domingo, 12 de novembro de 2017

Portugal com Jerónimo de Sousa e mais pessoas do poder


Somos uma equipa populacional unida para venerar pessoas e coisas, a boca e os braços abertos à novidade, mas também apegados às velharias de que nos não desfazemos, por dedicação canina, e isso ninguém o pode impedir, que somos igualmente fortes no amor. Mas bem fazem os que o condenam, embora não consigam corrigir totalmente. No caso do nosso Jerónimo de Sousa, o certo é que perdeu já câmaras, nas últimas eleições, prova de que a força da sua palavra já não conta tanto, apesar do Avante e das suas festas e dos seus conceitos conservadoramente ou provocatoriamente erróneos sobre a história comunista, no apego primitivo, e em seguimento do papá Cunhal, também muito colado às doutrinas dos sítios onde vivera. No caso da Web Summit, é importante assistir a esses eventos espectaculares, para mostrarmos evolução. O certo é que ginastas nossos vão ganhando medalhas, apesar disto tudo, da nossa pequenez e da nossa parolice tão visível.
 Por isso o artigo de Alberto Gonçalves «thisisportugal» e o de José Milhazes «O PCP e a Revolução de Outubro: hoje não é o dia das mentiras», que nos trazem indicações tão importantes para a confirmação dos nossos próprios conceitos – alguns dirão preconceitos, o que não é verdadeiro – mais sardónicas as de Alberto Gonçalves, mais explícitas as de José Milhazes, a que acrescentei um comentário muito exagerado de Francisco José – não conseguem retirar-nos a convicção – apesar dos nossos entusiasmos festivaleiros – de que conseguiremos progredir, pois haverá sempre quem estude, para nos desembrutecer, quer pela via irónica, quer pela via didáctica, quer mesmo pela via lírica, condenando o nosso “Nevoeiro” e estimulando, tal como fez Fernando Pessoa com o seu “É a Hora!” tão tristinho. Ouçamos antes Luís Góis na sua extraordinária interpretação de “É preciso acreditar”, visto que hoje é domingo.

#thisisportugal
OBSERVADOR, 11/11/2017
Sendo um cidadão atento, fui a correr descobrir o que é a Web Summit. Pouco depois, regressei a correr ainda mais. De medo. Só alguns dos oradores indígenas bastariam para assustar um herói de guerra.
Sendo um cidadão atento, fui a correr descobrir o que é a Web Summit. Pouco depois, regressei a correr ainda mais. De medo. Só alguns dos oradores indígenas bastariam para assustar um herói de guerra: o dr. Costa (que, ficámos a saber, fala tão bem inglês quanto português), o prof. Marcelo, o eng. Guterres, o sr. Figo, dirigentes do futebol, senhores da banca e ilustres matarruanos em geral. Em suma, política, bola, Estado e a previsível tralha da “influência” e do compadrio. De brinde, o dr. Louçã, cuja presença num evento alegadamente dedicado a ideias novas é comparável a convidar Stephen Hawking para abrilhantar o carnaval de Torres Vedras.
Para cúmulo, tamanha maravilha aconteceu no exacto momento e na exacta cidade onde morrem pessoas por via da “legionella”, onde um ministro anuncia o aumento de IRC e onde, a pedido de corporações, a polícia enxota os condutores da Uber e similares que tentam aproximar-se do aeroporto (sou testemunha interessada: aterrei em Lisboa por motivos que não vêm ao caso e apenas o terceiro carro arriscou apanhar-me). Segundo a propaganda, a Web Summit mostra a nossa abertura à inovação e à iniciativa e ao investimento. A sério? Se no ano que vem resolverem transladar a festança para Caracas, as diferenças serão mínimas. Uma “hashtag” promocional jurava: #thisisportugal. E o pior é que é verdade.
Sobretudo, a moderníssima Web Summit aconteceu no tempo e no lugar em que, a propósito da revolução de 1917, o líder do PCP proclamou, aliás pela enésima vez, as portentosas virtudes da União das Repúblicas Socialistas e Soviéticas. No Coliseu dos Recreios, pelos vistos também receptivo à comemoração de revoluções sanguinárias e à “stand up comedy”, Jerónimo de Sousa falou e disse. Disse que a URSS transformou a “velha Rússia” num paraíso “altamente desenvolvido, mais industrializado e socialmente mais avançado”. Disse que foi “a pátria dos sovietes” a primeira do mundo “a desenvolver como nenhum outro, direitos sociais fundamentais”. Disse que a URSS teve um “inquestionável papel de força motriz de progresso e da paz a nível mundial”. Disse que o mundo está pior sem a URSS. Disse que “o socialismo é preciso” e é uma “exigência da actualidade e do futuro”. Disse que o capitalismo é um “sistema explorador, opressor, agressivo e predador”, que está “a conduzir o mundo para a barbárie”. Disse que o fim da URSS nada teve a ver com a Revolução de Outubro e os seus fundadores, e sim com o “modelo de construção do socialismo” que se afastou do “ideal e do projeto comunistas”. Disse que o “combate continua”.
O sr. Jerónimo disse estas doçuras e os “media” reproduziram-nas sem escrúpulos nem escrutínio, como se o sr. Jerónimo tivesse recomendado um restaurante em Évora ou os congratulado os bombeiros voluntários de Coimbra. As “redes sociais”, que se escandalizam diariamente com extraordinárias insignificâncias, não se escandalizaram com o elogio fervoroso do maior ataque organizado à humanidade que a História já registou. Ninguém saiu à rua em protesto. Ninguém estranhou. Ninguém, ou quase ninguém, pensou que os desabafos do sr. Jerónimo, afinal um voto de fé na brutalidade, na fome e no homicídio enquanto métodos de regulação das massas, fugissem da normalidade quotidiana de um regime supostamente democrático. No fundo, o sr. Jerónimo informou os portugueses de que não descansará até que, espero que com nuances, estes sofram o que as incontáveis vítimas do comunismo sofreram e sofrem. E, do alto da sua peculiar apatia, que os leva a envergonhar-se dos “twits” do sr. Trump e a orgulhar-se da miséria que trazem por casa, os portugueses acham bem.
Permitam-me evitar equívocos. Ao contrário dos deuses do sr. Jerónimo e dos fiéis do sr. Jerónimo, nunca passaria pela minha cabeça impedir um sujeito de confessar o que vai na dele. A questão, obviamente, não é o sr. Jerónimo proferir insanidades, mas a recepção que as insanidades suscitam. Em sociedades civilizadas, o louvor de genocídios merece repulsa, sarcasmo ou pena do maluquinho que assim se exibe em público. Em Portugal, homenagear psicopatas integra a categoria das notícias “habituais”, a título de opinião discutível ou, quiçá, esclarecida.
De resto, o sr. Jerónimo não é um maluquinho, ou pelo menos um maluquinho comum. É o chefe do terceiro ou quarto partido nacional, o qual rivaliza com outro (?) partido leninista nos votos, nos deputados, na demência e na ascendência sobre o bando que, descarada e oficialmente, finge governar-nos. Se se tratasse de um lunático com bombo às voltas ao coreto – e fosse tratado em conformidade –, a deplorável figura a que o sr. Jerónimo se presta podia esgotar-se em si mesma, sem que daí viesse qualquer mal ao mundo. Por azar, a misteriosa respeitabilidade de que o sr. Jerónimo desfruta compromete o país, ridiculariza o país e torna o país cúmplice de uma vasta parte do mal que, durante o último século, o mundo suportou de facto. Uma coisa é certa: a Web Summit é óptima para mostrar ao “estrangeiro” aquilo que somos. E quem quis ver viu que somos isto.


O PCP e a Revolução de Outubro: hoje não é o dia das mentiras
OBSERVADOR, 7/11/2017
O líder do PCP deve desconhecer a velha anedota soviética: Qual a diferença entre o capitalismo e o socialismo? O capitalismo é a exploração do homem pelo homem; o socialismo é exactamente o contrário.
O enfraquecimento e degeneração intelectuais do Partido Comunista Português são um facto cada vez mais evidente, principalmente quando o seu dirigente Jerónimo de Sousa mente, falsifica a História e tenta passar mais uma certidão de idiota aos portugueses.
Num artigo de opinião publicado no DN, o secretário-geral comunista começa por escrever: “Foi numa Rússia semifeudal, dominada pelo poder autocrático e repressivo dos czares e da mais alta nobreza, com mais de cem nacionalidades oprimidas, destruída pela I Guerra Mundial, com um povo fustigado pela exploração, a repressão, a pobreza, a fome e o analfabetismo que, no dia 7 de Novembro de 1917 (25 de Outubro no antigo calendário russo), o proletariado russo, com o papel de vanguarda do Partido Bolchevique, conquistou o poder e lançou as bases de uma nova sociedade sem a exploração do homem pelo homem”.
Ora qualquer aluno do 12º ano sabe que aqui há uma série de mentiras ou de indícios de analfabetismo histórico. Primeiro, a revolução comunista não foi feita contra o “poder autocrático e repressivo dos czares e da mais alta nobreza”, mas contra um Governo Provisório que mantinha na Rússia um sistema pluripartidário e se preparava para dar uma Constituição democrática ao país”. Segundo, não foi o proletariado russo que tomou o poder, mas um pequeno grupo de bolcheviques que só na cabeça de Jerónimo de Sousa queriam criar um regime sem exploração do homem pelo homem. O dirigente comunista não deve conhecer a velha anedota soviética: “Qual a diferença entre o capitalismo e o socialismo? O capitalismo é a exploração do homem pelo homem, enquanto que o socialismo é exactamente o contrário”.
Claro que ninguém duvida, como escreve o dirigente comunista, que “a Revolução de Outubro é (e continuará a ser) o acontecimento maior da história da humanidade”, mas diz apenas meia-verdade pois mente ao afirmar “que inaugurou uma nova época, a época da passagem do capitalismo ao socialismo”. Pergunta-se: onde está esse socialismo actualmente na Rússia e na maioria dos países que enveredaram ou, melhor, foram obrigados a enveredar por essa via de desenvolvimento? Deu lugar novamente ao capitalismo. Até na China se transforma cada vez mais num regime capitalista oligárquico que explora os trabalhadores até ao tutano.
Jerónimo de Sousa mente também quando afirma que a revolução resultante do golpe de Estado comunista “fica marcada como a primeira e única a empreender com êxito a gigantesca tarefa de construir uma sociedade nova em que os recursos, os meios e os instrumentos do Estado e do país foram postos ao serviço do povo”. Como é sabido, a União Soviética era dirigida por uma oligarquia que, às vezes, nem sequer atirava migalhas ao povo. Será que os milhões de soviéticos que morreram de fome tinham os recursos, os meios e os instrumentos de que fala o líder comunista, mas não sabiam?
É hilariante a afirmação de que “a edificação do novo Estado significou a instauração de um verdadeiro e genuíno poder popular, uma nova forma de democracia participativa – os sovietes”.
Qualquer pessoa minimamente informada sabe que os sovietes não eram mais do que correias de transmissão do único partido existente na URSS: o PCUS. Os sovietes foram completamente burocratizados e não passaram de mais um instrumento de limitação das mais elementares normas democráticas. Senhor Jerónimo de Sousa, a democracia não tem adjectivos: ou é ou não é.
Bem, eu pagaria para ver o dirigente comunista dizer aos chechenos, tártaros da Crimeia, estónios, lituanos, etc., etc., o seguinte: “De facto, a fundação em Dezembro de 1922 da URSS como união voluntária de nações iguais em direitos, significou um exemplo para todo o mundo da forma como a nova sociedade se construía e dos novos princípios em que se baseava e resolveu um gigantesco e complexo problema nacional”. As deportações em massa, a que dezenas de povos foram sujeitos, é mais uma prova de que Jerónimo de Sousa foge à verdade.
Parafraseando António Aleixo, para que as mentiras passem melhor é preciso misturar alguma verdade: “A URSS, num curto período de tempo histórico, alcançou um significativo desenvolvimento industrial e agrícola, erradicou o analfabetismo e generalizou a escolarização e o desporto, eliminou o desemprego, assegurou a saúde pública e a protecção social, garantiu e promoveu os direitos das mulheres, das crianças, dos jovens e dos idosos, expandiu o impacto dos movimentos de vanguarda artística e as formas de criação e de fruição da cultura, conquistou um elevado nível científico e técnico, colocou em prática formas de participação democrática dos trabalhadores e das massas populares, empreendeu a solução da complexa questão de nacionalidades oprimidas, incrementou os valores da amizade, da solidariedade, da paz e cooperação entre os povos”.
Quanto á vanguarda artística e formas de criação, por exemplo, o dirigente comunista faz de conta desconhecer em que se transformou a arte soviética, numa coisa chamada “realismo socialista”, que matou qualquer tipo de criatividade. Os inovadores, fossem escritores, pintores ou músicos, foram perseguidos, presos ou obrigados a fugir da URSS.
Aqui recordo mais uma anedota soviética. “O que é um trio soviético? É o que resta de uma orquestra do Teatro Bolshoi depois de uma digressão pelo Ocidente”.
No que respeita à amizade dos povos, Jerónimo de Sousa certamente não terá em vista o anti-semitismo ou as perseguições de que acima falei.
Estaria de acordo quando o líder comunista escreve sobre os êxitos económicos e sociais que “no final da década de 80 do século XX, a URSS encontrava-se na vanguarda em diversas tecnologias; possuía um terço do total de médicos do mundo e a mais baixa taxa de mortalidade do planeta” ou ainda que “em 1980, a União Soviética tinha 997 médicos para 10 mil habitantes e todos os tipos de assistência médica eram gratuitos”, mas só se ele fosse capaz de explicar o que levou uma superpotência tão próspera a ruir onze anos depois. Será que devemos mandar às malvas o marxismo-leninismo, no que respeita ao papel das massas, e acreditar que foi mesmo a CIA e um grupo de traidores que deram cabo, em tão pouco tempo, de um regime tão sólido como o soviético?
“A Revolução de Outubro projectou-se em todo o mundo determinando grandes conquistas e avanços civilizacionais e libertadores para os trabalhadores e para os povos”: esta é, talvez, a única verdade existente entre a enxurrada de mentiras disparada por Jerónimo de Sousa.
Mas já foge à verdade quando acrescenta que, “no seguimento da Segunda Guerra Mundial, foi ainda com o determinante papel da União Soviética que se alterou profundamente a correlação de forças internacionais, dando origem a uma nova ordem mundial que ficaria consagrada na Carta da ONU”. Como é sabido, Estaline não libertou metade da Europa do fascismo, mas substituiu esse jugo tenebroso por outro que não lhe ficou atrás quanto ao terror e violência.
Depois de enumerar os problemas do capitalismo que todos conhecemos, o dirigente do PCP continua teimosamente a insistir que “o futuro da humanidade não reside na exploração, opressão, pobreza, injustiça e guerra, mas sim na realização do sonho milenar do homem, na sua libertação, na paz, no progresso social e na justiça – no socialismo e no comunismo”.
Não nos venha com receitas velhas e promessas de que “nós não iremos repetir os mesmos erros”. O resultado é sempre o mesmo. Por isso, não nos venda mais mentiras, pois hoje é 7 de Novembro e não 1 de Abril.

COMENTÁRIO DE Francisco José
O Jerónimo de Sousa é um ignorante, mas como ignorante, bebeu acriticamente, porque não tem cultura para mais, o que lhe serviram no PCP e, por isso, fez do leninismo e do estalinismo uma religião. Estamos face a um homem a quem poderemos dizer com toda a certeza: eis um lobo com pele de cordeiro! O J. de S. se se apanhasse no poder matava sem problemas nenhuns quem não seguisse a sua "religião"! Cuidado "camaradas" porque até a vós vos mandaria a morrer para um Gulag que ele criaria em Portugal!...


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