sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Editoriais e mais análises



Análises de comentaristas que clarificam e alertam. Por mim, agradeço.

I - EDITORIAL
O cerco à democracia na Europa já passa por Itália
O sapo europeu assiste impávido e sereno ao aquecimento da temperatura imposta pelo extremismo.
MANUEL CARVALHO
PÚBLICO, 29 de Agosto de 2018
A democracia liberal na União Europeia anda há tempo de mais a representar o papel do sapo na panela que aquece lentamente. De ataque em ataque, personagens como Matteo Salvini ou Viktor Orbán vão aumentando a temperatura das suas ameaças sem que as democracias europeias se indignem, sem que reajam, sem que mostrem sinais de que perceberam a dimensão do perigo que enfrentam, sem que constatem que, lenta mas inexoravelmente, há um cerco que se adensa e um nó que se aperta.
Esta terça-feira, Orbán e Salvini juntaram-se em Milão para, uma vez mais, pavonearem o seu desprezo pelos imigrantes, para atacarem os líderes fiéis aos princípios da Europa (na segunda-feira, foi a vez de Emmanuel Macron), para insinuarem a evolução do bloco soberanista que alberga checos, polacos, húngaros, eslovacos e italianos na missão de regressar ao passado nacionalista que tantas vezes devastou o continente. Após mais esta ofensiva populista, xenófoba e iliberal, não se ouviram protestos. O sapo europeu assiste impávido e sereno ao aquecimento da temperatura imposta pelo extremismo. Não nota que aquilo que hoje se ouve pela boca de Orbán ou de Salvini seria um escândalo inimaginável há apenas uma década. Não percebe que a renúncia a enfrentar o populismo radical é por si só um estímulo para que o populismo radical se implante e estenda para novos países. Ou para que líderes como Salvini ou Orbán apareçam sem pudor como símbolos de uma Europa que desistiu de si própria enquanto ideia e projecto.
Assistir à cimeira informal de Milão é a prova que o nó do extremismo se vai apertando. Sem que partidos como o Fidesz de Orbán sejam expulsos do grupo parlamentar europeu onde estão o PSD e o CDS. Sem que a União Europeia faça cumprir as suas regras e mostre aos húngaros ou aos checos que não podem ter o nacionalismo anti-imigrante numa mão e os apoios e o acesso ao mercado europeu na outra. Quando perceberem que sem a Europa os seus devaneios se desfazem perante a pobreza, terão mais coragem para recusar os ataques dos seus governos à imprensa ou aos tribunais. Mas enquanto a UE se mantiver no seu papel de demissão cobarde, nada disso acontecerá. Até um dia, como nos mostra a História.
COMENTÁRIOS:
Luis Ribeiro: 30.08.2018:  Refugiados??? Emigrantes???? É mais um negócio que outra coisa, apoiada pelas manhosas ONGs...descarrega no porto e volta logo para a faina!!!!!
albergaselizete,  29.08.2018: Se a extrema direita aparece como um refúgio à incompetência política de esquerda, que parece não ser inocente, a um bom conjunto de interesses e incentivos pessoais, e com a comunicação social, claramente pró extrema esquerda, esquerda, atacando tudo o que mexe com valores de direita, tem criado instabilidade, insegurança, medo, injustiça, já que a estabilidade e a justiça que deviam ser promovidos pelos poderes de estado, deviam constituir o garante da paz social na zona Euro, é natural que os valores de direita, como o nacionalismo que identifica valores do Ocidente e da Europa em particular, por ser o nosso caso, a cultura, os princípios orientadores, os direitos adquiridos ao longo de séculos, a justiça, não sejam postos em causa por razões descabidas nos nossos estados.
ana cristina, Lisboa et Orbi 29.08.2018: parece que os fachos reunidos em itália escolheram macron como inimigo nº1. não admira. eles sabem quem os põe em perigo.
albergaselizete, 30.08.2018: Seria interessante ver a liberdade fluir em França, ao som de referendos, que dessem voz ao povo, em matérias que são cruciais, para os franceses e para os europeus, para vermos de que lado está o povo francês. É claro que seria necessário invocar a tal liberdade que as esquerdas tanto apregoam, mas não praticam. O que é practica corrente, é a tomada de decisões, pelos "iluminados", e imposta ao povo, que tem de comer e calar
Ludwig Popov, UE 29.08.2018 : "a extrema direita está a regressar aos mesmos sítios onde se deu bem no passado" Nem mais jonas, eu até iria mais longe provavelmente chocando algumas pessoas desses países, mas ela nunca de lá saiu, Hungria, Polónia e vizinhos, Itália terreno de lutas brutais entre esquerda e direita, a esquerda foi esmagada facilmente, os italianos lá pensaram que hoje em dia só PD, moderados daqueles que servem os bancos. A extrema-direita nunca de lá saiu e eram piores que os alemães (o Leste da Alemanha também já está nos carris da extrema-direita); agora sentem-se confiantes. Vão conseguindo vitórias e através do sufrágio, coisa que tem enervado muita gente, eu incluído embora respeite a vontade dos povos. Há quem não respeite e queira impôr a versão democrática dos bilionários ocidentais
JLR, Ílhavo 29.08.2018: Pouco se fala sobre as causas da imigração dos africanos e como as combater. De onde vêm exactamente os imigrantes? Quais os países africanos de onde são originários? O problema deve ser "atacado" pelas suas causas e não pelas suas consequências. Talvez seja preciso um "plano Marshall" para a muitos países da África do Norte. Mas até agora a Europa só lhes tem dado guerras e invasões.
Conde do Cruzeiro Assinante, que apenas pede liberdade de não ser perseguido. 29.08.2018 : Acabei de escutar uma entrevista a um comissário da UE, em que ele afirma que a agenda dos políticos actuais em funções em alguns países da UE, tem como finalidade espalhar a agenda do medo. E eu ao ler certos comentários mais elaborados, reconheço que por cá essa agenda já está em curso embora o tal comissário aponte o governo de Portugal como uma excepção entre outras, a esse projecto confrontacional.
II- EDITORIAL
As “vítimas” da emigração e o futuro do país
Seja qual for a preocupação do Governo, há no seu anúncio uma mistura de voluntarismo progressista e de assistencialismo conservador que merecem ser discutidos.
MANUEL CARVALHO
PÚBLICO, 28 de Agosto de 2018
Há um detalhe do anúncio do primeiro-ministro que falta para percebermos a verdadeira natureza das isenções fiscais anunciadas para os emigrantes que queiram regressar ao país. O que mobiliza o Governo é a necessidade de trazer de volta o talento e as competências dos quadros qualificados que o país perdeu nos últimos anos? Se sim, acredita António Costa que o nível dos salários dos empregos criados é capaz de compensar os que se pagam em Londres ou Berlim? Ou o que está em causa é uma espécie de política social, um “perdoa-me” diferido no tempo, que tem como objectivo indemnizar com IRS os portugueses que a “malvadez” da troika e a “perfídia” do Governo de Passos Coelho forçaram ao exílio?
Seja qual for a preocupação do Governo, há no seu anúncio uma mistura de voluntarismo progressista e de assistencialismo conservador que merecem ser discutidos. O Governo faz bem em acreditar que o Estado tem um papel a desempenhar na modernização da economia, criando condições para que os quadros formados em Portugal e que se viram forçados a procurar empregos lá fora possam regressar. Mas, ao fazê-lo com promessas de rebaixas de impostos e subsídios à reinstalação, parte do princípio que quem emigrou o fez exclusivamente para fugir a um país pobre e oprimido pela troika que entretanto enriqueceu. Não é verdade. Os emigrantes dos anos de 2010 não viajaram com malas de cartão como em 1960 – pelo menos os mais jovens e mais qualificados. Muitos, a maioria, partiram porque as opções lá fora eram e continuam a ser muito mais interessantes que as que existiam ou existem cá dentro.
Não admira que muitas das reacções de emigrantes sejam de recusa ao “favor” do Governo que os trata como pobres diabos – até porque, na maioria dos casos, os pobres diabos ficaram por cá e talvez precisem mais de uma rebaixa de impostos dos que tiveram a ousadia e a coragem de partir. Seria bom que regressassem? Claro que sim. Deve o Governo empenhar-se no seu regresso? Sem dúvida. Mas para que essa intenção positiva se consolide, a proposta de António Costa não pode ser, como é, uma mistura dúbia de sentido de Estado com pequena política. Nestes casos, a pequena política sobrepõe-se sempre.
COMENTÁRIOS
Parte superior do formulário
fernando ferreira franco, 29.08.2018: Este editorial entra de rompante naquilo que os eleitores querem ouvir e a intenção de Manuel Carvalho é tão evidente que produz um devaneio nas opiniões dos comentadores. Será que o discurso de António Costa contém nas intenções algum desejo de que os “emigrantes” voltem? É evidente que não, as qualidades do orador manifestam apenas o teor eleitoral da circunstância. Onde é que estariam os empregos para oferecer a essa gente? António Costa está perfeitamente consciente de que a vinda desses “portugueses” alimentaria uma entropia desconfortável na ilusão do pleno emprego que o IEFP se esforça por alimentar. Acresce que a própria forma como se referem aos portugueses que fizeram a opção de partir, é já um insulto suficiente para demover esses “emigrantes” de voltar. Responder
manusreis20, 29.08.2018 chamo a estas medidas de malabarismo barato políticas e políticos que empurram para o buraco e depois vem dar uma de bonzinhos e lançam a corda para os tentar salvar tenham vergonha quem está bem lá vai querer saber desse canto queimado.
JLR, Ílhavo 28.08.2018: Como é que os imigrantes podem regressar a um país que paga 8000 milhões de euros por anos para pagar juros da dívida, onde não há dinheiro para hospitais, escolas, caminhos de ferro, etc., onde não há perspectivas de futuro?!
Javali Javali profissional 28.08.2018: Esse número está errado. E ninguém obrigou os governos a endividarem-se.
The Adventures of Michael Collins Enviado especial a repúblicas imaginárias governadas por pokémons 28.08.2018: Esse número é o da despesa do Estado. Que contrasta sobre os 20000 milhões facturados. Os juros da dívida, no dia de hoje, estão cotados a 2,18%. Ou seja cerca de 5000 milhões. Conclusão, o Estado tem uma margem de manobra de 7000 milhões de euros. Se a mantiver e a usar para abater a actual dívida (caso esta não aumente), em 2026 a dívida do PIB estará abaixo dos 100%. Isto só conclui que saída à irlandesa só mesmo a da Irlanda que baixou em 8 anos a dívida para metade.
AndradeQB, Porto 28.08.2018: Caro JLR, acredite que não é minha intenção provocar. Trata-se de uma genuína incredibilidade quando ouço alguém falar como o pagamento das dívidas que se contraem ser opcional. Acha mesmo que Portugal pode simplesmente não pagar o encargo da dívida para utilizar o dinheiro no que a cada momento lhe parece mais importante? Se pensa assim, já se questionou porque é que raio, países, empresas e particulares não fazem isso sempre que tal lhes convenha.
JLR Ílhavo 28.08.2018: Caro AndradeQB, acredito que a sua intenção não é provocar e que está aberto ao diálogo, uma opção que infelizmente é muito esquecida neste forum, em detrimento dos ataques pessoais e dos comentários de teor futebolístico. (Em todo o caso, uma provocação que suscite o diálogo e no seja gratuita também é benvinda!) Repare que eu não defendo nem nunca defendi aqui o não pagamento das dívidas. No meu comentário, eu só quis realçar a inviabilidade prática do regresso dos imigrantes a um país num aperto financeiro muito grande, onde, para simplificar, regressariam à situação "de cavalo para burro" ou para nenhuma situação mesmo, isto é, para emprego nenhum. Se pensa que eu acho que os portugueses não têm a sua dose de culpa nesta dívida insustentável, eu digo-lhe que têm. (...)
Eu não consigo entender como num país de recursos limitados como o nosso haja, por exemplo, duas auto-estradas construídas em paralelo a fazer a ligação Porto-Lisboa, ao mesmo tempo que se desinveste, se encerrou e inclusivamente se destruiu (ver linha da Lousã) muitos quilómetros de rede ferroviária, a ponto de chegarmos à situação que está sendo relatada em vários artigos deste mês do Público. Também não entendo como na década passada se publicitavam soluções megalómanas de TGV, com travessias do Tejo e a célebre configuração de linhas em PI deitado... quando os entendidos há muito tinham explicado que a viabilidade económica de um TGV só faria sentido a partir dos 400 km de distância entre duas paragens consecutivas (o que desde logo tornava inviável a opção pelo TGV em Portugal) (...)
... bem como todo o dinheiro desperdiçado em estudos e projectos para essa megalomania... Há anos, Eduardo Prado Coelho, num artigo escrito neste jornal, salientava uma afirmação do insuspeito Eduardo Lourenço, num seu livro, em que ele afirmava (a ideia era mais ou menos esta) que desde Salazar, Portugal não tinha um projecto político. Vale a pena pensar um pouco nesta afirmação. Aquilo que se poderá designar por grande estratégia da política portuguesa após os anos de transição do 25 de Abril foi a adesão à então CEE. Desaparecidos os monopólios entre a ex-Metrópole e as ex-Colónias, em que sobressaíam uma Marinha Mercante e uma TAP, por exemplo, Mário Soares ("A Europa connosco") faz o pedido de adesão à CEE e 1977, com o apoio de todos os partidos à direita do PC.
E, após a adesão, em 1985, tudo parecia começar a correr sobre rodas. A Europa era o nosso destino, a nossa salvação. O dinheiro começaria então a entrar em grande quantidade. Nunca mais seríamos pobres, dizia toda a gente (e quem duvidava disto nas décadas de 80 e de 90?). Mas, penso eu, a adesão à CEE só por si não pode ser considerada uma estratégia de desenvolvimento para um país (e, por isso, eu entendo a frase de Eduardo Lourenço). A Europa não resolveria os nossos problemas de falta de planeamento, de improviso, de navegação à vista, da fraca capacidade de organização. Entrámos na "cultura do subsídio europeu", sem termos resolvido estes problemas já crónicos e sem estratégia planeada para o futuro.
Mas não há bónus sem contrapartidas: a agricultura e as pescas sofreram com a entrada na CEE: muitos navios de pesca longínqua foram abatidos em troca de subsídios para o seu abate e não para renovação (para onde foi todo esse dinheiro?); muitos outros setores económicos foram enfraquecidos ou destruídos em troca de subsídios. O crédito fácil possibilitou um crescimento da construção civil, que se tornou descontrolado. O que se pensou para o chamado "interior" do país? (faz-me alguma confusão considerar-se "interioridade" num país cuja distância máxima ao oceano é de 200 km). Que ordenamento de território se fez? Que ordenamento florestal temos? Que ordenamento para o eucalipto? A Expo 98 trouxe-nos o Alfa Pendular, felizmente; ...
Já o Euro 2004 trouxe-nos mais dívida com estádios de futebol inúteis e de exploração deficitária. Quem em todo o espectro partidário se opôs à sua construção? A crise financeira de 2007/08 veio pôr a descoberto a nossa ineficiência organizativa, os típicos improviso e "desenrascanço", campo fértil para o alastramento de corrupção. E a perda do controle monetário, com a entrada no Euro - de acordo com economistas de nomeada, como Ferreira do Amaral - não nos facilitou a vida. Temos tido políticos competentes, patriotas e honestos? Têm deixado muito a desejar, de facto. Os banqueiros portugueses foram competentes, patriotas e honestos? BPN, BES, BPI e BANIF nas mãos de espanhóis, com as consequências negativas explicadas pelo economista João Salgueiro, dizem-nos que não.
As nossas elites económicas têm sido patriotas? Quanto é que Portugal perde em impostos pelo facto de os 20 maiores grupos económicos portugueses estarem sediados na Holanda, Irlanda e Luxemburgo? Se as pequenas, médias, médias-grandes empresas e ainda os particulares pudessem fazer essa "otimização fiscal", onde iria o Estado português recolher impostos? Porque é que os políticos portugueses não tentaram acautelar os interesses do seu povo, executando como capatazes as ordens de Bruxelas quanto a privatizações de empresas públicas rentáveis em vez de negociarem até onde lhes fosse possível (seguindo o exemplo dos espanhóis, que "batem o pé" a Bruxelas, sempre que julgam necessário)? Sem dúvida que as dívidas devem ser pagas. Mas, para bem dos portugueses, os políticos têm o dever de tentar obter as melhores condições possíveis para o pagamento das mesmas, no interesse de todas as partes. Com todos os defeitos que temos, já há muito que os estrangeiros sabem que somos um povo fiável. Por fim, falta-nos ainda implementar a tal estratégia, pensada séria e maduramente, que nos faça acreditar que não é apenas o turismo aquilo que nos resta. Aproveito para lhe fazer a pergunta seguinte: acredita que teria existido o "milagre económico" alemão (sobretudo com a rapidez com que ele se deu) se não tivesse havido o auxílio (esse sim, de visão estratégica) do plano Marshall americano?
AndradeQB, Porto 29.08.2018: Caro JLR, só posso agradecer o sublinhado do que poderia e deveria ter corrido diferente para que hoje houvesse mais confiança nas gerações que nos sucederão. Penso que, como eu, sabe que a justificação para muitas das opções havidas é simples. A venalidade. Acreditemos que com o tempo a exigência aumente e o mérito se imponha. Bom final de férias e uma boa rentrée.
Pessoalmente, penso que este anúncio de Costa é um puro fruto da tentativa de diversificação de origem de votos, mas admito que se possa, como faz MC, procurar fundamentos mais elaborados. Admitindo que tal se justifique, a evidente falta de suporte e coerência do anúncio resulta da sobranceria da corte nacional que constrói a sua realidade virtual. Uma história que se conta como verdadeira. Numa recepção oficial na África do Sul, em que alguns convidados eram da nossa elite política lisboeta e muitos portugueses residentes, um dos primeiros comentou interrogativamente a razão do sucesso que os portugueses conseguem lá fora e o não conseguem cá dentro. Resposta: "é que não são os mesmos", disse o expatriado confrontado. 
 Conde do Cruzeiro Assinante, que apenas pede liberdade de não ser perseguido. 28.08.2018: Existem vítimas da emigração forçada desde 2010, que tiveram mesmo de abandonar o país para não morrerem à fome, a destruição da nossa economia e a total desmembramento do tecido empresarial do estado não podiam ter outro fim. Espero que muitos que foram arrastados para essa aventura possam regressar se assim o desejarem, registo com agrado que um dos mais famosos emigrados do nosso forum já voltou e tenho pena que não vá beneficiar da intenção do governo sobre o IRS.

III - EDITORIAL
A fractura exposta do PSD é um bálsamo para o PS
O PSD deixou campo aberto para que movimentos como a Iniciativa Liberal ou personalidades como Santana Lopes procurem uma alternativa
MANUEL CARVALHO
PÚBLICO, 27 de Agosto de 2018
A aparição de novos partidos pode muito bem ser vista como um sinal de dinamismo do sistema político ou do empenhamento e da mobilização da sociedade em torno de projectos para o país. Mas pode igualmente ser um sintoma de fragilidade do sistema partidário existente ou a expressão de meros projectos pessoais de chegada ao poder. Em Portugal, o que está a acontecer mostra que há uma possível combinação destes dois cenários. Se é impossível não encontrar em alguns dos líderes dos novos partidos uma ânsia de protagonismo tão legítima como supérflua para o interesse do país, também é inegável que os novos partidos surgem na sequência de um vazio no espaço do centro direita. Ou, por outras palavras, no espaço do PSD – e, em parte, no do CDS.
Durante anos, o PSD fez da sua indefinição programática um implacável trunfo eleitoral. Tanto podia reivindicar uma herança social-democrata nas políticas públicas como uma propensão mais liberal sempre que em causa estavam os interesses da economia privada. Na sua génese e tradição, Sá Carneiro sempre conviveu com Mota Pinto e Santana Lopes com José Silva Peneda porque havia uma cola pragmática que limava as clivagens políticas e focava as atenções na conquista do poder. Depois de Passos Coelho, o PSD perdeu essa flexibilidade para o PS. Enquanto António Costa foi capaz de construir um pacto com os partidos que o PS sempre combateu, o PSD afundou-se na procura de uma pureza ideológica que nunca existiu.
É por isso que ao querer ressuscitar o legado social-democrata da sua fundação, deixando de lado a sua matriz liberal que atraía o sector privado, os pequenos negócios ou os quadros das universidades, o PSD deixou campo aberto para que movimentos como a Iniciativa Liberal ou personalidades como Santana Lopes procurem uma alternativa fora de portas. A “fragmentação” da direita que o Presidente temia está em curso. Com o PS forçado a uma permanente negociação à sua esquerda, o PSD teria por estes dias uma maior possibilidade de ser fazer ouvir colocando na agenda os interesses do país que existem fora da órbita da função pública. Não o fazendo, ou insistindo em fazer de morto, fica à mercê do dissídio e torna-se um aliado involuntário da estratégia do PS para cimentar o seu poder.
COMENTÁRIOSParte superior do formulário
Parte inferior do formulário
António Neves,  Queluz 27.08.2018 : Perdeu? Pensei que tivesse tido mais votos e deputados que o PS ou enganei-me nas contas??
 AndradeQB,  Porto 27.08.2018 : Parece-me que, embora correcta a análise, o tom é de quem acredita que poderia haver alternativa ao processo em curso. Pois não há. Por ideologia, porque mais vale 10€ no meu bolso no que dos outros, por medo de que ainda fique pior, por medo de não alinhar no discurso dominante, porque a esquerda vai, durante muitos anos conseguir mais deputados do qualquer partido que se confesse de direita. Só o tempo e as crises sociais, que surgirão na sequência da actual linha de subserviência ao Estado, criarão as condições para que alguém apareça como alternativa. Até lá, com PSD unido ou pulverizado, com CDS junto ao PSD ou separado, tudo será absolutamente indiferente. 
Gabriel Moreira,  Lisboa 27.08.2018: eles a dar com a mesma treta. Estão convencidos que a austeridade aplicada durante a crise foi uma malfeitoria de Passos Coelho. Só quem acredita em vacas voadoras não vê que austeridade afinal continua. Chamam-lhe cativações.


Nenhum comentário: