Ouvi-os ontem na Sic Notícias, António Vitorino e Pedro Santana Lopes.
Debate de opiniões orientado por Clara de Sousa. Desta vez, sobre a questão do
referendo na Catalunha e sobre a candidatura de Pedro Santana Lopes para a
presidência do PSD.
Como sempre, o prazer do discurso claro, objectivo e de resposta pronta de
António Vitorino, no cepticismo, todavia, dos seus elogios breves e polidos ao
companheiro de mesa, mais artificiosos do que sinceros, ditados pelo
politicamente correcto ou talvez antes irónico.
Como sempre, o sentimento agónico do déjà vu, a respeito
do discurso elegante, moralista, atropelado e mais banal de Santana Lopes, de
saberes menos consistentes, forjados no convívio social, mais do que num estudo
reflectido – e que, paradoxalmente, Pacheco Pereira, o intelectual a sério,
apoia, ele que sempre combateu Passos Coelho, que lhe fez frente. Um Santana
Lopes que António Vitorino considerou corajoso, porque se propõe a um cargo de
risco, naturalmente, no actual contexto político de tanta crispação no PSD e
aparente êxito do governo PS.
Santana Lopes afirma que cumpre o seu dever, concorrendo contra Rui Rio,
certamente que numa linha de orientação política oposta à deste, daí o seu
empenhamento salvador que pressupõe críticas aos que se opuseram a Passos
Coelho, que nobremente diz admirar. É provável que assim seja. Eu vejo antes,
nessa atitude de concorrente, um jogo de antiga ambição de alcançar, não o
governo dum partido, mas a possibilidade de vir a ser ministro ou presidente do
seu país.
Mais um dos que diz “à séria” e “acórdos”, sem escutar os correctos
"acôrdos” da Clara de Sousa. Nessa faceta gramatical, bom companheiro de
António Costa, não há de que envergonhar, embora mais cintilante de floreados
retóricos.
Tenho pena que outros, que ele próprio nobremente citou, elogiando-lhes a
competência, se não decidam a concorrer igualmente – Luís Montenegro, Paulo
Rangel – impelidos por igual sentimento de dever pátrio que moveu Santana
Lopes, o velho Santana, dos discursos preguiçosos, arrastados, glamorosos, tão
secantes e com alguns erros crassos, embora comuns. Mas nem Luís Montenegro nem
Paulo Rangel caem daí abaixo, que sabem bem no que se meteriam.
Lamento-o.
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