terça-feira, 25 de abril de 2017

Vanitas Vanitatum…



Um Diário encolhido em extensão, Vasco Pulido Valente nos oferece agora, limitando-se a lançar algumas chispas do seu muito saber, favorecido pelo seu muito engenho certeiro no desmascarar das torpezas que vão abrilhantando as relações cínicas entre os povos. Uma lógica bastante esclarecedora, e temos pena que não chegue aos olhos de Donald Trump e seus congéneres, presentes e passados. É certo que Trump, vaidoso que é, não gostaria de ser equiparado a nenhum mais, superior a todos, e em vias de produzir, talvez, qualquer coisa de muito estrondoso, se o da Coreia do Norte não parar de fazer ameaças à distância, dois galos emproados indiferentes ao resto dos mortais, um vaidoso do seu “condomínio fechado”, onde uma extraordinária coesão e harmonía, medidas ao milímetro, transforma uma parada militar em espectáculo surreal de robots humanos comandados electronicamente, o outro, orgulhoso do seu poderio, num país desde sempre dominando nos vários campos produtivos, e neste momento - quem sabe? - julgando-se dono do mundo e fazendo ameaças.
 Entretanto, o seu antecessor Obama, vai preparando os jovens, estimulando-os na ambição de futuros próximos mentores da humanidade, criando mais robots articulados, sem outros valores que não sejam esses de governar um dia, cada vez mais cedo…
E porque não? Restarão sempre os poetas, a lembrar valores, ou a qualificar acções. Leiamos António Nobre, para descontrair, enquanto pudermos:

Vaidade, Tudo Vaidade!
Vaidade, meu amor, tudo vaidade!
Ouve: quando eu, um dia, for alguém,
Tuas amigas ter-te-ão amizade,
(Se isso é amizade) mais do que hoje, têm.

Vaidade é o luxo, a glória, a caridade,
Tudo vaidade! E, se pensares bem,
Verás, perdoa-me esta crueldade,
Que é uma vaidade o amor de tua mãe...

Vaidade! Um dia, foi-se-me a Fortuna
E eu vi-me só no mar com minha escuna,
E ninguém me valeu na tempestade!

Hoje, já voltam com seu ar composto,
Mas eu, vê lá! eu volto-lhes o rosto...
E isto em mim não será uma vaidade?


António Nobre, in 'Só'


O Diário de Vasco Pulido Valente
O Ocidente e o mundo muçulmano
OBSERVADOR, 23/4/2017
…hopes expire of a low dishonest decade… (A. H. Auden)

Dar um pontapé num formigueiro é uma estratégia? Em princípio, parece que não é. Mas que tem feito o Ocidente, senão isso? E, quando falo do Ocidente, falo da Inglaterra, da França e da América. Desde a primeira invasão do Iraque à chamada “Primavera Árabe” as velhas potências coloniais e a nova potência “global” não perdem uma oportunidade para influenciar, ou mesmo dirigir, o mundo islâmico. Ora esse mundo islâmico, de fora tão simples, está em guerra consigo próprio, para defender ou fortalecer as suas posições em África e no Médio Oriente e por razões religiosas que, às vezes, não se distinguem muito de razões políticas e militares. E por isso o Ocidente não sabe ao certo quem são as suas vítimas e menos quem a prazo vai beneficiar ou prejudicar. Não admira que quase todos os grupos de muçulmanos odeiem imparcialmente a Europa e a América e uma civilização inconciliável com a deles. Nós podemos ver alguma diferença entre Nova York e Paris, ou entre Paris, Dortmund e Estocolmo. Eles não vêem nenhuma; vêem só a rejeição das regras e preceitos estabelecidos pelo Corão e das tradições de catorze séculos. Quando Trump ataca a Síria com 59 mísseis Tomahawk ou os jihadistas do Afeganistão com a MOAB não inaugura um novo método para reagir às perturbações do Islão. Embora com mais brutalidade, segue o exemplo de dúzias de “estadistas” da Europa e da América.
A Direita segundo Cristas
A dra. Assunção Cristas declarou a semana passada ao Expresso que não queria, e não faria, uma aliança eleitoral com o PSD em 2019. Acha ela que não vale a pena contar com as vantagens que o sistema de Hondt dá às coligações; e que o CDS e o PSD crescendo separados terão mais votos do que juntos. De resto, a dra. Cristas já se candidatou à Câmara de Lisboa, sozinha contra mundum. O pior é se ninguém dá pela sua fascinante personalidade e pela sua notória competência para dirigir uma Câmara. Ou se, em geral, o CDS descer nas autárquicas. Ou até, por absurdo, considerando a sua vacuidade ideológica e doutrinal e principalmente a sua fraqueza, o CDS desaparecer em fumo à medida que as eleições se aproximarem. Sendo chefe de uma pequena patrulha (com novos dirigentes que Portas recrutou), a dra. Cristas devia perceber que, em última análise, a sobrevivência do seu partido depende da unidade da direita, porque só ela lhe dará força para um papel importante na política portuguesa. A afirmação da duvidosa personalidade do partido talvez lhe traga alguma popularidade interna. Nada mais. Cá fora, a esmagadora maioria dos portugueses não se interessa pelo que sucede ou deixa de suceder no Largo do Caldas. E ainda por cima Cristas não é e nunca será o dr. Paulo Portas.

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