sexta-feira, 27 de abril de 2018

O país emissor e o país receptor de Calouste Gulbenkian com noções químicas fortalecedoras


É sobre a Arménia e a sua história actual o primeiro texto, de José Milhazes, que informa sobre o conflito entre o povo arménio e o seu ministro, Serge Sarguissian, aliado de Putin. É sobre o nosso país, o segundo texto, de Paulo Almeida Sande, e sem especificidade de nomes, na nossa santa política de todos ao molho e fé em Deus, marca distintiva da nossa corrupção, também omissora do signo “pátria”.
 José Milhazes informa que Serge Sarguissian se recusou a demitir-se, a pretexto de estar a defender um enclave importante, contra o povo do Azerbeijão que igualmente o disputa – Nagorno Karabakh, mas que acabou por o fazer, pressionado pelo povo do Azarbeijão, que “não quer o “putinismo” no seu país”.
Todavia, logo os comentadores contra as “direitas” desvirtuantes surgiram, ferozes, e coloco-os escrupulosamente, como esclarecimentos úteis, de pontos de vista críticos sobre o ocidente e os seus defensores, que eles menosprezam, eliminando, contudo, os enxovalhos pessoais.

Calouste Gulbenkian, o arménio  trânsfuga, mecenas no nosso país… É altura de ler um pouco da sua história nacional…

Quanto à nossa, o texto de Paulo Almeita Sande explica bem as políticas de todos os quadrantes, de soma e segue, em compostura, de ligações iónicas ou metálicas, formando redes, boas condutoras de calor, de electricidade, de solidariedade, num ámen eterno ...

I TEXTO: Lá por fora
Arménios não querem “putinismo” no seu país
OBSERVADOR, José Milhazes
26/4/2018
A crise política na Arménia está longe do fim, mas já se pode tirar uma conclusão: os cidadãos desse país da Transcaucásia disseram não à rotatividade política copiada da Rússia pelos seus dirigentes.
Serge Sarguissian, que ocupou o cargo de Presidente da Arménia entre 2008 e 2018, após as funções de primeiro-ministro em 2007-2008, decidiu continuar a dirigir o país através de um truque constitucional já experimentado por Vladimir Putin na Rússia. Depois de rever a lei suprema do país, retirando grande parte dos poderes ao Presidente a favor do primeiro-ministro, Sarguissian, que, tal como Putin, fez carreira nos serviços secretos soviéticos, ocupou este último cargo há cerca de duas semanas.
Mais uma vez, Vladimir Putin precipitou-se ao dar os parabéns ao novo chefe do governo arménio, um dos seus mais fiéis aliados no antigo espaço soviético, ainda antes de ter entrado em funções. Porém, os concidadãos de Calouste Gulbenkian saíram para as ruas das cidades e vilas a fim de exigir a demissão de Sarguissian.
O “novo” primeiro-ministro recusou-se a pedir a demissão, justificando assim essa decisão: “Da minha parte, a tomada de posse como primeiro-ministro foi condicionada por uma circunstância simples. Nesta região com uma geopolítica complexa e num período cheio de desafios, devemos garantir o desenvolvimento seguro do país e continuar esforços com vista à normalização digna do problema de Karabakh”.
Nagorno-Karabakh é um enclave no território do Azerbaijão onde os arménios constituem a maioria esmagadora da população. A disputa armada entre arménios e azeris por esse território começou em 1987, sendo um dos primeiros conflitos que levou à desintegração da URSS em 1991. A Organização para a Cooperação e Segurança na Europeia tem tentado resolver este complexo problema, mas sem êxito, permitindo assim o reacendimento do conflito de tempos a tempos.
A julgar pelo ritmo a que está a ser resolvido este conflito, o mais provável é que ele garantisse a permanência no poder a Serge Sarguissian até á morte.
A oposição não aceitou essa justificação, criou-se uma situação muito perigosa, pois a sua primeira vitória presidencial ficou marcada por confrontos entre manifestantes e forças policiais que provocaram dez mortos. A tragédia poderia repetir-se em dimensões ainda mais sangrentas.
Quando o número de manifestantes nas ruas da capital arménia Erevan e noutras localidades não parava de aumentar e militares e polícias começaram a juntar-se aos protestos, Sarguissian foi sensato ao ponto de recuar e pedir a sua demissão.
“Cumpro a vossa exigência. Desejo paz, harmonia e lógica ao nosso país”, declarou ele ao anunciar a sua retirada.
Muitos milhares de pessoas saíram para as ruas a fim de festejarem esta vitória da oposição arménia, mas os mais de dez dias de protestos praticamente não mereceram a atenção dos canais de televisão russos controlados pelo Kremlin. As notícias começaram apenas a surgir após a demissão de Sarguissian, sendo sublinhado que não se tratava de “qualquer golpe anti-russo”.
É verdade que a oposição arménia não apresenta reivindicações anti-russas, nem a mudança da política externa do país (a Arménia é um dos mais fortes aliados da Rússia no antigo espaço soviético, mas, por outro lado, mantém boas relações com a União Europeia e os Estados Unidos). Porém, a televisão russa tenta esconder o facto de os arménios não terem permitido no seu país a “dança de cadeiras”, organizada por Putin com vista a garantir-lhe o poder pelo menos até 2024.  Claramente um “mau exemplo” a esconder dos cidadãos russos, não obstante a oposição russa estar completamente dividida e enfraquecida.
O exemplo arménio também não é “nada didáctico” para antigas repúblicas soviéticas onde os líderes eternizam o seu poder: Bielorrússia, Cazaquistão, Tadjiquistão, Azerbaijão, etc.
Todavia, a crise política não chegou ao fim, pois o dirigente da oposição arménia, Nikol Pachinian, exige o fim do monopólio do poder do Partido Republicano da Arménia e a realização de eleições parlamentares limpas e democráticas. Além disso, Pachinian pretende que o Presidente o nomeie primeiro-ministro interino até ao escrutínio para que seja garantida a sua legalidade e transparência.
Os actuais dirigentes do país recusam-se a aceitar novas reivindicações de Nikol Pachichian, que já conseguiu o apoio de importantes partidos políticos como “Arménia Próspera” e “Herança”.
A crise política continua e a sua agudização poderá ter sérias consequências não só no plano interno, mas também em toda a Transcaucásia. Por exemplo, o Azerbaijão poderá ser tentado a resolver pela força das armas o problema de Nagorno-Karabakh.
Talvez por isso, a União Europeia, os Estados Unidos e a Rússia não queiram permitir a agudização de mais uma crise numa região já complicada como a Transcaucásia.
Porém, a crise arménia deve ser um sério sinal para o Kremlin e não só pelo facto de ter sido posto em causa um dos principais postulados do “putinismo”: “hoje, Presidente; amanhã, primeiro-ministro; depois, novamente Presidente, etc.”. Vladimir Putin arrisca-se também a perder a Arménia, país onde existem bases militares russas, se tentar impor as suas regras de jogo aos vizinhos. Tal como já perdeu a Geórgia e a Ucrânia.

Dois comentários da esquerda amiga de Putin:
1 - De Diego Maradona:
1º- O Sr. Milhazes não percebe que foi mais um ataque do ocidente para desestabilizar mais um país amigo da Rússia? Se sentir necessidade de perceber o que se passou em vez de mais uma vez apenas colocar a culpa em Putin pode sempre ler aqui mais detalhes:
A guerra de que fala esteve parada sem qualquer conflito durante 20 anos, até que apareceram os americanos.

2º- Visto que não comentou, acrescento que os dois exemplos que mencionou, a Geórgia e Ucrânia são mais dois estados que sofreram o mesmo tipo de intervenção que agora acontece na Arménia.
A geopolítica americana joga sujo e sem qualquer problema de consciência.
Ainda tenho esperança que o Trump altere estas regras de confrontação. Não será fácil contrariar o poder do sistema.

2 - De fernando simoes
Putin surge como o único dirigente que não é funcionário da oligarquia financeira que comanda o mundo. Foi precisamente esta oligarquia que controla os EUA e o FMI, que quase destruiu a Rússia nos tempos de Yeltsin (um palhaço bêbado que ia destruindo a Rússia). Assim, contra toda a fúria ocidental e dos seus media, que tratando de controlar os povos ocidentais, também pensava controlar a Rússia, surge Putin como provavelmente a única defesa dos povos contra o imperialismo da finança. E já se viram os seus efeitos na Síria. Claro que tudo isto assusta a oligarquia, que tudo fará para minar a imagem de Putin. É exemplo disto esta crónica de Milhazes, que sabendo ou não, faz o jogo dos oligarcas.

II – Cá por casa
Traição à pátria
PAULO DE ALMEIDA SANDE
OBSERVADOR, 24/4/2018

Quando nos perguntamos por que razão Portugal se arrasta na cauda da Europa parte da resposta é o BES, os Vistos Gold, o Face Oculta, o BPN, a PT, a operação Marquês, a Moderna, o Freeport, etc., etc.
Há três maneiras principais, entre muitas outras menos óbvias, de reagir à catadupa de casos de corrupção, fraude fiscal, nepotismo, branqueamento de capitais ou apenas venalidade que tem caído sobre a cabeça dos portugueses nos últimos tempos:
Com indiferença. Com sobressalto, indignação e preocupação pelo futuro do país. Ou como se de um reality show se tratasse, envolvendo gente famosa, pagamentos (multi)milionários e contas e fundações secretas com nomes divertidos como “tartaruga”.
Portugal não é o primeiro nem será o último país a viver situações destas. Luvas e subornos, viciação de concursos públicos e privados, sonegação de capitais ao fisco, são práticas correntes em todas as geografias e por empresas, cidadãos, instituições reputadas (até deixarem de o ser). Os casos BAE System, Petrobrás, FIFA, KBR/Halliburton, Teodoro Obiang, o da empresa governamental chinesa de infraestruturas e tantos outros, são exemplos de um mundo corrupto ou suspeito de o ser.
A estes nomes juntaram-se nos últimos anos instituições e personalidades portuguesas como Ricardo, Zeinal, José, Henrique, Rui e Manuel. Empresas como o BES, o BPN, a PT. Ao longo de anos, percebe-se agora que de muitos anos, o país esteve a saque.
Como reagir? Com indiferença, sobressalto, gozo lúdico?
Mas afinal qual é o problema, dirão, indiferentes, os cépticos de serviço, para quem não vale a pena perder tempo com o assunto: o que lá vai lá vai e afinal os homens, e mulheres, que também há mas menos, já estão sob vigilância, arguidos ou acusados, com bens arrestados, alguns presos. Para quê perder tempo com eles? Dizem também, em contradição com o argumento anterior, que de nada serve indignarmo-nos pois vai continuar tudo na mesma, os suspeitos serão ilibados, os acusados absolvidos, os condenados perdoados. E se nada muda é também porque a grande corrupção não passa da imagem magnificada da sociedade das cunhas e dos compadrios, da prenda que abre a porta, das pequenas manigâncias, a aguardar a ocasião certa, a oportunidade para se fazerem grandes. É o país do “ele rouba como os outros, mas pelo menos faz…”.
O problema, como diria o meu amigo Lineu, são vários.
Em primeiro lugar, a corrupção (e os outros crimes) empobrecem um país. É impossível conhecer os valores exactos, mas são muitos milhões, continuamente: a corrupção distorce a correcta alocação dos recursos, subverte a boa gestão de empresas e negócios, torna a economia menos eficiente, com prejuízo para todos menos para os corrompidos e os corruptores. A corrupção e os outros crimes são por isso uma traição à pátria e ao interesse público.
Em segundo lugar, a corrupção aumenta a desigualdade. Enquanto alguns abusam dos seus cargos na administração pública ou nas empresas de que são donos ou administradores, em benefício exclusivamente privado, locupletando-se com ganhos indevidos, a generalidade da população, sem poder beneficiar desses ganhos, empobrece. O fosso aumenta. A corrupção e os outros crimes referidos são por isso um crime contra os portugueses, que à sua sombra empobrecem.
A corrupção, e esta é terceira consideração, acarreta a perda de credibilidade de um país, sempre que a percepção do fenómeno extravasa as suas fronteiras (caso do Brasil) ou de uma empresa, quando associada a actos dessa natureza. A corrupção e os outros crimes referidos são afinal um ataque ao país a que uma empresa pertence, aos seus accionistas ou ao público com que interage.
Finalmente, a corrupção e a venalidade das instituições políticas, os comportamentos duvidosos ou indignos, a apropriação indevida de dinheiros públicos, minam a confiança dos cidadãos no governo, no parlamento, nos partidos e nos políticos. A corrupção e a venalidade e os outros crimes referidos são pois um atentado directo à democracia.
Já este ano, a ONG Transparência Internacional considerou Portugal um país mais corrupto do que a média europeia. Somos mais pobres, mais desiguais, menos credíveis externamente e temos uma classe política mais desacreditada do que teríamos não fora o estigma da corrupção.
Quando nos perguntamos por que razão Portugal se arrasta há décadas – na verdade há séculos – na cauda da Europa, parte da resposta é o BES, os Vistos Gold, o Face Oculta, o BPN, a PT, a operação Marquês, a Moderna, o Freeport, a Fundação Caracol e tantos outros casos.
E embora haja cada vez mais manifestações de indignação com este atentado ao interesse público, ao país e à democracia, a maioria dos portugueses parece contemplar com deleite o espectáculo da justiça caída na rua e exposta, nua e crua, nos ecrãs de televisão. Crime com crime se paga, mas é “panem et circenses” e por isso está tudo bem.
Que fazer?
Assumir a gravidade das acções praticadas por políticos, empresários, banqueiros, juízes, dirigentes desportivos, militares. Separar o trigo do joio, antes que todo o trigo se confunda com joio.
Apelar à indignação colectiva, nunca tão justificada como agora. E exigir que a justiça actue em prazos razoáveis. Portugal é dos países da Europa com tempos de tramitação processual mais lentos. A mudança é necessária e urgente.
Finalmente, mudar a cultura e as mentalidades. A corrupção só tem no nosso país o peso e a importância que conhecemos porque desde sempre foi tolerada como pequeno vício de costumes para facilitar a vida ao cidadão comum. Ora nem o vício é pequeno nem a vida dos portugueses foi facilitada pela corrupção que explode.
Portugal deve tornar-se uma pessoa civilizada, tenho escrito várias vezes citando Almada Negreiros. É bom que se comece por aqui, antes que não haja nada para civilizar.
A corrupção é uma forma de traição. Ponto final.


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