sábado, 25 de fevereiro de 2017

Tragicomédia sempre


E a atmosfera de apreensão vai-se acentuando nestes que ainda estrebucham, avisando. Um dia serão riscados, e mais depressa atingiremos o buraco negro que vamos prevendo, inconscientes e preguiçosos, amodorrados sob o dossel finório dos discursos ocos a coberto das perfídias manobradoras, de que não nos importa notar a dimensão. A verdade é que o timoneiro actual continua impante ao leme da sua nau desconjuntada, amparado pelo chefe supremo e pela maioria bestificada.
Não ponho mais achas na fogueira. Alberto Gonçalves é mais preciso, no deslindar da descida e dos que se afanam em torno dela.
O eterno carnaval, a crónica de Alberto Gonçalves no Observador.
25/2/17
(…) E nesta dimensão cabe o que calha, de um PM literalmente indescritível a um PR viciado em palminhas, passando por um parlamento sequestrado por gangues e presidido pelo molde de onde saem os laparotos. Pode-se descer mais? Pode, se adicionarmos ao caldo a maioria dos “media”, hoje empenhada em ignorar os factos que prejudicam a “corte” e em difundir os delírios que lhe amparam o descaramento. Entre parêntesis, aproveito para avisar os editorialistas que começaram por se atirar prestimosos aos “offshores”: aparentemente, a história é para esquecer.
Contas feitas, fica a impressão esquisita de que se chegou a um ponto sem retorno, de que já se está por tudo, e de que nada incluindo recorrer a truques infantis para ocultar a pândega da “Caixa”, enviar o evangélico Louçã para o Banco de Portugal, depositar em juiz amigo o futuro do eng. Sócrates ou prometer 700 euros mensais a “jovens” (até aos 30 anos, que a juventude é um estado de espírito) que não estudam e não trabalhamé demasiado grotesco. Enquanto isso, sempre que não se encontra na televisão a louvar os respectivos donos, o país oficioso dedica-se a declarar intoleráveis o sr. Trump e o livro de Cavaco Silva.
Nem todos os regimes caem mediante revoluções abruptas. Às vezes terminam assim, com o sumiço gradual e festivo do que restava da legitimidade e da razão. Um dia acorda-se e a democracia que bem ou mal reconhecíamos foi-se, para surpresa de muitos e deleite de alguns. A merecida desilusão dos primeiros não nos compensará pela impunidade dos segundos. Entretanto é Carnaval, mas ninguém nota a diferença. (…)


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