O meu marido chamou-me, excitado: - Vê
o Alberto Gonçalves no OBSERVADOR! Pulei de gosto, num saltito breve, por
via das articulações. Entretanto, de passagem pela Internet, topei com o
comentário do João Távora sobre a substituição, pelo Notícias, de
Alberto Gonçalves por Maria de Lurdes Rodrigues.
Fiquei feliz. O meu Obrigada a
OBSERVADOR por ter dado emprego a Alberto Gonçalves, cuja auto-apresentação segue no fim:
por João Távora, em 04.01.17
A confirmação veio através de um
post do próprio Alberto Gonçalves no Facebook: “só para evitar confusões: saí do DN por vontade da direcção”. Custa-me
a acreditar que um jornal como o Diário de Notícias, que luta pela
sobrevivência no exíguo espaço que sobeja para a imprensa dita “tradicional”,
dispense um dos mais talentosos e populares cronistas da nossa praça. Como é
que um jornal, qualquer que ele seja, que pretenda sobreviver nestes tempos em
que perdem influência, dá assim um tiro no pé? Em compensação agora oferece-nos
essa consagrada virtuosa da escrita que é Maria de Lurdes Rodrigues... A
sensação que fica é que os editores não se dão bem com a pluralidade e com a
irreverência, preferindo uma pena amestrada e complacente para com a oligarquia
que nos pastoreia.
Há uns meses elogiei aqui esforço do
DN pela inclusão deste colunista que lhe conferia uma qualidade extra ao
Domingo, dia em que muita gente não dispensava a leitura dos textos ácidos e
bem-humorados do Alberto Gonçalves. Suspeito que o DN não resista muito tempo a
tantos maus tratos. Temo pelo futuro desta velha marca centenária do jornalismo
português. Mas pensando bem talvez não seja grave: sobram sempre os blogs e as
redes sociais.
Sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017
Bom dia.
O
meu nome é Alberto Gonçalves e tenho um sonho. Sonho escrever crónicas que
possam ser apreciadas pelos cidadãos que acham a menina Mortágua e o dr. Louçã
economistas de gabarito.
Sonho
escrever crónicas que louvem a habilidade diplomática e o génio retórico do dr.
Costa.
Sonho
escrever crónicas que saltitem de júbilo pelo facto de partidos estalinistas
ajudarem ao governo do país.
Sonho
escrever crónicas que se orgulhem da influência do eng. Guterres nos destinos
da Terra.
Sonho
escrever crónicas que resgatem o enorme contributo do eng. Sócrates para o
progresso pátrio.
Sonho
escrever crónicas que apelem a consensos em volta dos poderes oficiais e
oficiosos que só querem o nosso bem.
Sonho
escrever crónicas que tomem partido pelas “causas” justas, daquelas que têm
vítimas fixas e culpados fatais.
Sonho
escrever crónicas tão despidas de interesses – mas não de interesse – quanto os
isentos comentários televisivos dos “senadores” do PSD.
Sonho
escrever crónicas que usem as palavras “descrispação” e “proactividade”.
Sonho
escrever crónicas que repitam cada cliché disponível acerca do perigo que o sr.
Trump representa.
Sonho
escrever crónicas que se derretam de admiração pelas “selfies”, pelos “afectos”
e pelos obituários, salvo seja, do prof. Marcelo.
Sonho
escrever crónicas que denunciem as patifarias dos banqueiros, excepto dos que
são perseguidos por Pedro Passos Coelho.
Sonho
escrever crónicas que sublinhem o pacifismo do islão e o belicismo israelita e
a culpa ocidental.
Sonho
escrever crónicas que me candidatem a uma assessoria de imprensa ou a outro
posto assim digno.
Sonho
escrever crónicas que agradem às inúmeras personalidades de relevo que
transformaram Portugal naquilo que é.
Mas
não consigo: falta-me a espécie de talento que apenas raras dezenas (ou no
máximo centenas) dos meus colegas de ofício possuem. Com boa vontade, o que sou
capaz de fazer é o tipo de coisas que indivíduos desprovidos de patriotismo,
consciência social e sentido de Estado poderão apreciar, aqui no Observador, a
partir deste sábado. Os restantes não digam que não avisei.
Texto: Alberto Gonçalves, 3-2-2017
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