares, cujos textos o Público cibernético já não faculta, repito a frase com que inicia o seu artigo do mesmo dia que o de Guilherme Valente (21/2): «2,1% de défice? Que governo espectacular!» «A bolha da inconsciência está outra vez em alta, para grande estupefacção daqueles que, como eu, vêem tudo novamente a repetir-se, perante a felicidade geral.». Frase comprovativa da opinião sobre um Governo de mentira e um povo cada vez mais inconsciente, e não resisto a continuar a copiar o que se lhe segue, sobre um “prometido oásis”, talvez predecessor de um novo dilúvio - desta vez com glaciares rebentando com as estruturas continentais:
«Sim, o governo teve o mérito de se mostrar empenhado na redução do défice, e de confiar tão pouco na sua receita para o crescimento que a conjugação da travagem a fundo no investimento e do perdão fiscal acabou por produzir um défice que foi muito para além da troika. Nada que perturbe a esquerda, rendida que está às maravilhas da realpolitik e de uma frase tonta de Passos Coelho que tem sido a sua tábua de salvação - cada dia sem o diabo é um dia no céu. Mas o céu não mora aqui. O crescimento diminuiu. A dívida aumentou (muito). Estamos totalmente dependentes do programa de compra de dívida do BCE. O rating do país é lixo. O aumento da confiança dos consumidores está a desequilibrar a confiança externa. Voltámos a endividar-nos para consumir. As imparidades dos bancos são astronómicas. E os juros da dívida a dez anos aproximam-se dos níveis de 2010. No entanto, o povo por aí anda, cantando e rindo, acompanhado de um coro de leitores, colunistas e políticos que acham que Portugal é um oásis. Não há nada a fazer. A bolha da inconsciência é sempre a última a rebentar.»

Assim, pois, cada vez mais a esperança vai fugindo, neste país alegre, de comezaina e espectáculo, a Educação cada vez mais arredia, a inconsciência cada vez mais incrustada nas almas, um governo de mentirinha, “abyssus abyssum”.

Educação, a prova e a contraprova
Os promotores da "escola" do vazio e da demissão educativa vivem num mundo da ideologia cega, de ódio ao conhecimento, à ciência, à cultura e à razão.
Guilherme valente
Público, 21/2/17
Os quatro anos de governo Nuno Crato/Passos Coelho foram marcantes na Educação, nacional e também internacionalmente. E voltarão a sê-lo daqui a quatro anos, quando os testes do TIIMS voltarem a realizar-se.
Foram importantes nacionalmente porque os bons resultados dessa experiência se manifestaram logo (como eu previra),apesar de restrita e tão breve: os dos alunos portugueses ultrapassaram mesmo os dos alunos de países com uma história de excelência educativa, como a Finlândia.
Foram Importantes internacionalmente, porque vieram provar como mesmo nos países de grande pressão educativa da sociedade e empenho das famílias na vida escolar dos filhos, os resultados pioram rapidamente quando diminui a exigência e se reduz a avaliação, como aconteceu na Finlândia. Contrariando a ideia pouco atenta à realidade societal dos nossos dias, marcada pela generalizada demissão dos pais na educação dos filhos, mesmo daqueles pais que estariam em condições de a realizar, ideia de que com o aumento da escolarização dos pais a educação dos filhos melhorará inevitavelmente seja qual for a escola que tenham, é caso para se inverter o provérbio, passando a dizer-se que o objectivo e a esperança são hoje o contrário, "Escola de filhos, casa de pais".
Essa breve experiência conduzida por Nuno Crato irá ser importante de novo também internacionalmente, quando, daqui a quatro anos, com o próximo TIIMS, se verificar que os resultados dos alunos portugueses voltaram a baixar, como consequência do regresso, em curso, da "escola" do vazio educativo deliberado, permissiva, facilitadora e idiotizadora. Com o fim, agora perpetrado, do exame vital do quarto ano de escolaridade, sobretudo, mais de 30% das crianças voltarão, assim, a terminar o Básico sem terem aprendido... o básico: ler, escrever e contar.
Refiro duas confirmações destas evidências. Também a confirmada persistência dos maus resultados dos alunos franceses reflecte o domínio continuado naquele país das mesmas teorias e práticas assassinas da escola, que os nossos "especialistas" da educação importaram para Portugal.
A escola portuguesa de Macau tem uma longuíssima tradição de exigência e excelência. Ora, segundo me vão referindo vários dos seus professores, tem-se verificado uma significativa dificuldade de integração nela de muitos dos alunos portugueses chegam com os pais ao território. Nalguns casos essa dificuldade tem-se revelado mesmo dificilmente ultrapassável.
Quando, há cerca de 20 anos, um jovem se candidatou a fazer os dois últimos anos do Secundário num colégio inglês muito reputado, foi-lhe respondido que teria de se inscrever no 9º ano, pois conheciam as deficiências do ensino em Portugal.
Percebe-se, pois, a repercussão internacional, particularmente na Inglaterra, como o Financial Times reflectiu o sucesso da experiência breve do ministério de Nuno Crato. Esperemos agora por aquilo que, dentro de quatro anos, não tenho dúvida, será uma contraprova.
Embora para os promotores da "escola" do vazio e da demissão educativa (veja-se a indiferença ou a satisfação com que aceitaram o monstruoso AO) não haja prova de realidade que os convença. Vivem num mundo da ideologia cega, de ódio ao conhecimento, à ciência, à cultura e à razão. Um mundo onde não existem factos nem verdade para ser procurada. A sua "realidade", essa, é, de facto, uma construção ideológica e social. 


2º Texto
Data de publicação: 27/10/2012
Fonte: Expresso /Actual
Jornalista: Virgílio Azevedo
Os Anos Devastadores Do Eduquês
Radical, combativo, polémico, emocional. O livro de Guilherme Valente, editor da Gradiva, pretende ser o testemunho de um combate intelectual, político e cívico contra as concepções educativas "que dominaram totalitariamente a educação depois do 25 de abril de 1974", baptizadas de "eduquês". Concepções que promoveram "a facilidade, a ignorância, a negligência, a irresponsabilidade e a permissividade, encorajando mesmo a manifestação da violência". Que levaram ao apagamento do papel do professor e ao "insidioso encorajamento ao seu desrespeito pelos alunos", a uma escola que nivelou por baixo e "prejudicou sem apelo os mais desfavorecidos". Guilherme Valente acusa o "eduquês" de não querer exames, "nem metas verdadeiras, claras e adequadas, nem programas rigorosos e realistas, nem exigência, nem trabalho, nem desafios". Os resultados dão-lhe razão: uma grande taxa de abandono escolar, estudantes que chegam ao 9° ano com dificuldades em ler ou em fazer operações matemáticas básicas, a mais baixa percentagem europeia de alunos a entrar na universidade e a terminar o ensino superior, etc. Uma parte do livro reúne artigos de opinião publicados pelo autor na imprensa desde 2001, onde defende uma escola nova, "com um ensino centrado no conhecimento, nos saberes que contam, nas grandes manifestações culturais, nos valores éticos e morais universais". Condições para a formação e o exercício do pensamento crítico, da educação para a autonomia pessoal, da responsabilidade cívica, da nobreza de carácter. Neste combate, Valente teve sempre do seu lado Nuno Crato, e afirma ter a certeza de que "o atual ministro da Educação e Ciência se empenhará na construção da escola que Portugal precisa". Apesar das grandes restrições orçamentais provocadas pela crise. 

3º:
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