Foram
vários os comentários que suscitou o artigo de Bagão Félix - «A praga da omissão (enviesada) nos
media» - que todos concordaram com o articulista e acrescentaram coisas
do seu saber. Deve ser verdade, pois. Não há o lápis azul da ditadura, há a
omissão – enviesada – da democracia, afinal tão ditatorial como aquela,
dependendo das modas conceptuais ou de salvaguarda do ordenado mensal. Mesmo
assim, ainda há articulistas arrojados, de se lhes tirar o chapéu, e um deles é
Bagão Félix. Muito curiosas todas estas informações, até mesmo dos comentadores.
Público, 13 de Novembro
de 2017, 08:50
A praga da omissão
(enviesada) nos media
Estamos num tempo em que
a verdade é suplantada pelas múltiplas formas da mentira: a meia-verdade, a
notícia falsa, o rumor, a agora chamada pós-verdade e outras formas capciosas
de falsificar a factualidade. Para além destas, há a mais insidiosa forma
de eliminar a verdade factual, não a negando, mas omitindo-a. O silêncio
que transporta é, não raro, uma forma sibilina de esconder, falsificar,
suprimir, reduzir o que se passa. A omissão deliberada ou consentida em
meios de comunicação social tem-se revelado cirurgicamente como uma forma
perversa e não democrática de “fazer notícias” ou “alinhar noticiários”. Em
liberdade, não há lápis azul, mas há esta poderosa forma de censurar sem lápis,
num aparente jogo democrático de escolhas, subliminarmente ditatorial,
preconceituoso, covardemente anónimo e não escrutinável quanto à decisão (e
decisor) da omissão.
Há dias, tivemos mais um
exemplo paradigmático desta forma de (não) noticiar. Três “Caminhadas pela
vida” de pessoas que se juntaram para expressar o seu modo de pensar e agir
face a questões da vida e para dar testemunho público da sua defesa do direito
incondicional à vida. Em Lisboa, no Porto e em Aveiro. Uma iniciativa cívica e
apartidária, sem sindicatos e outros poderes mediatizados, bem sucedida, em
particular em Lisboa, com muitas pessoas a ela aderirem.
E o que nos informaram a
quase totalidade dos media? Zero. Absolutamente zero.
Um despudor por magia da
omissão. Serão capazes de justificar tal censura? Ou querem transformar-se
em pseudo polícias dos costumes, seleccionando a seu bel-prazer o que deve ser
noticiado? Quaisquer vinte arruaceiros à espera de uma equipa de futebol são
motivo de notícia, com direito a repetição prolongada. Qualquer manifestação
sobre o contrário do que a “Caminhada pela vida” defende sobre o aborto, a eutanásia,
as barrigas de aluguer, as políticas de natalidade, etc. é objecto de
reportagem, directos e debates. Qualquer ajuntamento por mais insignificante
que seja de LGBT tem honras de bom alinhamento e boa página. E não venham com o
argumento de “falta de espaço” ou “falta de tempo” com que, por vezes, querem
justificar o injustificável.
Esta iniciativa teve,
aliás, o conforto de uma saudação do Papa Francisco aos seus participantes,
tendo em conta a “promoção e defesa da vida, contra a cultura do descarte,
guiada por uma lógica económica que exclui e por vezes mata”. Este Pontificado
que tantas vezes é glosado em muitas das posições que assume, mesmo por quem
não é cristão, é aqui também omitido na enxurrada do silêncio. Para umas
coisas, Francisco é o exemplo, para outras não existe.
Não está em causa a
liberdade de se pensar desta ou daquela maneira sobre estes e outros temas chamados
fracturantes (ou dissolventes). Está em causa a imparcialidade mínima de
órgãos (alguns públicos!) de comunicação social que, pelo menos aparentemente,
parecem ser ou deixarem-se ser dominados ou condicionados pela tal agenda de
fractura.
Infelizmente, o que
agora se passou é a regra. Digo-o sem rebuço: o conúbio mal disfarçado entre
certa esquerda iluminada que se considera detentora do monopólio da verdade, da
justiça, da cultura e da sensibilidade e algumas expressões mediáticas, elas
próprias com uma acentuada maioria de agentes e profissionais dessa zona
ideológica, quer afunilar o pensamento tornando-o único e reduzir à
insignificância “gente” a que pejorativamente chamam conservadora.
Muito bem. É exactamente
como diz o Dr. Bagão Félix. O Público, então, está há muito tomado pelos LGBT,
ou lá como é que isso se chama. Depois queixam-se das pessoas não comprarem
jornais.
Nelson Faria
Os meios de comunicação
social pertencem a grupos privados, existindo somente uma empresa estatal neste
âmbito, a RTP.
Vamos obrigar a Imprensa
a publicar o que achamos justo? O próprio Balsemão está a reformular o seu
negócio e, excluindo o Expresso em edição impressa, tudo o resto permanecerá no
futuro digital. A SIC é o ponto de lança, no mercado da televisão, onde se
pretende equilíbrio entre receitas (publicidade) e despesas. Balsemão, um
profundo conhecedor dos meandros da comunicação social – fez estágio como
Director do Diário Popular nos finais dos anos 60, à frente da empresa da
família, tomando balanço para a Ala Liberal. Ora, Balsemão, como empresário
privado, tenta maximizar o lucro do seu negócio. Publicará notícias da
estrutura supra da sociedade – as ideias, a cultura e os costumes – se lhe
der na real gana, assim se estabelecendo os canais de comunicação com os
directores dos respectivos media. Quem diz Balsemão, diz a Sonae com o
Jornal Público, a Média Capital com a TVI e a Rádio Comercial, a Global Capital
com o DN, JN e TSF, e o Grupo Cofina com o Correio da Manhã (que detém 40% do
total das emissões diárias impressas), o Record e o Jornal de Negócios.
Nas redacções abunda a
precariedade laboral: baixos salários e insegurança. Situações de
investigação, frequentes no passado – na nossa memória o Watergate e a queda de
Nixon. nos anos 70, passado para o cinema por Pakula, com dois actores
lendários Redford e Hoffman. Hoje, em Portugal, não é possível. No Público,
ainda hoje, Cerejo é a excepção que confirma a regra. Ou Paulo Moura e
Alexandra Lucas Coelho que, entretanto, saíram do Público.
Os privados cortam, obviamente,
nas notícias comprometedoras do ponto de vista dos seus pontos de vista. Se
disserem o contrário, devemos sorrir. Sendo um negócio pouco rentável, não vão
arranjar lenha para se queimarem… Veja-se o ritmo de extinções de
publicações…Este mundo não é para graças… Escolhem criteriosamente os
directores das publicacões que funcionam como os controladores da ideologia
difundida.
Os privados sobretudo
investem, através de notícias e artigos de académicos, investigadores e
jornalistas seniores de longa experiência e conhecimento (vide no PÚBLICO o
caso de Teresa de Sousa, Jorge Almeida Fernandes e São José Almeida) na parte
da infraestrutura da sociedade: o mercado de trabalho, as lutas sindicais, os
aspectos da evolução da cena internacional na vida do país). Aqui se joga
muito: o processo de optimização dos negócios pela divulgação de um conjunto de
princípios que permita a evolução do negócio e a manutenção de um status quo
favorável aos seus interesses.
A quem se pode exigir o que
o post reivindica é à RTP (Rádio e Televisão de Portugal). Sendo estatal,
deverá abrigar as opiniões que pulsam na sociedade.
Não se devem culpar os
jornalistas. Analisando o panorama dos meios de comunicação os desafios são
sérios e preocupantes. Que independência se pode esperar? Quem manda no Jornal
– manda no sentido do capital e cobertura de prejuízos – tem a faca e o queijo
na mão…Não adianta bramar contra os Jornalistas…
Já não existem Jornalistas
que tenham, sequer, a possibilidade de tornarem os seus textos empolgantes,
objectivos e linguisticamente impecáveis. As condições são outras: está aí o
digital. O que vemos viajando nos transportes públicos? Quem está a ler um
livro ou um jornal? Raros. Quem está a teclar um instrumento digital? Quase
todos. É esta a imagem real da realidade envolvente. Contra factos não podem
existir argumentos.
Muito bem
caro Félix. A omissão e a manipulação por omissão dos media ocidentais é uma
das sebentices que mais tenho denunciado aqui nos comentários do Público. Além
claro da narrativa adormecente encadeada de forma subliminar em alguns factos
reais e até alguns números para dar contexto verídico e matemático às mentiras
drogantes. Agora engana-se o caro Felix em pensar que a omissão e a
manipulação está só relacionada ou sobretudo relacionada com uma “esquerda
iluminada”… a manipulação é sempre, sempre, sempre visível em tudo o que seja
do interesse dos mercados e da política externa americana. Nisso não há
deslizes nem são permitidas margens de manobra nos media. Sobre o resto,
nomeadamente política nacional interna, há uma margem de manobra substancial,
com altos e baixos conforme as relações de poder mas que a meu ver até é
aceitável. É assim…
O
Público, por exemplo, está tomado por ideologias. Já nem têm pudor em tentar
disfarçar. Uma passagem pela página principal do online mostra o total
desrespeito pela pluralidade de ideias. Já não é um jornal. É um folhetim
activista. Uma pergunta rápida: porque é que o Provedor do Leitor não escreve
nada há mais de ano e meio? Serve para quê, concretamente?
Tem
toooooda razão. O país anda vergado a estes trambiqueiros e não vai acabar bem.
É um problema muito mais profundo, de uma completa insensatez, e do qual
emergem, entre outros, para referir apenas os mais recentes, aquilo no
‘Panteão’, do gajo que dá porrada na polícia e volta airoso do muito civilizado
juiz, ou o cão do Ministro.
Muito
bem! E depois queixam-se das redes sociais, dos perigos da falta de controlo
das notícias dadas naquelas, mas já de há muito que os jornais, incluindo o
PÚBLICO (apesar de ainda assim ser dos melhores), só noticiam o que “fica
bem” na seleção de notícias e temas que os “doutos” gurus das redações acham
importante e de noticiar. Meus caros jornalistas, a credibilidade tem
custos decorrentes da isenção, transparência, honestidade e imparcialidade, que
muitas vezes obriga a noticiar e dar voz ao que não gostamos, ou ao que não
está na moda do vosso microuniverso da opinião publicada e, chatear amigos e
gajos porreiros. Mas para evitar isso, há as colunas de opinião, convindo que
identifiquem claramente as vossas ideologias, simpatias e opções.
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