segunda-feira, 23 de abril de 2018

Pequenez



A ofuscação por umas tais doutrinas de liberalismo social - e moral – além do económico da cartilha – eliminam totalmente o raciocínio dos que, sem experiência da vida e com a prosápia própria da juvenilidade alcandorada às suas cimeiras, por via de umas quantas leituras dos estereótipos da moda, e da convicção de uma intelectualidade pretensamente mais inteligente, por ser da esquerda, está visto, ainda hoje se denuncia sem pejo nem medida, anões que somos, centrados no nosso ego ou na corrente mais em uso e incapazes de analisar imparcialmente os factos.

Lembro-me do que contava uma velha amiga dos tempos da sua juventude, numa Lisboa republicana em desordem e tiroteio constantes, de que só com a nova ordem, imposta primeiro pela ditadura militar e seguidamente pela mão apertada mas orgulhosa e cumpridora de Salazar, conseguiu a acalmia. Não, não se podia sair à rua em tranquilidade, e a vinda de Salazar fora uma bênção, era isto que lembrava a minha amiga. Poderia recordar a minha experiência de vida, nos tempos de Salazar, de liberdade e mais ordem e respeito por valores, poderia referir os receios de hoje, relativamente à liberdade dos jovens, condicionada por inúmeros factores – o terrorismo, as drogas, o abandono pela ausência dos pais no trabalho, a deformação trazida pelo excesso de permissividade, o “encurralamento” em espaços fechados, desde tenra infância, o isolamento e inércia proporcionados pela alienação mediática, da comunicação a distância, e tanto desrespeito e criminalidade à solta, etc, etc, mas prefiro, por diversão própria, transcrever alguns comentários mais ou menos dialogados que o texto de Rui Tavares mereceu, uns não obnubilados pela mesma arrogância de opinião do articulista, e mais sensatos e realistas - de que ressalto os de amora.bruegas Tomar 


OPINIÃO
Quando Portugal fazia de Hungria da Europa
Nacionalismo: já lá estivemos, já vimos o que implica e já perdemos 48 anos com ele. Num país como Portugal, as suas ilusões só se conseguiram manter à custa de pobreza no interior e pilhagem no exterior.
PÚBLICO, 13 de Abril de 2018
O livrinho que tenho à frente dos olhos enquanto escrevo estas linhas chama-se Principes et Institutions de l’État Nouveau Portugais (Princípios e instituições do Estado Novo Português) e foi editado em 1935 pelo Secretariado de Propaganda Nacional. O facto de se encontrar em francês indica que se trata de um exemplar do esforço que o salazarismo fez para divulgar no resto da Europa e do mundo a Constituição de 1933 com que inaugurou o Estado Novo há 85 anos feitos esta quarta-feira (a constituição foi “aprovada” a 19 de março de 1933 com um plebiscito onde as abstenções contaram como votos a favor, mas entrou em vigor com a publicação no Diário da República a 11 de abril do mesmo ano). Este gesto de vaidade é comum a muitos regimes autoritários: quando em 2011 o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán decidiu impor uma nova constituição em cuja redação não participaram os deputados da oposição, logo seguida por uma lei eleitoral que lhe dá sempre dois terços do parlamento com menos de 50% dos votos, também procedeu imediatamente à edição de vários livros em língua estrangeira partilhando a boa nova da sua “democracia iliberal” aos quatros ventos. Tenho uma prateleira inteira desses livros, oferecidos a cada reunião com o governo húngaro, lá em casa.
Nos meados dos anos 1930 era Portugal que estava na moda entre os conservadores autoritários. Na primeira página do seu miolo, este livrinho explicando o salazarismo aos estrangeiros de língua francesa tem à cabeça uma única palavra: "NACIONALISMO". Os primeiros parágrafos constroem um caso contra as ideias do iluminismo, acusando os enciclopedistas do século XVIII de terem levado a humanidade a um “individualismo egoísta” no qual “uma multitude de ideias contraditórias saem de cérebros exaltados” (a tradução é minha). Para quem acha que o salazarismo não estava atento às modas do tempo ou não sabia em que teclas tocar para ser apreciado pelos nazis e fascistas, note-se que ainda a primeira página não terminou e o livrinho já se lança no antissemitismo. Diz ele que “a divisa Liberdade, igualdade, fraternidade… criou uma sociedade que se impregnou do espírito judaico do lucro… tornando-se quase amoral e encarniçando-se em aumentar a miséria social para a oferecer em holocausto a um progresso fingido”.
“O humanitarismo idealista do século XVIII”, diriam vocês, é uma coisa boa? Pois saibam que, segundo o livrinho, ele “rompeu com o equilíbrio moral da sociedade”. “O nacionalismo português”, por outro lado, “renasce dos escombros de um século inteiro de racionalismo subjetivista”. Isto não é um ensaio enviado por um qualquer calouro a uma gazeta universitária. Isto era a doutrina que o Portugal oficial do tempo dos nossos avós e pais pugnava por vender aos estrangeiros. “O nacionalismo opõe-se ao internacionalismo”, conclui o curto capítulo de quatro páginas, antes de se lançar o livrinho num novo tema, “VIDA E MORTE DO LIBERALISMO”, a que se seguem capítulos como “DITADURA”, “UNIÃO NACIONAL”, “A MOCIDADE NAS ESCOLAS” ou “A ALEGRIA NO TRABALHO”.
O mais interessante é saber, não a que se opunha, mas do que dependia o nacionalismo salazarista. A resposta é simples: austeridade permanente e colonialismo perpétuo. A austeridade, embora não fosse essa a palavra usada, era entendida como a forma de escapar à “desordem financeira, desordem política e desordem moral” do mundo internacional moderno (o livrinho explica com muito brio a recusa de empréstimos da Sociedade das Nações). No subcapítulo sobre “O Império Colonial”, os propagandistas do Estado Novo declaram “que é da essência orgânica da Nação Portuguesa o exercício da função histórica de possuir e colonizar territórios no ultramar e de neles civilizar os povos indígenas” (com a Constituição de 1933 entrou também em vigor um Ato Colonial).
Nacionalismo: já lá estivemos, já vimos o que implica e já perdemos 48 anos com ele. Num país como Portugal, as suas ilusões só se conseguiram manter à custa de pobreza no interior e pilhagem no exterior. Conversa sobre soberania não lhe faltou. O resultado foi menos soberania para os portugueses e nenhuma soberania para os colonizados.
Bom não esquecer.

COMENTÁRIOS
Jose 13.04.2018: A autodeterminação dos povos foi um eixo fundamental e decisivo da luta antifascista, pela liberdade, democracia, igualdade, prosperidade e paz. O povo português conquistou a liberdade em simultâneo com os povos colonizados pelo império colonial português. Hoje estamos nós na posição de colonizados pela máfia da UE que tem por meta ser um Estado supraestadual, o Estado imperial. A luta pela liberdade hoje é a luta pela autodeterminação dos povos, Nações e Estados submetidos pela máfia da UE. A cooperação internacionalista tem como primeira bandeira a recuperação da soberania usurpada pela UE/BCE. Unidos venceremos.
Jonas Almeida - Stony Brook NY, Marialva Beira Alta 13.04.2018 : concordo José, Rui Tavares parece cada vez mais rebuscado nas Histórias em que pega para justificar a ditadura europeia.
amora.bruegas Tomar 
Minhoto Minho/Galiza  Aqui o "camarada" Tavares continua numa de omissões, de forma a justificar a sua visão "monoteísta" e maniqueísta da Europa. A Europa não só pode, mas deve ser um espaço de nações, de povos, solidária, democrática, de liberdade e cosmopolita. E obviamente que existem muitas formas de nacionalismo, que vão desde o perverso e autoritário ultranacionalismo, ao benigno, libertador e emancipador nacionalismo anticolonial. O que o Tavares faz, de forma sonsa, é pôr tudo no mesmo saco. Despreza e condena o nacionalismo pacífico e libertador da Catalunha, e jamais disse uma palavra contra o ultranacionalismo espanhol/castelhano. Alhos com bugalhos, a tentar fazer-nos de parvos, portanto.
amora.bruegas  Tomar 
Remexido, Lisboa 13.04.2018: Não festeja o 5 de Outubro? Quer mais nacionalistas e colonialistas do que essas pessoas que o Sr. festeja, começando pelo Norton de Matos, que o Sr. provavelmente também o inclui na "oposição democrática", aliás com várias ditadurazecas dentro desse mesmo período. Até entramos numa guerra, a 1ª, com medo de perder colónias. Foi aí que o estado novo foi beber...
amora.bruegas Tomar 
  Zut Mut, Putinista Convicto™  Não havia incêndios mas havia cheias que matavam centenas, esqueceu-se convenientemente o amora.bruegas de referir... E ainda bem que sempre defendeu que é importante ter opiniões: no Estado Novo também as podia ter, mas se fossem incómodas convinha não as expressar demasiado, ou corria o risco de ter uma visitinha da PIDE. Depois do 25 de Abril passou a poder dizer e escrever todos os disparates - e são muitos - publicamente, como se verifica aqui na caixa de comentários, já viu que sorte?
  Zut Mut, Putinista Convicto™ : Também, e mais uma vez muito convenientemente, se esquece de referir que a democracia pós 25 de Abril conseguiu descer a taxa de mortalidade infantil para cerca de 3 por mil, uma das mais baixas do mundo, e o analfabetismo para 4%. Mas pronto, é uma opinião "fundamentada e honesta" a que o amora.bruegas já nos habituou.
Jorge Sm Portugal : Que factos é que foram "falsificados" no texto? Não vejo um único.
Jorge Sm Portugal : É preciso ter alguma lata para invocar o sistema de saúde, quando todos sabemos que o acesso universal aos cuidados médicos só se deu com a Democracia. Quanto à taxa de analfabetismo, no início do Estado Novo (1933) já estava abaixo de 60%. A descida em 40 anos foi muito lenta. E a taxa de analfabetismo do final do Estado Novo tem esta particularidade: nas décadas de 50 e 60 emigraram mais de 2 milhões de portugueses, incluindo uma alta percentagem de analfabetos.
Jorge Sm  Portugal  : "Sempre defendi que é importante termos opiniões...". Diz isto uma sra. que defende um regime (Estado Novo) que proibia as pessoas de o criticarem e que punia (quando não liquidava) as pessoas por expressarem opiniões e ideias contrárias. Pois minha cara, é graças à Democracia que tanto despreza que pode estar aqui a opinar contra o regime.
amora.bruegas Tomar  Zut Mut, o seu comentário é a confirmação de que o disparate e as "fake news" são uma conquista de Abril, mentiras mil. O regime não tem culpa da cheia, mas construiu prédios para as vítimas..., de que não se fala; descer a tx. de mortalidade, nas instalações que o regime deixou, é mérito do Estadista... além de que esqueceu o mérito da medicina e da baixa taxa de natalidade..., uns campeões. Quanto ao analfabetismo, ele está nos 7%, mas na realidade, está acima dos 15%, pois há muita criança analfabeta funcional, que não sabe interpretar um texto ou fazer contas de cabeça, a qual está paralítica com tantas "facilidades" nas instalações que o E Novo construiu..., sem esmolas ou endividamentos.
Jose 13.04.2018: Com o título "Tão felizes que nós éramos", publicação de 27 de Março deste ano, Clara Ferreira Alves dá boa nota do ambiente do fascismo de Salazar e Caetano. Não comete o desrespeito de confundir pátria, nação, com o isolacionismo de Salazar e Caetano expresso no conhecido "Orgulhosamente sós". Quando quiser defender o imperialismo da UE faça-o com o desassombro com que Salazar defendia o imperialismo português que a luta antifascista derrubou através do movimento das forças armadas a 25 de Abril de 1974. Foram os povos e suas nações de Portugal, Guiné, Angola, Moçambique e Timor quem animado pela sua identidade pátria ergueram a liberdade nas suas nações e reduziram a passado da noite negra o imperialismo colonial português. As nações derrubaram o império português, inglês, francês,...
amora.bruegas  Tomar Zé, divertida propaganda lhe enfiaram na cabeça..., cheia de inverdades. Não sabe que Portugal foi membro fundador da NATO, EFTA e OCDE? Que pedimos a adesão à CEE em 1962? Que nesse tempo havia uma liberdade que não há actualmente em virtude da elevada criminalidade e bullingue que temos? Sabe em que foi no contexto das independências africanas que foi dito o "orgulhosamente sós"? O que os honestos logo extrapolaram conforme lhes convém? Que éramos um país muito visitado, com liberdade, contrariamente aos socialistas, amordaçados pela cortina de ferro?





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