Somos uma equipa populacional unida para venerar pessoas e coisas, a boca e
os braços abertos à novidade, mas também apegados às velharias de que nos não
desfazemos, por dedicação canina, e isso ninguém o pode impedir, que somos igualmente
fortes no amor. Mas bem fazem os que o condenam, embora não consigam corrigir
totalmente. No caso do nosso Jerónimo de Sousa, o certo é que perdeu já câmaras,
nas últimas eleições, prova de que a força da sua palavra já não conta tanto,
apesar do Avante e das suas festas e dos seus conceitos conservadoramente ou
provocatoriamente erróneos sobre a história comunista, no apego primitivo, e em
seguimento do papá Cunhal, também muito colado às doutrinas dos sítios onde
vivera. No caso da Web Summit, é importante assistir a esses eventos
espectaculares, para mostrarmos evolução. O certo é que ginastas nossos vão
ganhando medalhas, apesar disto tudo, da nossa pequenez e da nossa parolice tão
visível.
Por isso o artigo de Alberto
Gonçalves «thisisportugal» e o de José Milhazes «O PCP e a Revolução
de Outubro: hoje não é o dia das mentiras», que nos
trazem indicações tão importantes para a confirmação dos nossos próprios conceitos
– alguns dirão preconceitos, o que não é verdadeiro – mais sardónicas as de
Alberto Gonçalves, mais explícitas as de José Milhazes, a que acrescentei um
comentário muito exagerado de Francisco José – não conseguem retirar-nos
a convicção – apesar dos nossos entusiasmos festivaleiros – de que conseguiremos
progredir, pois haverá sempre quem estude, para nos desembrutecer, quer pela
via irónica, quer pela via didáctica, quer mesmo pela via lírica, condenando o
nosso “Nevoeiro” e estimulando, tal como fez Fernando Pessoa com o seu “É
a Hora!” tão tristinho. Ouçamos antes Luís Góis na sua extraordinária
interpretação de “É preciso acreditar”, visto que hoje é domingo.
#thisisportugal
OBSERVADOR, 11/11/2017
Sendo um
cidadão atento, fui a correr descobrir o que é a Web Summit. Pouco depois,
regressei a correr ainda mais. De medo. Só alguns dos oradores indígenas
bastariam para assustar um herói de guerra.
Sendo um
cidadão atento, fui a correr descobrir o que é a Web Summit. Pouco depois,
regressei a correr ainda mais. De medo. Só alguns dos oradores indígenas
bastariam para assustar um herói de guerra: o dr. Costa (que, ficámos a saber,
fala tão bem inglês quanto português), o prof. Marcelo, o eng. Guterres, o sr.
Figo, dirigentes do futebol, senhores da banca e ilustres matarruanos em geral.
Em suma, política, bola, Estado e a previsível tralha da “influência” e do
compadrio. De brinde, o dr. Louçã, cuja presença num evento alegadamente
dedicado a ideias novas é comparável a convidar Stephen Hawking para
abrilhantar o carnaval de Torres Vedras.
Para
cúmulo, tamanha maravilha aconteceu no exacto momento e na exacta cidade onde
morrem pessoas por via da “legionella”, onde um ministro anuncia o aumento de
IRC e onde, a pedido de corporações, a polícia enxota os condutores da Uber e
similares que tentam aproximar-se do aeroporto (sou testemunha interessada:
aterrei em Lisboa por motivos que não vêm ao caso e apenas o terceiro carro
arriscou apanhar-me). Segundo a propaganda, a Web Summit
mostra a nossa abertura à inovação e à iniciativa e ao investimento. A sério?
Se no ano que vem resolverem transladar a festança para Caracas, as diferenças
serão mínimas. Uma “hashtag” promocional jurava: #thisisportugal. E o pior é
que é verdade.
Sobretudo,
a moderníssima Web Summit aconteceu no tempo e no lugar em que, a propósito
da revolução de 1917, o líder do PCP proclamou, aliás pela enésima vez, as
portentosas virtudes da União das Repúblicas Socialistas e Soviéticas.
No Coliseu dos Recreios, pelos vistos também receptivo à comemoração de
revoluções sanguinárias e à “stand up comedy”, Jerónimo de Sousa falou e
disse. Disse que a URSS transformou a “velha Rússia” num paraíso
“altamente desenvolvido, mais industrializado e socialmente mais avançado”.
Disse que foi “a pátria dos sovietes” a primeira do mundo “a desenvolver como
nenhum outro, direitos sociais fundamentais”. Disse que a URSS teve um
“inquestionável papel de força motriz de progresso e da paz a nível mundial”.
Disse que o mundo está pior sem a URSS. Disse que “o socialismo é preciso” e é
uma “exigência da actualidade e do futuro”. Disse que o capitalismo é um
“sistema explorador, opressor, agressivo e predador”, que está “a conduzir o
mundo para a barbárie”. Disse que o fim da URSS nada teve a ver com a Revolução
de Outubro e os seus fundadores, e sim com o “modelo de construção do
socialismo” que se afastou do “ideal e do projeto comunistas”. Disse que o
“combate continua”.
O sr.
Jerónimo disse estas doçuras e os “media” reproduziram-nas sem escrúpulos nem
escrutínio, como se o sr. Jerónimo tivesse recomendado um restaurante em Évora
ou os congratulado os bombeiros voluntários de Coimbra. As “redes sociais”, que
se escandalizam diariamente com extraordinárias insignificâncias, não se
escandalizaram com o elogio fervoroso do maior ataque organizado à humanidade
que a História já registou. Ninguém saiu à rua em protesto. Ninguém estranhou.
Ninguém, ou quase ninguém, pensou que os desabafos do sr. Jerónimo, afinal um
voto de fé na brutalidade, na fome e no homicídio enquanto métodos de regulação
das massas, fugissem da normalidade quotidiana de um regime supostamente
democrático. No fundo, o sr. Jerónimo informou os portugueses de que não
descansará até que, espero que com nuances, estes sofram o que as incontáveis
vítimas do comunismo sofreram e sofrem. E, do alto da sua peculiar apatia, que
os leva a envergonhar-se dos “twits” do sr. Trump e a orgulhar-se da miséria
que trazem por casa, os portugueses acham bem.
Permitam-me
evitar equívocos. Ao contrário dos deuses do sr. Jerónimo e dos fiéis do sr.
Jerónimo, nunca passaria pela minha cabeça impedir um sujeito de confessar o
que vai na dele. A questão, obviamente, não é o sr. Jerónimo proferir
insanidades, mas a recepção que as insanidades suscitam. Em sociedades
civilizadas, o louvor de genocídios merece repulsa, sarcasmo ou pena do
maluquinho que assim se exibe em público. Em Portugal, homenagear psicopatas
integra a categoria das notícias “habituais”, a título de opinião discutível
ou, quiçá, esclarecida.
De resto,
o sr. Jerónimo não é um maluquinho, ou pelo menos um maluquinho comum. É o
chefe do terceiro ou quarto partido nacional, o qual rivaliza com outro (?)
partido leninista nos votos, nos deputados, na demência e na ascendência sobre
o bando que, descarada e oficialmente, finge governar-nos. Se se tratasse de um lunático com bombo às voltas ao coreto – e fosse
tratado em conformidade –, a deplorável figura a que o sr. Jerónimo se presta
podia esgotar-se em si mesma, sem que daí viesse qualquer mal ao mundo. Por
azar, a misteriosa respeitabilidade de que o sr. Jerónimo desfruta compromete o
país, ridiculariza o país e torna o país cúmplice de uma vasta parte do mal
que, durante o último século, o mundo suportou de facto. Uma coisa é certa: a
Web Summit é óptima para mostrar ao “estrangeiro” aquilo que somos. E quem quis
ver viu que somos isto.
O PCP e a Revolução de Outubro: hoje não é o dia das mentiras
OBSERVADOR, 7/11/2017
O líder do PCP deve
desconhecer a velha anedota soviética: Qual a diferença entre o capitalismo e o
socialismo? O capitalismo é a exploração do homem pelo homem; o socialismo é
exactamente o contrário.
O enfraquecimento e
degeneração intelectuais do Partido Comunista Português são um facto cada vez
mais evidente, principalmente quando o seu dirigente Jerónimo de Sousa mente,
falsifica a História e tenta passar mais uma certidão de idiota aos
portugueses.
Num artigo de opinião publicado no DN,
o secretário-geral comunista começa por escrever: “Foi numa Rússia
semifeudal, dominada pelo poder autocrático e repressivo dos czares e da mais
alta nobreza, com mais de cem nacionalidades oprimidas, destruída pela I Guerra
Mundial, com um povo fustigado pela exploração, a repressão, a pobreza, a fome e
o analfabetismo que, no dia 7 de Novembro de 1917 (25 de Outubro no antigo
calendário russo), o proletariado russo, com o papel de vanguarda do Partido
Bolchevique, conquistou o poder e lançou as bases de uma nova sociedade sem
a exploração do homem pelo homem”.
Ora qualquer aluno do
12º ano sabe que aqui há uma série de mentiras ou de indícios de analfabetismo
histórico. Primeiro, a revolução comunista não foi feita contra o “poder
autocrático e repressivo dos czares e da mais alta nobreza”, mas contra um Governo
Provisório que mantinha na Rússia um sistema pluripartidário e se preparava
para dar uma Constituição democrática ao país”. Segundo, não foi o
proletariado russo que tomou o poder, mas um pequeno grupo de bolcheviques que
só na cabeça de Jerónimo de Sousa queriam criar um regime sem exploração do
homem pelo homem. O dirigente comunista não deve conhecer a velha anedota
soviética: “Qual a diferença entre o capitalismo e o socialismo? O capitalismo
é a exploração do homem pelo homem, enquanto que o socialismo é exactamente o
contrário”.
Claro que ninguém
duvida, como escreve o dirigente comunista, que “a Revolução de Outubro é (e
continuará a ser) o acontecimento maior da história da humanidade”, mas diz
apenas meia-verdade pois mente ao afirmar “que inaugurou uma nova época, a
época da passagem do capitalismo ao socialismo”. Pergunta-se:
onde está esse socialismo actualmente na Rússia e na maioria dos países que
enveredaram ou, melhor, foram obrigados a enveredar por essa via de
desenvolvimento? Deu lugar novamente ao capitalismo. Até na China se transforma
cada vez mais num regime capitalista oligárquico que explora os trabalhadores
até ao tutano.
Jerónimo de Sousa mente
também quando afirma que a revolução resultante do golpe de Estado comunista
“fica marcada como a primeira e única a empreender com êxito a gigantesca
tarefa de construir uma sociedade nova em que os recursos, os meios e os
instrumentos do Estado e do país foram postos ao serviço do povo”. Como é
sabido, a União Soviética era dirigida por uma oligarquia que, às vezes, nem
sequer atirava migalhas ao povo. Será que os milhões de soviéticos que morreram
de fome tinham os recursos, os meios e os instrumentos de que fala o líder
comunista, mas não sabiam?
É hilariante a afirmação de
que “a edificação do novo Estado significou a instauração de um verdadeiro e
genuíno poder popular, uma nova forma de democracia participativa – os
sovietes”.
Qualquer pessoa
minimamente informada sabe que os sovietes não eram mais do que correias de
transmissão do único partido existente na URSS: o PCUS. Os
sovietes foram completamente burocratizados e não passaram de mais um
instrumento de limitação das mais elementares normas democráticas. Senhor
Jerónimo de Sousa, a democracia não tem adjectivos: ou é ou não é.
Bem, eu pagaria para ver
o dirigente comunista dizer aos chechenos, tártaros da Crimeia, estónios,
lituanos, etc., etc., o seguinte: “De facto, a fundação em Dezembro de 1922 da
URSS como união voluntária de nações iguais em direitos, significou um exemplo
para todo o mundo da forma como a nova sociedade se construía e dos novos
princípios em que se baseava e resolveu um gigantesco e complexo problema
nacional”. As deportações em massa, a que dezenas de povos foram sujeitos, é
mais uma prova de que Jerónimo de Sousa foge à verdade.
Parafraseando António
Aleixo, para que as mentiras passem melhor é preciso misturar alguma verdade:
“A URSS, num curto período de tempo histórico, alcançou um significativo
desenvolvimento industrial e agrícola, erradicou o analfabetismo e generalizou
a escolarização e o desporto, eliminou o desemprego, assegurou a saúde pública
e a protecção social, garantiu e promoveu os direitos das mulheres, das
crianças, dos jovens e dos idosos, expandiu o impacto dos movimentos de
vanguarda artística e as formas de criação e de fruição da cultura, conquistou
um elevado nível científico e técnico, colocou em prática formas de
participação democrática dos trabalhadores e das massas populares, empreendeu a
solução da complexa questão de nacionalidades oprimidas, incrementou os valores
da amizade, da solidariedade, da paz e cooperação entre os povos”.
Quanto á vanguarda
artística e formas de criação, por exemplo, o dirigente comunista faz de conta
desconhecer em que se transformou a arte soviética, numa coisa chamada
“realismo socialista”, que matou qualquer tipo de criatividade. Os inovadores,
fossem escritores, pintores ou músicos, foram perseguidos, presos ou obrigados
a fugir da URSS.
Aqui recordo mais uma
anedota soviética. “O que é um trio soviético? É o que resta de uma orquestra
do Teatro Bolshoi depois de uma digressão pelo Ocidente”.
No que respeita à
amizade dos povos, Jerónimo de Sousa certamente não terá em vista o
anti-semitismo ou as perseguições de que acima falei.
Estaria de acordo quando o
líder comunista escreve sobre os êxitos económicos e sociais que “no final da
década de 80 do século XX, a URSS encontrava-se na vanguarda em diversas
tecnologias; possuía um terço do total de médicos do mundo e a mais baixa taxa
de mortalidade do planeta” ou ainda que “em 1980, a União Soviética tinha 997
médicos para 10 mil habitantes e todos os tipos de assistência médica eram
gratuitos”, mas só se ele fosse capaz de explicar o que levou uma
superpotência tão próspera a ruir onze anos depois. Será que devemos mandar às
malvas o marxismo-leninismo, no que respeita ao papel das massas, e acreditar
que foi mesmo a CIA e um grupo de traidores que deram cabo, em tão pouco tempo,
de um regime tão sólido como o soviético?
“A Revolução de Outubro
projectou-se em todo o mundo determinando grandes conquistas e avanços
civilizacionais e libertadores para os trabalhadores e para os povos”: esta é,
talvez, a única verdade existente entre a enxurrada de mentiras disparada por
Jerónimo de Sousa.
Mas já foge à verdade
quando acrescenta que, “no seguimento da Segunda Guerra Mundial, foi ainda com
o determinante papel da União Soviética que se alterou profundamente a
correlação de forças internacionais, dando origem a uma nova ordem mundial que
ficaria consagrada na Carta da ONU”. Como é sabido, Estaline não libertou
metade da Europa do fascismo, mas substituiu esse jugo tenebroso por outro que
não lhe ficou atrás quanto ao terror e violência.
Depois de enumerar os
problemas do capitalismo que todos conhecemos, o dirigente do PCP continua
teimosamente a insistir que “o futuro da humanidade não reside na
exploração, opressão, pobreza, injustiça e guerra, mas sim na realização do
sonho milenar do homem, na sua libertação, na paz, no progresso social e na
justiça – no socialismo e no comunismo”.
Não nos venha com
receitas velhas e promessas de que “nós não iremos repetir os mesmos erros”. O
resultado é sempre o mesmo. Por isso, não nos venda mais mentiras, pois hoje é
7 de Novembro e não 1 de Abril.
COMENTÁRIO DE Francisco José
O Jerónimo de Sousa é um ignorante, mas como ignorante, bebeu
acriticamente, porque não tem cultura para mais, o que lhe serviram no PCP e,
por isso, fez do leninismo e do estalinismo uma religião. Estamos face a um
homem a quem poderemos dizer com toda a certeza: eis um lobo com pele de
cordeiro! O J. de S. se se apanhasse no poder matava sem problemas nenhuns quem
não seguisse a sua "religião"! Cuidado "camaradas" porque
até a vós vos mandaria a morrer para um Gulag que ele criaria em Portugal!...
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