sábado, 30 de junho de 2018

Conte-me tudo



Contou ontem a Catarina, pelo telemóvel. Estava a dar uma papa ao Nuninho, que é comilão, mas distraiu-se e parou. E de repente ouviu: “mamã” ou coisa parecida. Deu-lhe uma colherada, parou, distraiu-se de propósito, e novamente o mamã surgiu, como um chilreio interesseiro. A brincadeira continuou, com a distracção propositada da Catarina para ouvir o “mamã” apelativo, e enaltecer a inteligência do seu bebé que até ali só dissera uma aparência de “papá” e de “vovó”, o que ela achava injusto, dado que é ela quem se esforça mais em torno do seu bebé: 26/6, “mamã”, o primeiro registo, quase 13 meses de vida. Lembrei-me do filme da esplendorosa Júlia Roberts, “Erin Brockovich”, que apresenta uma jovem mãe com os três filhitos pendurados na azáfama da sua vida, entregues a amas ou acompanhando-a provisoriamente, e o telefonema distante da ama de ocasião – neste caso um “au pair” masculino - que lhe comunica pelo telefone, para o carro da sua urgência laboral, que a bebé pronunciara pela primeira vez uma palavra – bola, neste caso. E as lágrimas silenciosas da mãe, excluída do momento, formam cena de grande realismo a simbolizar a vida aplicada das jovens mães de hoje, sempre correndo, num esgotamento.
Mas foi no domingo passado, assim que a Paula chegou ao nosso cantinho, que se reviram os dois bebés, o Nuno da Catarina e o Pedro da Ana, guardados pela Paula no seu telemóvel, caixinha maravilhosa que traz o mundo dentro de si. Fotos do Nuno que a Catarina envia para a mãe, e o filme com o Pedrinho, que faz dois anos em Julho, ouvindo-se a voz da avó Binha: “Que estás a fazer, Pedro?” e o Pedro no chão, esfregando, a responder: “Limpezas”, em homenagem de comiseração pela avó que adora.
Mas falou-se também da Ana, a mãe do Pedro e da sua voz maravilhosa e a minha irmã quis escutar uma vez mais a canção ao piano que aquela tocou e cantou em tempos, para o seu bebé, canção brasileira que termina “Venham ver como dão “méu” as abelhas do céu”,  que também eu guardei no meu computador, para escutar de vez em quando, o Pedro, a princípio calado e finalmente protestando para participar no toque das teclas.
Mas não admira que nos encantemos com a voz da Ana, que em Paris, onde seguiu os seus estudos superiores integrada no plano “Erasmo”, fez chorar um seu professor cantando o “Tudo isto é fado” da Amália. Agora já canta a solo, no grupo coral de jazz em que participa. Será que um dia…
Mas o domingo passado foi de encanto também, por ter ido ouvir “Cascais em canto”, com o “Grupo Coral Vox Maris” e o “Coro Audite Nova de Lisboa”, a convite da Paula, que participa no primeiro. Uma hora de grande prazer, no Hospital de Santana, por ter escutado tantas vozes harmónicas de homens e mulheres interpretando músicas clássicas, ou mais populares, da Idade Média, do Renascimento, de compositores nacionais e estrangeiros, numa perfeita harmonia de lindas vozes masculinas e femininas, que me encheram de orgulho e conforto. É pena que a televisão não os projecte, como forma educativa e recreativa de grande impacto.
Um dia na vida de…  Acabou no Pingo Doce, nas compras com a Alice, um dia em cheio. E aqui respondo à frase tonta com que a Maria Eduarda faz o seu aparecimento fulgurante nas nossas vidas, pondo-nos a rir, à partida,  com a expressão de arromba perfeitamente vazia: “Conte-me tudo”. Contei. Um tudo que é nada, um nada que é tudo, um dia feliz.
Mas, para finalizar com um “tudo” realmente importante, transcrevo o fado da Amália que acabei de escutar, para prolongar o prazer já ido. Abençoada Internet:
Tudo Isto É Fado
Letra de Aníbal Nazaré e F. Carvalho
Perguntaste-me outro dia
Se eu sabia o que era o fado
Disse-te que não sabia
Tu ficaste admirado
Sem saber o que dizia
Eu menti naquela hora
Disse-te que não sabia
Mas vou-te dizer agora

Almas vencidas
Noites perdidas
Sombras bizarras
Na Mouraria
Canta um rufia
Choram guitarras
Amor ciúme
Cinzas e lume
Dor e pecado
Tudo isto existe
Tudo isto é triste
Tudo isto é fado

Se queres ser o meu senhor
E teres-me sempre a teu lado
Não me fales só de amor
Fala-me também do fado
E o fado é o meu castigo
Só nasceu pra me perder
O fado é tudo o que digo
Mais o que eu não sei dizer

sexta-feira, 29 de junho de 2018

Arrojo na decência



É claro que a reacção dos intelectuais de hoje à intervenção de um estadista contra um rapazinho que, em vez de se orgulhar da sua História e respeitar a coragem dos que fizeram a Resistência contra a ocupação do seu país, conspurca provocatoriamente um acto oficial, cuspindo o seu pequeno mundo de má criação arrogante, fruto das liberdades que os tempos democráticos aparentemente favorecem e que as famílias não deixam de incutir, elas próprias libertas desses valores do respeito que, pese embora o convencionalismo dos actos oficiais, contribui ainda para lembrar sofrimentos e valentias que fizeram a coesão nacional. Por cá, Miguel Esteves Cardoso, que não ama Macron, deturpa hipocritamente a intenção malcriada do rapaz convertendo a sua grosseria em à-vontade amistoso não aceite, naturalmente, pelo presidente francês, razoavelmente orgulhoso, o que é defeito de vaidade inaceitável, quando exibido publicamente. Quanto a Pedro Mexia, ele próprio senhor de um domínio intelectual distante e sobranceiro, remete, também hipocritamente, para a família, o sermão educativo, sabendo quanto tal atitude pedagógica, hoje em dia essencialmente dialogante, de uma liberdade favorecedora do desenvolvimento da personalidade, de que “La Maison de papier” de Françoise Mallet-Joris é exemplo, em registo simpático mas utópico, é irrelevante. E falsa.
Por isso, admiro Macron, como homem corajoso que não se coibiu de oferecer a lição, mau grado o risco que correu, perante uma assembleia de muitos “Mexias” e “Cardosos” jactanciosos, na sua pseudo-simpatia pela juventude livre, conferindo esse dado, a eles próprios que o defendem, o mesmo estatuto de “homens livres”, para que fique registado, como seguidores da “inteligência”. Ou do pedantismo intelectual, como se lhe queira chamar.
Igualmente, é claro, admiro João Miguel Tavares, pela sua coragem em defender Macron, sabendo bem o risco que corre perante os seus detractores progressistas. E cito novamente a sua argumentação, como exemplo de coragem e nobreza, tão distantes já deste nosso universo de fatuidade inócua:
«Em primeiro lugar, e talvez por já estar demasiado calejado quanto a adolescentes insolentes, o que vi foi um miúdo armado em chico-esperto a querer exibir o seu atrevimento à frente dos amigos – não um jovem amistoso com défice protocolar. Ora, existe uma enorme diferença entre “respeito” e “respeitinho” e entre “irreverência” e “insolência”. Dinamitar o respeitinho e cultivar a irreverência é uma forma de cada um exercer a sua liberdade individual de uma forma tão lata quanto possível, recusando pactuar com o silenciamento de ideias ou com os argumentos de autoridade. É, nesse sentido, uma forma de enriquecimento do espaço público. A insolência não é nada disso: é um modo de desrespeitar regras de cortesia e protocolos de comunicação, indispensáveis à realização de qualquer conversa. Não é um ataque a ideias, mas sim um ataque gratuito a pessoas.  
É nesse sentido – e este é o meu segundo argumento – que Macron fez bem em criticar o miúdo. Não o vejo como uma humilhação. Bem pelo contrário: Macron levou-o a sério e deu-lhe importância. Um bom sermão tem sempre grandes vantagens, e não deve estar reservado aos pais, sobretudo quando os pais não estão lá. Aquele rapaz ouviu o que precisava: que as revoluções não se fazem a trautear A Internacional e que há coisas que existiam antes de nós e continuarão depois de nós: os heróis, a história de um país, o sistema político que criámos para viver em liberdade e em paz. Respeitar isso não é subserviência – é apenas inteligência, sensatez e boa educação.»

OPINIÃO
O sermão de Macron a um adolescente francês
Um bom sermão tem sempre grandes vantagens, e não deve estar reservado aos pais, sobretudo quando os pais não estão lá.
PÚBLICO, 26 de Junho de 2018
Por esta altura já quase toda a gente viu as imagens: numa cerimónia de homenagem à resistência francesa durante a Segunda Guerra Mundial, um jovem de 14 anos dirigiu-se a Emmanuel Macron com um coloquial “ça va, Manu?”, logo depois de ter trauteado A Internacional. Macron ouviu, não gostou e pregou: “Não, não, não, não, não... Estás numa cerimónia oficial e, por isso, comportas-te como deve ser. Podes armar-te em imbecil, mas hoje é dia de cantar A Marselhesa e O Canto dos Partisans [hino da resistência à ocupação alemã]. A mim chamas-me senhor Presidente da República, ou senhor, de acordo?” E depois, não inteiramente satisfeito, voltou atrás para uma segunda dose de sermão: “No dia em que quiseres fazer a revolução tira primeiro um diploma e aprende a sustentar-te. Então poderás dar lições aos outros.”
Houve quem não gostasse, e são basicamente dois os tipos de reacção a criticar o comportamento de Macron. O primeiro considera que o jovem estava apenas a ser simpático, e que a resposta do Presidente francês foi estupidamente arrogante. Miguel Esteves Cardoso escreveu que o cumprimento amistoso do rapaz recebeu em troca uma resposta digna de “um bullyzinho todo franciú” e “emproado”. O segundo tipo de reacção admite que o miúdo foi insolente, mas entende – opinião de Pedro Mexia – que os sermões estão reservados para os pais, e que não compete a um Presidente da República responder com artilharia pesada à provocação de um adolescente.
Discordo tanto de Esteves Cardoso como de Pedro Mexia, e estou inteiramente ao lado de Macron – ele fez muito bem em responder daquela maneira. Explico porquê. Sendo eu um liberal com uma coluna chamada “o respeitinho não é bonito”, que odeia o país dos senhores doutores e que entende que padecemos de um défice tremendo de irreverência, este meu posicionamento pró-Macron é uma coisa que à primeira vista pode parecer que não faz sentido. Mas faz, por duas razões.
Em primeiro lugar, e talvez por já estar demasiado calejado quanto a adolescentes insolentes, o que vi foi um miúdo armado em chico-esperto a querer exibir o seu atrevimento à frente dos amigos – não um jovem amistoso com défice protocolar. Ora, existe uma enorme diferença entre “respeito” e “respeitinho” e entre “irreverência” e “insolência”. Dinamitar o respeitinho e cultivar a irreverência é uma forma de cada um exercer a sua liberdade individual de uma forma tão lata quanto possível, recusando pactuar com o silenciamento de ideias ou com os argumentos de autoridade. É, nesse sentido, uma forma de enriquecimento do espaço público. A insolência não é nada disso: é um modo de desrespeitar regras de cortesia e protocolos de comunicação, indispensáveis à realização de qualquer conversa. Não é um ataque a ideias, mas sim um ataque gratuito a pessoas.  
É nesse sentido – e este é o meu segundo argumento – que Macron fez bem em criticar o miúdo. Não o vejo como uma humilhação. Bem pelo contrário: Macron levou-o a sério e deu-lhe importância. Um bom sermão tem sempre grandes vantagens, e não deve estar reservado aos pais, sobretudo quando os pais não estão lá. Aquele rapaz ouviu o que precisava: que as revoluções não se fazem a trautear A Internacional e que há coisas que existiam antes de nós e continuarão depois de nós: os heróis, a história de um país, o sistema político que criámos para viver em liberdade e em paz. Respeitar isso não é subserviência – é apenas inteligência, sensatez e boa educação.

quinta-feira, 28 de junho de 2018

Afundamento provável



Os populismos crê-se que farão dissolver uma união europeia fundada numa solidariedade, real ou aparente, que ajudou a erguer muitos dos povos nela inclusos, como, naturalmente, o nosso. A experiência, positiva, redundou em desastre no nosso  país, enredados que fomos por cidadãos mais grados em esquemas gananciosos e desonestos, que continuamente vão brotando no solo fértil, esquemas que ajudaram à decomposição do país, onde, todavia, muito se fez para a defesa dos cidadãos, embora pouco se tenha feito em favor das mentalidades, no desvio de valores de robustez moral, e favorecendo debilidades e desrespeitos vários. Mas a solidariedade europeia estendeu-se virtuosamente para além das suas fronteiras espartilhadas ao mundo inteiro, que aparentemente foge das suas misérias em busca de melhor sorte. É claro que os países europeus estão saturados das contínuas invasões, de panorâmicas assustadoramente indignas do género humano, com acesso imediato à piedade e à generosidade, na competitividade de solidariedades envergonhadas se o não forem ou se o não parecerem. E os chefes da União, os reponsáveis por esse ponto de partida de solidariedade e democracia, vêem-se agora a braços com a desagregação da sua União, contra os nacionalismos que o cansaço dita  ou o racismo, na designação da esquerda virtuosa. Os textos que seguem – de Paulo de Almeida Sande e de  Helena Matos, explicam o fenómeno e as dificuldades que surgem na UE, mas é sobretudo o de Helena Matos – «A política da miragem» - que esclarece sobre todo este processo que a esquerda manipula a seu gosto, na sua perda de valores, há muito saliente, pelo ódio visceral às classes burguesas e exploradoras, sem excepções, provavelmente nem mesmo entre os seus familiares, como já víramos com os hippies. Helena Matos parte do conceito estatuído na canção de Sérgio Godinho dos tempos descolonizadores, para apontar a artimanha no paradoxo do tempo dos migradores, que a mesma esquerda instiga, esquecida da tal canção  –« Nos anos 70 trauteavam “A África é dos africanos." Agora se pudessem despovoavam essa mesma África para através da imigração alimentarem o activismo do ressentimento A sua crónica é corajosamente desmistificadora, como o confirmam os cinco comentadores entre os 179 que o seu artigo mereceu. Um bravo, por isso.
A Mãe de Todas as Cimeiras /premium
OBSERVADOR, 26/6/2018
A União Europeia está cercada e em risco economicamente. Está cercada e em risco politicamente. Está cercada e em risco geoestrategicamente. O risco é grande, o cerco sério, as saídas escassas.
Com frequência se diz que a próxima Cimeira Europeia, reunião dos chefes de Estado e de governo da União Europeia (UE), seja ela qual for, é decisiva. Após a crise de 2008, cada Cimeira era a da última oportunidade e ou se tomavam medidas definitivas para vencer a crise e evitar o fim anunciado da zona euro e, em dominó, da União, ou o anúncio se confirmava.
Nunca foi assim. Nem as medidas foram definitivas, nem a União acabou. Mas isso foi há anos. Desta vez, a Cimeira das próximas quinta e sexta feiras é mesmo decisiva. Por três razões: a UE está cercada e em risco economicamente. Está cercada e em risco politicamente. Está cercada e em risco geoestrategicamente. O risco é grande, o cerco sério, as saídas escassas.
1. O cerco económico.
O advento de uma nova era de proteccionismo ameaça a economia europeia no seu todo e cada um dos seus membros em particular. Se para países como a Alemanha, a ameaça é maior, no fim todos sofrerão. O proteccionismo norte-americano, associado à vontade expressa de alguns em destruir a integração europeia e aos sinais de inversão do ciclo económico à escala global, são um cocktail explosivo e potencialmente letal para a coesão da integração europeia.
Mas não é só isso. O aumento das taxas de juro pelo FED, o fim anunciado do programa de compra de dívida pelo BCE, a fragmentação crescente da regulação global, enfraquecida pela contestação política e pelo enorme crescimento do mercado electrónico e da dívida a nível mundial, fazem do anúncio da crise um fácil exercício adivinhatório. A crise vai mesmo acontecer. Pode vir a ser mais dura do que a de 2008. A dívida global aumentou drasticamente nos últimos 10 anos (poderá ter uma ideia aqui), até na China, provando que a tão proclamada austeridade não foi assim tão austera. O Mundo está mais endividado do que nunca.
Quando o mercado voltar a ser do urso , e sê-lo-á provavelmente mais cedo do que tarde, todos sofrerão, mas os países mais frágeis serão mais atingidos. A solução não é óbvia e muito menos fácil. Mas a Europa, fragilizada pela concorrência crescente, só sobreviverá unida.
2. O cerco político.
A crise económica, a imigração descontrolada, a crise das democracias liberais, são três dos alimentos do populismo na Europa.
Uma rápida definição de populismo salienta a oposição entre as elites e o povo proclamada pelo líder. As elites são más e corruptas, só a acção do povo, expressão da vontade geral – e da soberania popular -, é virtuosa.  Os populistas apelam ao povo contra as elites e as instituições. Na base está quase sempre uma versão tradicional do conceito da Nação como fonte de mobilização; em nome dela, do “povo” genuíno que a constitui, tanto quanto possível “etnicamente” homogéneo (pelo menos nos populismos de extrema direita, a legitimar um forte discurso anti-imigração e refugiados), se constroem as actuais fórmulas nacionalistas.
O populismo, em Itália, França, nos países de leste da Europa, em embrião um pouco por todo o lado (na Alemanha), alimenta-se da crise económica. Do cepticismo em relação às instituições da democracia e aos políticos. E cada vez mais, poderoso aliado dos populistas, da imigração massiva, alimento da xenofobia, gene principal do nacionalismo radical. É a imigração a fonte principal de alimento do discurso do presidente norte-americano, foi ela que em parte provocou o resultado do brexit, é ela que ameaça a Mãe de Todas as Cimeiras.
Sobre a imigração, em particular na Europa, repito o que escrevi um cento de vezes: ninguém na UE defende uma política de portas abertas sem restrições, pretende-se que as políticas europeias na matéria, que as há, sejam eficazes. Três requisitos: recursos adequados, vontade política dos governos nacionais, respeito pelas normas e regras preconizadas por essas políticas. O problema, como sempre, reside no facto de serem os mesmos que criticam a UE por não dar resposta ao problema a recusar-lhe recursos, a minar a vontade política (dos respectivos Estados) e a desrespeitar as normas europeias. É tão simples como isso, acreditem.
3. O cerco geoestratégico.
Com a falência do parceiro transatlântico, que ninguém pode asseverar seja um breve hiato, por um lado, e com a pressão russa, por outro, considerando o estado actual da margem sul do Mediterrâneo, pouco resta à Europa senão contar com os seus próprios meios.
É difícil. Os europeus vivem no paraíso kantiano criado à sombra do chapéu-de-chuva de segurança americana. Desabituaram-se de lutar, habituaram-se a uma vida fácil, de juros baixos e segurança ilimitada. Convenceram-se de que a História acabou mesmo e foram surpreendidos com a violência do seu regresso. Convivem bem com a ideia do seu continente ser o belo Museu do Mundo, e reconvertem-se à função de zeladores da memória daquela que foi sem dúvida uma das mais notáveis civilizações conhecidas da Humanidade.
Entre uma América envolta no manto de super-herói protecionista e as ambições pouco discretas do grande vizinho russo, que visão geoestratégica que não seja de mera sobrevivência a prazo, num lento e agónico inverno demográfico e a caminho do inferno da irrelevância e da decadência económica, sobra aos países europeus? Talvez unidos… pondo de lado as divergências, rejeitando a divisão quando só a união pode fazer a força.
4. A Cimeira da última oportunidade?
No palácio de Meseberg, Macron e Merkel esboçaram um plano para soldar as fissuras da União Monetária e Económica: a ideia de que a convergência económica, o investimento e a estabilização macroeconómica são fundamentais para o futuro da eurozona; um orçamento para a zona euro, financiado por recursos próprios, com uma linha de crédito para um seguro comum de desemprego, paralelo (logo, limitado) ao quadro financeiro plurianual; um Fundo Monetário Europeu, como reconversão do fundo de resgate. Falta muita coisa, por exemplo um Mecanismo de Segurança de Depósitos Europeu ou a mutualização da dívida. Como disse um analista, talvez o plano seja ambicioso onde se pode permitir ser vago e modesto sempre que tem de ser concreto. Ainda assim, é um passo em frente, por isso relevante.
Na Cimeira de Bruxelas dos próximos dias 28 e 29, contudo, é a imigração o pomo de todas as discórdias, podendo levar a uma das mais graves crises de sempre da UE. A mini Cimeira extraordinária de domingo passado, que reuniu apenas 16 dos 28 países europeus, limitou-se a proclamar ideias gerais como a de que os países de entrada (dos imigrantes) não podem ser deixados sozinhos ou indefinidas como a criação de centros de triagem (no território europeu, ou até nos países de origem, proposta aliás mais antiga). Quando nos EUA, o Presidente defende a expulsão imediata dos imigrantes ilegais sem necessidade de serem presentes a um juiz, quando a Itália se recusa a receber navios com imigrantes a bordo, quando o tema da imigração se faz central e decisivo, não pode a Europa deixar de lhe dar resposta.
São os dois pontos centrais da Mãe de Todas as Cimeiras. Conseguirá ela, conseguirão os líderes europeus, ultrapassar as suas divergências e dar de novo à Europa o músculo que as circunstâncias exigem? Sejamos capazes de esperança, nem sempre as nuvens negras sobre as nossas cabeças terminam em tempestade.

A política da miragem /premium
OBSERVADOR, 24/6/2018
Nos anos 70 trauteavam “A África é dos africanos." Agora se pudessem despovoavam essa mesma África para através da imigração alimentarem o activismo do ressentimento.
Aquarius já foi. Agora temos o Lifeline: a bordo do navio que está nas proximidades de Malta e tem capacidade para 50 pessoas estão 230. As provisões esgotam-se nas próximas horas.
À espera de porto de destino está nas proximidades da Sicília o Alexander Maersk: a bordo estão 113 pessoas.
… A lista está em permanente actualização. As palavras também. Ora lhe chamamos refugiados. Ora migrantes. Ora imigrantes. São na sua maioria pessoas transportadas por traficantes até à costa do norte de África. Aí novas mafias embarcam-nos com destino à Europa. Em seguida, navios das ONG e equipas de salvamento dos países europeus resgatam essas embarcações e trazem para solo europeu os seus ocupantes. (Sim, as mafias sabem que não precisam de se preocupar com o resto da viagem: alguém há-de recolher a carga de que se desembaraçaram.)
Sendo certo que do ponto de vista do acolhimento é muito diferente que sejam considerados refugiados ou imigrantes, essa destrinça é cada vez mais difícil. Seja como for, como portuguesa não me surpreende nem choca, antes pelo contrário, que se veja na emigração económica uma saída para a vida de cada um e das suas famílias. Aliás se deixarmos de lado as questões associadas aos traficantes, o problema não está na emigração nem nos emigrantes. Está sim naquilo que se espera deles. E aí chegamos a um dos momentos charneira nesta questão: quando na Europa o muro de Berlim foi deitado abaixo pelo povo, o sonho da sociedade sem classes foi substituído pela utopia do multiculturalismo. Consequentemente a imigração deixou de ser a circunstância de uns milhões de portugueses, turcos, espanhóis, gregos e italianos tão falhos de consciência política que em vez de combaterem o capitalismo migravam para os países onde ele mais se tinha desenvolvido, para se tornar na gesta de sudaneses, iraquianos, nigerianos, sírios, paquistaneses, senegaleses, marroquinos… a que há que acudir, resgatar, esclarecer sobre os seus direitos e, não menos importante,  excepcionalizar nas suas diferenças culturais.
O problema não está portanto na imigração e nos imigrantes mas sim na mudança de táctica daqueles que no século XX sonharam levar a revolução via descolonização ao mundo e que agora se dedicam ao activismo nos subúrbios das suas cidades: para eles a imigração é a nova revolução. O ressentimento o combustível da luta já não de classes mas sim da luta das comunidades minoritárias contra o poder burguês, branco e masculino.
Assim os mesmos que se viram libertadores das opressões coloniais nos anos 60 e 70 e trauteavam versos como os da canção “Independência” de Sérgio Godinho “A África é dos africanos/ Já chega quinhentos anos/ Já chega quinhentos anos/ A África é dos africanos. /Quem diz que sim quem diz que não/ Quem diz que sim quem diz que não/ São os movimentos de libertação/ São os movimentos de libertação” se pudessem despovoavam agora essa mesma África e os demais continentes para através da imigração continuarem a renovar a matéria prima dos seus activismos e do seu enquistamento no Estado.
Como sempre acontece, determinam o que se pode ou não discutir e em que moldes.  No caso da imigração oficialmente tudo se resume a uma luta entre o bem que obviamente defende uma política de abertura total de fronteiras  e o mal que é anti-imigração. A não ser que a realidade o imponha não se fala do aumento da criminalidade nas zonas onde se instalaram grandes grupos de imigrantes/refugiados (no caso sueco os desmentidos governamentais das notícias e a publicação de novas notícias produz uma espécie de telenovela);  escamoteiam-se os factos até que o óbvio se impõe: após anos a subestimar os ataques sexuais nos festivais de música – para não referir que os seus autores eram jovens migrantes –, a Suécia viu ser cancelado o maior festival do país; persegue-se quem denuncia a impunidade gozada por grupos de imigrantes como aconteceu em Inglaterra nos casos de abusos sexuais praticados em Telford e  Rotherham. Não se investigam dados anómalos nestas vagas de imigração: por exemplo, porque vêm tantas crianças sós?  Será verdade que dois terços dos migrantes que em Calais se apresentavam como crianças já eram na realidade adultos?
Esta perspectiva ideológica da imigração leva a que se subestimem factos incontornáveis: mais do que um imigrante ser legal ou ilegal o que conta para a opinião pública na apreciação que faz da sua presença é se ele respeita ou não as leis e os costumes do país para o qual migrou e se vai ou não sobreviver com ajudas estatais. Goste-se ou não, há que ter em conta que receber imigrantes/refugiados num país tolerante com estado social não é um elemento neutro nesta operação. Ou será que já esquecemos que os milhares de portugueses que no século passado migraram para a França ou Alemanha o fizeram muitas vezes de forma clandestina? Eles fugiram à polícia. Eles não tinham papéis. Mas há que acrescentar que a sua integração nesses países não foi feita através do estardalhaço de grupos de activistas mas sim do mercado de trabalho. E que não tendo abdicado da sua cultura respeitaram a dos países que os acolheram.
E aqui deparamos com o grande paradoxo desta questão: mal ou bem durante décadas os políticos das democracias propuseram-se resolver os problemas dos povos. Neste momento, os políticos entendem que os povos têm os problemas que eles políticos determinam que existem. Eles não governam. Animam miragens.   O que sobra então? O segredo das urnas de voto. Oficialmente a miragem funciona até que um resultado eleitoral a desfaz. Mas em vez de se tentar perceber o que levou o povo a votar assim logo a esquerda da superioridade moral mais o jornalismo de causas partem para a retórica do populista que foi eleito, do anti-imigração que venceu, do racista que não sei quê… Pressurosa a direita que não é direita mas tão só não é de esquerda repete-lhe os argumentos. De caminho conta-se mais uma historieta sobre o Trump que ora está zangado com a Melania ora lhe dá a mão!!!
E assim se continua até às próximas eleições. Até ao novo populista…
PS, O que fazer quando um serviço público se degrada? Põe-se à discussão uma lei perfeita sobre a imensa perfeição que vai assegurada por esse serviço. Que obviamente seria ainda mais perfeito se pagássemos mais impostos.  A anunciada discussão da lei de bases da saúde quando o SNS está à beira da ruptura é um bom exemplo dos serviços públicos em tempos de propaganda: não se discute  a realidade, anuncia-se um futuro radioso e se necessário culpam-se  os suspeitos do costume, os  privados, pelo descalabro do SNS.

Comentários:
Daniel Ferreira: Escrevi isto no Blasfémias, copio para aqui: ec.europa.eu/home-affairs/sites/homeaffairs/files/20180503_declaration-and-action-plan-marrakeshen.pdf: O acordo assinado em segredo pelos genocidas comunistas (passe o pleonasmo) europeus que alarga o espaço Schengen a 40 nações africanas para importar CENTENAS DE MILHÕES de africanos num futuro muito próximo sem qualquer hipótese de serem “devolvidos”, roubem, violem ou matem quem quer que seja. E começando pelas consequências menos escandalosas, todos poderão votar nos partidos que permitiram isto. bye by
Preferem um louco Trump q quer construir um muro ou um louco comunista recém empossado PM espanhol que diz que vai mandar a proteção em Ceuta abaixo? tic tac tic tac já não há muito tempo para pensar.
Rui Jacinto: Entre os assuntos "tabu" surgiu na Sábado uma referência à inocuidade das acções do PR e agora este artigo. Na imprensa internacional há muitos mas o nosso "jornalismo" do populucho tem medo de não ser politicamente correcta a sua inserção. Mas é sabido por todos, menos os governos pseudo-alinhados à esquerda, que este surto de migrantes económicos não passa de uma concertação para explorar os sentimentos de caridadezinha da Europa. Desde há muito que se sabe que seria muito mais barato e confortável que os migrantes viessem de avião, mas nesse caso a receptividade era duvidosa. Assim, com o espectáculo montado até aparecem 2000 para acolher 600 como ainda sucedeu há dias em Espanha. Depois há aquela montagem de muitas crianças mas, só quem vê essa desgraça são os desgraçados, nós vemos muitos jovens em idade de estudar ou trabalhar que chegam já de iPhone na mão e com ligação às redes sociais. Parabéns pela coragem desta pedrada no charco.  
Fernando simoes: Finalmente alguém fala do caso do Aquarius. Obrigado HM. Os "refugiados" são a ponta de lança para a nossa destruição, com os europeus cegos pela oligarquia a assistir ao seu próprio desaparecimento.
Luís Soares Ribeiro: Olhando para o que se está a passar, fico perplexo. No tempo da escravatura, os esclavagistas iam a África comprar escravos. Agora os escravos vêm de livre vontade entregar-se aos esclavagistas. Existe mas existe uma diferença básica; neste caso são os contribuintes que pagam a compra dos escravos. Se eu necessitar de uns tantos escravos para me fazer a apanha da azeitona já sei onde os vou buscar, por pouco dinheiro e sem qualquer responsabilidade para mim. Esta situação não elimina o direito que qualquer individuo tem em emigrar.
António Hermínio Quadros Silva: Depois de mais esta  leva de refugiados (que estou convencido que não vai parar durante este verâo) e que tem países onde deviam criar meios de subsistência, ainda mais vai aumentar a resistência dos partidos de extrema direita a estas manobras pseudo humanitárias onde se dá peixe sem ensinar a pescar. Depois põem-se a gritar as boas almas que aí vem o fascismo. Pobre Europa que tão estúpida és.



quarta-feira, 27 de junho de 2018

Fogo fátuo


Trata-se de uma entrevista, saída na SÁBADO de 21 de Junho, a VASCO PULIDO VALENTE, com TEXTOS de Eduardo Dâmaso e Maria Henrique Espada e FOTOS de Alexandre Azevedo.
Vasco Pulido Valente não podia ter parado de escrever, e esta entrevista traz-no-lo de volta, espécie de fogo fátuo de clarificação fugaz, mas sempre ansiada, copo de água refrescante, na nossa seca e na nossa sede. E lembrei-me de festejar esta sua aparição, com o poema de Alberto Caeiro sobre Cesário Verde, com muita “pena”, dele e nossa, igualmente. Porque deixámos de o ler, na sua distância, talvez na sua indiferença, de quem parece estar doente e não abandona o cigarro. Cesário, esse, “bebia cálices de absinto”. Mas ambos figuram como pontos luminosos neste nosso universo português, criador, apesar de tudo de tanta beleza. Como o Fado, que nos é propício. E com este optimismo, vou ao encontro do optimismo de Vasco Pulido Valente, que acha hoje a sociedade portuguesa muito mais evoluída e talvez tenha razão, apesar do défice assustador nas estatísticas sobre os resultados dos exames e apesar da invasão dos comentadores futeboleiros nos canais televisivos do nosso estupor. Eis Cesário, pela “voz” de Alberto Caeiro, festejando uma ressurreição, ainda que breve:
Cesário Verde
Ao entardecer, debruçado pela janela,
E sabendo de soslaio que há campos em frente,
Leio até me arderem os olhos
O livro de Cesário Verde.

Que pena que tenho dele! Ele era um camponês
Que andava preso em liberdade pela cidade.
Mas o modo como olhava para as casas,
E o modo como reparava nas ruas,
E a maneira como dava pelas cousas,
É o de quem olha para árvores,
E de quem desce os olhos pela estrada por onde vai
andando
E anda a reparar nas flores que há pelos campos ...

Por isso ele tinha aquela grande tristeza
Que ele nunca disse bem que tinha,
Mas andava na cidade como quem anda no campo
E triste como esmagar flores em livros
E pôr plantas em jarros... 
Como  a “Sábado” não me deixa transpor a entrevista, pela Internet, terei que a ir copiando, da revista que a minha irmã me trouxe, tarefa difícil, para guardar uma vez mais os seus conceitos e o “modo como olha para as casas, e as ruas e as cousas”, que Pulido Valente parou de nos mostrar, abandonando-nos a uma espécie de orfandade saudosa. Sempre me encantaram as suas opiniões suavemente certeiras, com alguns laivos contraditórios, por vezes, e de uma serenidade fictícia porque mordaz, pairando alto sobre os, de nós, que somos joguetes de artifícios de sobrevivência, de aparência mais frutuosa e real, é certo, próprios de um povo, afinal, bastante ardiloso como conquistador de espaços – “cada um é seus caminhos”. Só podemos desejar a Vasco Pulido Valente a saúde necessária para continuar, de vez em quando, a apresentar os seus breves retratos políticos, de que a entrevista da SÁBADO dá conta, sérios e didácticos, embora já não consiga “castigare mores”, quer “ridendo” quer “plorando”, característica, esta última, fora do seu propósito de literato e mentor, embora mais brando hoje. Mas lamentamos a desistência. Copiemos, pois, como esteio nosso, e recreação:

SÁBADO, 20.06.2018,  por Eduardo Dâmaso e Maria Henrique Espada
Foi você que pediu acidez? O mais duro cronista político português serve-a em doses generosas, em entrevista à SÁBADO.

“Tem 76 anos e há um que deixou de escrever as crónicas mais mordazes da imprensa. Não deixou de pensar sobre a política, o País, mas recusa ser pessimista. Mordaz, ainda é. E nem Marcelo Rebelo de Sousa escapou às críticas. Que pode ler na edição Nº 738 da SÁBADO, nas bancas dia 21.”
Voltou à escrita com um livro, Do Fundo da Gaveta, em que recupera dois episódios históricos do séc. XIX. Porque é que acha que têm paralelismo com a actualidade? 
O primeiro, não. Pode talvez mostrar as diferenças na descolonização portuguesa, na forma como perdemos a colónia do Brasil e como perdemos o resto das colónias. Esse primeiro ensaio é um fragmento de uma história que eu nunca escrevi. E o outro fragmento resolvi publicar porque há paralelos muito claros com o que se passa hoje, esse sim. É sobre as reivindicações e os movimentos da classe média e da baixa classe média e o papel do Estado nesse conflito. E o papel da pobreza nacional. Os movimentos políticos em Portugal dessa natureza esbarram nos problemas do défice e da dívida do Estado. 
É uma constante? 
É. Quando se reivindica, há mais défice. Se a classe política depende do Estado, e está a reivindicar uma parte maior do rendimento nacional, vai aumentar o défice. Os défices acumulados dão a dívida. O problema da bancarrota ameaça sempre toda a parte produtiva e comercial da economia. 
E tivemos esse concentrado nos últimos anos: a pré-bancarrota com Sócrates, depois o discurso antidívida e agora esta libertação. É um labirinto histórico? 
As pessoas não têm memória histórica, mas isso é o que se passou no século XIX: tivemos várias bancarrotas. O Estado faliu rotundamente em 92 -93 e esteve sempre em pré-falência pelo meio. Faliu em 34, em 51, em 46... Isso aconteceu sempre. Tendo em conta essa dimensão histórica, Passos Coelho foi quem se aproximou mais de um certo realismo sobre a situação do País? 
Foi muito acusado de apelar ao empobrecimento. 
Passos Coelho foi demonizado em benefício da coesão da geringonça. A geringonça precisava de um inimigo, foi Passos Coelho. Foi uma das pessoas mais vilificadas na política portuguesa, o que é absolutamente impensável. Tenho o maior respeito e consideração por Pedro Passos Coelho. Fez o que era preciso. Se não tivesse feito o que fez provavelmente teria havido uma crise social violenta. As consequências de ele não ter feito o que fez teriam sido gravíssimas, como as que teve a Grécia. Teria condenado as pessoas não a três ou quatro anos de relativa pobreza, mas talvez a 10 ou 15. Ele evitou uma crise social e deixou os fundamentos para a restauração de uma certa normalidade – não digo bem-estar, mas uma certa normalidade – que permitiu depois acompanharmos o crescimento da Europa. 
Acredita no discurso do virar de página da austeridade?
Não. Não acredito nada neste discurso. É pura propaganda política. O que o António Costa fez foram pequenos ajustamentos de uma situação que tende a ficar bloqueada. O que se discute é 1% do défice. 1,5% do défice mais 2% de aumento, de aumento para estes ou para aqueles.
Inventou a palavra geringonça. Que é algo, por definição, periclitante. Esperava que aguentasse tanto tempo?
Esperava. Acho que os problemas podem vir de outros lados, mas não dos que normalmente se diz que vêm. Ou seja, não do PCP, mas do BE. O PCP era uma aliança impossível para o PS até ter desistido de tomar o Estado português. O PCP era um partido revolucionário, foi sempre, no sentidon que a sua política principal foi sempre tomar o Estado português. Mas depois do que aconteceu à URSS e do isolamento diplomático e cultural em que acabou por ficar, o projecto de tomar o Estado português ficou fora de questão. A partir daí a aliança com o PS era perfeitamente natural.
Com o BE é diferente?
Com o BE é diferente, mas isso levava-me a outro assunto, que é o que eu penso da sociedade portuguesa como ela está hoje.
E o que é que pensa?
Houve algumas grandes mudanças que as pessoas não estão a tomar em conta quando falam de política. Para mim, que tinha 32 anos quando foi o 25 de Abril, a sociedade portuguesa, como está hoje – e costumam dizer de mim que sou um pessimista , não sou nada um pessimista – é um milagre. Ninguém em Portugal, quando eu tinha 20, 25 anos, conseguia imaginar sequer que pudéssemos um dia viver numa sociedade democrática- com desigualdades de vária ordem, é verdade - , mas liberta da pobreza horrivel daquele tempo. Os progressos que fizemos são enormes, não há nenhuma possibilidade de ser pessimista.
Onde é que O BE se vem encaixar nessa nova sociedade, a partir dessa mudança?
Toda a gente diz: ”ah, pessimista”. Não há nada pessimista - acho que, apesar de tudo, se fizeram coisas extraordinárias. Conseguiu-se fazer um Serviço Nacional de Saúde (SNS) e educar a população - talvez mal. Eu sempre critiquei os ministros da Educação, que não queriam deixar ninguém fora do sistema educativo, o que produziu um declínio da qualidade.Tenho pensado muito nisso, ainda não decidi se era eu ou eles quem estava errado. Mas meteram toda a gente no sistema de Ensino e começamos a ter uma população altamente educada.Todos os anos entram 30 mil alunos para a faculdade. E as profissões que antes não eram qualificadas hoje são altamente qualificadas.
Está quase a convencer-nos de que é mesmo optimista.
Não, isto não tem grande optimismo, vai ver .E por um lado , as profissões tradicionais da classe média, os advogados, arquitectos, estão a ser proletarizados. Já muito poucas pessoas podem pôr uma tabuleta à porta e dizer ”eu sou médico, advogado, arquitecto”. Temos grandes ateliés de arquitectos, grandes escritórios de advogados, e os médicos estão proletarizados. Há uma uma massa de pessoas que dependem do seu trabalho para viver. São muitas e cada vez mais qualificadas. Mesmo as profissões que já existem têm uma muito maior densidade técnica. Toda a gente diz “nova classe média”, eu quando digo, é disto que estou a falar. Se pensar na sociedade portuguesa com a forma de uma pêra, há uma tira gorda no meio, formada pelos de cima, que caíram, e os baixos, que subiram - e há ainda uma base mais pequena mas relativamente larga…
E essa tira grossa é importante politicamente?
É decisiva, faz uma diferença histórica: nunca antes uma mudança envolveu uma parte tão grande da população. Mas esse desenvolvimento português teve vários defeitos. Foi desequilibrado, houve uma transferência da população para o litoral como nunca tinha havido, e há uma sociedade moderna no litoral e numa parte no interior norte, centro, menos, e no Algarve. Mas ficou uma sociedade arcaica, que não participou da modernização.
É mesmo o interior esquecido?
Foram precisos os incêndios para as pessoas se aperceberem de que afinal havia uma sociedade arcaica. E falam do desenvolvimento do interior… nós temos uma sociedade arcaica que não pode sobreviver. Uma agricultura quase de subsistência, uma industria de pequeníssima produção, pouca capacidade para se transformar, e uma sociedade que não tem condições para acompanhar a evolução da sociedade.
Marcelo tornou-se o porta-estandarte dessa sociedade, ao ponto de quase ter feito um ultimato político ao governo, dizendo “se houver repetição dessa tragédia”…
Marcelo tira selfies e dá beijinhos a toda a gente, por amor de Deus…
Mas essa explosão emocional está ligada a esse interior que referiu.
O tipo de pessoa que Marcelo é permitiu que fosse dar abraços e beijinhos a todas as velhinhas de Portugal que estvam a chorar, e eram muitas. Isto não é uma poíítica. Isto não é sequer uma representação. Ele não ficou a representar aquelas pessoas. O que é que ele representa? Ele não representa nada.
Mas ficou a ideia, que ele conseguiu projectar, de que se a política não serve para resolver ist , então não serve para nada.
Mas ele não representa uma solução. Nem sequer uma direcção política.
Como é que vê a popularidade que ele tem nas sondagens, por exemplo , e que é maior do que a de qualquer presidente anterior?
Como não representa nada, não há razão nenhuma para uma pessoa qualquer, de qualquer ponto da sociedade, não gostar dele. Eu não gosto,não desgosto, acho que ele é um presidente implausível.
E um Presidente implausível é um bom ou mau presidente?
É um presidente divertido. Eu conheço a personagem há muito tempo. Acho o espetáculo divertido.
Dizia que a nova classe média proletarizada altera a situação política. Como é que altera?
Já pensou em quem vota essa classe média? Isso nunca foi estudado. Há umas vagas sondagens que dizem que dos 30 anos para baixo, 70% das pessoas se abstêm. Mas acho que dessas pessoas, os que votam, devem votar no BE e uma pequena parte no CDS. Porque o PSD é cada vez mais um partido do Norte rural e força opositora do Sul, o que é uma coisa de que eu não gosto.
Vê isso em Rui Rio?
Não só no Rui Rio , mas em todas as pessoas que o cercam. São presidentes de cÂmaras municipais do Norte, são, calculo, o grupo com que o Rui Rio se reunia ao Sábado, em Leça ou num sítio assim…
Rio parece procurar alguns consensos com António Costa, fala em reformas. Tenta com isso libertar o PS dos seus parceiros na gerigonça, cujo pensamento sobre a sociedade é mais radical?
O BE não tem pensamento nenhum sobre a sociedade. Por isso digo, ou desconfio, que essa massa de gente vota no BE. Porquê? Primeiro porque estão revoltados com a sua situação social. As competências que têm não têm correspondência entre uma coisa e outra. Estão zangados, e vivem em conflito com a forma como a sociedade está organizada, e votam no BE porque é um partido de reivindicação, radical, mas inconsistente. Querem mudanças radicais.
Mudanças que o PS agora parece querer abandonar.
O PS já não representa essas pessoas, mas o BE representa e a ala esquerda do PS - o que é indistinguivel do BE e que tem o seu lider, o Pedro Nuno Santos – quer representar. E a solução que Pedro Nuno Santos dá a grande parte dessas pessoas é uma intervenção do Estado maior. Estatizando por exemplo, todo o SNS, onde se deve mexer com pinças , porque é a única coisa que nos distingue. É a maior façanha portuguesa dos últimos 40 anos. A proposta de PNS é acabar com a participação dos privados no SNS e que os médicos estejam a tempo inteiro no Estado. Faz essa proposta na saúde e no ensino. Acho que essa direcção seria muito má.
E a tensão que existe dentro do PS neste momento.Como é que acha que vai acabar?
Este universo da esquerda do PS está a aproximar-se cada vez mais do BE e juntos podem trazer grandes mudanças ao panorama político português. O António Barreto deu uma entrevista em que diz que a pessoa com maior futuro na política portuguesa é Pedro Nuno dos Santos. Eu direi que se calhar é, mas é um péssimo futuro para os portugueses. Nas próximas eleições vai-se pôr o problema: o PS governa sozinho ou governa com o BE? Com o PCP não.
E com o PSD?
Acho que não.
Porque o PS não vai querer?
Acho que o PS se comprometia para o resto da sua existência se fizesse um bloco central. A única pessoa até hoje no PS que podia ter feito, foi a que o fez, foi Mário Soares. Porque era uma personagem tão grande que cobria tudo. O António Costa não é uma personagem da dimensão de Soares. E mesmo Soares acabou com 8% no arranque do MASP (Movimento de Apoio Soares à Presidência). Toda a gente sabe isso no PS. Nunca se vão aliar ao PSD. Ninguém  acredita nisso, no PS ou na esquerda.
E no PSD acha que acreditam?
O PSD que está agora não percebe as realidades políticas. É um partido de provincia. É gente do Norte, que está entricheirada e é contra Lisboa. Rui Rio tem o escritório no Porto.
É dai que vem a frieza do PSD para com Assunção Cristas, é mais uma Lisboeta?
Não vou falar de Assunção Cristas… (Risos) Não é para rir, não vou falar mesmo. Não sei em que direcção é que ela vai. Acho que fez uma boa campanha para a Câmara de Lisboa, teve 20%, de resto ainda não se percebeu o que ela quer.
Ela diz que quer disputar com o PSD a liderança do centro-direita.
E o que é que isso significa? Quando ela sai de casa todas as manhãs, o que é que isso significa? E para o cidadão comum ? Absolutamente nada.
É uma declaração ambiciosa mas vazia?
É vácua. Na política, para se fazer alguma coisa, tem de se saber com quem, a quem é que nos estamos a dirigir, para fazer o quê. Nada disso foi dito, não me posso pronunciar. Como é que isto está organizado e quem é quem, e quem é que tem o poder de fazer quem. Por exemplo, as universidades privadas andam por aí a distribuir diplomas das maneiras mais extraordinárias e as pessoas servem-se disso - e bem - para avaliar os políticos. Como o Sócrates, que fez um exame ao domingo, e o outro que tirou 14 cadeiras a uma terça-feira, mas e as universidades a que pertencem? Fizeram inquéritos?
Toda essa questão dos cursos feitos ao Domingo, os secretários de estado que aceitam viagens pagas por empresas para ir ao futebol, representam todo um caldo cultural de uma siciedade que não sabe respeitar as exigências…
Não é as exigências, são as instituições. A vida das pessoas e a política são cada vez menos institucionais. Os partidos não são instituições, são agregados de pessoas que não têm respeito nem veneração por nada. Veja-se o caso do PS, que teve como secretário-geral e primeiro-ministro José Sócrates, durante seis anos. Por amor de Deus, eu percebi quem era aquele senhor nos primeiros minutos… Não era preciso ser um génio.E aquele partido nem hoje é capaz de dizer: ”Este senhor fez muito mal a esta instituição.”
O PS teve um silencio cúmplice?
Isso mostra que a política portuguesa é cada vez menos instituicional. Os partidos não são instituições. Um partido não pode estar à mercê como o PSD por exemplo, do senhor que vem e faz três andares de conselheiros, porta- vozes, ministros-sombra… Isto é respeito institucional? O que é? As pessoas chegam aos partidos e fazem estas barafundas?
Disse que qualquer pessoa percebia em 10 minutos quem é Sócrates mas alguns dos que trabalharam com ele, e estão no Governo, não perceberam ou fecharam os olhos? O que se passou ali?
O que se passou ali é que ele tinha um programa de televisão! Foi a primeira pedra com que eu fiquei no sapato. Foi a própria maneira como ele foi escolhido. Isto continua a suceder. Um programador de televisão - que nós não conhecemos e se guia por regras que nos são estranhas - escolhe uma pessoa porque tem boa imagem de televisão, boa cara, bom cabelo, uma boa voz, e cria um programa. Só por acaso é que acertam numa pessoa com carácter. Num bom líder político o carácter vem antes da inteligência e de todas as qualidades que ele precisa de ter.
O António Costa teve um programa de televisão, é dado com hábil, pergunto: para si, tem carácter?
Acho que ainda não foi posto à prova. Como governante não tomou uma grande decisão. Para mim, é um homem do aparelho, incaracterístico, que está a administrar uma situação de bloqueio. Não percebo é porque é isso passa por habilidade.
Chegou a dizer que a geringonça não seria repetível e que isso abriria uma crise de regime. Ainda acha isso?
Pode haver um grande solavanco… Quando falei da mudança de regime estava a pensar numa mudança dos partidos e na distribuição do voto por eles. O que eu acho é que vai haver um problema sério com o PS, que terá uma escolha muito difícil entre governar com o Bloco ou não. A questão passa por saber se vai haver uma aliança de governo com o BE e se há membros do BE que vão para o governo: se o BE é absorvido pela ala esquerda do PS ou se há saídas desta para o BE. Não sei o que se passa no PS, mas sei que o Pedro Nunes dos Santos  disse numa entrevista ao Público , e foi o único, que há um proletariado de classe média a que o PS tem de se dirigir. Foi o único que percebeu que há essa nova força enorme na sociedade. São professores, enfermeiros, informáticos, gestores, advogados, médicos, analistas, arquitetos, técnicos de diagnóstico, fisioterapeutas, etc. Com as mesmas características: alta qualificação técnica mas sem prestígio social que antes lhe correspondia. Estão frustrados poque desceram ou não subiram socialmente, e têm uma coisa comum a todos, que é a brutal precariedade na vida deles. Normalmente as pessoas falam em precariedade no emprego. Mas há uma precariedade mais importante: a da situação social. Quando me formei fiquei com um estatuto para a vida: abaixo de certo nível, já não caía. Agora não é assim. As pessoas podem estar formadíssimas, ter mestrados, ter douturamentos e ganhar 800 euros por mês, mas amanhã estarem desempregados ou encalacrados numa estagnação salarial e de carreira. Essa precariedade é terrível. Exige às pessoas muito mais coragem. Vivem numa ansiedade maior. É preciso que alguém se diriga a essas pessoas. A única pessoa que até hoje o disse foi o Pedro Nuno Santos.
Concorda com ele?
Ele disse isso preconizando um aumento do Estado - na Educação, na Saúde, etc. Ora eu acho que se deve fazer o contrário - não na saúde e na educação - deve-se abrir uma carreira ao mérito, como se dizia no séc. XVIII. Essa é que deve ser a grande reeinvidicação Portuguesa: mérito de instituições, de pessoas, e que isso seja recompensado e protegido pelo Estado.
António Costa não percebeu essa mudança social de que fala?
Eu não especulo sobre o que o dr. António Costa pensa. Parece-me pessoalmente desinteressante. Nasceu na esquerda, tem uma mãe e um pai altamente considerados na esquerda, nasceu ali, foi muito bem educadinho, é um primeiro-ministro de esquerda, pronto… Não é uma personagem surpreendente e, nesta altura ,talvez seja bom que não o seja.Mas também não acho que seja particularmente habilidoso. O Centeno, o Santos Silva, Vieira da Silva, o Eduado Cabrita, os grandes homens da administração mantêm o barco, António Costa é o árbitro disso.
Vê alguém no actual panorama político que lhe mereça admiração política e intelectual?
Nenhum político. Ainda há uma ou duas pessoas por quem tenho admiração intelectual, como o embaixador José Cutileiro.
Mas já disse que tem uma relação ,não digo de admiração, mas de respeito por Passos Coelho.
De grande respeito. É uma extraordinéria pessoa que foi um grande primeiro-ministro e ainda se vai reconhecer isso.
Ainda há um caminho político para ele na política portuguesa?
Não sei o que ele quer.
Mas acha que vai recuperar o seu prestigio político e ser candidato a Belém?
Isso é automático, já recuperou grande parte e vai recuperar muito mais. Quando a gerigonça começar a desfazer-se, ele vai aparecer como de facto é e como de facto foi.
Vai escrever as suas memórias?
Não. Isso implica falar de pessoas e eu não sou muito bom com pessoas genericamente – compreendo-as mal, trato-as mal - de maneira que não. Acho que sairia tudo trocado.
Teve duas passagens, mais próximas, pela política…
Eu tive duas participações na política. A de deputado não conta. Eu fui para lá e senti-me envergonhado durante os três meses que lá estive. Aquilo era uma ociosidade organizada. Trabalham as direcções dos partidos que depois comunicam às pessoas como votar. As pessoas vão para lá, lêem os jornais, tomam dois cafés e depois vão para casa. Isso é vida para alguém? Eu quando fui deputado tinha um sentimento esquisito que já tinha sentido e não identificava. Quando é que tinha tido? Depois descobri: era quando faltava às aulas no liceu. Eu fiz duas incursões na política: uma foi com Sá Carneiro, outra com o Mário Soares, que dependeram directamente de um e de outro. Não das organizações. Como já disse, eu sou muito mau com as pessoas e nunca teria progredido num partido.


terça-feira, 26 de junho de 2018

Quem não se sente…


Como alguns comentaristas da Maria João Avillez,  eu também a admiro, no rendilhado humano e artístico das suas crónicas, mas hoje os comentários que seguem são todos contra ela. Também o meu seria, mas sem a ironia de muitos. Admiro sempre a humanidade sincera das pessoas, o que é o seu caso. Como já admirava a irmã – Maria José Nogueira Pinto e o cunhado, Jaime Nogueira Pinto, como vozes da decência no acto da descolonização traiçoeira, entre outros valores por eles defendidos, creio que sem rendilhados. Relembro um distinto colega – o Dr. Esteves Pinto, como lhe chamava – com quem costumava conversar, e que sentiu como eu – mas mais discretamente – as angústias do pós 25 de Abril e sequente “descolonização” - aliás, “pontapeamento” das colónias - para o seu isolacionismo libertador. Muitas vezes o Dr Esteves Pinto me dizia que os pobres moçambicanos (ou os outros povos da nossa independência colonialista então processada e alardeada por toda a intelectualidade mistificatória,) que ficariam entregues às ambições selvagens dos seus futuros governantes, por essas alturas ainda alardeadas em promessas de eldorado, (como, aliás, por cá se viu também e  vê, com os truques eleitorais na manga, que depois são abandonados), me dizia, pois, que a Europa seria invadida pelos pobres que, cobardemente, entregámos aos aspirantes a governantes, Samoras Machéis, no meu caso.  Não parámos de o observar, desde então, esse afluxo, quantas vezes catastrófico, porque toda a África e Médio Oriente se acenderam em crueldades e prepotências dictatoriais ou tribais, ou de radicalidade doutrinária terrorista e cada vez mais agudizada, graças ao nosso contributo de ocidentais amistosos, que pregam a cartilha democrática e, simultaneamente, disseminam as armas para os seus trocos.
Os comentários são muito pertinentes, como lição dos novos tempos, geralmente desmascarando falsas democracias que se afirmam doutrinariamente, e, afinal, hipocritamente, indiferentes aos povos sacrificados nesse afluxo de gente perdida de medo ou de fome – os povos da Europa do sul que primeiro os acolhem.
Qual das Europas? /premium
25/6/2018
Renzi é outro italiano infeliz. Encontrei-o num comboio entre Florença e Roma, blaser azul, computador aberto, rosto fechado: “o senhor é quem eu estou a pensar que é?” “Ah... (o rosto abriu) maybe.”
1. O regresso da barbárie? Assim parece nestes desgraçados dias e mesmo que em certo sentido ela tenha vindo a ser semeada, tantos os erros cometidos pela “Europa” e pela sua deficiente vontade política, à barbárie diz-se não: quem me diria a mim ontem que hoje, um Estado de direito europeu assente em valores universais partilhados por todos os que os defendemos por neles assentarmos o nosso escolhido modelo de vida, seria capaz de recusar cais e terra firme a um grupo de deserdados da terra? Quem me diria a mim que um banal dia da minha vida, o Presidente do mais poderoso país do mundo seria capaz de separar pais de filhos e não me venham dizer que está a fazer o que avisou que faria ou que ele foi “votado democraticamente”, já ouvimos. Ou que agora na Europa se irão perseguir ciganos a dedo. Já conhecemos essa história e a História. (Ou de facto, volta-se sempre à História?)
Por isso apesar do ocidental Trump ter previamente “avisado” dos seus gestos, e de “toda a gente” procurar a América como destino de eleição e da “media” se empolgar por vezes muito duvidosamente e sempre só para um lado; apesar do europeu Matteo Salvini ter feito do combate à imigração o eixo da sua recente campanha eleitoral em Itália, a esta espécie de barbárie diz-se não.
Não sei se Macron e Angela Merkel terão razão quando com um desajustado optimismo nos informam que “a UE está prestes a abrir um novo capítulo da sua história” e também ignoro se o próximo Conselho Europeu será capaz de se mostrar à altura da decisão e da convicção na vontade politica que lhes exigimos que exiba e concretize. (Provavelmente não porque o problema não tem solução e porque todos os erros foram cometidos.) Mas há uma coisa que sei: ontem eu teria apostado a minha vida em como seria impossível assistir hoje, na Europa e nos Estados Unidos, a algo de muito aparentado com o regresso da barbárie.
2. Sobre a Itália, algumas apressadas notas, venho de lá, Turim, Florença, Roma.
Mas a Itália, “segunda pátria de toda a gente”, que nos deixou em herança a lei e o génio, a civilização e o sublime – e a Itália está cansada. Abatida pelo desnorteio, acossada pela fúria, à mercê de perigos e incertas aventuras, encontrei um mau quadro onde me pareceu ver muitas luzes vermelhas acesas.
Não gostei de tudo o que durante dez dias vi, ouvi e li nem da forma como “se” lidou com a questão do Aquarius, impedido de acostar. Mas – sejamos sérios – para alguém tão, tão longe desta realidade quanto um português habitando um país totalmente “virgem” de desembarques maciços, é expedito condenar a implacabilidade desta política (?) anti-imigração.
A Itália — sejamos sérios outra vez — está há longos meses sozinha na primeira fila do desembarque incessante, desesperado e caótico de milhares e milhares de refugiados.
E os italianos, que já estavam infelizes o desemprego cavalga, o nível de vida desce, os serviços públicos não servem, a burocracia é asfixiante, o espaço público degrada-se –, começam a estar fartos. O cansaço exige um culpado e para eles o embaraço é a escolha: o euro a que mais de metade da população atribui a descida do nível de vida? Os imigrantes que “os outros não querem”? Bruxelas” vista como fonte de indecisão e palco de hipocrisias várias? Sim, tudo isto, basta ouvir as pessoas e eu ouvi: se o gesto de Salvini é inadmissível, ele não pode ser separado do solitário calvário que o precedeu. Quem me lê ao viés, guiado pela má fé ou pelo devastador pensamento politicamente correcto, achará que estou quase a desaguar na redenção do mesmo Salvini, mas justamente não estou e quem achar isso simplesmente desprestigia-se a si mesmo. Limito-me a descrever uma trágica ocorrência e a tentar analisá-la: o líder da Liga que já não é só do Norte decidiu subiu o patamar do risco e do desafio e devolver aos congéneres europeus, que detesta e de quem há muito desconfia, a responsabilidade e a culpa pelo que “se passa”.
E passa: basta só lembrar a falha de compromissos em alguns países com pergaminhos democráticos, evocar a soma de referendos convocados até a resposta do “povo” ser conforme à conveniência; ou a hipocrisia reinante ou as fragilidades evidentes e isto durante anos e anos. Basta enfim recordar apenas o essencial — a desunião entre 27 países e 27 povos – para perceber que os maus da fita não estão todos do mesmo lado.
Fechar portos e portas não é solução nem sequer um princípio seja do que for: de conversa, de negociação, de estratégia e entendimento comum e ainda bem que à hora a que escrevo já houve uma marcha-atrás (mesmo que ainda semi-indefinida). Seja como for, com apenas uma ou outra excepção, não se ouviu uma voz dissonante no Movimento 5 Estrelas, aliado da Liga no governo, na questão do barco, nem constaram divergências públicas entre ambos. Os parceiros não divergiram talvez porque todas as sondagens lhes dão razão: uma imensa maioria de italianos, e não só os eleitores da Liga, rejeita taxativamente a europeia “hipocrisia dos bons”, capitaneada por Merkel e Macron, na questão dos refugiados. Passou-se um cabo, passou a haver duas “Europas”, a do protesto e a outra. A divisão entre elas é feroz e glacial. E agora?
3. Mas há mais: a implausibilidade da aliança governamental em Itália entre dois partidos anti quase tudo é relativizada pela necessidade da sua própria sobrevivência: é natural cavalgarem juntos pelo menos até as próximas eleições. E embora seja quase demencial prever ou antever o futuro deste laboratório político, a clareza dos desígnios políticos da Liga e do Cinco Estrelas ajuda ao vaticínio de um futuro “unhappy end”: a Liga quer arredar de vez Berlusconi e a sua Força Itália do círculo da influência politica, ambicionando ocupar o seu território eleitoral. Luigi Di Maio e o seu Movimento querem o mesmo, do outro lado da cena política: reduzir (ainda mais) a força e a influência dos sociais-democratas do PD e ficar-lhes com os votos. E na oposição o PD vela e vegeta. Estiola, agora já sem Renzi mas com outro desasado cavalheiro na liderança. Desaparecerá como outros partidos europeus? Dúvida. E quem está, terá lugar cativo na nova política? Incógnita. Longe vão os tempos “conhecidos” em que partidos igualmente “conhecidos” se eternizavam na polca do poder. Agora é “assim”. Melhor?
4. Por falar em Matteo Renzi: é outro italiano infeliz. Encontrei-o num combóio entre Florença e Roma, blaser azul, computador aberto, rosto fechado:
“O senhor é quem eu estou a pensar que é?”, perguntei para o ar da carruagem 5.
“Ah… (o rosto entre abriu) maybe…”
Depois de Varoufakis há dois anos num avião, e da vã conversa que então travámos, o guião (não tenho sorte com políticos nos transportes) repete-se com o ex-líder do PD: falar? Ele? Deus o livrasse que a vida não está fácil e a dele ainda menos.
Percebe-se: perdeu tudo. O ex-premier recusa alianças com os “Cinco Estrelas” – posição não unânime em bases e tropas que temem vir a sumir-se do mapa eleitoral italiano — e está hoje muito mais só. É um político isolado a quem os italianos ainda não perdoaram erros e escusadas leviandades. O seu regresso é visto como praticamente impossível.
Mas a (minha) tentação de poder partilhar da sua perplexidade não é pequena: a falta de substância política, de elites e de massa critica do inorgânico embora transversal Cinco Estrelas pode inquietar. O seu êxito ainda mais. Apesar de totalmente inscrito no ar deste tempo, de ser uma omnipresente e vertiginosa plataforma digital, do eco do seu “mentor-filósofo” Casaletti, não se alcança inteiramente o sucesso desta nova representação política. Ainda não se alcança.
Do outro lado, Matteo Salvini é um forte e emblemático político, o governo é como se fosse dele. A Liga era do norte, agora é do sul e do leste e do oeste. Mas quando peço ao meu companheiro de viagem e ilustre interlocutor que me seja cicerone neste puzzle, “não, não e não”.
Vida de jornalista. Cujas preocupações são indistinguíveis das da cidadã: em que mundo vivemos?
PS: Morreu Fernando Guedes, um homem formidável, também um grande homem do Porto, dos que já não há. Estava óptimo apesar da muita idade, estava sobretudo vivo: continuava a ir à Sogrape, a visitar as quintas, a opinar sobre as vinhas. Há dias tropeçou numa escada de três degraus, a queda foi lhe fatal. Há semanas evoquei aqui José Manuel de Mello (outro português de excepção) a propósito da publicação de uma bem vinda biografia sua. Fernando Guedes também merecia que ficasse registada a memória do tanto e tanto que fez pelo país, em marés altas e marés baixas, e do maravilhoso ser que era.

COMENTÁRIOS:
Marie de Montparnasse:
É certo minha senhora,  a barbárie está de volta. E muito mais barbárie haverá quando as igrejas que a senhora frequenta forem transformadas em mesquitas e a senhora e as suas descendentes tiverem que usar burka. De facto e a este ritmo de chegada do mundo muçulmano à Europa, acabou-se o seu belo e cristão humanismo. Quanto a qual das Europas, eu já fiz a minha opção (não tenho outra) porque no mundo muçulmano não quero viver e nem esse mundo me deixaria entrar.
Evangelista Miranda Miranda: O grande mal está nas duas Europas, que sempre têm existido, mas a cuja realidade uma parte dos privilegiados faz vista grossa, pensando que todos viajam por conta do Estado em primeira classe, ou por conta de empresas e, que vão por outro lado buscar aos mesmos, o money para pagar as contas. Esse é que é o grande problema: andar a vender a ideia maravilha da Circulação livre, mas, a camada de baixo, a fazerem vida de escravos e, quantas vezes a pedir para não serem obrigados a emigrar, com as tragédias que isso acarreta: pior por vezes que o tempo do anterior regime. Nesse tempo ainda podiam viver em barracas nos arredores de Paris ou outra, no sentido de economizar alguns cobres; hoje, são obrigados a gastar o que têm e não têm, porque lhes dizem que somos/são europeus.
Maria José Melo: Ó Maria João, por favor, abra os olhos, pense um bocadinho! Esta vaga de migração para o Ocidente, Europa e Estados Unidos é organizada, para destruir o nosso tipo de sociedade e a poderem dominar. Querem acabar com a democracia, a liberdade... Não se iluda!
Carlos Carapeto - > Maria José Melo
Mas nós (Europeus ) há alguns anos que estamos a destruir os países deles.  Preciso lembrar-lhe os nomes ?
Bruno Xavier - > Carlos Carapeto: Sim, tem muito de verdade, alguns países europeus destruíram alguns países de onde partem emigrantes. De qualquer forma, uma asneira não se corrige com outra ainda pior.
Maria Costa: « … o Presidente do mais poderoso país do mundo seria capaz de separar pais de filhos e não me venham dizer que está a fazer o que avisou que faria ou que ele foi “votado democraticamente”, já ouvimos.» Sabe que as fotos são de 2014? E que a prática é antiga?  «…desembarque incessante, desesperado e caótico de milhares e milhares de refugiados.» Se até 2014, 85% viviam da Segurança Social, dos que vieram depois, 95 % vivem e VIVERÃO da mesma SS. Já nem vou falar das violações diárias, muitas vezes terminando em homicídios - mulheres de todas as idades e meninos; canibalismo ritual; no roubo e furto; na venda e tráfico de armas de  droga, pessoas e redes de prostituição: nas casas metralhadas; nos centros comunitários incendiados; nos ataques a bombeiros, socorristas e policia. VIVA A NOVA EUROPA!
noah cohen - > Maria Costa: O pessoal sul-americano, principalmente os mexicanos, querem é droga e trabalhar..."vai no Batalha"!
Mas, o que está a chegar à Europa, e que a esquerda radical quer implantar aqui em Portugal, é igual. Talvez a diferença esteja no "modus operandi", não usam drogas mas em alternativa usam bombas que sempre dá para despachar logo às dúzias.
William Smith -> noah cohen: Cohen, o que nos está a cair em cima é bem pior que os mexicanos.
88dabulota - > Maria Costa: A prática é de 2014 , logo um pouco antiga, mas como era outro Trump que governava o país mais poderoso do mundo, passava por um grande democrata.
Relvas Analytics: "Califórnia. Tiroteio em lar de idosos fez um morto" ...é uma Europa igual a esta América que nós queremos!
Miguel Cardoso - > Relvas Analytics: Vá-se lá perceber porque é que não há vítima do socialismo que não queira lá assentar arraiais, não é Relvas? Já daqui deste paraíso pós soviético piram-se com uma rapidez tal que até que parece que temos sarna!
Maria Costa - > Miguel Cardoso
A Califórnia é uma estado 'liberal', ou seja socialista -na n/ nomenclatura
Miguel Cardoso - > Maria Costa: Liberal é o oposto de socialista!
Armando de Sousa - > Miguel Cardoso: Liberal nos EUA quer dizer Esquerdista! Em Portugal e Europa o seu contrário. Para confundir, classical liberal nos EUA fala de Milton Friedman e outros pensamentos de economias livres.
Carlos Martins - > M.Relvas Analytics: Fale por si. Eu prefiro seguir os EUA como modelo do que imitar a Venezuela que defende.
Carlos Carapeto - > Carlos Martins M.
Claro : Recolhem os Cubanos como trofeus de guerra. E expulsam os Haitianos como de peste se tratasse . Consegue explicar-me esta dualidade ?
Miguel Cardoso - > Armando de Sousa: No seu delírio só! Nos EUA só há um partido liberal, o Partido Libertário, que obviamente num political compass está à direita, apesar de ser a favor dos direitos individuais nas causas fracturantes, aliás o seu ex líder Ron Paul foi congressista pelo Partido Republicano, e as inspiração são Hayek, Rand, Mises etc., muito longe de serem esquerdistas, muito menos socialistas. Dos grandes partidos, o Republicano é conservador nas questões sociais e liberal na economia e o Democrata, que cá ficaria à direita do CDS, é o contrário.
Miguel Cardoso - > Carlos Carapeto: Ó comuna, tem juízo! Havia 676,000 haitianos nos EUA! Além disso qualquer pessoa que fuja de Cuba é um refugiado, ninguém sai de lá sem ser fugindo! Para uma profissional de créditos firmados e autora de alguns bons nacos de jornalismo, desta vez, talvez porque anda um bocadinho enferrujada, destreinada ou com pouca paciência para aturar estas maçadas de um mundo pouco  certinho e às reviravoltas, desta vez, dizia, o trabalho de casa de investigação para suporte a este seu relambório de coitadismo e distorções várias politicamente correctas, está ao nível, digamos, para ser muito simpático, por exemplo, do Nicolau do expresso socialista.
Miguel Cardoso - > manel buiça: Na Quinta da Marinha a experiência com imigrantes ilegais é poucochinha, um jardineiro ucraniano, uma doméstica cabo verdiana e pouco mais. Pela amostragem que tem à sua disposição, a Maria João depreendeu que não são um problema. Mesmo assim uma opinião diferente da do nosso primeiro, para quem são mesmo uma oportunidade, por questões demográficas diz ele, o que me leva a pensar que sendo estes imigrantes na sua exponencial maioria homens virão certamente, na opinião dele, gerar prole com as nossas mulheres e as nossas filhas. Na versão low budget, do "Orient Express", de Florença para Roma nem encontrou nenhum, vá-se lá saber porquê. Mas encontrou o Renzi, que como bom socialista gosta das coisas boas da vida!
Helder Antunes: "grupo de deserdados da terra"? E para a srª mais ou menos quanto, em deserdados, dá isso? E grupos todos os dias será quanto mais, portanto. E será coisa, em dias,  para uma semana ou duas, até ao fim do mês, ou grupos será daqui para a frente, sempre? Todos os dias. Isso por alto dá muitos deserdados, está a ver. É aqui que entra a barbárie. Está a ver? Isto das barbaridades, minha srª, não é um concurso de popularidade, populismo, humanidade ou racismo. Mais ou menos todos percebemos os dramas individuais e familiares dos ditos deserdados, da miséria de onde fogem e da miragem optimista que os norteia. Não é um concurso para ver quem é mais caridoso, até porque dizer que o somos, sem sermos postos à prova é  é muito fácil. Aqui há uma verdadeira guerra de sobrevivência. E há mais quem e o que possa não sobreviver do que quer fazer crer.
Manuel Pereira: Porque será que os refugiados económicos, políticos e resultantes das guerras geradas em vários pontos do globo, principalmente em África e Médio Oriente, só fogem para a Europa, Estados Unidos da América, Austrália e Canadá ?  A  ONU porque não dá quotas aos países ricos do Golfo, que têm a mesma cultura islâmica e já agora à China, Rússia, Índia, Indonésia e Japão ?
Diego Maradona - > Manuel Pereira:  É fácil de responder. Apenas a europa (os seus líderes) estão interessados em importar imigrantes e sem se preocuparem com a descaracterização das suas nações. Os outros países estão bem assim e não pretendem mudanças. Até porque foi a europa (NATO) que criou o caos em África para haver tanta gente interessada no êxodus. Aliado à propaganda de receber todos os interessados. Faltou foi perguntar aos europeus se estavam interessados nisso e agora vêem-se estes resultados nas eleições pela europa fora (brexit, italia, austria, hungria, polonia, frança, alemanha, holanda, etc...). em África para haver tanta gente interessada no êxodus. Aliado à propaganda de receber todos os interessados. Faltou foi perguntar aos europeus se estavam interessados nisso e agora vêem-se estes resultados nas eleições pela europa fora (brexit, italia, austria, hungria, polonia, frança, alemanha, holanda, etc...).
Maria José Melo - > Manuel Pereira: A resposta está mais lá em cima. DESTRUIR O OCIDENTE!
Anabela Faisca: Digamos que, com uma certa nostalgia, me apercebo existirem duas visões de humanismo, a daqueles que aceitam acolher todos os fugidos das desgraças no mundo, independentemente da matemática, sendo possível, para eles,  que o quociente da divisão dos recursos permaneça o mesmo, independentemente do divisor se agigantar a cada trimeste e a dos outros, a dos que trabalham mais horas, por salários cada vez mais reduzidos, não põem um tostão de lado a cada mês que passa, têm pesadelos com despesas inesperadas e sim, é com eles que os milhões de desfavorecidos de fora vão competir por empregos e ajudas sociais. Não vale a pena falar de moral, quando a moral consiste em mandar os outros pagar por aquilo que nós consideramos certo. E como falamos sempre na distribuição da riqueza como a solução (visão socialista) convém, de uma vez por todas pensar na criação de riqueza. Biliões de africanos querem imigrar para a europa - contudo estão no continente porventura mais rico do mundo, em recursos naturais, que tem recebido ajuda internacional desde há cerca de 50 anos. Ajudar todos querem, mas primeiro temos de estar em posição de o fazer, o que está a ser posto em causa e o povo europeu já percebeu isso.
Helder Antunes - > Anabela Faisca: Muito bem!
Dr. Feelgood: Dona Maria, dá l'cença ? A mim também ninguém me diria hoje que ontem hordas e hordas de bantus parasitários e inorgânicos se enfiassem em " pateras " para invadir a €uropa depois do colapso líbio. Estivera o Coronel ainda em Tripoli que nada disto tinha esta dimensão. Talvez Don Sarko tenha uma resposta para isto, afinal depois de endeusar o homem deu luz verde para o perseguirem em nome dos " direitos humanos ", com certeza. Quanto à Itália, enquanto houver pizzas e mozarellas não há futuro que a ensombre, afinal quem dispõe da Mafia Calabresa e sucedâneos está sempre um degrau acima das angústias. A Mafia e o Vaticano, sublinhe-se. Qualquer ramificação não é mera coincidência. Andiamo.
Rasputine: Posso muitas vezes achar a senhora uma tia conservadora mas aqui neste artigo, aparece evidente a diferença entre uma pessoa com valores éticos e aqueles que, sem moral ou memória histórica,  querem voltar à barbárie. Felizmente ainda há muitas pessoas de direita com a democracia nos genes e que não ficam covardemente pensando que o problema do fascismo,  ou não existe ou é com os outros. Um artigo de opinião, visceral e límpido que vai separar as águas entre os leitores e comentadores: de um lado aqueles que acreditam nos valores,  e do outro, aqueles que cálculo, alienação ou convicção, se escondem em eufemismos e mentiras para justificar o mal.
Antonio Dâmaso - > rasputine: Sr rasputine, Dona Maria por gente como vocemecês (como antigamente) é a coisa anda mal. Tudo fizeram para correr com o CORONEL e agora gritam pelo resultado de terem corrido com o Coronel. Quantos "refugiados" ou desgraçados, já levaram para as vossas casas?
Rasputine ->António Dâmaso: Todos nós como portugueses, contribuintes, temos um quartinho para refugiados. Esse quartinho,  sanitários, escola, alimentação,apoio jurídico está previsto no OGE aprovado na AR. Todos nós dando um pedacinho dos nossos impostos, contribuímos para esse quartinho, pobre, simples, mas um luxo para quem foge da miséria. 
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Miguel Cardoso - >rasputine: Mas quais valores ó Ras, grande filho de putin? Que valores é que um ser amoral como tu, que defende os piores bandidos da história recente do mundo pode defender? O que pode defender um defensor da verdadeira barbárie, do socialismo, de criminosos como o Lula, o Fidel, o Maduro, o Chavez, o Sócrates, o Costa etc.? A Itália recebeu já 650 mil imigrantes ilegais, e se a Maria João Avilez foi a Itália, como diz, viu-os a encher as praças, sentados pelos cantos à espera de coisa nenhuma. 
A Itália está a rebentar pelas costuras e as pessoas revoltam-se com a total incapacidade dos politicos para resolverem os seus problemas. Este é pelos vistos um grande problema para os italianos, e por isso que moral tens tu, que defendes o criminoso do Lula mas fugiste da desgraça que ele criou no Brasil, para criticares a escolha democrática dos italianos que vêm a sua vida abalroada e a UE, refém do politicamente correcto, nomeadamente por políticos e governantes que vivem em bolhas e deixam para eles o ónus das suas decisões? Que moral temos nós que recebemos mil imigrantes ilegais, sendo que metade fugiram para norte, de criticar os italianos?  A "barbárie" como lhe chama a Maria João, acontece em África, não se afigura plausível que esteja para acabar, antes pelo contrário. Dito isto, será sempre uma barbárie se um país que já recebeu 650 mil imigrantes ilegais se negar a continuar a receber? Quando deixa de ser barbárie? Nunca? É preciso a Itália deixar de ser Itália e passar a ser uma província do Burkina Faso? Vem a África inteira e os italianos devem dizer "si, grazie" a todos? Enfim, a indigência intelectual e a falta de mundo no seu melhor!
Rasputine - > Miguel Cardoso: Propaganda mentirosa do balofo cabeça rapada de plantão.
Miguel Cardoso - > rasputine: Compreendo o teu incómodo, mais uma vez, contra factos nunca tens argumentos! Vai peregrinar à cela do teu criminoso favorito, o Lula, porque em breve terás muitos outros para visitar!
(…)
Filomena Costa: MJA, sempre gostei muitos dos seus comentários,  mas agora acho este absolutamente fora de razão. Entao os Europeus são  obrigados a sustentar  e dar asilo permanente às crias dos outros países cuja natalidade fora do controlo nos enviam?Se não têm condições para os criar não  os façam!As leis dos seus países permite ter 4 ou 5 esposas fazem 5 ou mais filhos em cada uma delas é em seguida despacham-nos para a Europa os alimentar e criar. CONCORDA?
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José Paulo C Castro - > Filomena Costa: Por acaso, embora não haja essa obrigação de acolher as crias dos outros, o problema só existe porque na Europa não se fez o que eles fazem: ter filhos. Se o envelhecimento da Europa não fosse o que é, eles nem lugar teriam por aqui. Assim, são precisos jovens rapidamente para pagarem as reformas dos que aqui não quiseram ter a descendência que os sustente. Ou isso, ou acabar com parte dessas reformas. Seja como for, uma das mentiras da esquerda (a sustentabilidade do estado social ou as erradas políticas familiares) tem de ser exposta.
Mosava Ickx - -> José Paulo C Castro: 1. criar o aborto gratuito e universal, depois queixar-se da natalidade, é lógico? 2. já não há desempregados em Portugal, devemos importar mais?
José Paulo C Castro  -> Mosava Ickx: Não estou a dizer que é lógico. É consequência lógica. O desemprego existente resulta do fraco desempenho económico, o qual é consequência da carga fiscal elevada para sustentar uma população envelhecida. Só estou a dizer que essas mentiras, em que os portugueses e outros europeus embarcaram, têm consequências. Agora não há margem para soluções fáceis.
Carlos Martins - >  M.José Paulo C Castro: A Europa pode precisar de emigrantes mas devem ser seleccionados e não impingidos. Acolhe em sua casa quem convida ou quem força a entrada?
rasputine - > Mosava Ickx: Já agora fale dos preservativos e dos anticoncepcionais para o seu ramalhete ultra-montano ficar completo.
Paulo Ferreira: Tanta história, e não recua mais um bocado, até ao império Romano, que acabou, foi destruído, por situação similar a que vivemos hoje,com  hordas de imigrantes que entraram por todos os lados, exactamente como está a acontecer agora . Haja ao menos coragem para pôr fim a isso, por muito que isso vá contra a doutrina vigente. Por muito que alguns cronistas queiram andar à superfície,o tempo deles já lá vai, só que tanto eles como os jornais que lhes pagam ainda não deram conta. O Observador devia arrumar a casa antes de pedir subscrições, ainda não se viu bem o que quer, e para que lado vai. 
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