Cornos, Corruptos, Criminosos,
os três CCC, da designação de João Miguel Tavares, na
sequência da Democratização, Descolonização, Desenvolvimento,
os três DDD, da designação do 25 de Abril, corporizado na
nata da cidadania portuguesa, que o fabricou ou se limitou a nele se incorporar,
jubilosamente.
Parece que o primeiro C do
conjunto CCC, tem a ver com um gesto feio de Manuel Pinho em pleno
Parlamento, por alturas de 2009, dirigido a um tal do PCP, Bernardino Soares,
gesto de que, veio a saber-se, o gesticulador dos dois indicadores na testa, pediu
desculpa, mas que JMT ressuscitou, passados tantos anos, no seu artigo «Os
corninhos de Manuel Pinho eram para nós», sentindo-se ele atingido e
alargando a todos nós o seu alcance, descobertas as práticas desonestas do tal Manuel
Pinho, que foi ministro, de corruptas ligações socráticas. Daí o ter eu
escolhido esse primeiro C para fazer parte do conjunto a que pertencem
os corruptos e os criminosos de um regime que proliferou, segundo o descritivo
de JMT, que, sadiamente, não perdoa aos infractores.
Os três CCC vão
continuar, temo-lo visto, e JMT o confirma, com dados perfeitamente
demonstrativos dessa corrupção e criminalidade, desculpados, para já os cornos
de Manuel Pinho, (mau grado o sentimento de receptividade alastrante de JMT), de
que Manuel Pinho foi mero exemplo proliferativo, até aos dias de hoje e de
continuidade imparável.
Um texto lavado, o de JMT,
como já nos habituou, na sobriedade, saliência e saber (três SSS),
da sua argumentação inteligente, incisiva, irrefutável, (três III),
e mais tríades poderíamos agrupar, ainda que roufenhas, tais as de especificidade,
estridência… estrumeira (três EEE), mas damos a palavra, tal como o
fez o Público, na sua última página de 28/4/18 - a emparelhar com o artigo de JMT - ao
Bartoom Luís Afonso, como epígrafe ao texto do cronista, em exclusividade
temática pertinentemente ilustrativa de uma última página.
I- BARTOOM LUÍS AFONSO:
«1ª Vinheta:
Pernas cruzadas do freguês no seu banco, em
mostras de tensão e apreço, o pé direito pontiagudo um pouco erguido em acompanhamento orquestrado, o jornal aberto
em toda a sua extensão, as mãos a segurá-lo de um lado e outro, os olhos
enormes assestados sobre a notícia que lê.
Os três pêlos da cabeça do barman,
receptores da notícia, quais antenas eficientes, tal como o resto da cabeça, o
seu braço esquerdo recolhido delicadamente, no balcão coberto pelo queixo
enorme e as outras proeminências faciais, só a sua boca fechada num ponto, próprio
da sua mudez atenta.
A NOTÍCIA: «A EURODEPUTADA ANA GOMES DIZ QUE O PRÓXIMO
CONGRESSO DO PS É UMA OPORTUNIDADE…
2ª Vinheta:
Conclusão da notícia,
sem mudanças perceptíveis nas figuras:
… PARA ANALISAR COMO O
PARTIDO SE PRESTOU A SER UM INSTRUMENTO DE CORRUPTOS E CRIMINOSOS.»
3ª vinheta:
O jornal dobrado na mão
esquerda do freguês, a cabeça erguida e os órgãos respectivos salientes, a
parte direita do tronco visível, de branco engravatado, mais o braço direito
aberto, mão espalmada e indicador saliente, a boca aberta para a pergunta
pertinente ao barman:
Pergunta:
ACHA QUE SE IRÁ ANALISAR
ISSO?
4ª Vinheta:
O jornal bem dobrado no banco
seguinte, cumprida a sua função informativa, o braço esquerdo do freguês descansando
no balcão, o direito descaído, cumprida a sua função informativa, a boca em
ponto e o olhar atento fixo no experiente barman, este de boca aberta e o dedo
em riste, próprios de um tom drástico e sabiamente pertinente:
Resposta:
ACHO MAIS PROVÁVEL QUE
SE ANALISEM EXOPLANETAS OU ONDAS QUÂNTICAS.»
II- O TEXTO DE JMT:
OPINIÃO
Os
corninhos de Manuel Pinho eram para nós
Os anos socráticos não foram o desvario de um homem solitário,
especialmente dado à manipulação e à ladroagem, mas o zénite de um regime
profundamente corrupto.
JOÃO
MIGUEL TAVARES
PÚBLICO,
28 de Abril de 2018
A partir do momento que descobrimos que Manuel Pinho é suspeito de ter
continuado a receber 15 mil euros mensais do BES enquanto ocupou o cargo de
ministro da Economia, aquilo que surge diante de nós é a primeira prova de algo
que se adivinhava há muito – os anos socráticos não foram o desvario de um homem
solitário, especialmente dado à manipulação e à ladroagem, mas o zénite de um
regime profundamente corrupto, que envolveu as maiores figuras da política, da
banca e da economia.
Aquelas pessoas não chegaram lá acima e depois tornaram-se corruptas; aquelas
pessoas só chegaram lá acima porque já eram corruptas. A diferença entre uma coisa e outra é imensa.
O que assistimos em Portugal não foi ao poder a deixar-se corromper
(acontece em todo o lado), mas sim à corrupção a chegar ao poder (acontece apenas
em ditaduras ou em simulacros de democracia). Apesar de tudo, são duas
formas bem distintas de roubar um país. No primeiro caso, o problema resolve-se
prendendo os corruptos. No segundo caso, é indispensável uma profunda
reflexão sobre a natureza de um regime que se deixa dominar anos a fio por um
conjunto de distintos malfeitores, e avaliar por que razão os quatro poderes
fracassaram estrondosamente no exercício de vigilância mútua.
O que o novo caso
Manuel Pinho demonstra é que os pesos e contrapesos do regime
português se afundaram no pântano socrático. E perante isto há três tipos de
reacção possível: 1) admitir o problema; 2) negar o problema; 3) relativizar o
problema. Esta semana assistimos, por parte de membros destacados do Partido
Socialista, aos três tipos de reacções.
1) Admitir o problema. Coube a Ana Gomes, mais uma
vez, a única reacção decente perante tudo aquilo que vamos sabendo.
Escreveu no Twitter: “O PS não pode continuar a esconder a cabeça na
carapaça da tartaruga. O próximo congresso é uma oportunidade para escalpelizar
como se prestou a ser instrumento de corruptos e criminosos. Pela regeneração
do próprio PS, da Política e do País.” Tudo dito e bem dito.
2) Negar o problema. A Arons de Carvalho coube esta
semana o papel de porta-voz socrático. Em entrevista ao I disse
que “a posição de Ana Gomes é um erro colossal”, considerou que uma
pessoa viver “com dinheiro emprestado” não é “reprovável”, e apresentou o
mantra dos actuais defensores de Sócrates, que não podendo mais continuar a
jurar a sua inocência sem fazerem figura de parvos, optam por declarar: “Quer o
Manuel Pinho, quer o José Sócrates, não foram ainda condenados. Temos de
esperar sem intervir e sem comentar.” Portanto, já sabem: tudo caladinho até 2028.
3) Relativizar o problema. Como de costume, coube a Carlos
César e a Jorge Coelho o papel de cucos do PS. Os paninhos quentes que
têm tido em relação a Sócrates não tiverem em relação a Pinho. Carlos César:
“Se isso aconteceu, é uma situação incompreensível e lamentável.” Jorge Coelho:
“Acho essa questão tão grave, tão inédita, que nem quero acreditar que seja
verdade.” Pinho, que nem sequer tem cartão de militante, dá jeito como bode
expiatório de uma certa indignação socialista. O PS critica-o a ele e não ao
outro, simula alguma virtude, assobia para o ar como se não fosse nada, e o
país fica sentado à beira do caminho, aguardando que um dia lhe expliquem como
foi isto possível.
A fórmula dessa possibilidade está à vista: foi possível porque poucos
admitiram, muitos negaram e quase todos relativizaram. Assim aconteceu em 2009.
Assim continua a acontecer em 2018.
Jornalista
Mas, na antepenúltima página
do mesmo Público de 28/4, Jorge Wemans
escreve longo artigo, condenando as reportagens esclarecedoras da Sic, que
deram azo a tanto brado, de que a última página aqui citada é exemplo. Dele só citarei o introito:
OPINIÃO
A insustentável leveza dos filmes do senhor
procurador
Não me recordo de ter assistido, em democracia,
a tão repugnante entrega do papel do jornalista a procuradores e juízes.
JORGE WEMANS
28 de Abril de 2018:
Só a impunidade soprada pelos ventos de populismo que assola a Europa
pode explicar o que tenho ouvido e lido como defesa da “grande reportagem” da
SIC construída com base nos filmes dos interrogatórios dos arguidos do
processo Operação Marquês. Não encontro outra explicação. E o que vejo
assusta-me.
Vamos por partes.
1. A tal “grande reportagem” que a SIC montou com a divulgação dos
filmes dos interrogatórios tem zero de investigação própria e nada de factos
novos. O seu roteiro segue o discurso da acusação e a dita reportagem não é
mais do que a ilustração dos milhares de páginas em que aquela se deu a
conhecer. Ou melhor dizendo: os milhares de páginas impressos como certificado
de tudo quanto sobre o caso já tinha sido tornado público pela via de
flagrantes e repetidos atropelos ao segredo de justiça. ….
Um comentário do contra, entre
os muitos de apoio a este artigo de J W:
28.04.2018:
Mas a grande questão está mesmo no papel desempenhado pelos magistrados e,
assim sendo, no pretendido com essa intervenção. Porque a questão da Ética e do
Segredo de Justiça, essas já foram deitadas às malvas há muito tempo;
precisamente por aquilo que os magistrados pretendem com tudo isto. Alguns
dirão, preparar a opinião pública para a bondade - eles dizem verdade - dos
seus argumentos e convicções; contudo, não é só por isso, é muito mais - visa
instrumentalizar, pela contaminação, as outras áreas do poder, e assim reforçar
o seu. Estamos perante um processo de judicialização da sociedade, nos quais o
poder legislativo, por incúria e omissão, e o poder executivo, por demissão e
indecisão, têm amplamente contribuído. Veja-se o caso da norma sobre o concurso
para professores.
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