quarta-feira, 12 de julho de 2017

Umas compensam perfeitamente as outras


Eu bem vi a cara de regozijo do PM hoje, a apertar as mãos superiores, «do presidente do parlamento chinês, Zhang Dejiang, de visita a Portugal desde segunda-feira.» Regressado de férias, não falou nos assuntos fulcrais do país com incêndios mortíferos e roubo de armas, a que fugiu na plenitude de férias a que tinha direito, e donde voltou com o coelho na manga impante, do Portugal como «hub» intercontinental em voos, vitória do seu governo que igualmente silenciará opiniões adversas ou más vontades recalcitrantes. Qual deriva, qual inexplicável! Os novos voos portugueses – para Pequim – riscam no céu as adversidades caídas sobre a nossa terra. Viva o PM!
Tal como uma disputa entre crianças, que manifestam alegrias de superioridade com um “Benfeito! Benfeito!”, em caso de vitória. O PM sai vitorioso no seu aperto de mão ao visitante chinês que a foto reteve, juntamente com o seu sorriso vitorioso. Benfeito!
I - A
Deriva
António Barreto
DN, 9/7/17     Sem Emenda
Os momentos de crise têm como efeito revelar o melhor e o pior de cada um. Passada a crise, surge a oportunidade para corrigir, mas também a de deixar tudo na mesma. A questão geral da segurança dos cidadãos, com duas crises quase coincidentes, a dos fogos de floresta e a do roubo de material de guerra, oferece-nos esta possibilidade de ver como se comportam as pessoas, responsáveis, executantes e observadores. Tal como nos proporciona o ensejo de verificar se há justiça e se existe capacidade para investigar e reformar.
Em Tancos, não se sabe quem, como, quando, quantas vezes, nem para onde…  É o que é preciso apurar. Mas sabe-se que quem deixou não devia ter deixado, devia estar atento e devia prevenir e evitar: militares de serviço, chefes militares e responsáveis políticos. Quem, em concreto: é também o que é preciso identificar. Pedrógão: o paralelo com Tancos parece forçado, mas não é. Falta de coordenação. Descuido. Prevenção deficiente. E as questões financeiras, administrativas e jurídicas a pesarem mais do que a segurança e a vida das pessoas.
A seriedade das crises começou por ser esbatida. Só lentamente, com o número de mortos e o receio da opinião pública, as autoridades admitiram a gravidade. Mas a desvalorização manteve-se. O uso das emoções foi um medíocre substituto do empenho. A dissolução de responsabilidades foi, desde o início, atitude visível. As hábeis perguntas públicas do primeiro-ministro, dirigidas aos seus serviços, destinavam-se a revelar a sua distância e a definir a tentativa de atribuir as responsabilidades a quem está por baixo. A ausência do primeiro-ministro em férias foi um momento alto de mau governo. Quis mostrar, contra a evidência, que nada de especial se passava.
O governo e a actual aliança parlamentar maioritária querem zelar pelo que corre bem e distribuir o que existe. Mas não deram provas de saber reagir a crises surpreendentes. Nestas últimas não havia nada de bom a tomar conta ou a distribuir. Havia perda, medo e morte. Perante isso, o governo seguiu pelos maus caminhos da dissolução de responsabilidades.
É possível que possam vir a ser identificados os que por incompetência ou malícia conduziram a esta situação. Como pode acontecer que haja inexperiência negligente a merecer reparo. Em qualquer caso, com ou sem responsabilidade ministerial, espera-se que tudo seja apurado e que haja castigo. Mas não com displicência. Nem covardia. Nem falta de sentido de responsabilidade. Só com provas robustas podem os governantes pôr em causa militares, bombeiros, técnicos, polícias e guardas. E só com certezas se pode identificar a incompetência governamental e a negligência política. Tudo leva a crer que haja falhas nos dois planos, o dos serviços e o dos políticos.
Os militares não merecem tratamento de excepção. São pessoas, cidadãos e profissionais como tantos outros. Mas merecem atenção especial, porque não são como os outros. Tal como os guardas, os polícias e os bombeiros, a quem se pede um grau de disponibilidade que envolve perigo de vida, os militares merecem essa consideração. Além disso, são grupos profissionais a quem foram justamente cerceados direitos fundamentais, como a liberdade de expressão e os direitos de associação política e foram imputados deveres de obediência e recato que outros não têm. Tudo isto fundamenta um tratamento especial que os políticos têm a obrigação de respeitar. Ora, o actual governo e a actual aliança parlamentar não sabem exercer essa sua responsabilidade moral e política, não sabem tratar os militares como deve ser.
O actual poder político tem pena dos mortos, mas oscila entre o desprezo e a submissão. Desprezo por quem corre perigo de vida. E submissão perante quem tem dinheiro ou votos...
I -B
As minhas fotografias - Soldados na Praça Santo Isaac, em São Petersburgo, Rússia.
Há nestes dois amigos um sentido de humanidade. Ainda há pouco tempo esta praça era um centro histórico comunista. Não se imagina nessa altura um militar soviético com um amigo de manga cava, telemóvel, cigarro e cerveja. Num dos lados da praça, encontram-se os hotéis Angleterre e Astória, que hospedaram tudo quanto é gente: Rasputin, Tolstoi, Lenine, Isadora Duncan, George Bush e Madonna andaram por ali. Nos outros lados, o Palácio Mariinsky, assembleia legislativa da cidade, assim como o antigo Palácio dos Correios (conquistado por Trotsky, durante a revolução...). A poucos metros, a estátua do czar Nicolau I, uma das raras estátuas equestres apoiada apenas nas patas traseiras. O principal edifício é a Catedral de Santo Isaac, que foi durante o comunismo Templo do Conhecimento e Museu da História da Religião e do Ateísmo! Também a cidade já foi Petrogrado, do czar, São Petersburgo, do Santo e Leninegrado, do ditador.

II
Simplesmente inexplicável
Vicente Jorge Silva
9 de Julho de 2017
Estamos ainda à espera dos resultados dos inquéritos ao que aconteceu em Pedrógão e em Tancos, tal como se aguardam explicações sobre a desorientação e disfuncionalidade em vários ministérios – não apenas no MAI ou na Defesa, mas também na Agricultura, na Justiça, na Saúde ou na Educação, por exemplo – mas, em boa verdade, o que se passou é simplesmente inexplicável. Tal como parece inexplicável que o primeiro-ministro, procurando abrandar a pressão que sobre ele se abateu depois do mais mortífero dos incêndios das últimas décadas e do mais grave roubo de armas num paiol do Exército de que há memória neste país, tenha decidido não interromper a sua programada semana de férias em Espanha. Percebe-se mas não se explica – ou quanto mais se percebe menos explicável é.
A prioridade estratégica do Governo era – e é, por motivos bem compreensíveis, aliás – manter tanto quanto possível o equilíbrio entre as exigências orçamentais impostas por Bruxelas e a reversão das medidas mais gravosas, no plano social e económico, herdadas do período da troika – o que constitui, de resto, o penhor da aliança parlamentar do PS com os partidos à sua esquerda. O saldo dessa estratégia, por mais que isso provoque a crispação tantas vezes histérica de uma direita desnorteada, traduz-se num cenário de saída da crise que vem devolvendo a confiança ao país e explica a popularidade conquistada pelo Governo.
Mas este horizonte auspicioso foi subitamente ensombrado – mais exactamente, assombrado – pela tragédia de Pedrógão e pelo escândalo de Tancos. Refém da sua consumada habilidade e do seu incurável optimismo, o primeiro-ministro deixou-se apanhar em falso pelo reverso do Portugal positivo em que apostara e pela revelação incandescente de outro Portugal que aliás nunca deixara de existir mas parecia oculto pela embriaguez do sucesso.
Foi assim que emergiu de novo o psicodrama político de um país esquizofrénico, dividido entre a face brilhante das performances económicas e a face sombria dos abandonos, dos esquecimentos, das faltas de previsão e coordenação da administração pública, patentes no interior do mesmo ministério – é o caso flagrante do MAI – ou afectando transversalmente o corpo governativo. Se parecia haver uma estratégia sólida, sustentada ou pelo menos hábil na frente económica, ficaram expostos cruelmente à luz do dia os crónicos desacertos e vazios estratégicos no que se refere à segurança das pessoas e bens ou ao desenvolvimento do Portugal profundo.
Foi preciso ter acontecido Pedrógão para redescobrirmos o que, afinal, estávamos fartos de saber: que não existe uma política florestal num país onde a floresta foi ocupando um espaço cada vez mais extenso – e vulnerável –, enquanto crescia velozmente o despovoamento do interior, e que os serviços de prevenção e combate aos incêndios viviam em estado de improviso permanente ou na dependência de equipamentos precários ou inúteis nos momentos mais críticos. E foi preciso ter acontecido Tancos para sermos confrontados com algo que não deveria surpreender-nos: o estado de deliquescência que corrói parte das Forças Armadas, mas levado, neste caso, ao nível extremo do anedótico (com as falhas de segurança e vigilância mais confrangedoras e humilhantes para a dignidade das patentes militares).
Se pensarmos ainda na desautorização da ministra da Justiça com as anunciadas – e impensáveis – greves dos magistrados, nos dramáticos buracos na rede da Saúde ou nos improvisos apressados nos programas educativos, ficamos com a imagem de um Governo cujo epicentro se reduz cada vez mais à área das Finanças (de que tudo depende, sob a obsessiva tutela do primeiro-ministro). Para além dos inquéritos e das respostas, dos apuramentos «doa a quem doer», o que está à vista de todos é já simplesmente inexplicável. 

III
Costa espera que voos diretos Lisboa-Pequim reforcem Portugal como “grande ‘hub'”
António Costa destacou que rota vai ser operada pela Beijing Capital Airlines (BCA), do grupo Hainan Airlines (HNA), que é "hoje indiretamente acionista da TAP"
O primeiro-ministro português, António Costa, disse, terça-feira, esperar que os voos diretos Lisboa-Pequim, a partir de 26 de julho, sejam um reforço de Portugal como “grande ‘hub’ intercontinental” (centro de operações).
A afirmação de António Costa foi feita esta terça-feira de manhã, durante a cerimónia, num hotel de Lisboa, de inauguração dos voos diretos Lisboa-Pequim, com a presença do presidente do parlamento chinês, Zhang Dejiang, de visita a Portugal desde segunda-feira.
António Costa destacou que rota vai ser operada pela Beijing Capital Airlines (BCA), do grupo Hainan Airlines (HNA), que é “hoje indiretamente acionista da TAP”.

Com a abertura desta ligação, “reforça-se a dimensão de Portugal “como grande ‘hub’ intercontinental”, sendo hoje, segundo o primeiro-ministro, o “grande ‘hub'” dos voos para o Brasil e África.

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