E a atmosfera de apreensão vai-se acentuando nestes que
ainda estrebucham, avisando. Um dia serão riscados, e mais depressa atingiremos
o buraco negro que vamos prevendo, inconscientes e preguiçosos, amodorrados sob
o dossel finório dos discursos ocos a coberto das perfídias manobradoras, de
que não nos importa notar a dimensão. A verdade é que o timoneiro actual continua
impante ao leme da sua nau desconjuntada, amparado pelo chefe supremo e pela
maioria bestificada.
Não ponho mais achas na fogueira. Alberto Gonçalves é mais
preciso, no deslindar da descida e dos que se afanam em torno dela.
25/2/17
(…)
E nesta dimensão cabe o que calha, de um PM literalmente indescritível a um
PR viciado em palminhas, passando por um parlamento sequestrado por gangues e
presidido pelo molde de onde saem os laparotos. Pode-se descer mais?
Pode, se adicionarmos ao caldo a maioria dos “media”, hoje empenhada em
ignorar os factos que prejudicam a “corte” e em difundir os delírios que lhe
amparam o descaramento. Entre parêntesis, aproveito para avisar os
editorialistas que começaram por se atirar prestimosos aos “offshores”: aparentemente,
a história é para esquecer.
Contas
feitas, fica a impressão esquisita de que se chegou a um ponto sem
retorno, de que já se está por tudo, e de que nada
– incluindo recorrer a truques infantis para ocultar a pândega da
“Caixa”, enviar o evangélico Louçã para o Banco de Portugal, depositar em juiz
amigo o futuro do eng. Sócrates ou prometer 700 euros mensais a “jovens” (até
aos 30 anos, que a juventude é um estado de espírito) que não estudam e não
trabalham – é demasiado grotesco. Enquanto isso, sempre
que não se encontra na televisão a louvar os respectivos donos, o país
oficioso dedica-se a declarar intoleráveis o sr. Trump e o livro de Cavaco
Silva.
Nem
todos os regimes caem mediante revoluções abruptas. Às vezes terminam assim,
com o sumiço gradual e festivo do que restava da legitimidade e da razão. Um
dia acorda-se e a democracia que bem ou mal reconhecíamos foi-se, para surpresa
de muitos e deleite de alguns. A merecida desilusão dos primeiros não nos
compensará pela impunidade dos segundos. Entretanto é Carnaval, mas ninguém
nota a diferença. (…)
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