Salazar, pelo menos, amava a
sua pátria, era inteligente e honesto, dispôs-se a salvar e salvou, governou de
cabeça erguida. Estes de agora fazem conluios entre si, em apetites de
governança que servirá o PS, PSD arrastando-se em ficção de partido, na
realidade a desaparecer do horizonte, sem dignidade nem consistência. Um artigo
violento o de Alberto Gonçalves, que nos deixa estatelados, sobre figuras que
nos envergonham.
Talvez resulte, para bem da
Nação.
CRÓNICA
A consagração da União
Nacional
OBSERVADOR, 3/3/2018
De repente (força de
expressão), espécimes que tropeçam na língua e na decência têm Portugal
inteirinho nas mãos. E não se prevê que o larguem. Pior: não se imagina quem
queira obrigá-los a largar.
Assim, sim. Inspirado
pelo fantasma de Sá Carneiro, que dispõe de costas largas, o dr. Rio assegura o
regresso da “social-democracia” e esconjura o monstro “liberal”. O dr. Fernando
Negrão promete dialogar com o governo a bem do “interesse nacional”. O dr.
César dos Açores abençoa “a mudança saudável que aconteceu no PSD”. O PSD
cozinha pactos com o PS para subtrair dinheiro à “Europa” e engrandecer a
pátria. O recente debate quinzenal foi mais doce que os sonhos da Miss
Universo. O Bloco jura não sentir ciúmes. O dr. Costa saúda o retomar da
“normalidade”. E o prof. Marcelo exige “convergências” como se estas não fossem
a natureza de um sistema que enfim entrou em roda livre.
Depois do Tempo Novo,
eis o advento do Tempo Novíssimo. Os sinais estão aí, tão subtis quanto os
de um atropelamento por retroescavadora. Lembram-se de quando os catastrofistas
alertavam para uma imitação local do folclore venezuelano? Ridículo. Embora em
repouso prisional, na Venezuela há oposição. Por cá, desde a despedida de
Pedro Passos Coelho, há isto: um partido de poder que abdica do mesmo para
hipotética satisfação das clientelas e satisfação garantida de socialistas,
leninistas, terceiro-mundistas, populistas e oportunistas em geral. Em prol da
“estabilidade”, da moral e dos costumes, o PSD tornou-se uma agremiação
benemérita, ou o Convento dos Capuchos. E dos Pachecos. E das Manelas. E de
toda a tralha que, por necessidade ou rancor, passou anos a exigir mansidão e a
tentar varrer o último obstáculo aos seus apetites.
Hoje, a tralha celebra com
razão, ainda que nos intervalos dos festejos se dedique a farejar resquícios do
inimigo. Uns, por exemplo, empenham-se na delação de fiéis de Pedro Passos
Coelho no parlamento. Outros, outro exemplo, contestam a contratação do
ex-primeiro-ministro por duas ou três faculdades (e louvam as cátedras do dr.
Francisco Anacleto Louçã – cuja ponderação intelectual rivaliza com a de
Charles Manson – na universidade, na tv, na rádio, nos jornais e no Conselho de
Estado). E não esqueçamos os que apontam o dedo à “extrema-direita”,
“conservadora” e “neoliberal”, que se acotovela no “Observador”, de facto uma
crescente excepção ao caldo de propaganda e entretenimento em que caiu a
generalidade dos “media”. Nos viciados na denúncia certos hábitos nunca morrem.
O que morreu, ou pelo
menos ficou com diagnóstico reservado, foram as semelhanças, já de si ténues,
entre o regime e uma democracia civilizada. De repente (força de expressão),
espécimes que tropeçam na língua e na decência têm Portugal inteirinho nas
mãos. E não se prevê que o larguem. Pior: não se imagina quem queira obrigá-los
a largar. Dado que o CDS é uma coisa de “direita” liderada por uma devota da
regulação, a verdade é que uns 30% dos eleitores se encontram sem
representação. Nem esperança. Apesar de tudo, a teimosia de Pedro Passos Coelho
dava a impressão, discutivelmente correcta, de que havia alternativa à
resignação perante os oligarcas. Agora, em relação de simbiose com gangues de
chalupas e de parasitismo com contribuintes anestesiados, a oligarquia
espreguiça-se à larga. Contas por baixo, um milhão de votantes em 2015 não
saberá no que votar em 2019, se entretanto as eleições não tiverem sido
abolidas para evitar transtornos divisionistas. Tardou nove décadas, e, colada
pelo descaramento, a União Nacional lá se consagrou.
É pena? Depende. Por
mim, sou suficientemente avesso a colectivismos, ou meramente egoísta, para
encarar com desprendimento teórico os desvarios da nação. Se o país em peso
resolve jovialmente lançar-se rumo ao penhasco ou a uma alucinação
latino-americana, o país pode fazê-lo com estrondo. O problema é a prática, na
qual se torna difícil conseguir um camarote para acompanhar ileso o espectáculo.
Ao contrário dos oligarcas e respectivos protegidos, os cidadãos comuns, classe
a que indubitavelmente pertenço, não escapam sem abalos a desastres desta
dimensão. Um dia pagaremos o gozo dos que celebram os “acordos”, os “consensos”
e, regresso – salvo seja – ao prof. Marcelo, as “convergências”, que aliás já
começamos a pagar todos os dias. Quando a experiência acabar, ou quando
acabarmos nós, seremos mais pobres, mais isolados, mais dependentes, mais
ridículos. E menos livres. Mas muito unidos, no fundo o que importa. No fundo.
Alguns comentários
Adelina Maria Ribeiro Ribeiro
De uma extraordinária lucidez. Subscrevo!
Carlos Quartel
A preocupação justifica-se. O sistema não funciona
com coligações de 90%. Mirra a oposição, debates no parlamento são
substituídos por arranjinhos, nos gabinetes, corredores ou almoços, não
tardarão as pressões e as ameaças ao que resta, até conseguir os 100%.
Já por aí andam vozes para calar o Observador,
considerado como uma central de conspiração contra a felicidade da geringonça.
Agora alargada a quatro.
Esse será só o princípio, o normal é que toda a
actividade não "amiga" seja penalizada, chegará o tempo que qualquer
contrato com o estado implica um gestor ou administrador "da cor ".
Como sempre a esperança está lá fora, na Europa,
nas instituições, na livre informação, na democracia consolidada. Daqui nada há
a esperar, vivemos 50 anos em ditadura e 95%(ou mais) estavam felizes. Ainda
hoje há saudosistas, um povo de borregos precisa de cajado, pastor e mastim.
Um saco de feno e o rebanho está feliz .......
Nucha Neves
Eu fico igualmente pasmo com este enbevecimento dos jornais, rádios e
televisões pelo "prof. louçã". O tipo ainda há meia dúzia de anos (e
atenção que ele tem mais de 60) fazia constar nos estatutos do partido que o
caminho era a "luta armada". Nos jornais e rádios do proença de
Carvalho ainda entendo, agora na SIC em horário nobre tenho mais dificuldade em
perceber.
Rão Arques
Para enganar o próximo ao PS qualquer lado serve.
Então com Costa faz o pleno, indo de esguelha a toda a volta, por cima
com a vaca e por baixo de ratazana.
Anda bem acompanhado e há quem se meta debaixo.
Que povo é este, que povo?
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