Um Diário encolhido em extensão, Vasco
Pulido Valente nos oferece agora, limitando-se a lançar algumas chispas
do seu muito saber, favorecido pelo seu muito engenho certeiro no desmascarar das
torpezas que vão abrilhantando as relações cínicas entre os povos. Uma lógica bastante
esclarecedora, e temos pena que não chegue aos olhos de Donald Trump e seus
congéneres, presentes e passados. É certo que Trump, vaidoso que é, não
gostaria de ser equiparado a nenhum mais, superior a todos, e em vias de
produzir, talvez, qualquer coisa de muito estrondoso, se o da Coreia do Norte não
parar de fazer ameaças à distância, dois galos emproados indiferentes ao resto
dos mortais, um vaidoso do seu “condomínio fechado”, onde uma
extraordinária coesão e harmonía, medidas ao milímetro, transforma uma parada
militar em espectáculo surreal de robots humanos comandados electronicamente, o
outro, orgulhoso do seu poderio, num país desde sempre dominando nos vários
campos produtivos, e neste momento - quem sabe? - julgando-se dono do mundo e
fazendo ameaças.
Entretanto, o
seu antecessor Obama, vai preparando os jovens, estimulando-os na ambição de
futuros próximos mentores da humanidade, criando mais robots articulados, sem
outros valores que não sejam esses de governar um dia, cada vez mais cedo…
E porque não? Restarão sempre os poetas, a lembrar valores,
ou a qualificar acções. Leiamos António Nobre, para descontrair, enquanto
pudermos:
Vaidade, Tudo Vaidade!
Vaidade, meu amor,
tudo vaidade!
Ouve: quando eu, um dia, for alguém,
Tuas amigas ter-te-ão amizade,
(Se isso é amizade) mais do que hoje, têm.
Vaidade é o luxo, a glória, a caridade,
Tudo vaidade! E, se pensares bem,
Verás, perdoa-me esta crueldade,
Que é uma vaidade o amor de tua mãe...
Vaidade! Um dia, foi-se-me a Fortuna
E eu vi-me só no mar com minha escuna,
E ninguém me valeu na tempestade!
Hoje, já voltam com seu ar composto,
Mas eu, vê lá! eu volto-lhes o rosto...
E isto em mim não será uma vaidade?
António Nobre, in 'Só'
Ouve: quando eu, um dia, for alguém,
Tuas amigas ter-te-ão amizade,
(Se isso é amizade) mais do que hoje, têm.
Vaidade é o luxo, a glória, a caridade,
Tudo vaidade! E, se pensares bem,
Verás, perdoa-me esta crueldade,
Que é uma vaidade o amor de tua mãe...
Vaidade! Um dia, foi-se-me a Fortuna
E eu vi-me só no mar com minha escuna,
E ninguém me valeu na tempestade!
Hoje, já voltam com seu ar composto,
Mas eu, vê lá! eu volto-lhes o rosto...
E isto em mim não será uma vaidade?
António Nobre, in 'Só'
O Diário de Vasco Pulido Valente
O Ocidente e o mundo muçulmano
OBSERVADOR, 23/4/2017
…hopes expire of a low dishonest decade… (A. H.
Auden)
Dar
um pontapé num formigueiro é uma estratégia? Em princípio, parece que não é.
Mas que tem feito o Ocidente, senão isso? E, quando falo do Ocidente, falo da
Inglaterra, da França e da América. Desde a primeira invasão do
Iraque à chamada “Primavera Árabe” as velhas potências coloniais e a nova
potência “global” não perdem uma oportunidade para influenciar, ou mesmo
dirigir, o mundo islâmico. Ora esse mundo islâmico, de fora tão simples,
está em guerra consigo próprio, para defender ou fortalecer as suas posições em
África e no Médio Oriente e por razões religiosas que, às vezes, não se distinguem
muito de razões políticas e militares. E por isso o Ocidente não
sabe ao certo quem são as suas vítimas e menos quem a prazo vai beneficiar ou
prejudicar. Não admira que quase todos os grupos de muçulmanos odeiem
imparcialmente a Europa e a América e uma civilização inconciliável com a
deles. Nós podemos ver alguma diferença entre Nova York e Paris, ou
entre Paris, Dortmund e Estocolmo. Eles não vêem nenhuma; vêem só a rejeição
das regras e preceitos estabelecidos pelo Corão e das tradições de catorze
séculos. Quando Trump ataca a Síria com 59 mísseis Tomahawk ou os
jihadistas do Afeganistão com a MOAB não inaugura um novo método para reagir às
perturbações do Islão. Embora com mais brutalidade, segue o exemplo de dúzias
de “estadistas” da Europa e da América.
A Direita segundo Cristas
A
dra. Assunção Cristas declarou a semana passada ao Expresso que não queria, e
não faria, uma aliança eleitoral com o PSD em 2019. Acha ela que não vale a
pena contar com as vantagens que o sistema de Hondt dá às coligações; e que o
CDS e o PSD crescendo separados terão mais votos do que juntos. De resto, a
dra. Cristas já se candidatou à Câmara de Lisboa, sozinha contra mundum.
O pior é se ninguém dá pela sua fascinante personalidade e pela sua notória
competência para dirigir uma Câmara. Ou se, em geral, o CDS descer nas
autárquicas. Ou até, por absurdo, considerando a sua vacuidade
ideológica e doutrinal e principalmente a sua fraqueza, o CDS desaparecer em
fumo à medida que as eleições se aproximarem. Sendo chefe de uma pequena
patrulha (com novos dirigentes que Portas recrutou), a dra. Cristas devia
perceber que, em última análise, a sobrevivência do seu partido depende da
unidade da direita, porque só ela lhe dará força para um papel importante na
política portuguesa. A afirmação da duvidosa personalidade do partido
talvez lhe traga alguma popularidade interna. Nada mais. Cá fora, a
esmagadora maioria dos portugueses não se interessa pelo que sucede ou deixa de
suceder no Largo do Caldas. E ainda por cima Cristas não é e nunca será
o dr. Paulo Portas.
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