2013, https://www.priberam.pt/dlpo/nomenclatura,
extraio as seguintes definições para o termo Nomenclatura:
(latim nomenclatura, -ae, lista de nomes)
(latim nomenclatura, -ae, lista de nomes)
substantivo feminino
1. Lista de nomes de pessoas.
2. Relação de objectos, termos ou elementos. = CATÁLOGO, LISTA
3. Conjunto dos termos técnicos de uma arte, ciência ou actividade. = TERMINOLOGIA
4. Método de classificação desses termos.
5. [Linguística]:
Conjunto das entradas definidas ou a definir num dicionário, num glossário ou
uma enciclopédia
NOMINATA
Palavras relacionadas:
São dois os textos que me
sugeriram o título supra, cujo significado fui pressurosamente procurar no
Dicionário Português on line.
Talvez que os nomes citados, por
Bagão Félix e por João Miguel Tavares, pouco tenham a ver com a designação
do título, mas associei esses artigos nela: o primeiro, pelo conjunto
terminológico, mais ou menos pedante ou grotesco, da actualidade geral e da governação particular – excluindo os
erros gramaticais também frequentes nos nossos ministros e que mereceriam igual
recolha sagaz como esta, plena de perspicácia e humor, que Bagão Félix foi
buscar aos discursos da assembleia. O segundo texto, de João Miguel Tavares, também
constitui nomenclatura, ponderadas as razões, pela enumeração de nomes próprios
escolhidos para formar governo, naturalmente entre os amigos do nosso Primeiro,
não há que estranhar. Pena que eu não faça parte, mas, compreendo que é muito
presumir.
Dez palavras: na moda, mas feias
16 de Novembro de 2017
Aproxima-se o dia do
anúncio dos dez vocábulos para a votação da “Palavra do ano”, uma interessante
iniciativa da Porto Editora desde 2009.
Enquanto aguardamos,
resolvi fazer uma outra escolha: a das 10 palavras mais feias que por aí andam
de braço dado com modismos ou encavalitadas em posologia tecnocrática.
Fealdade, evidentemente subjectiva. Ou feiura, que só não está entre as eleitas
porque ninguém a balbucia. Para mim, a estética da palavra é uma mistura quase
sinestésica do som, da textura silábica, do bom casamento (ou não) entre vogais
e consoantes, da macieza (ou falta dela), da cor que, por vezes, lhe associo.
Numa curta viagem pela memória do ano, eis a minha selecção (por ordem
alfabética):
1. Alavancagem, às vezes até sem embraiagem e
engrenagem. Muito em voga na linguagem financeira e empresarial. Associo-a a
tacto áspero, com vogais sem travagem. Mais tarde ou mais cedo, antevejo que
vai servir para medir o grau e intensidade do assédio sexual.
2. Bascular, que não devemos confundir com
basculhar ou vascular. Verbo muito usado no futebol, ainda que sem conta, peso
e medida. Conjugação retorcida, como por exemplo, no imperativo “bascula tu!”
ou no condicional “bascularia”. Além do mais, palavra a preto-e-branco entre as
vogais a e u.
3. Disrupção. Pior só o sinónimo rompedura.
Associo-a à memória do som agudíssimo do giz arranhando a pobre lousa escolar.
4. Empoderamento. Olfactivamente, o substantivo
tem falta de refrigeração, por isso o associo a podre. Tem uma forma
axadrezada, o que não significa necessariamente “xadrez” para o empoderado. O
verbo é do mais divertido que há. Imaginemos um diálogo: “Empodera-o tu! Não
senhor, melhor seria se tu o empoderasses…”
5. Engajar. “Engaja, pá, antes que eu engaje”. Eis
o engajamento em todo o seu verbal esplendor, indicativo e conjuntivo. Quando
ouço estas palavras logo olho para os sapatos para ver se precisam de
engraxamento. E do castanho me lembro.
6. Governança. Palpita-me que anda por aqui
ideologia de género. É que governo é palavra masculina e governança é feminina,
mesmo que juntas com outro palavrão, governabilidade. Cá para mim, associo-a a
cozinha, bons pratos e olfacto guloso. E recordo, gostosamente, o governo da
governanta da “família Bellamy”.
7. Incumbente. Que me perdoe um qualquer
intendente desta palavra incumbente, mas só a retenho no sentido botânico, ou
seja pensando na parte da planta inclinada para a terra. Palavra escura, senão
mesmo tétrica, não por causa da planta, mas da terra para onde se vai.
8. Paulatinamente. Isto é: latinamente e com pau.
Por fases. E atempadamente, a sua irmã siamesa, qual delas mais feia e
disforme. Associo-as aos equipamentos desportivos às riscas. Não sei porquê.
9. Performante. Mais um anglicismo, tal qual o performativo.
De todas estas palavras é a que cheira melhor, não fosse parente da perfumaria.
Mas tirando isso, é como se em vez de um saboroso bacalhau com batatas, grelos
e ovo cozido me dessem, em versão “nouvelle cuisine” minimalista, um “bacalhau
confitado com pastel crocante de grão de bico, acelga selvagem e sêmola de
milho”.
10. Resiliência. Lamento, mas já não a tenho (a
dita resiliência) para sequer a comentar. Nem para a alocar (esta
seria a 11ª…).
Peço desculpa por ter
deixado de fora uma série de palavras que me merecem toda a desconsideração.
Não tiveram “cabimento” (outra, a 12ª).
Isto é um governo ou o clã de António Costa?
Convém que as escolhas de um primeiro-ministro não coincidam com as
fotografias do livro de curso da sua classe de Direito de 1982 sempre que é
preciso remodelar.
Público, 24 de Outubro de
2017
João Miguel Tavares
Eduardo Cabrita,
novo ministro da Administração Interna, Pedro Siza Vieira, novo ministro
adjunto, e o ministro sombra Diogo Lacerda Machado foram colegas de
António Costa na Faculdade de Direito de Lisboa. O mesmo aconteceu com José
Apolinário, secretário de Estado das Pescas. Ana Paula Vitorino,
ministra do Mar, é mulher de Eduardo Cabrita. Um dos secretários de Estado do
Ministério das Finanças – António Mendonça Mendes, Assuntos Fiscais – é
irmão de Ana Catarina Mendes, secretária-geral adjunta do PS. Carlos César
pontifica na Assembleia da República e, como sabemos, dentro do seu agregado
familiar falta somente ao periquito conseguir a integração nos quadros da
função pública.
Vieira da Silva
é ministro da Segurança Social e a sua filha, Mariana Vieira da Silva,
secretária de Estado adjunta do primeiro-ministro. O ministro do Ambiente, João
Pedro Matos Fernandes, é filho de José Matos Fernandes, antigo secretário
de Estado da Justiça de Vera Jardim. Guilherme W. d’Oliveira Martins,
secretário de Estado das Infraestruturas, é filho de Guilherme d’Oliveira
Martins, triplo ministro de António Guterres. Mário Centeno,
ministro das Finanças, não é filho de nenhum socialista famoso, mas anda há
dois anos a obedecer às ordens do Largo do Rato – ainda assim, António Costa
colocou Fernando Rocha Andrade, seu homem de confiança, a vigiá-lo. O
ministro da Educação é um jovem que deve a António Costa a carreira política. O
ministro da Saúde deve-lhe o mesmo, mesmo não sendo jovem.
Augusto Santos Silva,
Vieira da Silva e Azeredo Lopes já provaram nos tempos socráticos a
sua fidelíssima obediência a quem manda. Maria Manuela Leitão Marques
foi secretária de Estado de Sócrates. Capoulas Santos e Pedro Marques
são velhos quadros do PS que não levantam ondas. A Faculdade de Direito de
Lisboa está ainda representada pela ministra da Justiça, Francisca Van Dunem,
e pelo ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes. Há também três
secretários de Estado (se as contas não me falham) que foram recrutados aos
quadros da Câmara Municipal de Lisboa. Os ministros que faltam nesta lista, e
que saem do padrão estabelecido, são o invisível Manuel Heitor, ministro
da Ciência e do Ensino Superior, e Manuel Caldeira Cabral, ministro da
Economia e eterno remodelável, certamente por vir da Universidade do Minho e
lhe faltar o pedigree da Faculdade de Direito de Lisboa.
Perante este quadro, ver António Costa apostar em dois
amigos íntimos para preencher as vagas provocadas pela demissão de Constança
Urbano de Sousa (já agora: a ex-ministra da Administração Interna fez parte
do gabinete do ministro da Justiça António Costa) não se pode propriamente
dizer que seja uma escolha surpreendente. Ela combina na perfeição com um governo
composto por amigos, familiares, ex-subordinados, apparatchiks e
fiéis. É evidente que no meio desta longa lista de nomes há gente
competente, tal como é claro que “ser filho de” não justifica a desqualificação
imediata de quem teve a sorte (ou o azar) de ter um pai ou uma mãe famosos.
Convém, contudo, que as escolhas de um primeiro-ministro não coincidam com as
fotografias do livro de curso da sua classe de Direito de 1982 sempre que é
preciso remodelar. Escolhas tão lá de casa apenas demonstram, para além de
qualquer dúvida razoável, que o actual governo é pouco mais do que uma extensão
executiva de António Costa, cada vez mais fechado no seu microcosmos e na
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