sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

É amanhã


Recordo António Variações na véspera do lançamento do meu livro «Permanência em fabulário de mudança».
 António Variações, um monstro do nosso cançonetismo, quer como compositor de letras e músicas, quer como seu intérprete, quer como criador dos modelos das suas apresentações tão originais. Um génio que não me canso de admirar, e de lamentar o efémero das suas aparições nos palcos da RTP, porque tão efémera foi a sua vida.
Recordo a sua canção «É pr’amanhã», porque é amanhã o lançamento do meu livro e se cá não estiver, segundo o agoiro da sua letra premonitória, pelo menos transcrevo-a, com a mesma consciência que ele tinha desse efémero sobre que escreveu, como poderia transcrever a letra doutro “monstro” do pensamento, Pessoa, nos vários heterónimos, especificamente o destes versos “Ele morrerá e eu morrerei. A certa altura…” do meu “Não sou nada. À parte isso…”, que são pertença de todos nós.
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 É pr’amanhã
António Variações
É p'ra amanhã
Bem podias fazer hoje
Porque amanhã sei que voltas a adiar
E tu bem sabes como o tempo foge
Mas nada fazes para o agarrar
Foi mais um dia e tu nada fizeste
Um dia a mais tu pensas que não faz mal
Vem outro dia e tudo se repete
E vais deixando ficar tudo igual
É p'ra amanhã
Bem podias viver hoje
Porque amanhã quem sabe se vais cá estar
Ai tu bem sabes como a vida foge
Mesmo de quem diz que está p'ra durar
Foi mais um dia e tu nada viveste
Deixas passar os dias sempre iguais
Quando pensares no tempo que perdeste
Então tu queres mas é tarde demais
É p'ra amanhã
Deixa lá não faças hoje
Porque amanhã tudo se há de arranjar
Ai tu bem sabes que o trabalho foge
Mesmo de quem diz que quer trabalhar
Eu sei que tu andas a procurar
Esse lugar que acerte bem contigo
Do que aparece tu não consegues gostar
E do que gostas já está preenchido
É p'ra amanhã
Bem podias fazer hoje
Porque amanhã sei que voltas a adiar
Ai tu bem sabes como o tempo foge
Mas nada fazes para o agarrar
É p'ra amanhã
Bem podias viver hoje
Porque amanhã quem sabe se vais cá estar
Ai tu bem sabes como a vida foge
Mesmo que penses que está p'ra durar
É p'ra amanhã
Deixa lá não faças hoje
Porque amanhã tudo se há de arranjar
Ai tu bem sabes que o trabalho foge
Mesmo de quem diz que quer trabalhar…

Mas é amanhã o lançamento desse meu livro, cuja Dedicatória à minha filha transcrevo, certamente que no desejo de que o livro seja extensível a muitas pessoas, pois creio que “vale a pena” conhecê-lo, apesar do negativismo irónico que nos move a mente:

À Paula, este paralelo risonho com todo o mundo animal ou vegetal ou mineral que seja, servindo de desfastio no desafio da aproximação e caldeamento dos tempos, ligando graça e desgraça em cada momento que passa.


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