Teresa de Sousa, no título do seu artigo, sem simbolismos de estilo, refere o dia, véspera de acontecimentos
que marcarão a História – da Alemanha, da União Europeia, dos Homens deste
tempo. Lembrou-me o “pranto” de Garcia Lorca, pelo matador de touros seu amigo,
Ignacio Sanchez Mejías, em 1934, em que a expressão de tempo - A las
cinco de la tarde - impregnada de dor, marca simbolicamente a hora da
sua morte, a hora de todas as mortes, de todos os movimentos sinistros em torno.
Teresa de Sousa informa-se, e preocupa-se: sobre as eleições em Itália e
as coligações na Alemanha, sobre uma hipotética escalada de guerra – esta nuclear.
Leiamos o poema e o seu estribilho
simbólico. E sosseguemos.
FEDERICO GARCIA LORCA: LA COGIDA Y LA MUERTE
A las cinco de la
tarde.
Eran las cinco en punto de la tarde.
Un niño trajo la blanca sábana
a las cinco de la tarde.
Una espuerta de cal ya prevenida
a las cinco de la tarde.
Lo demás era muerte y sólo muerte
a las cinco de la tarde[AS1] .
El viento se llevó los algodones
a las cinco de la tarde.
Y el óxido sembró cristal y níquel
a las cinco de la tarde.
Ya luchan la paloma y el leopardo
a las cinco de la tarde.
Y un muslo con un asta desolada
a las cinco de la tarde.
Comenzaron los sones de bordón
a las cinco de la tarde.
Las campanas de arsénico y el humo
a las cinco de la tarde.
En las esquinas grupos de silencio
a las cinco de la tarde.
¡Y el toro solo corazón arriba!
a las cinco de la tarde.
Cuando el sudor de nieve fue llegando
a las cinco de la tarde
cuando la plaza se cubrió de yodo
a las cinco de la tarde,
la muerte puso huevos en la herida
a las cinco de la tarde.
A las cinco de la tarde.
A las cinco en punto de la tarde.
Un ataúd con ruedas es la cama
a las cinco de la tarde.
Huesos y flautas suenan en su oído
a las cinco de la tarde.
El toro ya mugía por su frente
a las cinco de la tarde.
El cuarto se irisaba de agonía
a las cinco de la tarde.
A lo lejos ya viene la gangrena
a las cinco de la tarde.
Trompa de lirio por las verdes ingles
a las cinco de la tarde.
Las heridas quemaban como soles
a las cinco de la tarde,
y el gentío rompía las ventanas
a las cinco de la tarde.
A las cinco de la tarde.
¡Ay, qué terribles cinco de la tarde!
¡Eran las cinco en todos los relojes!
¡Eran las cinco en sombra de la tarde!
Eran las cinco en punto de la tarde.
Un niño trajo la blanca sábana
a las cinco de la tarde.
Una espuerta de cal ya prevenida
a las cinco de la tarde.
Lo demás era muerte y sólo muerte
a las cinco de la tarde[AS1] .
El viento se llevó los algodones
a las cinco de la tarde.
Y el óxido sembró cristal y níquel
a las cinco de la tarde.
Ya luchan la paloma y el leopardo
a las cinco de la tarde.
Y un muslo con un asta desolada
a las cinco de la tarde.
Comenzaron los sones de bordón
a las cinco de la tarde.
Las campanas de arsénico y el humo
a las cinco de la tarde.
En las esquinas grupos de silencio
a las cinco de la tarde.
¡Y el toro solo corazón arriba!
a las cinco de la tarde.
Cuando el sudor de nieve fue llegando
a las cinco de la tarde
cuando la plaza se cubrió de yodo
a las cinco de la tarde,
la muerte puso huevos en la herida
a las cinco de la tarde.
A las cinco de la tarde.
A las cinco en punto de la tarde.
Un ataúd con ruedas es la cama
a las cinco de la tarde.
Huesos y flautas suenan en su oído
a las cinco de la tarde.
El toro ya mugía por su frente
a las cinco de la tarde.
El cuarto se irisaba de agonía
a las cinco de la tarde.
A lo lejos ya viene la gangrena
a las cinco de la tarde.
Trompa de lirio por las verdes ingles
a las cinco de la tarde.
Las heridas quemaban como soles
a las cinco de la tarde,
y el gentío rompía las ventanas
a las cinco de la tarde.
A las cinco de la tarde.
¡Ay, qué terribles cinco de la tarde!
¡Eran las cinco en todos los relojes!
¡Eran las cinco en sombra de la tarde!
OPINIÃO Porque hoje é sábado
Os europeus jogam todos os dias o seu futuro, ainda sem uma direcção
definida. E o pior é que, provavelmente, deixaram de poder contar com a América
para minorar os danos.
TERESA DE SOUSA PÚBLICO, 4 de Março de 2018
1. Hoje é domingo. A frase que roubei à canção de Vinícius
serve apenas para lembrar que este texto foi escrito no sábado e que, por
vezes, basta um dia para mudar tudo. Hoje, domingo, a Itália vai às urnas
num quadro político ainda mais complicado do que é habitual neste país, com as
forças do populismo todas em alta. Berlusconi regressou para tentar ser ele a
controlar o próximo governo, mesmo que de fora. Comparado com o Movimento Cinco
Estrelas, parece um moderado, o que diz bem da incapacidade do centro-esquerda
para encontrar uma fórmula que diga alguma coisa aos eleitores. O furacão
Renzi, que chegou, viu mas não venceu, prepara-se para um mau resultado para
Partido Democrata. Os resultados finais provavelmente só se conhecerão amanhã.
No seu último comício de campanha, em Roma, o líder do Cinco Estrelas, o jovem
Luigi Di Maio, levou os manifestantes ao delírio quando anunciou que uma das
três primeiras medidas que tomará no seu governo será cortar para metade os
salários dos parlamentares e de outros cargos políticos. Individualmente, o
partido formado pelo comediante Beppe Grillo e que hoje tenta apresentar uma
imagem menos grotesca e mais normal, pode ser o vencedor. O seu problema é não
ter aliados. A alternativa é a coligação liderada por Berlusconi. A
Itália, que já foi um dos países mais europeístas da União Europeia, vive hoje
um clima de eurocepticismo generalizado. Como em muitos outros países europeus,
a imigração conquistou um lugar de topo nas escolhas dos eleitores e a
demagogia de Di Maio, que defende a expulsão dos que estão ilegais, soa bem. E
numa coisa os italianos têm razão. Passaram os últimos cinco anos a resgatar
refugiados no Mediterrâneo, salvaram milhares e milhares de vidas e viram,
durante muito tempo, os seus parceiros europeus olhar para o lado. A Itália é a
terceira economia do euro. Está próxima da turbulência que agita o Norte de
África e o Médio Oriente. A sua nova elite política dá-se bem com Putin.
Berlusconi é seu amigo. A Rússia é um mercado apetecível e um fornecedor de
energia. Escreve o New York Times que Putin não precisa de se preocupar. Sai a
ganhar em quase todos os resultados possíveis.
2. Hoje também ficaremos a saber se há ou não um novo governo de
“grande coligação” em Berlim. O SPD realizou uma consulta aos seus 460
mil militantes, cujo resultado são hoje conhecidos. O partido está
profundamente dividido. E já aprendemos que os referendos não dão os resultados
previstos. Houve, entretanto, uma novidade, que se reduz a uma palavra e
que pouca gente assinalou, quando a chanceler anunciou que pastas iriam para a
CDU/CSU e para o SPD. Com a Finanças na mão dos sociais-democratas, foi aí
que se fixaram todas as críticas à chanceler por se ter “rendido” ao parceiro
menor da futura coligação. Mas a chanceler também teve de oferecer alguma coisa
à CSU e ao seu líder, Horst Seehofer: um “superministério” do Interior, das
Infra-estruturas e da Pátria. Heimat. Pátria. Home. O que significa esta
“inovação”, que tem uma longa história, num país que durante décadas não podia
exibir o mesmo orgulho nacional a que as outras nações têm direito? Num
artigo de opinião publicado no New York Times, Jochen Bittner, editor do
semanário Die Zeit, começa por explicar que a tradução é difícil. Não é exactamente
o mesmo que Pátria ou Homeland. É a expressão de um sentimento de pertença
que envolve mais a cultura e um certo modo de vida, do que a geografia, que é o
cheiro dos bolos de Natal na cozinha e as montanhas verdes e tranquilas da
Baviera. Lembra que o nazismo a recuperou para defender a superioridade da raça
ariana e anestesiar os alemães, perante a barbárie que, entretanto, levava a
cabo. Mas não aconselha a que se goze com o seu significado (o que já
está a acontecer nas redes sociais). Um pouco de Heimat, escreve Bittner,
talvez impedisse a Alemanha de ir pelo mesmo caminho que o Reino Unido e a
América, com o Brexit e com Trump. A questão não é simples: como
combinar a diversidade com a identidade. Também admite que a palavra
encerra o risco de alimentar a exclusão dos outros e a rejeição da diversidade
e da globalização. É preciso, diz o editorialista, que a sociedade
perceba que a diversidade é possível e não põe em causa, necessariamente, a
forma de viver dos alemães e as regras em que assenta a sua democracia. Mesmo
assim, um “ministério da Pátria” não é a mensagem mais animadora, mesmo que
seja o preço a pagar pela chanceler para manter a CSU na coligação. Hoje
saberemos se haverá governo nos próximos tempos.
3. A Europa tem outros problemas sérios pela frente. A
decisão do Presidente americano de aplicar tarifas alfandegárias elevadas às
importações de aço e de alumínio, confirma, mais uma vez, que o que disse na
campanha é mesmo para fazer na Casa Branca. “As “guerras comerciais são boas”
para a América, foi o seu comentário. Parte dos seus conselheiros económicos
tentou demovê-lo. Se a medida que anunciou (e que ainda não tem tradução legal)
era para atingir a China, errou o alvo. Os mais afectados serão o Canadá e os
países europeus. O governo canadiano já avisou que haverá represálias. Bruxelas
também. Já sabemos para onde nos leva o proteccionismo: atinge a classe média,
afecta uma boa parte da economia e, em última análise, alimenta os
nacionalismos, que justificam os sacrifícios materiais sofridos pelos cidadãos
com a defesa da pátria. Já vimos esta história acontecer antes da I Guerra
Mundial. As novas tarifas podem representar um ponto de viragem de
consequências enormes para a economia global.
4. Mais preocupante ainda é a “escalada” entre Washington e
Moscovo sobre quem tem armas nucleares mais modernas e mais letais. Putin acaba
de anunciar um novo sistema de mísseis capazes de contornar o sistema de defesa
antimíssil americano. Ainda há dúvidas sobre que tipo de armas serão ou se servem
apenas para convencer os russos a irem votar maciçamente nele, nas eleições do
final deste mês. Os sistemas de defesa antimíssil estão instalados nos EUA e na
Europa, fora e dentro do âmbito da NATO. A Rússia considera-os uma infracção ao
equilíbrio nuclear negociado com os EUA no fim da Guerra Fria. Em Dezembro
passado, o Presidente americano anunciou uma nova geração de armas nucleares de
tecnologia muito mais avançadas e aumentou para 700 mil milhões de dólares o
Orçamento da Defesa. O argumento é recuperar a supremacia tecnológica. A Coreia
do Norte não é o único problema. O risco de proliferação nuclear é maior do que
nunca nas últimas duas décadas.
5. Na sua edição de 27 de Janeiro, a Economist apresentava
mais uma das suas capas destinadas a garantir que ninguém as vai esquecer. “The Next War”. Em letras mais
pequenas, explicava a que guerra se estava a referir: “A crescente ameaça de
um conflito entre grandes potências”. Há 25 anos, com a vitória das
democracias sobre o totalitarismo, o mundo chegou a parecer um rio tranquilo em
direcção a uma ordem mais democrática. Não foi assim. O
desenvolvimento económico não teve sobre a China o efeito político positivo que
muita gente previa. A Rússia começou por ser encarada, depois da implosão da
União Soviética, como uma potência que acabaria por integrar-se no mundo
ocidental. Não foi assim. A relação
transatlântica, a aliança militar mais forte e mais constante do planeta, vive
uma crise de identidade, que Donald Trump veio acentuar. Os europeus jogam
todos os dias o seu futuro, ainda sem uma direcção definida. E o pior é que,
provavelmente, deixaram de poder contar com a América para minorar os danos.
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