Eu bem vi a cara de regozijo do PM hoje, a apertar as mãos superiores, «do presidente do parlamento chinês, Zhang
Dejiang, de visita a Portugal desde segunda-feira.» Regressado de férias, não falou nos
assuntos fulcrais do país com incêndios mortíferos e roubo de armas, a que
fugiu na plenitude de férias a que tinha direito, e donde voltou com o coelho
na manga impante, do Portugal como «hub» intercontinental em voos, vitória do
seu governo que igualmente silenciará opiniões adversas ou más vontades
recalcitrantes. Qual deriva, qual inexplicável! Os
novos voos portugueses – para Pequim – riscam no céu as adversidades caídas
sobre a nossa terra. Viva o PM!
Tal
como uma disputa entre crianças, que manifestam alegrias de superioridade com
um “Benfeito! Benfeito!”, em caso de vitória. O PM sai vitorioso no seu aperto
de mão ao visitante chinês que a foto reteve, juntamente com o seu sorriso
vitorioso. Benfeito!
I - A
Deriva
António Barreto
DN, 9/7/17 Sem Emenda
Os momentos de crise têm como efeito revelar o melhor
e o pior de cada um. Passada a crise, surge a oportunidade para corrigir, mas
também a de deixar tudo na mesma. A questão geral da segurança dos cidadãos,
com duas crises quase coincidentes, a dos fogos de floresta e a do roubo de
material de guerra, oferece-nos esta possibilidade de ver como se comportam as
pessoas, responsáveis, executantes e observadores. Tal como nos proporciona o
ensejo de verificar se há justiça e se existe capacidade para investigar e
reformar.
Em Tancos, não se sabe quem, como, quando, quantas
vezes, nem para onde… É o que é preciso
apurar. Mas sabe-se que quem deixou não devia ter deixado, devia estar atento e
devia prevenir e evitar: militares de serviço, chefes militares e responsáveis
políticos. Quem, em concreto: é também o que é preciso identificar. Pedrógão: o
paralelo com Tancos parece forçado, mas não é. Falta de coordenação.
Descuido. Prevenção deficiente. E as questões financeiras, administrativas e
jurídicas a pesarem mais do que a segurança e a vida das pessoas.
A seriedade das crises começou por ser esbatida. Só lentamente, com o número de
mortos e o receio da opinião pública, as autoridades admitiram a gravidade. Mas
a desvalorização manteve-se. O uso das emoções foi um medíocre substituto do
empenho. A dissolução de responsabilidades foi, desde o início, atitude
visível. As hábeis perguntas públicas do primeiro-ministro, dirigidas aos seus
serviços, destinavam-se a revelar a sua distância e a definir a tentativa de
atribuir as responsabilidades a quem está por baixo. A ausência do
primeiro-ministro em férias foi um momento alto de mau governo. Quis mostrar,
contra a evidência, que nada de especial se passava.
O governo e a actual aliança parlamentar maioritária
querem zelar pelo que corre bem e distribuir o que existe. Mas não deram provas
de saber reagir a crises surpreendentes. Nestas últimas não havia nada de bom a
tomar conta ou a distribuir. Havia perda, medo e morte. Perante isso, o governo
seguiu pelos maus caminhos da dissolução de responsabilidades.
É possível que possam vir a ser identificados os que
por incompetência ou malícia conduziram a esta situação. Como pode acontecer
que haja inexperiência negligente a merecer reparo. Em qualquer caso, com ou
sem responsabilidade ministerial, espera-se que tudo seja apurado e que haja
castigo. Mas não com displicência. Nem covardia. Nem falta de sentido de
responsabilidade. Só com provas robustas podem os governantes pôr em causa
militares, bombeiros, técnicos, polícias e guardas. E só com certezas se pode
identificar a incompetência governamental e a negligência política. Tudo leva a
crer que haja falhas nos dois planos, o dos serviços e o dos políticos.
Os militares não merecem tratamento de excepção. São
pessoas, cidadãos e profissionais como tantos outros. Mas merecem atenção
especial, porque não são como os outros. Tal como os guardas, os polícias e os
bombeiros, a quem se pede um grau de disponibilidade que envolve perigo de
vida, os militares merecem essa consideração. Além disso, são grupos
profissionais a quem foram justamente cerceados direitos fundamentais, como a
liberdade de expressão e os direitos de associação política e foram imputados
deveres de obediência e recato que outros não têm. Tudo isto fundamenta um
tratamento especial que os políticos têm a obrigação de respeitar. Ora, o
actual governo e a actual aliança parlamentar não sabem exercer essa sua
responsabilidade moral e política, não sabem tratar os militares como deve ser.
O actual poder político tem pena dos mortos, mas
oscila entre o desprezo e a submissão. Desprezo por quem corre perigo de vida.
E submissão perante quem tem dinheiro ou votos...
I -B
As minhas
fotografias - Soldados na Praça Santo Isaac, em São Petersburgo, Rússia.
Há nestes dois amigos um sentido de humanidade. Ainda
há pouco tempo esta praça era um centro histórico comunista. Não se imagina
nessa altura um militar soviético com um amigo de manga cava, telemóvel,
cigarro e cerveja. Num dos lados da praça, encontram-se os hotéis Angleterre e
Astória, que hospedaram tudo quanto é gente: Rasputin, Tolstoi, Lenine, Isadora
Duncan, George Bush e Madonna andaram por ali. Nos outros lados, o Palácio
Mariinsky, assembleia legislativa da cidade, assim como o antigo Palácio dos
Correios (conquistado por Trotsky, durante a revolução...). A poucos metros, a
estátua do czar Nicolau I, uma das raras estátuas equestres apoiada apenas nas
patas traseiras. O principal edifício é a Catedral de Santo Isaac, que foi
durante o comunismo Templo do Conhecimento e Museu da História da Religião e do
Ateísmo! Também a cidade já foi Petrogrado, do czar, São Petersburgo, do Santo
e Leninegrado, do ditador.
II
Simplesmente inexplicável
Vicente Jorge Silva
9 de Julho de 2017
Estamos
ainda à espera dos resultados dos inquéritos ao que aconteceu em Pedrógão e em
Tancos, tal como se aguardam explicações sobre a desorientação e
disfuncionalidade em vários ministérios – não apenas no MAI ou na Defesa, mas
também na Agricultura, na Justiça, na Saúde ou na Educação, por exemplo – mas,
em boa verdade, o que se passou é simplesmente inexplicável. Tal como parece
inexplicável que o primeiro-ministro, procurando abrandar a pressão que sobre
ele se abateu depois do mais mortífero dos incêndios das últimas décadas e do
mais grave roubo de armas num paiol do Exército de que há memória neste país,
tenha decidido não interromper a sua programada semana de férias em Espanha.
Percebe-se mas não se explica – ou quanto mais se percebe menos explicável é.
A
prioridade estratégica do Governo era – e é, por motivos bem compreensíveis,
aliás – manter tanto quanto possível o equilíbrio entre as exigências
orçamentais impostas por Bruxelas e a reversão das medidas mais gravosas, no
plano social e económico, herdadas do período da troika – o que
constitui, de resto, o penhor da aliança parlamentar do PS com os partidos à
sua esquerda. O saldo dessa estratégia, por mais que isso provoque a crispação
tantas vezes histérica de uma direita desnorteada, traduz-se num cenário de
saída da crise que vem devolvendo a confiança ao país e explica a popularidade
conquistada pelo Governo.
Mas
este horizonte auspicioso foi subitamente ensombrado – mais exactamente,
assombrado – pela tragédia de Pedrógão e pelo escândalo de Tancos. Refém da sua
consumada habilidade e do seu incurável optimismo, o primeiro-ministro
deixou-se apanhar em falso pelo reverso do Portugal positivo em que apostara e
pela revelação incandescente de outro Portugal que aliás nunca deixara de
existir mas parecia oculto pela embriaguez do sucesso.
Foi
assim que emergiu de novo o psicodrama político de um país esquizofrénico, dividido
entre a face brilhante das performances económicas e a face sombria dos
abandonos, dos esquecimentos, das faltas de previsão e coordenação da
administração pública, patentes no interior do mesmo ministério – é o caso
flagrante do MAI – ou afectando transversalmente o corpo governativo. Se
parecia haver uma estratégia sólida, sustentada ou pelo menos hábil na frente
económica, ficaram expostos cruelmente à luz do dia os crónicos desacertos e
vazios estratégicos no que se refere à segurança das pessoas e bens ou ao
desenvolvimento do Portugal profundo.
Foi
preciso ter acontecido Pedrógão para redescobrirmos o que, afinal, estávamos
fartos de saber: que não existe uma
política florestal num país onde a floresta foi ocupando um espaço cada vez
mais extenso – e vulnerável –, enquanto crescia velozmente o despovoamento do
interior, e que os serviços de prevenção e combate aos incêndios viviam em
estado de improviso permanente ou na dependência de equipamentos precários ou
inúteis nos momentos mais críticos. E foi preciso ter acontecido Tancos para sermos confrontados com algo que
não deveria surpreender-nos: o estado de
deliquescência que corrói parte das Forças Armadas, mas levado, neste caso, ao
nível extremo do anedótico (com as falhas de segurança e vigilância mais
confrangedoras e humilhantes para a dignidade das patentes militares).
Se
pensarmos ainda na desautorização da ministra da Justiça com as anunciadas – e
impensáveis – greves dos magistrados, nos dramáticos buracos na rede da Saúde
ou nos improvisos apressados nos programas educativos, ficamos com a imagem de
um Governo cujo epicentro se reduz cada vez mais à área das Finanças (de que
tudo depende, sob a obsessiva tutela do primeiro-ministro). Para além dos
inquéritos e das respostas, dos apuramentos «doa a quem doer», o que está à
vista de todos é já simplesmente inexplicável.
III
Costa
espera que voos diretos Lisboa-Pequim reforcem Portugal como “grande ‘hub'”
António Costa
destacou que rota vai ser operada pela Beijing Capital Airlines (BCA), do grupo
Hainan Airlines (HNA), que é "hoje indiretamente acionista da TAP"
O primeiro-ministro português, António
Costa, disse, terça-feira, esperar que os voos diretos Lisboa-Pequim, a partir
de 26 de julho, sejam um reforço de Portugal como “grande ‘hub’
intercontinental” (centro de operações).
A afirmação de António Costa foi feita esta
terça-feira de manhã, durante a cerimónia, num hotel de Lisboa, de inauguração
dos voos diretos Lisboa-Pequim, com a presença do presidente do parlamento
chinês, Zhang Dejiang, de visita a Portugal desde segunda-feira.
António Costa destacou que rota vai ser
operada pela Beijing Capital Airlines (BCA), do grupo Hainan Airlines (HNA),
que é “hoje indiretamente acionista da TAP”.
Com a abertura desta ligação, “reforça-se a
dimensão de Portugal “como grande ‘hub’ intercontinental”, sendo hoje, segundo
o primeiro-ministro, o “grande ‘hub'” dos voos para o Brasil e África.
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