António
Barreto adverte, no seu discurso impecável de progressão dramático-informativa,
sobre os perigos de um totalitarismo manipulador e castrador, neste caso da tal
aquisição de que se fala – da Media Capital e da TVI – pela PT/ Altice / Pharol
/ Meo/ etc.
E
quando menos esperarmos, a coisa está aí, pronta e envolvente, até que rebente,
pois tudo tem um fim. Terá? A massificação social é um fenómeno que já vem de
longa data, a convenção da liberdade é pura burrice, a menos que praticada pelos
competentes, por vias ocultas, nas negociatas que vimos a conhecer depois e que
embalam a curiosidade pública, no alarmismo do nosso fascínio fofoqueiro.
Mais
um Big Brother aterrador, que passará, como o vento… E mais uma extraordinária fotografia para o álbum das suas críticas.
As redes, a televisão e a liberdade
António Barreto
DN, 5/11/17
Televisão, redes
sociais e de telecomunicação, telemóveis e empresas de comunicação: eis um
universo de possibilidades fascinante! De desenvolvimento cultural, de
informação e democracia. De divertimento, estudo e conhecimento. Mas também de
despotismo, de abuso de poder, de manipulação, de tirania e corrupção.
Estão em curso grandes
manobras que envolvem as televisões, os canais privados e a produção de
conteúdos. Com as televisões, vão as rádios, provavelmente jornais e agências
noticiosas. Sem falar da net, dos grandes portais e das redes. As nossas
liberdades, o pluralismo da sociedade e a decência da nossa democracia estão em
causa. A PT, que com este ou outro nome já se viu envolvida em várias histórias
de assombrar, está outra vez a tentar comprar, integrar e talvez vender!
Observou a RTP, olhou para a SIC e fixou-se na TVI.
Esta é a grande
operação: a aquisição da Media Capital e da TVI, a principal estação de
televisão (em audiências), pela PT (ou Altice ou Pharol ou Meo ou outra coisa).
Fica tudo junto: televisão, rádio, telefone, telemóvel, redes de distribuição e
de transporte, produção e distribuição de programas. Seria criado o maior grupo
de comunicação com uma força quase absoluta para orientar o mercado, criar
regras e influenciar governos. Os perigos são evidentes. Este grupo poderá no
futuro determinar preços e taxas, integrar ou expulsar do mercado, arruinar
competidores, condicionar a publicidade, impor regras, estabelecer padrões e
tornar obrigatórios os seus interesses. Assim como orientar a informação. O
menor dos riscos é o de abuso de posição dominante.
Perante isto, tal
como tinha acontecido com a aquisição da PT pela Altice, no seguimento da sua
destruição pelo governo de Sócrates e das trapalhadas sem fim com os
brasileiros e o BES, o governo tem receio de se exprimir, tem medo de defender
os interesses públicos, não sabe como zelar pelas liberdades, não consegue
encontrar maneira de explicitar a sua opinião e de pôr em prática uma política.
O PCP e o Bloco
querem nacionalizar. Estão convencidos de que o poder nunca é excessivo se for
político, do Estado e deles. Já se for de empresas privadas, muitas ou poucas,
é sempre abusivo e perigoso. Com estas opiniões não se vai muito longe.
O PSD e o CDS querem que esses sectores sejam privados e fonte de negócio.
Assim, adianta-se pouco. O PS é mais complexo. Ou antes, mais complicado.
Porque já quis tudo e as suas variedades, todas as hipóteses e os seus
contrários. Favoreceu e combateu a privatização, desejou e contrariou o
monopólio de Estado, impediu e ajudou à concentração vertical e horizontal.
Tudo depende do dia, do ano, do chefe e para onde está virado.
Prudentemente, a Anacom chama
a atenção para os perigos, diz que não mas que também, não inviabiliza o
negócio nem o aprova, sugere que os termos do negócio sejam alterados. O
parecer da Anacom é facultativo.
A Autoridade da
Concorrência, que vai ter de aprovar ou proibir, foge como pode, espera pela
ERC, mesmo sendo já evidente que a concorrência fica seriamente diminuída. O
parecer desta Autoridade é vinculativo.
A ERC é a mais patética.
Dos cinco membros, já só tem três, fora de prazo há mais de um ano, com
mandatos esticados por impotência parlamentar e covardia partidária. Dois
votaram no sentido dos pareceres técnicos dos seus serviços, enquanto o
presidente se absteve, o que finalmente foi uma decisão, que não sendo a favor
favorece e não sendo aprovação aprova! O parecer da ERC é vinculativo.
O Parlamento empurra. A
aliança do governo não tem pressa, pois os seus membros já perceberam que
haverá divergências entre os três.
O governo foge e
esconde-se, tapa os ouvidos, vira os olhos, esconde a boca, fecha o nariz, abre
os bolsos e espera que passe. Mas lá que há perigos para a liberdade...
As minhas fotografias - Secagem de peixe na Nazaré
Hoje, é sobretudo o
"Canhão" da Nazaré e as suas "ondas gigantes"! Há muitos
anos, foi o encanto dos fotógrafos, entre os quais Castello-Lopes, Artur
Pastor, Cartier-Bresson, Edouard Boubat e Jean Dieuzaide. Até Agnès Varda e
Stanley Kubrick por lá andaram. Parece que não se podia vir a Portugal sem
passar pela Nazaré. Antes e depois dessa moda, a Nazaré era, além das mulheres
de negro, a secagem de peixe. Sobretudo o carapau, os batuques e a sardinha.
Depois de "amanhado", o peixe era colocado nas "paneiras"
(tabuleiros) do "estindarte" (estendal). Eram necessários uns dias
para o peixe seco, umas horas para o peixe "enjoado". Secava-se peixe
para comer, vender e guardar para o Inverno. Muitos trabalhadores agrícolas
ou da construção, por esse país fora, ficaram a dever às sardinhas secas da
Nazaré a única fonte diária de proteínas. Agora, a "arte" e o
trabalho vão desaparecendo. O turismo rende mais. O surf também. E há já quem
fale em proibir a pesca da sardinha durante dez ou quinze anos. Fotografia de António Barreto
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