Mas a insistência de António
Costa na “competividade” e nos “Acórdos”, imune a correcções,
demonstra à saciedade que ele faz parte da “bênção” de que, segundo Alberto
Gonçalves, o país enferma, e por isso aqui vamos nós “cantando e rindo”. Como
sempre fomos. Abençoados.
A ignorância é uma bênção
OBSERVADOR, 9/12/2017
Todos sabemos que o
sistema que o dr. Costa representa prospera unicamente sobre a apatia alheia, e
que, apesar dos foguetes e da propaganda, isto acabará mal. Sabemos, ou
deveríamos saber.
Afinal, para que serve o
presidente do tal Eurogrupo? Deixemos o próprio dr. Centeno explicar:
para “(…) conduzir a discussão para alcançar o consenso necessário à
construção de uma UEM com um quadro institucional mais resiliente, promovendo a
convergência económica e indo ao encontro das expectativas dos cidadãos”. Serve,
portanto, para se aliviar de pateguices semi-analfabetas.
A espectacular
irrelevância do cargo e, sobretudo, do seu fresquíssimo ocupante foi
devidamente tida em conta pelos “media” lá de fora, que dedicaram ao assunto a
atenção que um Maserati dedica ao Museu dos Coches. Já os “media” cá de dentro,
ou a parte expectável deles, entraram em previsível êxtase. Não era para
menos. Num único “acontecimento” (liberdade poética), juntava-se tudo o que os
move: o imaginário brio nacionalista; um lugar de imaginário prestígio
internacional; a imaginária consagração das políticas socialistas; a
oportunidade de, mediante vénia ou cócoras, voltarem a exaltar os imaginários
méritos do dr. Costa. Num desses jornais que vendem 3000
exemplares e cada exemplar inclui 4000 louvores dos poderes vigentes, uma
vetusta personalidade do jornalismo caseiro resumiu o tom geral: dado
ser óbvio que o dr. Centeno é uma luz resplandecente, todos os que não se
curvam ante tamanho brilho são rematados idiotas. Com ligeiras variações de
presunção, o tipo de presunção que quem manda despeja em quem obedece, a
maioria das opiniões publicadas não se afastou excessivamente da referida em
matéria de profundidade e pertinência.
Resta um pormenor. Esta
profundidade, esta pertinência e esta presunção não são exactamente novas.
Ouvimo-las, das mesmas incansáveis alminhas, no tempo e a propósito do “eng.”
Sócrates. Andava o bom homem a esfarrapar o país de alto a baixo, na economia,
na liberdade e na decência, e os bajuladores da oligarquia prestavam-se a um
papel igualzinho ao que se prestam agora. De facto, não prestam para mais.
Ontem como hoje, o comentariado indígena defendia as virtudes dos donos contra
os “neoliberais” que duvidavam das ditas. E ai do “neoliberal” que ousasse
continuar a duvidar – no mínimo, levava um enxovalho; no máximo terminava no
olho da rua. Ontem como hoje.
Após um interregno de
quatro anos para verter ódio em cima de Pedro Passos Coelho, vulgo o Usurpador,
o comentariado regressou à veneração dos bandos que põem e dispõem disto,
actualmente enriquecidos pela aliança jovial com quadrilhas totalitárias. E
fê-lo sem arrependimento, pingo de vergonha ou sequer um pífio pedido de
desculpas. Essa gente limitou-se a trocar de santinho e, a pretexto do dr.
Centeno ou do pechisbeque que calhar, a repetir as lisonjas de sempre. E a
aplicar o desprezo de sempre aos que sentem, inclusive na pele, os efeitos do
repulsivo estado das coisas.
A propósito de coisas,
uma é certa: quando emite as opiniões que os donos lhe ditam, o comentariado
não fala no vazio. Por incrível que pareça, existe, fora dos interesses, dos
compadrios e das avenças, um público que genuinamente engole os elogios ao dr.
Costa com a credulidade, e a abertura digestiva, com que engolia as tentativas
de beatificação do “eng.” Sócrates. Porquê? Curiosamente, é o próprio dr. Costa
a fornecer uma possível resposta.
Há dias, o
primeiro-ministro lembrou: “O maior défice que temos não é o défice das
finanças, é o que acumulamos de ignorância, de desconhecimento, de ausência de
educação, de ausência de preparação”. Tipicamente, e decerto a título
exemplificativo, o homem tropeçou nos conceitos e a frase não faz sentido
nenhum (um défice de desconhecimento é mau?). Ainda assim, percebeu-se a
ideia, que além de um impiedoso retrato dos senhores que governam, é igualmente
um retrato fiel de boa parte dos governados. Não é fácil cometer um erro,
insistir em errar e não aprender um bocadinho no processo. Sofrer a hecatombe
socialista, pagar pelas respectivas consequências e voltar a abraçar as causas
do desastre com a inocência e a esperança iniciais não está ao alcance de
qualquer sociedade. Talvez seja necessária uma extraordinária abundância de
primitivismo, ou infantilidade, ou estupidez, se preferirem a ofensa.
E há pior. Num país não
propenso a confundir-se com um jardim-escola, a reacção natural dos eleitores
ao colapso engendrado pelo PS seria escorraçar a seita em definitivo, simbólica
ou literalmente. Aqui, pelo contrário, o PS floresce nas sondagens, o CDS é
liderado por uma aprendiza do marxismo e o PSD “reforma-se” com entulho de modo
a competir em votos com a toleima em curso. Por pudor, não menciono o quinto da
população que orgulhosamente escolhe os herdeiros de Lenine e sonha com a
felicidade venezuelana. De um lado, há milhões de cidadãos encantados com o saque
dos seus impostos para alimentar a pândega (eles chamam-lhe “consciência
social”). Do outro, um deserto povoado por meia dúzia de excêntricos. O povo –
equívoca palavra – não só tolera a desgraça: exige-a.
O dr. Costa tem razão ao
notar a ignorância que por aí vai. E mente ao prometer combatê-la, não por não
ser sua obrigação ou por ser um burgesso, mas por não lhe dar jeito. Todos
sabemos que o sistema que o dr. Costa representa prospera unicamente sobre a
apatia alheia, e que, apesar dos foguetes e da propaganda, isto acabará mal.
Sabemos, ou deveríamos saber. Porém, o dr. Costa é o primeiro a admitir, com
falsa consternação, que ninguém sabe nada.
Alguns comentários
Paulo Carnaxide
Costuma-se dizer, e bem,
que nas sociedades democráticas o comunismo sobe paralelamente à pobreza. Não
sei bem qual delas é a causa e qual delas o efeito. O que sei é que há uma
relação. No caso português, há também uma relação propaganda-subida nas sondagens
do socialismo esbanjador que teve efeito no caso Sócrates e agora no caso
Costa. Vejo com agrado a ida do Mr. Bean para presidente do eurogrupo, pois é
garantia do fim do devaneio socialista. A desilusão da extrema esquerda é
precisamente a percepção disso. A partir de agora, Jerónimo e Catarina vão
acusar o PS de subserviência ao grande capital, aliás o BE já disse isso na
cara do Costa na assembleia da república, a propósito do recuo do PS no caso
das rendas das eólicas. É uma nova fase da vida política nacional. Vai ser
engraçado.
fernando simoes
Este artigo está
excepcional. De facto a ignorância é fundamental aos governos, sobretudo ao de
Costa. Se a maralha inculta e bruta (alimentada pela oligarquia a futebol, a
Black Fridays e a viagens baratas) um dia perceber o que é pagar mais de 9 mil
milhões em juros e o que isso faz ao país, havia uma revolução a sério! A oligarquia
entretém a populaça com as chamadas causas fraturantes (casamento sodomita,
aborto, etc...) e assim vai tornando o país escravo, ao mesmo tempo que o
destrói moralmente.
Lucília Domingues
Limpinho, limpinho. A
verdade pura e dura. Entre a cegueira e ignorância do povo e a subserviência da
comunicação social ao poder socialista, temos um país agonizante que só consegue
exportar os seus cérebros e os seus jovens por falta de futuro e oportunidades.
Carlos Quartel
Não há mal em repeti-lo,
mas há que dizer que o mesmo andamos por aqui alguns, há vários anos, a pregar
aos peixes.
Não só a ignorância, como
uma grave perda de princípios e uma grande tolerância à pouca vergonha. A
aceitação da geringonça é um sintoma de que o oportunismo, o engano, o abuso do
voto, são considerados normais por uma massa acéfala, mais interessada nos
calos do Ronaldo, do que na eficácia do SNS ou do aproveitamento dos alunos das
escolas desta país.
Quanto ao aproveitamento do
episódio Centeno, tudo se passou e está a passar como previsto. É o maior, é um
génio, é uma honra para Portugal e para Costa, que o descobriu.
A questão da qualidade do
eleitor é um dos grandes problemas da democracia, que não pode deixar de
defender o voto universal, sabendo que grande parte das pessoas são ignorantes,
facilmente manipuladas e dirigidas.
Invente-se um inimigo e aí
teremos milhões de feras. Hitler com os judeus ou Puigdemond com os espanhóis,
há que abatê-los, destruí-los, exterminá-los .......
Miguel Sanches
Sem rodeios, clarinho como
água.
Este cenário - o da
ignorância - confirma os meus receios de há muito: então é neste ambiente (o da
IGNORÂNCIA) que se vai às urnas escolher os melhores de nós para o governo de
todos nós?
Não saio da minha: o voto,
assim, é uma armadilha.
Bravo Alberto Gonçalves,
mais uma vez!
Manuel Domingues
Umas das melhores crónicas
de sempre de AG. (…)
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