sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Editoriais e mais análises



Análises de comentaristas que clarificam e alertam. Por mim, agradeço.

I - EDITORIAL
O cerco à democracia na Europa já passa por Itália
O sapo europeu assiste impávido e sereno ao aquecimento da temperatura imposta pelo extremismo.
MANUEL CARVALHO
PÚBLICO, 29 de Agosto de 2018
A democracia liberal na União Europeia anda há tempo de mais a representar o papel do sapo na panela que aquece lentamente. De ataque em ataque, personagens como Matteo Salvini ou Viktor Orbán vão aumentando a temperatura das suas ameaças sem que as democracias europeias se indignem, sem que reajam, sem que mostrem sinais de que perceberam a dimensão do perigo que enfrentam, sem que constatem que, lenta mas inexoravelmente, há um cerco que se adensa e um nó que se aperta.
Esta terça-feira, Orbán e Salvini juntaram-se em Milão para, uma vez mais, pavonearem o seu desprezo pelos imigrantes, para atacarem os líderes fiéis aos princípios da Europa (na segunda-feira, foi a vez de Emmanuel Macron), para insinuarem a evolução do bloco soberanista que alberga checos, polacos, húngaros, eslovacos e italianos na missão de regressar ao passado nacionalista que tantas vezes devastou o continente. Após mais esta ofensiva populista, xenófoba e iliberal, não se ouviram protestos. O sapo europeu assiste impávido e sereno ao aquecimento da temperatura imposta pelo extremismo. Não nota que aquilo que hoje se ouve pela boca de Orbán ou de Salvini seria um escândalo inimaginável há apenas uma década. Não percebe que a renúncia a enfrentar o populismo radical é por si só um estímulo para que o populismo radical se implante e estenda para novos países. Ou para que líderes como Salvini ou Orbán apareçam sem pudor como símbolos de uma Europa que desistiu de si própria enquanto ideia e projecto.
Assistir à cimeira informal de Milão é a prova que o nó do extremismo se vai apertando. Sem que partidos como o Fidesz de Orbán sejam expulsos do grupo parlamentar europeu onde estão o PSD e o CDS. Sem que a União Europeia faça cumprir as suas regras e mostre aos húngaros ou aos checos que não podem ter o nacionalismo anti-imigrante numa mão e os apoios e o acesso ao mercado europeu na outra. Quando perceberem que sem a Europa os seus devaneios se desfazem perante a pobreza, terão mais coragem para recusar os ataques dos seus governos à imprensa ou aos tribunais. Mas enquanto a UE se mantiver no seu papel de demissão cobarde, nada disso acontecerá. Até um dia, como nos mostra a História.
COMENTÁRIOS:
Luis Ribeiro: 30.08.2018:  Refugiados??? Emigrantes???? É mais um negócio que outra coisa, apoiada pelas manhosas ONGs...descarrega no porto e volta logo para a faina!!!!!
albergaselizete,  29.08.2018: Se a extrema direita aparece como um refúgio à incompetência política de esquerda, que parece não ser inocente, a um bom conjunto de interesses e incentivos pessoais, e com a comunicação social, claramente pró extrema esquerda, esquerda, atacando tudo o que mexe com valores de direita, tem criado instabilidade, insegurança, medo, injustiça, já que a estabilidade e a justiça que deviam ser promovidos pelos poderes de estado, deviam constituir o garante da paz social na zona Euro, é natural que os valores de direita, como o nacionalismo que identifica valores do Ocidente e da Europa em particular, por ser o nosso caso, a cultura, os princípios orientadores, os direitos adquiridos ao longo de séculos, a justiça, não sejam postos em causa por razões descabidas nos nossos estados.
ana cristina, Lisboa et Orbi 29.08.2018: parece que os fachos reunidos em itália escolheram macron como inimigo nº1. não admira. eles sabem quem os põe em perigo.
albergaselizete, 30.08.2018: Seria interessante ver a liberdade fluir em França, ao som de referendos, que dessem voz ao povo, em matérias que são cruciais, para os franceses e para os europeus, para vermos de que lado está o povo francês. É claro que seria necessário invocar a tal liberdade que as esquerdas tanto apregoam, mas não praticam. O que é practica corrente, é a tomada de decisões, pelos "iluminados", e imposta ao povo, que tem de comer e calar
Ludwig Popov, UE 29.08.2018 : "a extrema direita está a regressar aos mesmos sítios onde se deu bem no passado" Nem mais jonas, eu até iria mais longe provavelmente chocando algumas pessoas desses países, mas ela nunca de lá saiu, Hungria, Polónia e vizinhos, Itália terreno de lutas brutais entre esquerda e direita, a esquerda foi esmagada facilmente, os italianos lá pensaram que hoje em dia só PD, moderados daqueles que servem os bancos. A extrema-direita nunca de lá saiu e eram piores que os alemães (o Leste da Alemanha também já está nos carris da extrema-direita); agora sentem-se confiantes. Vão conseguindo vitórias e através do sufrágio, coisa que tem enervado muita gente, eu incluído embora respeite a vontade dos povos. Há quem não respeite e queira impôr a versão democrática dos bilionários ocidentais
JLR, Ílhavo 29.08.2018: Pouco se fala sobre as causas da imigração dos africanos e como as combater. De onde vêm exactamente os imigrantes? Quais os países africanos de onde são originários? O problema deve ser "atacado" pelas suas causas e não pelas suas consequências. Talvez seja preciso um "plano Marshall" para a muitos países da África do Norte. Mas até agora a Europa só lhes tem dado guerras e invasões.
Conde do Cruzeiro Assinante, que apenas pede liberdade de não ser perseguido. 29.08.2018 : Acabei de escutar uma entrevista a um comissário da UE, em que ele afirma que a agenda dos políticos actuais em funções em alguns países da UE, tem como finalidade espalhar a agenda do medo. E eu ao ler certos comentários mais elaborados, reconheço que por cá essa agenda já está em curso embora o tal comissário aponte o governo de Portugal como uma excepção entre outras, a esse projecto confrontacional.
II- EDITORIAL
As “vítimas” da emigração e o futuro do país
Seja qual for a preocupação do Governo, há no seu anúncio uma mistura de voluntarismo progressista e de assistencialismo conservador que merecem ser discutidos.
MANUEL CARVALHO
PÚBLICO, 28 de Agosto de 2018
Há um detalhe do anúncio do primeiro-ministro que falta para percebermos a verdadeira natureza das isenções fiscais anunciadas para os emigrantes que queiram regressar ao país. O que mobiliza o Governo é a necessidade de trazer de volta o talento e as competências dos quadros qualificados que o país perdeu nos últimos anos? Se sim, acredita António Costa que o nível dos salários dos empregos criados é capaz de compensar os que se pagam em Londres ou Berlim? Ou o que está em causa é uma espécie de política social, um “perdoa-me” diferido no tempo, que tem como objectivo indemnizar com IRS os portugueses que a “malvadez” da troika e a “perfídia” do Governo de Passos Coelho forçaram ao exílio?
Seja qual for a preocupação do Governo, há no seu anúncio uma mistura de voluntarismo progressista e de assistencialismo conservador que merecem ser discutidos. O Governo faz bem em acreditar que o Estado tem um papel a desempenhar na modernização da economia, criando condições para que os quadros formados em Portugal e que se viram forçados a procurar empregos lá fora possam regressar. Mas, ao fazê-lo com promessas de rebaixas de impostos e subsídios à reinstalação, parte do princípio que quem emigrou o fez exclusivamente para fugir a um país pobre e oprimido pela troika que entretanto enriqueceu. Não é verdade. Os emigrantes dos anos de 2010 não viajaram com malas de cartão como em 1960 – pelo menos os mais jovens e mais qualificados. Muitos, a maioria, partiram porque as opções lá fora eram e continuam a ser muito mais interessantes que as que existiam ou existem cá dentro.
Não admira que muitas das reacções de emigrantes sejam de recusa ao “favor” do Governo que os trata como pobres diabos – até porque, na maioria dos casos, os pobres diabos ficaram por cá e talvez precisem mais de uma rebaixa de impostos dos que tiveram a ousadia e a coragem de partir. Seria bom que regressassem? Claro que sim. Deve o Governo empenhar-se no seu regresso? Sem dúvida. Mas para que essa intenção positiva se consolide, a proposta de António Costa não pode ser, como é, uma mistura dúbia de sentido de Estado com pequena política. Nestes casos, a pequena política sobrepõe-se sempre.
COMENTÁRIOS
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fernando ferreira franco, 29.08.2018: Este editorial entra de rompante naquilo que os eleitores querem ouvir e a intenção de Manuel Carvalho é tão evidente que produz um devaneio nas opiniões dos comentadores. Será que o discurso de António Costa contém nas intenções algum desejo de que os “emigrantes” voltem? É evidente que não, as qualidades do orador manifestam apenas o teor eleitoral da circunstância. Onde é que estariam os empregos para oferecer a essa gente? António Costa está perfeitamente consciente de que a vinda desses “portugueses” alimentaria uma entropia desconfortável na ilusão do pleno emprego que o IEFP se esforça por alimentar. Acresce que a própria forma como se referem aos portugueses que fizeram a opção de partir, é já um insulto suficiente para demover esses “emigrantes” de voltar. Responder
manusreis20, 29.08.2018 chamo a estas medidas de malabarismo barato políticas e políticos que empurram para o buraco e depois vem dar uma de bonzinhos e lançam a corda para os tentar salvar tenham vergonha quem está bem lá vai querer saber desse canto queimado.
JLR, Ílhavo 28.08.2018: Como é que os imigrantes podem regressar a um país que paga 8000 milhões de euros por anos para pagar juros da dívida, onde não há dinheiro para hospitais, escolas, caminhos de ferro, etc., onde não há perspectivas de futuro?!
Javali Javali profissional 28.08.2018: Esse número está errado. E ninguém obrigou os governos a endividarem-se.
The Adventures of Michael Collins Enviado especial a repúblicas imaginárias governadas por pokémons 28.08.2018: Esse número é o da despesa do Estado. Que contrasta sobre os 20000 milhões facturados. Os juros da dívida, no dia de hoje, estão cotados a 2,18%. Ou seja cerca de 5000 milhões. Conclusão, o Estado tem uma margem de manobra de 7000 milhões de euros. Se a mantiver e a usar para abater a actual dívida (caso esta não aumente), em 2026 a dívida do PIB estará abaixo dos 100%. Isto só conclui que saída à irlandesa só mesmo a da Irlanda que baixou em 8 anos a dívida para metade.
AndradeQB, Porto 28.08.2018: Caro JLR, acredite que não é minha intenção provocar. Trata-se de uma genuína incredibilidade quando ouço alguém falar como o pagamento das dívidas que se contraem ser opcional. Acha mesmo que Portugal pode simplesmente não pagar o encargo da dívida para utilizar o dinheiro no que a cada momento lhe parece mais importante? Se pensa assim, já se questionou porque é que raio, países, empresas e particulares não fazem isso sempre que tal lhes convenha.
JLR Ílhavo 28.08.2018: Caro AndradeQB, acredito que a sua intenção não é provocar e que está aberto ao diálogo, uma opção que infelizmente é muito esquecida neste forum, em detrimento dos ataques pessoais e dos comentários de teor futebolístico. (Em todo o caso, uma provocação que suscite o diálogo e no seja gratuita também é benvinda!) Repare que eu não defendo nem nunca defendi aqui o não pagamento das dívidas. No meu comentário, eu só quis realçar a inviabilidade prática do regresso dos imigrantes a um país num aperto financeiro muito grande, onde, para simplificar, regressariam à situação "de cavalo para burro" ou para nenhuma situação mesmo, isto é, para emprego nenhum. Se pensa que eu acho que os portugueses não têm a sua dose de culpa nesta dívida insustentável, eu digo-lhe que têm. (...)
Eu não consigo entender como num país de recursos limitados como o nosso haja, por exemplo, duas auto-estradas construídas em paralelo a fazer a ligação Porto-Lisboa, ao mesmo tempo que se desinveste, se encerrou e inclusivamente se destruiu (ver linha da Lousã) muitos quilómetros de rede ferroviária, a ponto de chegarmos à situação que está sendo relatada em vários artigos deste mês do Público. Também não entendo como na década passada se publicitavam soluções megalómanas de TGV, com travessias do Tejo e a célebre configuração de linhas em PI deitado... quando os entendidos há muito tinham explicado que a viabilidade económica de um TGV só faria sentido a partir dos 400 km de distância entre duas paragens consecutivas (o que desde logo tornava inviável a opção pelo TGV em Portugal) (...)
... bem como todo o dinheiro desperdiçado em estudos e projectos para essa megalomania... Há anos, Eduardo Prado Coelho, num artigo escrito neste jornal, salientava uma afirmação do insuspeito Eduardo Lourenço, num seu livro, em que ele afirmava (a ideia era mais ou menos esta) que desde Salazar, Portugal não tinha um projecto político. Vale a pena pensar um pouco nesta afirmação. Aquilo que se poderá designar por grande estratégia da política portuguesa após os anos de transição do 25 de Abril foi a adesão à então CEE. Desaparecidos os monopólios entre a ex-Metrópole e as ex-Colónias, em que sobressaíam uma Marinha Mercante e uma TAP, por exemplo, Mário Soares ("A Europa connosco") faz o pedido de adesão à CEE e 1977, com o apoio de todos os partidos à direita do PC.
E, após a adesão, em 1985, tudo parecia começar a correr sobre rodas. A Europa era o nosso destino, a nossa salvação. O dinheiro começaria então a entrar em grande quantidade. Nunca mais seríamos pobres, dizia toda a gente (e quem duvidava disto nas décadas de 80 e de 90?). Mas, penso eu, a adesão à CEE só por si não pode ser considerada uma estratégia de desenvolvimento para um país (e, por isso, eu entendo a frase de Eduardo Lourenço). A Europa não resolveria os nossos problemas de falta de planeamento, de improviso, de navegação à vista, da fraca capacidade de organização. Entrámos na "cultura do subsídio europeu", sem termos resolvido estes problemas já crónicos e sem estratégia planeada para o futuro.
Mas não há bónus sem contrapartidas: a agricultura e as pescas sofreram com a entrada na CEE: muitos navios de pesca longínqua foram abatidos em troca de subsídios para o seu abate e não para renovação (para onde foi todo esse dinheiro?); muitos outros setores económicos foram enfraquecidos ou destruídos em troca de subsídios. O crédito fácil possibilitou um crescimento da construção civil, que se tornou descontrolado. O que se pensou para o chamado "interior" do país? (faz-me alguma confusão considerar-se "interioridade" num país cuja distância máxima ao oceano é de 200 km). Que ordenamento de território se fez? Que ordenamento florestal temos? Que ordenamento para o eucalipto? A Expo 98 trouxe-nos o Alfa Pendular, felizmente; ...
Já o Euro 2004 trouxe-nos mais dívida com estádios de futebol inúteis e de exploração deficitária. Quem em todo o espectro partidário se opôs à sua construção? A crise financeira de 2007/08 veio pôr a descoberto a nossa ineficiência organizativa, os típicos improviso e "desenrascanço", campo fértil para o alastramento de corrupção. E a perda do controle monetário, com a entrada no Euro - de acordo com economistas de nomeada, como Ferreira do Amaral - não nos facilitou a vida. Temos tido políticos competentes, patriotas e honestos? Têm deixado muito a desejar, de facto. Os banqueiros portugueses foram competentes, patriotas e honestos? BPN, BES, BPI e BANIF nas mãos de espanhóis, com as consequências negativas explicadas pelo economista João Salgueiro, dizem-nos que não.
As nossas elites económicas têm sido patriotas? Quanto é que Portugal perde em impostos pelo facto de os 20 maiores grupos económicos portugueses estarem sediados na Holanda, Irlanda e Luxemburgo? Se as pequenas, médias, médias-grandes empresas e ainda os particulares pudessem fazer essa "otimização fiscal", onde iria o Estado português recolher impostos? Porque é que os políticos portugueses não tentaram acautelar os interesses do seu povo, executando como capatazes as ordens de Bruxelas quanto a privatizações de empresas públicas rentáveis em vez de negociarem até onde lhes fosse possível (seguindo o exemplo dos espanhóis, que "batem o pé" a Bruxelas, sempre que julgam necessário)? Sem dúvida que as dívidas devem ser pagas. Mas, para bem dos portugueses, os políticos têm o dever de tentar obter as melhores condições possíveis para o pagamento das mesmas, no interesse de todas as partes. Com todos os defeitos que temos, já há muito que os estrangeiros sabem que somos um povo fiável. Por fim, falta-nos ainda implementar a tal estratégia, pensada séria e maduramente, que nos faça acreditar que não é apenas o turismo aquilo que nos resta. Aproveito para lhe fazer a pergunta seguinte: acredita que teria existido o "milagre económico" alemão (sobretudo com a rapidez com que ele se deu) se não tivesse havido o auxílio (esse sim, de visão estratégica) do plano Marshall americano?
AndradeQB, Porto 29.08.2018: Caro JLR, só posso agradecer o sublinhado do que poderia e deveria ter corrido diferente para que hoje houvesse mais confiança nas gerações que nos sucederão. Penso que, como eu, sabe que a justificação para muitas das opções havidas é simples. A venalidade. Acreditemos que com o tempo a exigência aumente e o mérito se imponha. Bom final de férias e uma boa rentrée.
Pessoalmente, penso que este anúncio de Costa é um puro fruto da tentativa de diversificação de origem de votos, mas admito que se possa, como faz MC, procurar fundamentos mais elaborados. Admitindo que tal se justifique, a evidente falta de suporte e coerência do anúncio resulta da sobranceria da corte nacional que constrói a sua realidade virtual. Uma história que se conta como verdadeira. Numa recepção oficial na África do Sul, em que alguns convidados eram da nossa elite política lisboeta e muitos portugueses residentes, um dos primeiros comentou interrogativamente a razão do sucesso que os portugueses conseguem lá fora e o não conseguem cá dentro. Resposta: "é que não são os mesmos", disse o expatriado confrontado. 
 Conde do Cruzeiro Assinante, que apenas pede liberdade de não ser perseguido. 28.08.2018: Existem vítimas da emigração forçada desde 2010, que tiveram mesmo de abandonar o país para não morrerem à fome, a destruição da nossa economia e a total desmembramento do tecido empresarial do estado não podiam ter outro fim. Espero que muitos que foram arrastados para essa aventura possam regressar se assim o desejarem, registo com agrado que um dos mais famosos emigrados do nosso forum já voltou e tenho pena que não vá beneficiar da intenção do governo sobre o IRS.

III - EDITORIAL
A fractura exposta do PSD é um bálsamo para o PS
O PSD deixou campo aberto para que movimentos como a Iniciativa Liberal ou personalidades como Santana Lopes procurem uma alternativa
MANUEL CARVALHO
PÚBLICO, 27 de Agosto de 2018
A aparição de novos partidos pode muito bem ser vista como um sinal de dinamismo do sistema político ou do empenhamento e da mobilização da sociedade em torno de projectos para o país. Mas pode igualmente ser um sintoma de fragilidade do sistema partidário existente ou a expressão de meros projectos pessoais de chegada ao poder. Em Portugal, o que está a acontecer mostra que há uma possível combinação destes dois cenários. Se é impossível não encontrar em alguns dos líderes dos novos partidos uma ânsia de protagonismo tão legítima como supérflua para o interesse do país, também é inegável que os novos partidos surgem na sequência de um vazio no espaço do centro direita. Ou, por outras palavras, no espaço do PSD – e, em parte, no do CDS.
Durante anos, o PSD fez da sua indefinição programática um implacável trunfo eleitoral. Tanto podia reivindicar uma herança social-democrata nas políticas públicas como uma propensão mais liberal sempre que em causa estavam os interesses da economia privada. Na sua génese e tradição, Sá Carneiro sempre conviveu com Mota Pinto e Santana Lopes com José Silva Peneda porque havia uma cola pragmática que limava as clivagens políticas e focava as atenções na conquista do poder. Depois de Passos Coelho, o PSD perdeu essa flexibilidade para o PS. Enquanto António Costa foi capaz de construir um pacto com os partidos que o PS sempre combateu, o PSD afundou-se na procura de uma pureza ideológica que nunca existiu.
É por isso que ao querer ressuscitar o legado social-democrata da sua fundação, deixando de lado a sua matriz liberal que atraía o sector privado, os pequenos negócios ou os quadros das universidades, o PSD deixou campo aberto para que movimentos como a Iniciativa Liberal ou personalidades como Santana Lopes procurem uma alternativa fora de portas. A “fragmentação” da direita que o Presidente temia está em curso. Com o PS forçado a uma permanente negociação à sua esquerda, o PSD teria por estes dias uma maior possibilidade de ser fazer ouvir colocando na agenda os interesses do país que existem fora da órbita da função pública. Não o fazendo, ou insistindo em fazer de morto, fica à mercê do dissídio e torna-se um aliado involuntário da estratégia do PS para cimentar o seu poder.
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António Neves,  Queluz 27.08.2018 : Perdeu? Pensei que tivesse tido mais votos e deputados que o PS ou enganei-me nas contas??
 AndradeQB,  Porto 27.08.2018 : Parece-me que, embora correcta a análise, o tom é de quem acredita que poderia haver alternativa ao processo em curso. Pois não há. Por ideologia, porque mais vale 10€ no meu bolso no que dos outros, por medo de que ainda fique pior, por medo de não alinhar no discurso dominante, porque a esquerda vai, durante muitos anos conseguir mais deputados do qualquer partido que se confesse de direita. Só o tempo e as crises sociais, que surgirão na sequência da actual linha de subserviência ao Estado, criarão as condições para que alguém apareça como alternativa. Até lá, com PSD unido ou pulverizado, com CDS junto ao PSD ou separado, tudo será absolutamente indiferente. 
Gabriel Moreira,  Lisboa 27.08.2018: eles a dar com a mesma treta. Estão convencidos que a austeridade aplicada durante a crise foi uma malfeitoria de Passos Coelho. Só quem acredita em vacas voadoras não vê que austeridade afinal continua. Chamam-lhe cativações.


quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Saberes, sabores



Haja quem saiba, eu apenas gostaria de saber mais para compreender melhor, mas fico-me pela ligeireza do que vai acontecendo e depois se esquece. Há, contudo,  quem estude os factos e os saiba relacionar, embora muitas vezes manipulado por ideologias que outros repelem e por isso contestam. Um texto de José Milhazes sobre a actual destruição pelo KGB dos registos dos condenados do Gulag, como meio de iludir a História para os vindouros. Parece crime, mas mereceu um comentário de apoio a Putin. Outro artigo de José Milhazes compara a ambiciosa política de ocupação de Putin à criminosa de Brejnev e vem à baila a ocupação de Praga nos anos sessenta (e oito), dados desta vez reforçados por outro comentador que aprendeu bem a História. Quanto ao texto de Rui Tavares, senti a mesma incompreensão do seu comentador, que transcrevo, ao ler o seu inabitual apoio nos valores democráticos, condenando ocupações daqueles que defende sempre, desmascarado na sua falsa virtude, como joguete de outros interesses que o seu comentador não deixa escapar.
E vem-me ao pensamento ligeiro, o poemazinho “Manias” de Cesário Verde, caricatura mundanal para nosso desfastio, definidor trocista do bicho homem, de tantas variantes, e que o poeta fixou na sua, bem desprestigiante – mas nem sequer diversa, afinal, da amálgama de sentimentos ou interesses de que se compõe a infinita natureza humana, de “tremente mão nervosa” chafurdando nas ambições específicas de cada um:
“O mundo é velha cena ensanguentada  Coberta de remendos, picaresca, A vida é chula farsa assobiada Ou selvagem tragédia romanesca…”

Rússia: país com passado imprevisível e presente previsível /premium
OBSERVADOR, 11/6/2018
Muitos dos formados no KGB dirigem a actual Rússia e trazem os seus velhos métodos para a vida política. Agora, estão a ser destruídas as fichas de registo dos reclusos do Gulag.
Os dirigentes autoritários e ditatoriais reescrevem o passado e desenham o presente e o futuro à sua maneira, para melhor ficarem na fotografia, mas o objectivo final é sempre o mesmo: limitar os mais elementares direitos e liberdades democráticas.
O Museu da História do Gulag, sistema de campos de concentração existentes na União Soviética estalinista, denunciou que as fichas de registo dos reclusos de um dos mais cruéis sistemas de extermínio estão a ser destruídas pelas autoridades russas.
Roman Romanov, o director desse museu que se encontra em Moscovo, acrescentou que isso significa a destruição total de informação sobre a permanência dos prisioneiros em numerosas dezenas de campos de trabalho forçado espalhados pela União Soviética.
Estes documentos são de importância vital porque fixam o destino dos presos políticos depois da sua condenação pelos tribunais estalinistas e até à sua libertação ou morte. Se o recluso morria na prisão, o seu dossier era enviado para os arquivos para ser “eternamente conservado”. Todavia, se tivesse a sorte de sair em liberdade, o dossier era destruído, mas era obrigatória a conservação das fichas de registo, o que permitia aos familiares e estudiosos saberem pelo inferno que tinham atravessado milhões de pessoas.
Escusado será dizer que a decisão de destruir as fichas de registo foi tomada por organizações como o Serviço Federal de Segurança (FSB) e o Serviço de Informações Externo (SVR), herdeiros da polícia política soviética KGB, a 12 de Fevereiro de 2014, e trazia o carimbo “para serviço interno”, ou seja, era secreta.
Aliás, ela só se tornou do conhecimento público quando historiadores e familiares receberam, aos seus pedidos de informação, a resposta de que esses documentos eram destruídos depois de o antigo recluso ter feito 80 anos.
Segundo Seruei Prudovski, um dos estudiosos que denunciou este “branqueamento do passado”, desconhece-se a quantidade de pessoas que foram alvo de repressão na era soviética (1917-1991), mas afirma que, em 1937-1938, foram presas mais de 1,7 milhões de pessoas por motivos políticos. A organização não-governamental “Memorial” calcula que o número total de habitantes da União Soviética que foram vítimas de repressão ronda os 12 milhões.
Decisões como esta ou como a proibição do filme “A morte de Estaline”, as dificuldades cada vez maiores de aceder aos arquivos do regime comunista visam impedir o esclarecimento de episódios da história mal contados. Isto é tanto mais evidente num país como a Rússia, onde não se realizou um “processo de descomunização” das estruturas de Estado, como foi feito na Alemanha em relação ao nazismo depois da Segunda Guerra Mundial, e onde a polícia política não foi tocada pelas mudanças originadas pelo fim da União Soviética.
Muitos dos formados no KGB dirigem a actual Rússia e trazem os seus velhos métodos para a vida política. Prova disso é uma reportagem emitida pela cadeia de televisão BBC, onde se pode ver que os serviços secretos russos continuam a recorrer aos métodos clássicos de intimidação dos jornalistas estrangeiros durante o Campeonato do Mundo de Futebol de 2018.
Não há dúvida que para Vladimir Putin é importante que esta prova corra sem o mínimo percalço e os estrangeiros saiam da Rússia com uma imagem de que o regime funciona às mil maravilhas. Faz lembrar a política dos dirigentes soviéticos quando da realização dos Jogos Olímpicos de Moscovo em 1980. À excepção do boicote internacional, provocado pela invasão do Afeganistão por tropas soviéticas em 1979, a capital soviética era uma montra quase ideal do chamado “socialismo desenvolvido”. Para já não se falar dos êxitos da “comunidade socialista” no campo do desporto.
Mas, nove anos depois, o dito “campo socialista” desmembrou-se e, em 1991, a União Soviética desmoronava-se como um baralho de cartas. Eu não sou supersticioso, mas…
P.S. Se Hugo Chávez, Lenine, Álvaro Cunhal, Octávio Pato merecem ter ruas e avenidas com o seu nome em Portugal, porque é que não se deve fazer o mesmo com Frank Carlucci, embaixador norte-americano que muito contribuiu para a implantação da democracia no nosso país? Porque apoiou o golpe de Pinochet no Chile? Argumento de peso que se deve ter em conta, mas os acima citados foram santinhos? Dois pesos e duas medidas…

COMENTÁRIO DE fernando Simões, 11/06/2018
Lá tinha de vir o inevitável ataque a Putin, provavelmente o único líder ocidental a proteger o seu país contra a oligarquia financeira que domina o ocidente. A pergunta fundamental é quem faz mover Milhazes no seu ódio contra a Rússia? Putin é um patriota que não hesita em defender o seu povo contra os avanços da judiaria que já em 1917 arrasou a Rússia. 

Tropas soviéticas em Praga: libertadores ou ocupantes? /premium
OBSERVADOR, 20/8/2018
Actualmente, Vladimir Putin tenta repetir a política de “soberania limitada” de Leonid Brejnev, dirigente soviético que ordenou a entrada de tanques em Praga.
A invasão da Checoslováquia há 50 anos por tanques soviéticos, conhecida comoOperação Danúbio”, continua a provocar acesas discussões na Rússia, principalmente à luz da política externa agressiva de Vladimir Putin no antigo espaço soviético. Actualmente, Putin tenta repetir a política de “soberania limitada” de Leonid Brejnev, dirigente soviético que ordenou a entrada de tanques em Praga.
Esta abordagem do Kremlin começou a manifestar-se na invasão da Geórgia em 2008 e tornou-se particularmente evidente depois da ocupação da Crimeia e do Leste da Ucrânia pelas tropas russas em 2014. A tentativa dos checoslovacos de se libertarem do jugo comunista começou a ser comparada às “revoluções coloridas que ocorreram em alguns dos países que fizeram parte da União Soviética até 1991.
Em 2016, o deputado Viatcheslav Nikonov, neto de Viatcheslav Molotov, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros do ditador comunista José Estaline, considerou que “então, na Checoslováquia foi organizada mais uma revolução colorida pelos americanos”. Este defensor ferrenho da política externa de Vladimir Putin não tem dúvidas de que a “Primavera de Praga” foi inspirada de fora para retirar aquele país do “campo socialista”.
Em Novembro do ano passado, na véspera da visita de Miloš Zeman, Presidente da República Checa, a Moscovo, a página do canal televisivo “Zvezda” (Estrela), órgão de informação oficial do Ministério da Defesa da Rússia, publicava um texto onde se afirmava que “a Checoslováquia devia estar grata à URSS por 1968”, “frisando que a entrada de tropas [soviéticas] na Checoslováquia não permitiu ao Ocidente fazer um golpe de Estado no país segundo a tecnologia de realização das revoluções de “veludo” e conservou durante mais 20 anos a paz e concórdia entre todos os povos dos países da Organização do Tratado de Varsóvia”.
Segundo o autor do texto, por detrás da construção do socialismo com rosto humano “começou a destruição do Estado checoslovaco socialista”; tudo o que acontecia, como “compreenderam bem” os dirigentes dos países do Tratado de Varsóvia, era “o avanço da NATO para Leste”.
Este artigo irritou tanto os checos e os eslovacos que Miloš Zeman, um dos aliados de Putin no seio da União Europeia, protestou junto do Kremlin e a televisão russa retirou-o da sua página.
As actuais autoridades russas parecem ainda não ter compreendido o erro dos líderes comunistas soviéticos. Os povos do antigo “campo socialista” não eram atraídos pela NATO, mas sim pelo desenvolvimento económico e social dos países vizinhos. A Checoslováquia, por exemplo, tinha fronteiras com a Áustria, um dos países mais prósperos da Europa de então, onde o desenvolvimento económico estava acompanhado do respeito pelos direitos e liberdades.
Por isso, a Rússia sentir-se-á sempre ameaçada e cercada enquanto não for, pelo menos, um exemplo de bem-estar social e de respeito por aquilo que os seus dirigentes exigem dos outros, respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades. O medo e as ameaças têm apenas efeito temporário. Não é ameaçando e invadindo o território dos países vizinhos que se ganha o respeito deles.
É por esta razão que é difícil acreditar que a Rússia esteja interessada numa solução justa para o problema da Ucrânia. O Kremlin continua a apostar no tudo ou nada: ou a Ucrânia aceita a “soberania limitada”, ou continuará a ver parte do seu território ocupado por tropas russas (os separatistas russófonos não passam de fantoches mandados por Putin). Por isso, o último encontro de Vladimir Putin com Angela Merkel sobre este problema acabou sem resultado.
Correu claramente melhor a participação do dirigente russo no casamento de Karin Kneissl, chefe da diplomacia do governo austríaco de extrema-direita. Traz-nos à memória um dos ditados russos preferidos de Putin: “Quem paga é quem dança a moça”.
A extrema-esquerda portuguesa, que morre de paixão pelo “anti-imperialismo” do Kremlin, certamente não irá comentar a dança. Os fins justificam os meios.
P.S. Moscovo já cantou vitória militar na Síria, mas chegou a hora da reconstrução do país e é preciso dinheiro. O Kremlin pediu dinheiro a Trump, mas recebeu resposta negativa. Putin foi bater à porta de Merkel, lembrando que, se a União Europeia não abrir os cordões à bolsa, os refugiados sírios que já se encontram na Europa não poderão regressar ao seu país e que, nos países vizinhos da Síria, há ainda vários milhões de refugiados que poderão querer ir para o Velho Continente.

COMENTÁRIO DE SHIRI BIRI
 “…neto de Viatcheslav Molotov, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros do ditador comunista José Estaline,…” foi uma ocasião desperdiçada para mencionar que foi quem negociou e celebrou o Pacto entre a URSS comunista e a Alemanha nacional socialista. Pacto que leva o nome dele e do ministro alemão Joachim Von Ribbentrop e que selou a aliança entre Estaline e Hitler para iniciarem a 2ª Guerra Mundial na Europa.
A invasão da Checoslováquia em 1968 foi mais uma demonstração de que o comunismo é uma ditadura sanguinária e que os métodos são sempre os mesmos independentemente do líder da ocasião.
Em 1956 foi a  invasão da Hungria com Nikita Khrushchov (que até foi considerado um moderado após Estaline) a líder da URSS e em 1968 com Brejnev.  Os comunistas são sempre iguais sejam eles Lenine, Trostsky, Estaline, Mao Tse-Tung ou outro qualquer. Só trazem miséria, tortura e morte.
“Moscovo já cantou vitória militar na Síria…”.  A Rússia interveio na Síria em 2015 e teve logo um avião abatido pela Turquia. Depois de ladrar muito lá meteu o rabo entre as pernas e é hoje amiga da Turquia.
A intervenção russa visou a manutenção do ditador Assad no Poder e por aí pode ser considerada uma vitória parcial. Não conseguiram eliminar a oposição ao ditador que seria a vitória total. Pouco fizeram para derrotar o ISIS.  Derrota que só veio a acontecer em 2017 depois de Trump ter tomado posse e ter declarado como objectivo derrotar os terroristas.  Os russos estiveram ano e meio na Síria sem que nada de mal acontecesse ao ISIS.

III – OPINIÃO: Da Checoslováquia à Grécia
A lição a retirar da invasão da Checoslováquia é que ela é ainda relevante hoje, porque a Europa que tentámos construir após a queda do Muro de Berlim se fundamenta num princípio: nunca mais.
Rui Tavares
PÚBLICO, 23 de Agosto de 2018
Na semana passada, como a polémica do momento era sobre a extrema-direita, havia quem só nos desse autorização moral para falar dela, se antes se falasse da extrema-esquerda. Como essa polémica estava relacionada com a história do fascismo na Europa, era impossível falar sobre isso sem que antes nos perguntassem: “Então e o comunismo?” E como essa polémica tinha que ver com uma Le Pen — família conhecida pela minimização e até negação dos crimes da Alemanha nazi e da França de Vichy —, houve nas redes sociais quem exigisse que antes de qualquer pronúncia sobre tais temas se fizesse logo uma denúncia sobre os crimes do estalinismo ou da União Soviética.
Esta semana tive então curiosidade de ver se alguém falaria de um dos mais graves desses crimes — a invasão da Checoslováquia pelas tropas do Pacto de Varsóvia há 50 anos. Com apenas uma exceção — José Milhazes, no Observador — não vi qualquer outra menção à invasão da Checoslováquia entre os comentadores da imprensa nacional. O que é mais curioso, o silêncio foi total da parte dos comentadores de direita que são tão lestos a pedir que comentemos o que dizem e fazem os regimes e políticos de esquerda (quando se trata de desviar o assunto daquilo que dizem ou fazem os líderes políticos da direita).
Em tempos chamei a isto o argumento do “entaladinho”, amálgama de “então-falas-sobre-isto-mas-sobre-aquilo-estás-caladinho”. O argumento do entaladinho produz um debate que não sai do sítio e uma política que não avança para lá do tribalismo e dos lugares-comuns. E isso é lamentável porque, para lá da esquerda e da direita, é essencial entender que cada violação de direitos humanos vale por si mesma e que de todas há lições históricas a retirar.
A lição a retirar da invasão da Checoslováquia é que ela é ainda relevante hoje, porque a Europa que tentámos construir após a queda do Muro de Berlim se fundamenta num princípio: nunca mais. E para fazer valer esse princípio temos de entender que o destino da liberdade e da democracia em cada país europeu está indissociavelmente ligado ao destino de todos os outros países europeus. Como disseram os resistentes húngaros em 1956, quando os tanques soviéticos chegavam a Budapeste (noutra invasão destinada a esmagar veleidades soberanas): “Morremos pela nossa liberdade e pela Europa.” Os húngaros foram abandonados em 1956, tal como os checoslovacos o foram em 1968. A brutal realidade da Guerra Fria e da política de blocos assim o ditava. Mas a partir do momento em que a queda do Muro de Berlim possibilitou a participação destes países no projeto europeu, essa integração europeia só poderia estar baseada na tal promessa: nunca mais.
O problema presente, que pode desembocar em tragédia, é que essa promessa está a ser quebrada. Por um lado, é verdade que os países do Leste europeu têm agora melhores condições de vida (o mais prático argumento, como lembra corretamente José Milhazes, utilizado pelo Ocidente para ganhar a batalha política pelas vontades dos europeus do Leste). Mas é evidente também que se vive naqueles países um clima de retrocesso do Estado de direito e dos valores da democracia perante a indiferença geral das lideranças políticas europeias. E, tal como no período de entre guerras, essa regressão é contagiosa. Começou na Hungria, passou para a Polónia, oferece preocupação na Roménia, e por aí adiante (nos dois primeiros países os governos são de partidos conservadores; no terceiro é de um partido socialista, provando que este é um problema que afeta várias famílias políticas).
E isso leva-nos, ainda que de forma indireta, à Grécia e à sua saída do programa da troika. O que vimos da Europa na Grécia? Independentemente da análise que cada um de nós tiver sobre as origens da crise grega e sobre a forma da sua resolução, uma coisa é certa: vimos uma Europa que se preocupa muito mais com décimas de défice do que com valores democráticos fundamentais. Atenas chorou, enquanto Orbán cantou e riu ao destruir o Estado de direito em Budapeste. E esse é um erro crasso de que ainda estamos a pagar as consequências.
Até Jean-Claude Juncker já admitiu uma vez, em nome das instituições: “Pecámos contra a dignidade dos povos da Grécia, de Portugal e da Irlanda.” Mais do que confissão de pecados, importaria passar ao ato de contrição e a aprender a lição. A Europa de hoje não é felizmente igual à da invasão da Checoslováquia, como a da invasão da Checoslováquia não é igual à do Holocausto nazi. Mas enquanto a Europa de hoje não reencontrar a escala correta das suas prioridades políticas — em que a democracia, os direitos e o bem-estar social não podem deixar de ter precedência sobre a implementação cega dos dogmas de política económica — estaremos sempre em risco de voltar ao pior do nosso passado.

COMENTÁRIO DE MARTINS.RUIJORGE,  Quinta do Anjo 24.08.2018:
Mas que amálgama faz Rui Tavares para se pôr em bicos de pés e dizer "cucu, estou aqui" para as próximas eleições europeias. Nesse afã de se fazer notar faz como o outro dos bonecos: "pisca o olho à direita" enquanto quer dizer que é de esquerda. Contradições insanáveis onde este cronista se afundou há muito. Rui Tavares quer estar em Bruxelas-deve gostar do clima cinzento que faz pandã consigo- mesmo que para isso tenha de incensar um projecto europeu onde ninguém coerentemente de esquerda hoje se revê ou augura futuro.


quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Três tristes textos



De João Miguel Tavares, sobre a Igreja e os badalados casos de pedofilia, o Papa Francisco na ribalta da sua humilhação papal, santificada pela bondade, de Maria João Marques sobre a recusa de uma exposição cá, por Marine Le Pen e o seu nacionalismo rebarbativo, de Miguel Magalhães Ramalho sobre as políticas  anti-ecologistas de Donal Trump. Para esses textos, um ou dois comentários elucidativos de apoio ou oposição, entre as dezenas por eles recebidos. Três tristes textos, sobre um mundo prazenteiro e inconsciente .
I - OPINIÃO
A Igreja, a pedofilia e o celibato
Uma Igreja séria avaliaria o impacto do celibato no comportamento dos padres abusadores e tiraria daí consequências.
JOÃO MIGUEL TAVARES
PÚBLICO, 25 de Agosto de 2018
No início, a Igreja escondeu. Silenciou. Negou. Depois desvalorizou. Evitou pronunciar-se. Negociou acordos com vítimas. Finalmente falou. Pediu perdão. Criticou o clericalismo e as estruturas de pecado. Impôs certas normas de conduta e separou o que é pecado do que é crime. Pediu perdão outra vez. E tem pedido perdão com regularidade, à medida que saem mais notícias e mais documentários e mais filmes e mais relatórios sobre a dimensão catastrófica da pedofilia no seio da Igreja Católica. Pedir perdão é bom? Sim, no sentido em que é uma obrigação moral. Não, se se transformar numa expiação inútil, num arrependimento improdutivo e numa desculpa para a inacção – tipo: o Papa já assumiu a culpa da Igreja, o que é que querem mais?
Queremos muito, muito mais. Pedir perdão pode ser duro e humilhante, mas não faz com que a Igreja realmente saia da sua zona de conforto. Todas as missas começam pelo reconhecimento de que somos pecadores – já sabemos, muito obrigado, que os homens e a Igreja fizeram, fazem e farão coisas horríveis. É próprio da sua natureza. Aquilo que me parece imprescindível é que a Igreja discuta o que manifestamente não quer discutir, e que arranje forma de responder a estas perguntas essenciais: existe, ou não, uma relação entre celibato e pedofilia? O voto de castidade, conjuntamente com o voto de obediência, potenciou ou não a tremenda tragédia do abuso de crianças, ainda por cima maioritariamente rapazes, o que é uma anomalia estatística (fora da Igreja, os menores abusados são maioritariamente de sexo feminino)? A obrigatoriedade de abstinência sexual numa Igreja liderada em exclusivo por homens que exercem o seu magistério de forma largamente solitária contribuiu, ou não, para a massificação da criminalidade sexual no seio do clero?  
Pedidos de perdão oriundos do Vaticano já ouvi muitos. Respostas a estas questões não ouvi uma única. A última carta do Papa Francisco pode ser muito humilde e sentida, mas sobre isto diz zero – reconhece apenas que o número de “clérigos ou pessoas consagradas” envolvidas em abusos é “notável”. Mas porque é que é “notável”? Essa é a pergunta a que a Igreja não se atreve a responder. A que se deve este número absurdo de padres abusadores, que têm feito mais pelo ateísmo no mundo do que as obras completas de Karl Marx? Há paralelos com outras Igrejas? Os protestantes, os ortodoxos, os muçulmanos, os budistas têm a mesma incidência de comportamentos pedófilos no seio do seu clero?
Já existem estudos que mostram que não, que a incidência da pedofilia no seio da Igreja Católica é, de facto, superior, mas o que me interessa aqui não é iniciar uma guerra de links – até porque na internet há de tudo, para todos os gostos. O que me interessa é sublinhar que ninguém é capaz de responder melhor a estas questões do que a própria Igreja – tivesse ela a coragem de enfrentar a dura realidade e, em última análise, revolucionar a sua organização interna. Uma Igreja séria e sólida faria necessariamente duas coisas: 1) produziria um grande relatório, independente e público, à escala mundial, sobre a pedofilia na Igreja Católica nos últimos 50 anos. 2) Avaliaria o impacto do celibato no comportamento dos padres abusadores e tiraria daí consequências sérias. Quando isto for feito, a Igreja estará verdadeiramente a enfrentar a tragédia da pedofilia. Enquanto não o fizer, os pedidos de perdão são apenas formas santas de olhar para o Céu enquanto se continua a sujar a Terra. 
DOIS COMENTÁRIOS:
Diogo Cabral, 27.08.2018: Bem ... se a Igreja Católica tivesse seguido a sugestão do próprio Apóstolo Paulo nada disto tinha acontecido ... ou, pelo menos o problema tinha sido bastante minimizado!!! O Apóstolo Paulo na carta que escreveu à congregação dos Coríntios abordou este problema e disse que, embora o Celibato fosse a melhor forma para o Cristão se dedicar totalmente à evangelização "em vista da imoralidade sexual, cada homem deve ter a sua própria esposa, e cada mulher o seu próprio marido." Cor 7: 1-9. Ou seja, o Celibato NÃO é uma imposição para quem quer exercer cargos de sacerdote/ancião, pois os próprios apóstolos eram casados! Sugestão para a Igreja Católica: remover a obrigatoriedade do "Voto de Celibato" para quem quer ser sacerdote! Vai resolver uma boa parte do problema em questão!
Manuel Serra72: Concordo com o artigo do João Miguel Tavares. Seria interessante saber a que ponto o celibato está relacionado com os casos de pedofilia. Como agnóstico que sou e sem defender de maneira nenhuma este tipo de práticas, acho que muito devemos à religião cristã que é muito mais do que os reducionismos que lêem nos comentários. A nossa civilização assenta nesse pilar que é o Cristianismo. E mais para o bem do que para o mal. E chocam-me os comentários ignorantes e muito habituais à Igreja que vão muito para lá do âmbito do artigo. Ainda assim inventou-se a palavra Islamofobia para pôr as pessoas com medo de comentarem o Islão. Felizmente não existe a equivalente "Cristianofobia" ...

A inutilidade do diálogo com extremistas /Premium
O que fazer com os extremistas? Debate-se? Ignoram-se? Ostracizam-se? Durante tempo de mais agiu-se como se a incitação à violência não estivesse relacionada com a violência. Que anjinhos tantos foram
OBSERVADOR, 22/8/2018
Li por aí muitas tiradas lindas e pomposas que nos garantem que perante Marine Le Pen e derivados há que debater, rebater, vencer pelos argumentos, conversar piedosa e pacientemente até trazer as ovelhas tresmalhadas que seguem estes produtos políticos tóxicos de volta ao bom caminho. É argumentação muito bonita, quase digna de uma parábola no Novo Testamento do bom pastor que nunca abandona quem se perde pelos extremismos – mas de uma ingenuidade assombrosa.
Sobre proibições e censura já perorei a semana passada. Sucede que, lá porque uma pessoa ou um ideário político não é ilegal e, donde, proibido, tal não significa que tenhamos de divulgar e, pior, conversar com tais ideólogos ou seguidores. Como aparentemente muitos parecem defender. O argumento vai na linha ‘se não se divulga e não se conversa, esta exclusão só dá força ao excluído’.
Suspiro. É um caso típico de nunca se aprender nem com as lições mais ostensivas. Os argumentos que leio para defender o convite para a Webb Summit a Marine Le Pen são tal qual os que lia para defender a liberdade de expressão dos extremistas islâmicos dentro da Europa. A quantidade de vezes que me disseram – quando eu clamava que deixar estas pessoas a falarem à solta era perigoso, que estavam a usar as liberdades que lhes disponibilizávamos contra nós – que não, o Ocidente venceria estes obscurantistas dando-lhes liberdade e provando com a tolerância que somos superiores. Deixá-los dizer que os crentes deviam guerrear e matar os infiéis. Tinham todo o direito de dizer isto. Só se torcia o nariz quando (e a quem) de facto guerreasse e matasse infiéis.
Durante tempo de mais agiu-se como se a incitação à violência não estivesse relacionada com a violência. Que anjinhos tantos foram. Só ao fim de demasiados atentados terroristas – de demasiadas mortes – se endureceu a legislação que limita a liberdade de expressão nos casos de incitação à violência ou nos discursos de ódio vindos dos radicais islâmicos.
Finalmente lá se percebeu que não, que a maneira mais eficaz de combater esta erva ruim era não lhe dar espaço para crescer. Ao fim de vários anos a apelar ao ódio e à violência e a radicalizar jovens, protegido pelas leis e pela claque da liberdade de expressão absolutaAnjem Choudary (por exemplo) foi preso por incitação ao terrorismo. Não sem que outros continuassem a defender o seu direito à liberdade de expressão sem limites e a prisão como um abuso estatal.
Casos como os de Marine Le Pen são mais ambíguos. Estamos no fio da navalha e reconheço que não tenho respostas absolutas para estes casos. Sei, porém, que o mantra da liberdade de expressão sem limites e a necessidade de debate não colam.
É possível que haja uma fina barreira vermelha entre a incitação ao terrorismo e à violência e ao discurso de ódio. Em boa verdade temos todos o direito de odiarmos quem quisermos, desde que não lesemos direitos do nosso objecto de ódio. Não faz sentido ilegalizar sentimentos. Mas se o ódio é expresso em palavras públicas, levanta-me reservas. Não podemos enterrar a cabeça na areia e fingir que o discurso da extrema direita é só palavras inócuas. Os membros destes grupos começam a ser estudados e, sem surpresa, verifica-se que desumanizam e diabolizam os indivíduos que odeiam – dos mexicanos às feministas. E sabemos bem que diabolizar e não ver o outro como partilhando da nossa humanidade é o primeiro passo para aceitar ou perpetrar violência sobre esse outro.
Já pelo menos dois massacres foram feitos nos Estados Unidos por dois sinistros incels – os celibatários involuntários que não conseguem ter namoradas nem casos sexuais e se vingam das mulheres que os repudiam matando a eito. Ora esta cultura incel divulga pela net um brutal ódio às mulheres e revela desejos de vingança. Quem pode garantir que os massacres não são incentivados por este discurso de ódio? (De resto, discurso de ódio contra as mulheres é o que não falta pelas redes sociais.)
Não sei a resposta a dar a estes ódios, e outros, que brotam publicamente. Mas sei que, não sendo solução criminalizá-los, é irresponsável e cúmplice dar-lhes palco, estender-lhes convites, normalizá-los, legitimá-los. Inclusive palco online. A maioria das pessoas que usa a internet tem a mesma capacidade crítica sobre o que lê que Homer Simpson tinha para a televisão.
Também é inútil tentar conversar com radicais para os converter à sensatez. Lamento dar a notícia a quem ainda não tinha percebido esta realidade. Devemos conhecê-los, vigiá-los, mas é perda de tempo tentar recuperá-los. Os que aderem a estes movimentos têm tendências tribais fortes e não são necessariamente permeáveis factos e informação que contrariem crenças; pelo contrário, fornecer informação, mesmo se contraditória, serve para reforçar as posições iniciais.
Há sinais aqui e ali que vão no bom sentido. O Reino Unido proibiu há pouco tempo a entrada a agitadores de extrema-direita. Fez muito bem: não se devem importar temporariamente produtos radioativos; são perigos de segurança pública. Tal como seria inaceitável permitir a entrada a um conferencista islâmico que pregue o rancor ao mundo não muçulmano sunita, ou que se estendesse a passadeira a um oficial norte-coreano que explicasse como organizar campos de concentração para opositores políticos ou ao guerrilheiro de extrema-esquerda que acumula com professor de explosivos, também não há necessidade de receber estes provocadores carregados de mensagens de ódio.
UM COMENTÁRIO:
Carlos Martins M.: Lamento informar mas é inútil conversar com pessoas como a Maria João Marques para que sejam convertidas à sensatez. Temos simplesmente que a vigiar e desistir de a recuperar, pois pessoas como ela têm tendências tribais fortes e não deixam que as suas crenças sejam abaladas por factos e informação. Antes pelo contrário, deturpam a realidade e manipulam a informação para que sejam consistentes com as suas crenças. E assim vivem: patetas e felizes com a sua visão dualista e simplista do mundo. A fim de moldar a realidade para que esta seja consistente com as suas crenças, a MJM tenta, num claro e patético esforço, colar o partido de Marine Le Pen aos movimentos islâmicos extremistas que apelam à morte dos infiéis, aos atentados covardes contra civis, à dominação das mulheres e à perseguição dos homossexuais. Pessoas sensatas sabem que o crescimento exponencial de partidos nacionalistas surgem como reacção às posições ideológicas defendidas por gente da estirpe de MJM. O partido de Le Pen defende o proteccionismo económico e a intolerância zero à criminalidade e à imigração não europeia. E, por este motivo, entende MJM, na sua visão deturpada do mundo, que o discurso de Le Pen é um discurso de ódio. Por oposição, o discurso do islamismo, do socialismo e do comunismo é um discurso de paz. Pessoas que defendem o silenciamento e a censura de opiniões divergentes deveriam ter vergonha na cara de se chamarem democratas. Todos os ditadores e apoiantes de sistemas totalitários acham que têm a razão do seu lado e que defendem ideias nobres mas, como a história se encarrega de confirmar, estão profundamente errados .E não há nada que me incomode mais do que ouvir pessoas profundamente erradas que atacam a democracia e a cultura ocidental com o sorriso pateta de quem se acha moralmente superior e não tem vergonha de demonstrar essa arrogância publicamente.

III - Da patranha do aquecimento global
OBSERVADOR, 22/8/2018
Trump afirmou que o aquecimento global era uma conspiração dos chineses para prejudicar a economia dos EUA. Quem se atreve a duvidar do chefe do país mais desenvolvido e poderoso do mundo?
Nestes últimos tempos temos sido alarmados com os efeitos do aquecimento global e da mudança climática, que ameaçariam o nosso futuro confortável e a que temos direito. Tudo isto é obra de cientistas de todas as nações, os quais, num conluio irresponsável, nos alarmam, sabe-se lá porquê, sobre o que está e virá a acontecer ao nosso planeta.
Francamente! Lá porque a concentração de CO2 e do metano na atmosfera aumentou para o dobro, querem convencer-nos que o nosso querido clima está a aquecer e a modificar o regime dos ventos, originando tufões e chuvas diluvianas. Que disparate! Tufões sempre existiram (talvez não tão fortes…) e as chuvas torrenciais são normais (ultimamente não tanto…) por esse mundo fora. Qual é então o problema? Por amor à economia mundial aguentem! Não sejam piegas…
Os gelos dos pólos estão a derreter, causando a subida do nível do mar? Que disparate! Quem é que não reparou quando o copo do nosso gin tónico vem cheio com gelo até acima, o liquido não transborda quando ele se derrete. Então?
E quando esses ecologistas tontos que há anos nos alarmam, por exemplo, com a destruição das florestas tropicais? Ora é muito mais útil e dá mais dinheiro que os terrenos desflorestados sejam plantados com soja, que vai alimentar o gado, ( que produz metano que, por coincidência, tem forte efeito de estufa), que dará a carne para os hamburgers do país de Trump, o grande líder dos EUA. Quem pode duvidar?
As águas oceânicas estão a aquecer por causa do efeito de estufa? Ora, ora, só vejo benefícios em ter água mais quente, para que os banhos de mar sejam mais agradáveis, para nós e para os nossos queridos turistas.
Esses cientistas dizem que o desaparecimento de inúmeras espécies está a causar uma extinção global semelhante às do passado geológico. Tretas, caros cientistas, então para que servem os jardins zoológicos? E porquê essa preocupação em salvar uns tantos bichos e plantas que não servem à nossa economia e que qualquer cidadão normal nunca viu, a não ser, talvez, na televisão?
Isto são apenas alguns exemplos que provam que o aquecimento global é uma grande patranha e que a nossa vidinha vai continuar como sempre. Era o que faltava que assim não fosse!
Não esqueçamos que o presidente Trump afirmou que o aquecimento global era uma conspiração dos chineses para prejudicar a economia dos EUA. Quem se atreve a duvidar do chefe do país mais desenvolvido e poderoso do mundo?
Deixei para o fim o meu principal argumento. Alguém acredita que os governos da grande maioria dos países do mundo, ao continuarem a comportar-se como têm feito até hoje, produzindo e usando mais viaturas, gastando mais e mais hidrocarbonetos, explorando mais campos petrolíferos, poluindo rios e oceanos, consumindo cada vez mais recursos desejando nos seus programas políticos sempre maior crescimento económico, sem olhar a meios, estarão errados? Esqueceremos nós que esses governos são compostos pelos melhores e mais sabedores cidadãos, livremente escolhidos pelo povo? Sendo assim, não temos o direito de duvidar das suas decisões que serão, certamente, as melhores para o futuro da Humanidade.
Continuemos, pois, a viver a nossa vidinha sem preocupações, como temos feito desde há séculos, até porque nem conhecemos os nossos bisnetos.
DOIS COMENTÁRIOS:
Feliz José Santos: Tudo perfeito excepto uma coisa: não são os governos que usam carros e poluem, são os cidadãos. Somos nós. E é esse o problema. O Trump é apenas mais um triste epifenómeno.
victor guerra: Trump ainda não está na Casa Branca, há dois anos e já é o responsável por todos os problemas da alteração do clima, se é que existe, numa série estatística longa. Mais, Trump saiu do Acordo de Paris e bem, porque a América iria pagar centenas de milhões por ano, para que os grandes poluidores - China, Índia, Rússia - fazerem o "ajustamento" até 2025.