quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Sucessor de Passos Coelho

Ouvi-os ontem na Sic Notícias, António Vitorino e Pedro Santana Lopes. Debate de opiniões orientado por Clara de Sousa. Desta vez, sobre a questão do referendo na Catalunha e sobre a candidatura de Pedro Santana Lopes para a presidência do PSD.
Como sempre, o prazer do discurso claro, objectivo e de resposta pronta de António Vitorino, no cepticismo, todavia, dos seus elogios breves e polidos ao companheiro de mesa, mais artificiosos do que sinceros, ditados pelo politicamente correcto ou talvez antes irónico.
Como sempre, o sentimento agónico do déjà vu, a respeito do discurso elegante, moralista, atropelado e mais banal de Santana Lopes, de saberes menos consistentes, forjados no convívio social, mais do que num estudo reflectido – e que, paradoxalmente, Pacheco Pereira, o intelectual a sério, apoia, ele que sempre combateu Passos Coelho, que lhe fez frente. Um Santana Lopes que António Vitorino considerou corajoso, porque se propõe a um cargo de risco, naturalmente, no actual contexto político de tanta crispação no PSD e aparente êxito do governo PS.
Santana Lopes afirma que cumpre o seu dever, concorrendo contra Rui Rio, certamente que numa linha de orientação política oposta à deste, daí o seu empenhamento salvador que pressupõe críticas aos que se opuseram a Passos Coelho, que nobremente diz admirar. É provável que assim seja. Eu vejo antes, nessa atitude de concorrente, um jogo de antiga ambição de alcançar, não o governo dum partido, mas a possibilidade de vir a ser ministro ou presidente do seu país.
Mais um dos que diz “à séria” e “acórdos”, sem escutar os correctos "acôrdos” da Clara de Sousa. Nessa faceta gramatical, bom companheiro de António Costa, não há de que envergonhar, embora mais cintilante de floreados retóricos.
Tenho pena que outros, que ele próprio nobremente citou, elogiando-lhes a competência, se não decidam a concorrer igualmente – Luís Montenegro, Paulo Rangel – impelidos por igual sentimento de dever pátrio que moveu Santana Lopes, o velho Santana, dos discursos preguiçosos, arrastados, glamorosos, tão secantes e com alguns erros crassos, embora comuns. Mas nem Luís Montenegro nem Paulo Rangel caem daí abaixo, que sabem bem no que se meteriam.
Lamento-o.

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