quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Um conto em 500 palavras


Enviei-o para a Chiado Editora, em resposta a um desafio para uma Antologia – “Natal em Palavras”exactamente 500 – conto que foi aceite. Por isso o transcrevo para o meu blog, para não se perder no mutismo geral:

A combinação das cores
Vivera solitária, após a morte do marido, que ela tratou na doença prolongada, com o desvelo das mulheres educadas no respeito pelo seu mundo familiar, de caminhada cansativa embora, esgotados os meios de atracção que os unira, o marido iludido sofregamente na engrenagem do seu mundo de trabalho e dispersão, a mulher sentindo a monotonia de uma domesticidade que se arrastara, brutal, sem lógica, na sua configuração de apuramento e impecabilidade nas limpezas e alimento caseiros, na educação dos filhos que cedo enveredaram pelos seus próprios trilhos, em disparidade e ausência. Em jovem, contudo, fora esbelta e sedutora, revia-se, já velha, nas fotos da sua mocidade alegremente vaidosa, desaproveitadas as suas características de garridice no casamento imposto, de alvo vestido comprido, convenientemente simbólico de uma tradição de pureza virginal que o progresso eliminara. E foi na cidade que seguiu o destino natural das mulheres sujeitas ao macho dominador, que impôs as regras do viver comum, segundo o preceito ancestral de raiz bíblica, numa sociedade, contudo, em mudança reivindicativa de género e de conceito.
Os filhos dispersos, morto o marido, ela continuava presa à sua casa, à coscuvilhice com as amigas, ao espaço empedrado da sua rua, onde caminhava cautelosa, no temor das quedas, conhecedora do desgaste ósseo que vitimara conhecidos seus, por falha do cóccix, apesar do Calcitrin publicitário, tomado escrupulosamente, como prevenção dogmática, que todavia falhou também consigo, que tanto receara a cadeira de rodas e as canadianas, marco pontual da sua mudança de espaço.
E a mudança chegou, no falhanço do cóccix, auxiliado pelo tal empedrado esburacado, a cadeira de rodas tornou-se imprescindível, e bem assim o lar de idosos da sua comodidade e segurança, do seu desterro e marginalização finais, junto de companheiros e companheiras dormindo nos cadeirões em fila, encostados às paredes da sala ampla, na tristeza ou acrimónia de um destino sem retorno.
Saudades da sua casa onde vivera no caleidoscópio das suas vivências e das suas recordações, na antevisão desse futuro que também a ela apanhara e que a família impusera como solução de comodidade para todos.
Inútil estrebuchar. Teria que sujeitar-se e acomodar-se ao seu definitivo irremediável.
Definitivo, não totalmente ainda. Havia os Natais de família, dantes orientados por si e pelo marido, e que competia à neta, que ocupara a sua casa, continuar, na tradição natalícia intocável, o progresso e a abundância como manutenção inestimável desse preconceito simbólico de união familiar com festejo de riso e muitos presentes, uma vez por ano. Talvez nesse Natal recebesse mais livrinhos de pinturas, com desenhos preestabelecidos, como os que se dão aos meninos do pré-escolar, e que ela recebia carinhosamente dos seus, para estimular as suas capacidades intelectuais e artísticas, na combinação das cores e na correcção do esbatido cromático, desenhos que no Natal seguinte ofereceria de presente de amizade a cada um dos seus, que jamais se esquivavam a apreciar-lhe o jeito desse esbatido e dessa combinação das cores, específicos para cada modelo pictórico – esbeltas figuras, gatinhos, flores …

31/10/2018


Um artigo premonitório



De história contemporânea, acerca de um jornalista saudita crítico do rei, refugiado nos EUA, que é assassinado no consulado da Arábia Saudita, na Turquia, onde entrou e donde não saiu mais com vida, o crime provavelmente implicando uma intriga de aliança entre a Arábia Saudita e os EUA. Gostei do artigo de Rui Tavares, que, como historiador zeloso, pretende advertir-nos de consequências graves, sonâmbulos que somos, ou meramente adormecidos, o que é característica das bases, essencialmente preocupadas com os problemas da sua sobrevivência e dos seus prazeres materiais e espirituais, por Eça já definidos, no nosso caso nacional, como aviltante “rumor das saias de Elvira”. Advertir-nos, pois, Rui Tavares, com as prováveis consequências belicosas que o caso pode assumir, como aconteceu com o atentado de Sarajevo e o assassinato do arquiduque herdeiro do governo austro-húngaro, desencadeador da 1ª GG. O seu texto provocou comentários que também registo, no prazer de ir conhecendo, assim, gente desperta da nossa terra, habitual participante das crónicas que lhe dão no goto, como a mim própria.
OPINIÃO - Sonâmbulos de novo
A mensagem clara é que abriu a época da caça e que toda a gente pode fazer o que quiser contra as suas oposições onde quiser, porque as grandes potências vivem bem com isso.
RUI TAVARES
PÚBLICO, 19 de Outubro de 2018
O destino do jornalista saudita Jamal Khashoggi não é só provavelmente macabro; é sobretudo profético. Lembremos resumidamente quem ele era e qual é o seu caso: inicialmente um disciplinado jornalista no reino da Arábia Saudita, Khashoggi escolheu o caminho do exílio para poder falar mais livremente, e como residente permanente nos EUA escreveu crónicas críticas, mas ainda assim respeitosas, em relação ao todo-poderoso príncipe Mohammed bin Salman. Um dia entrou num consulado da Arábia Saudita na Turquia e não voltou a sair. A autoridades turcas alegam terem gravações — provavelmente obtidas através de espionagem contra a representação diplomática — provando que Khashoggi foi torturado, assassinado e desmembrado por uma equipa de 15 sauditas vindos do reino para a Turquia com vistos de turistas. Pelo menos um dos 15 já foi identificado como sendo um segurança próximo de Mohammed bin Salman. E acima de tudo a Arábia Saudita não apresentou até agora nenhuma explicação para o facto de Khashoggi ter entrado e nunca ter saído do seu consulado, nem sobre o que lhe terá acontecido lá dentro.
E no meio de tudo isto aparece uma reportagem aparentemente bem fundamentada no Washington Post dizendo que a família real saudita e a Administração Trump nos EUA estão a trabalhar juntas para aparecerem com “uma justificação mutuamente aceitável” para o que aconteceu — ou seja, que estão a conspirar para mentir.
Porque é que isto tem importância, para lá da violação de direitos humanos em concreto e da ação criminal que é — alegadamente, para já — matar um jornalista? Nos tempos cínicos em que vivemos, é fácil olhar para o caso Khashoggi e encolher os ombros dizendo que assassinatos de jornalistas há em todos os continentes e que nunca ninguém julgou que o reino da Arábia Saudita fosse especialmente virtuoso em casos deste género. Porque é que este caso é tão grave?
Para dizer de uma forma simples: porque já começaram guerras por menos. O caso em apreço não é só grave por envolver a morte de um jornalista. É gravíssimo por ter ocorrido no território de um país estrangeiro e dentro de uma representação diplomática, abusando das imunidades e privilégios que estas têm. Já vivemos épocas assim, em que fomos arrastados para guerras onde morreram milhões por causa de temeridades semelhantes. E uma delas foi a época imediatamente anterior à I Guerra Mundial. Um livro que já citei aqui do historiador Christopher Clark, sobre “como a Europa entrou em guerra em 1914”, tem um título que descreve este fenómeno de forma particularmente felizSonâmbulos. Ou seja, a Europa entrou em guerra sem saber como, porque o jogo entre potências foi ficando cada vez mais perigoso e, a certa altura, qualquer provocação poderia acender a faísca de um mega-conflito.
O único erro está em pensarmos que a I Guerra Mundial foi uma guerra europeia que se mundializou. Errado: a I Guerra Mundial foi uma guerra europeia e do Médio Oriente que se mundializou. A I Guerra Mundial começou nos Balcãs, fronteira histórica entre a Áustria e o Império Otomano, e sem queda do Império Otomano não haveria Iraque, nem Síria, nem Arábia Saudita, nem Turquia moderna. O que estes países têm em comum não é apenas terem estado todos nas notícias por causa de várias guerras — invasões, guerras civis, guerras através de terceiros — nos últimos anos. O que eles têm em comum é conhecerem bem a sua história e saberem como os seus Estados nasceram há menos de um século após um conflito no qual entrámos como sonâmbulos a caírem num buraco.
O resto é o oportunismo da época atual. A Rússia assassina impunemente os seus ex-espiões em território estrangeiro. A Arábia Saudita observa como Putin consegue matar quem lhe apetece onde lhe apetecer, toma devida nota, e faz o mesmo. O resto da comunidade internacional olha com espanto para os Estados Unidos minimizarem a necessidade de se saber o que se terá passado no consulado saudita. A mensagem clara é que abriu a época da caça e que toda a gente pode fazer o que quiser contra as suas oposições onde quiser, porque as grandes potências vivem bem com isso e as organizações internacionais estão de pés e mãos atados pelas grandes potências.
Lá vamos nós de novo, sonâmbulos. A continuar assim, alguém acredita que não está a aumentar a probabilidade de um dia destes um caso como o de Khashoggi dar verdadeiramente para o torto?

COMENTÁRIOS:
Arrebenta, Lisboa 20.10.2018: O império austro-húngaro tinha diversos movimentos internos independentistas, em especial na zona dos Balcãs - e por isso o apoio da Rússia. Mas a razão fundamental para o conflito é milenar e volta a emergir na história quando existe uma relação de potência dominante e potência desafiadora, assente, no caso concreto, em dívida. Também ocorreu com Portugal na iniciativa da Armada Invencível. Pesquisem "Thucydides Trap" e vejam o potencial da guerra comercial de Trump com a China.
Julio, "Que época terrível esta, onde idiotas dirigem cegos" William Shakespeare 19.10.2018: Incrível! Poderei compreender que o sr Historiador não teve´ tempo ou não achou necessário explicar-nos as causas da I GG. Poderei compreender que o seu propósito tenha sido o de alertar as consciências para a instabilidade da situação que vivemos hoje em dia - onde um qualquer acto injustificado poderá ser um rastilho para uma situação incontrolada. O que não compreendo, nem posso compreender, é que o articulista assuma o papel do rastilho.
Marcos S., Porto 19.10.2018: Correcção : foi obviamente a humanidade do Sr. Registado Leitor (infra) a soçobrar perante as sua convicções políticas...
...e à sua causa. Agora à boleia deste desastre de Babchenko diminuir a vergonha que é a posição das democracias ocidentais (especialmente a liderada por Trump) neste tema (ainda que este não tenha tomado uma posição definitiva já manifestou expressamente o seu conflito de interesses!) parece-me um absurdo, onde a ideologia política soçobrou perante a humanidade do Sr. Registado Leitor. Nota final: O comentário aqui feito dedica-se única e exclusivamente ao Sr. Registado Leitor  (infra) e à sua desaparecida humanidade, fazendo votos que o mesmo a encontre e a acolha com carinho, sem medos nem reservas...
Não consigo deixar de ficar estupefacto, como se consegue converter uma questão de claro atropelo dos direitos humanos e do direito internacional, numa discussão entre "esquerdistas" e "direitistas"! Este caso preocupa-me em primeiro lugar porque não sendo um vegetal, nutro natural empatia pelo próximo e sou defensor acérrimo da verdade seja ela de esquerda ou de direita! Afinal a verdade e a mentira são, tal como a empatia, naturais a qualquer ser humano marxista ou ultraliberal! Quanto ao caso Babchenko de facto nunca percebi a intenção do mesmo em simular a sua própria morte, e temo concordar que foi profundamente infeliz, até porque, e na minha perspectiva, minou a sua credibilidade, e mais ainda, terminou por provocar danos colaterais à credibilidade das autoridades ucranianas...
Ceratioidei, Oceanos 19.10.2018 : Subscrevo na íntegra. A memória não me falhou até agora. É bem verdade que um incidente destes pode criar uma situação sem retorno. Mas... não com a Arábia Saudita, o melhor cliente na compra de armamento dos USA e dos demais produtores europeus, plataforma de investimento com margens de lucro fabulosas. Chegamos ao topo da decadência da nossa civilização e estamos em queda vertiginosa em direcção ao abismo. Substitui-se a dignidade por dinheiro. O sonambulismo é uma estratégia de sobrevivência, quando o cérebro grita „cuidado, um abismo!“, e te forçam a dar um passo em frente.
Nuno Silva, 19.10.2018: Os sauditas e os EUA (e outros aliados como Israel), são bem capazes ter a lata de meter novamente as culpas no Irão (ou na Rússia), como fazem sempre...
Registado Leitor, 19.10.2018: “A Arábia Saudita observa como Putin consegue matar quem lhe apetece onde lhe apetecer”. Lembram-se desta história? “Jornalista russo crítico de Putin assassinado em Kiev com tiros nas costas” “O jornalista russo crítico de Vladimir Putin, que tinha sido dado como morto esta quarta-feira, afinal está vivo. Arkady Babchenko apareceu numa conferência de imprensa sobre o seu homicídio” Fake..fake..fake….
Manuel Brito, LISBOA 19.10.2018: Alexander Litvinenko, lembram-se? Fake... Fake... Fake... Sergei e Yulia Skripal, Dawn Sturgess, lembram-se? Fake... Fake... Fake...
Nepomuceno Fábio, 19.10.2018 : Sim, os Skripal, essa história está tão bem contada que é completamente impossível haver seja que dúvidas forem acerca desse caso...Manuel Brito
Registado Leitor, 19.10.2018: "A mensagem clara é que abriu a época da caça e que toda a gente pode fazer o que quiser contra as suas oposições onde quiser, porque as grandes potências vivem bem com isso" Pensei que o Rui Tavares ia finalmente falar sobre a democracia na Venezuela e sobre o suicídio nos serviços secretos do dirigente da oposição ao Maduro...

terça-feira, 30 de outubro de 2018

Histórias económicas europeias objectivas, histórias sul-americanas sob o signo da subjectividade lusíada



Teresa de Sousa correcta, informada, preocupada com o rumo europeu, com os casos da Itália que, segura de si, não se sujeita aos padrões orçamentais propostos por Bruxelas, entre outros problemas que atravessam o mundo. José Pacheco Pereira dando o seu parecer de DDT, num saber premonitório arrogante, coado por uma subjectividade sem o equilíbrio preciso, que um ou outro comentarista lhe aponta. Bolsonaro foi, entretanto, eleito, veremos se as suas previsões baterão certo. Fica-nos a informação de que JPP é descendente de Duarte Pacheco Pereira, que conhecíamos como autor do Tratado “Esmeraldo de Situ Orbis”, para além das outras patentes de que PP não deixa de nos informar e que encontramos historiadas na Internet.
I -  Um texto de  TERESA DE SOUSA, PÚBLICO, 24 de Outubro de 2018:
Ninguém quer partir a corda, nem em Bruxelas nem em Roma
1. O mergulho das bolsas no vermelho que ontem se verificou da Ásia aos EUA, passando pela Europa, não pode ser apenas atribuído ao braço-de-ferro entre Bruxelas e Roma por causa da proposta de orçamento que o Governo italiano enviou para a Comissão e que a Comissão recusou. Os analistas referem uma série de efeitos conjugados, que passam por Itália mas também pelo cenário, que deixou de ser impossível para passar a ser apenas improvável, de um Brexit sem acordo, até ao efeito nos mercados petrolíferos do escândalo do assassínio do jornalista saudita Jamal Khashoggi, que está a tomar proporções dramáticas.
A Arábia Saudita, que produz um em cada 10 barris de crude no mundo, tem o papel de “estabilizador” dos preços do petróleo. As reacções ocidentais, exigindo um total esclarecimento do que se passou no consulado saudita em Istambul, podem vir a desestabilizar os mercados. Matteo Salvini não é, portanto, o único “culpado”.
2. Mas o braço-de-ferro entre a Comissão e o Governo italiano é um sinal de perturbação que não pode ser ignorado, embora fosse largamente antecipado. Roma enviou para Bruxelas uma proposta de Orçamento prevendo um défice que não está em linha com as recomendações da Comissão nem com as regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento, implicando uma subida de 1,9 por cento para 2,4 por cento.
Não foi fácil ao Governo de Roma, fruto de uma coligação entre o movimento populista Cinco Estrelas e a Liga nacionalista de Matteo Salvini, encontrar ele próprio um entendimento sobre as grandes prioridades orçamentais. Luigi Di Maio, o vice-primeiro-ministro do Cinco Estrelas, insistiu no “rendimento cidadão” de 780 euros  – um rendimento mínimo atribuído a todos os italianos, que prometera na campanha eleitoral –, mesmo que de forma faseada. Di Maio recolheu a maioria dos votos no Sul da Itália, a região com níveis de pobreza mais elevados. Salvini prometeu uma baixa generalizada dos impostos sobre as pessoas e as empresas. Os seus votos vieram do Norte rico e desenvolvido.
A conjugação das duas promessas fez disparar o défice. A reacção de Bruxelas foi declará-lo inaceitável e devolvê-lo à precedência: uma estreia. Roma respondeu que não tencionava alterá-lo. Salvini recorreu à sua habitual retórica: “É bom que os senhores da especulação saibam que isso não muda nada, não faremos marcha atrás. (…) Eles [a Comissão] não estão a atacar um governo, mas um povo. São estas coisas que enfurecem os italianos.” O primeiro-ministro Giuseppi Conte, independente, pôs alguma água na fervura:  “Read my lips: não há a mínima hipótese de um Italexit, de Itália sair da Europa ou da zona euro”.
3. Como se pode sair daqui? É altamente improvável que qualquer dos lados esteja disposto a quebrar a corda, mesmo que tencione esticá-la o mais possível. Por razões facilmente entendíveis. A Itália não é um país que possa ser resgatado como foram Portugal, a Grécia ou a Irlanda. É a terceira economia do euro e uma das maiores do mundo.
Em Bruxelas e nas capitais europeias, há perfeita consciência do que significaria a insolvência de um país com esta dimensão. Os efeitos políticos, como se viu na crise anterior, seriam igualmente devastadores. “A Itália é demasiado grande para falhar, económica e politicamente”, escreve o diário alemão Handelsblatt. Do seu lado, Salvini, cuja popularidade não pára de aumentar, sabe que há limites para a sua retórica antieuropeia.
A banca italiana já recuperou, em boa medida, da crise que alastrou por toda a zona euro, a partir de 2009, mas ainda tem fragilidades. Precisa de financiamento externo e possui activos que não pode ver desvalorizados subitamente.
Salvini mantém um discurso que não é pura e simplesmente antieuropeu, mas apenas contra “esta Europa”. A sua força está na crescente popularidade do governo do qual ele é a figura principal, que atinge hoje os 60 por cento. A sua fraqueza advém da persistente estagnação da economia italiana, que se mantém há quase duas décadas – os sinais de retoma são incipientes e esta é também a justificação apresentada em Bruxelas para a dimensão do défice.
Cairá na tentação da chantagem, sabendo até que ponto a Europa teme uma crise italiana? Pode ser, mas dificilmente irá ao ponto de quebrar a corda. A outra boa notícia é que, até agora, o contágio italiano ainda não se propagou a nenhum das economias do Sul.
COMENTÁRIOS:
 às armas, às armas, pela Pátria lutar, contra os LADRÕES marchar, marchar 24.10.2018: Esta posição do governo italiano é próxima do que defendia a esquerda portuguesa para Portugal. Suponho que o BE e o PCP não deixarão de vir anunciar apoio a esta medida do governo italiano.
António C. Rocha, 24.10.2018: Creio que a corda 'já partiu' … agora resta apenas saber quem cede. E se ninguém ceder, a UE estilhaça-se. Portugal, profundamente dependente da UE será dos países mais afectados da Europa e nada nos salvará no futuro mais próximo. Adivinham-se tempos extremamente difíceis para os portugueses … mas o nosso governo e o presidente dormem sossegadamente na forma!
II -OPINIÃO - A perda do Brasil por alguns (espero que poucos...) anos
Vão ser anos terríveis para quem, como eu, admira o Brasil e muitas vezes o dei como exemplo de uma vitalidade que há muito já não temos.
JOSÉ PACHECO PEREIRA
PÚBLICO, 27 de Outubro de 2018
Existe uma tese de que um antepassado meu, Duarte Pacheco Pereira, teria sido o descobridor do Brasil e não Pedro Alvares Cabral. Essa descoberta teria sido mantida sigilosa para que, na competição com Castela, fosse possível deslocar a divisão do Tratado de Tordesilhas de modo a incluir o “desconhecido” Brasil, sendo Duarte Pacheco Pereira um dos signatários do tratado. Camões gostava tanto da personagem que lhe dedicou quase um canto como “Aquiles Lusitano”. O seu retrato austero e guerreiro, de espada e armadura, dominou sempre aquilo que antes era a “sala de visitas” de casa dos meus pais e está hoje perto de mim, numa “sala de retratos”, junto dos Pachecos antigos, sombras da minha sombra.
Digo isto porque vamos perder o Brasil por alguns anos de ferro e fogo, se Bolsonaro ganhar as eleições, processo em que se sabe como vamos entrar, mas não se sabe como vamos sair. Vão ser anos terríveis para quem, como eu, admira o Brasil e muitas vezes o dei como exemplo de uma vitalidade que há muito, pelo menos desde o 25 de Abril, já não temos. Um país em que a língua portuguesa explodiu em criatividade e diversidade, cheia de expressividade e alegria, para desgosto dos puristas, e não foi a ortografia, em nome da qual nos mutilaram o português das suas raízes latinas e por isso nos empobreceram, que nos afastou do português do Brasil, porque este será sempre outra coisa. E será outra coisa, porque o povo, os artistas, desde os autores de literatura de cordel aos grandes cantores, a esse fabuloso João Guimarães Rosa, não param quietos. Beberam, como estava escrito numa legenda Museu da Língua Portuguesa em São Paulo, que ardeu, “água que passarinho não bebe”, ou seja, cachaça.
Apesar de Salazar e os seus “lusotropicalistas”, apoiados por uma colónia portuguesa cujas figuras gradas eram próximas da nossa ditadura, foi no Brasil que os professores universitários perseguidos, como os matemáticos expulsos à volta de Rui Luís Gomes, e muitos exilados encontraram solidariedade e recursos para poderem trabalhar com uma liberdade que não tinham cá. E foi vindas do Brasil que coisas tão improváveis como as telenovelas ajudaram a mudar os costumes no Portugal profundo, trazendo mulheres que falavam com normalidade do sexo, criando preocupação à nossa Igreja, porque chegavam a sítios onde só se ouvia a voz do padre. Ainda hoje uma manifestação em Portugal, muito antes do Bolsonaro, se tiver brasileiros e em particular brasileiras, os nossos amigos e amigas que para cá vieram trabalhar e estudar, é uma coisa diferente. Onde estão varrem tudo. Não sei se isso vai acabar, porque vamos perder o Brasil por alguns anos, e porque a alegria do seu português vai ter de endurecer, enraivar, servir para lutar.
Algumas dessas qualidades, como sempre acontece, são também defeitos. É difícil encontrar, em todo o mundo, país mais mal governado do que o Brasil, classe política mais corrupta, exclusão, racismo e guetização dos pobres, violência dos pobres e dos ricos. E não estou a falar da ditadura militar, estou a falar da democracia, estou a falar do PT, de Lula e Dilma. E milhões de brasileiros votaram nesta gente. Bolsonaro emergiu deste magma para lhe dar uma expressão ainda mais perigosa e continuar a mesma tradição de mau governo e violência. Chamar-lhe fascista não é rigoroso, é apenas um epíteto negativo. Aliás, é quase um elogio, porque Mussolini sabia escrever e fez os comboios chegar a tempo e nem isso Bolsonaro vai conseguir.
Bolsonaro vai estragar o Brasil, mais do que ele já está. Vai deixar um rastro de mortos, bandidos e inocentes, porque é de sua natureza fazê-lo. Se acreditasse em milagres, punha cem velinhas a uma santa de adoração dos brasileiros, mas não acredito. Mas, se ele perder, eu ponho as velas na mesma e compro um boi para a festa. Falta a bala e a bíblia pra junto com o boi fazer os três B, mas disso prescindo, do boi não. Mas, sem milagre, vai ser precisa muita coragem, muita cara fechada, muita falta de complacência para com aqueles que o poder sempre alicia e compra, muita reflexão sobre o passado e o presente, muita vassoura para varrer quem fez a cama ao monstro, e muita solidariedade para com os brasileiros e todos os que amam a democracia.
COMENTÁRIOS:
Nunes José, 27.10.2018: Como português tenho cada vez mais vergonha dos nossos comentaristas. Temos de aturar opiniões absurdas sem sentido. Julgam que o seu pensamento é o melhor e mais correcto mas não só sabem opinar sobre o que ouviram dizer não sabem sequer ter o discernimento de estudar ou tentar saber por si mesmos quem realmente são as pessoas e o que querem para o seu país. Fazem muita falta Bolsonaros em Portugal, eu gostava de ver o meu país defensor da família, da justiça, do trabalho honesto, das empresas, da ordem e do progresso da nação. Só existe pouca vergonha nas escolas, não há dinheiro na saúde, querem ensinar as crianças que não existe homem e mulher e temos esses comentaristas de esquerda, sim de esquerda a tentar influenciar as pessoas. Tenham vergonha!!!
eng jorge moreira, Viana do Castelo 27.10.2018: Cansei deste tipo de comentário político. Diz o autor, “ .... vão ser anos terríveis. ....”, se Bolsonaro ganhar. E agora? São anos de quê. ??? Com um Senado corrupto, uma câmara corrupta, um STF corrupto, que já nem atua de forma colegial e todos acham normal. Bilhões e bilhões atribuídos pelo PT a regime ditatoriais ( Bolívia, Venezuela, Cuba etc), a Petrobrás sugada para manter o regime, 14 milhões de desempregados, 60 mil homicídios em 2017, 56 000 em 2016, 35 partidos no parlamento , deputados com salários milionários, num país que conquistou,só em 2 anos. 6 milhões de novos pobres. Concluído , vão ser anos terríveis se Bolsonaro ganhar, o presente está bom demais. Melhor não mexer.
amora.bruegas,Tomar 27.10.2018: PPereira, um formando do maoísmo, deslumbrado com factos de antepassados, apelidados pelos maoistas de "fascistas"? As voltas que o mundo dá. Não entendo como pode falar em vitalidade, quando se refere a um regime socialista, símbolo de estagnação..., ou a respectiva imagem não é a Venezuela, Cuba ou CNorte?
José Sousa, 27.10.2018: O homem nem foi eleito e já está ao nível de hitler? Não se preocupe com os Brasileiros. Eles sabem se safar sozinhos e viver com suas escolhas. Não ao contrário de Portugal que viveu séculos à custa do dinheiro das colónias e depois dos biliões da união europeia. E como não se sabe governar, de tempos a tempos tem o FMI a mandar no seus pais. O Brasil com os seus muitos problemas ainda é uma das grandes potências económicas e tem potencial de ser tornar um país de primeiro mundo e fazer concorrência com potencias estabelecidas. Em vários domínios. Portugal não. É o mais pobre da Europa ocidental e quase todos os países da UE já o ultrapassaram. E está velho. Não f* nem sai de cima. E vem dar lições e julgar uma nação soberana. Falta de vergonha na cara.
José Cruz Magalhaes, Lisboa 27.10.2018 10:58: A única realidade que se pode antecipar é que na segunda-feira,dia 28,estará eleito um presidente que não será de todos os brasileiros .Quer ganhe Bolsonaro, como tudo indica, quer seja outro o vencedor, a sociedade brasileira exibe uma fractura exposta, que não tem condições para melhorar. A divisão entre os brasileiros, o ódio visceral e o desprezo a que largas camadas da população votam aos restantes, são o drama que presidente algum irá resolver.

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

O esplendor do terror, a petulância progressista



Não há dúvida de que a violência proliferou, o que não admira, com a democratização que grande parte do mundo sofre. Dantes, eram mais as chefias invasoras dos povos, na sua ambição e desejo de conquista que invadiam os territórios e semeavam o terror. Gente de alto gabarito, vivia-se em aristocracia, com os poderes concentrados nela, os seus poderes que até, por vezes, se chamavam de origem divina. Mas a aristocracia e o clero afinal constituíam uma ínfima parte das populações, o povo era altamente maioritário e isso viu-se por alturas das grandes revoluções, a francesa e a russa, esta já nos nossos tempos, ou seja no dos nossos pais ou avós, ínfima parte que teve como consequência a prepotência dos defensores do proletariado, de que é exemplo o texto de Salles da Fonseca, sobre os crimes praticados na Rússia revolucionária dos autocratas por “amor pátrio”, a que o extraordinário Gorbatchov pretendeu pôr freio.
Por seu turno, o proletariado ganhou cada vez mais força, de mistura com a expansão da droga e dos ideais de liberdade, e agora é o que se vê, a instabilidade tornou-se uma constante, a presumível fraternidade ou solidariedade, são inspiradoras do crime generalizado e divulgado mediaticamente, mas têm defensores. Hoje, por cá, na vulgarização massificadora de todas as camadas sociais, feita em nome da fraternidade, deixou de existir controlo, a própria escola se alargou a agrupamento escolar, que baniu distinções etárias ou formativas, o termo “liceu” desapareceu da nossa nomenclatura, após o 25 de Abril, como designação distintiva humilhante dos não seguidores dele, a perversão tornou-se uma constante, o medo apoderou-se de toda a gente consciente. Dantes brincava-se livremente, o medo dos raptos e de outras insânias faz que as crianças vivam cada vez mais estranguladas nos espaços fechados, etc., etc.
Concretizo o tema, extraindo um excurso irónico do blog A Bem da Nação, 28.10.18, por Henrique Salles da Fonseca, sobre o papel libertador de Gorbatchov nas perfídias dos gulags russos, seguido de um trecho da Internet sobre o livro de que trata o blog, que bem descreve tais monstruosidades do poder soviético. Concluo com um editorial do Público, de Manuel Carvalho, que finge rever-se nas doutrinas de esquerda, para se indignar com a eleição de Bolsonaro para o governo brasileiro. Não resisto a transcrever alguns comentários discordantes do editorialista, fazendo-me deles eco, pelo pretensiosismo fútil que nele sobressai:
Gorbatchov desligou o KGB da corrente eléctrica obrigando o seu pessoal a frequentar cursos de reciclagem acelerados transformando o canibalismo em jardinagem.
Trecho da apresentação em 1989 do livro O TCHEKISTA escrito em 1923 por Vladímir Zazúbrin (fuzilado em 1938) e, entretanto, proibido pelos soviéticos.
II - O TCHEKISTA
Em 1987, um manuscrito perdido datado de 1923 era descoberto na Biblioteca Lenine, em Moscovo. Folheá-lo era assistir ao terror e à violência de um dos períodos mais sangrentos da história russa. Lembrando a obra Na Colónia Penal, de Kafka, O Tchekista é um dos primeiros testemunhos literários sobre a natureza do poder soviético e um relato atroz de uma máquina de terror oleada pelo sangue humano. No rescaldo da guerra civil, Srúbov, um agente da Tcheka, cumpre o seu ofício de carrasco na Sibéria. Em nome da revolução, participa nos atrozes procedimentos quotidianos, em cruéis interrogatórios e em execuções sumárias. Porém, a sua consciência impede-o de desempenhar o seu ofício e o matadouro sangrento em que se move assola-o eternamente. Texto de uma violência asfixiante e com um assombroso poder de evocação, O Tchekista é considerada uma obra inconveniente por descrever de forma supremamente realista os crimes soviéticos. Foi publicada em 1989.
III- EDITORIAL - Um dia negro para a democracia
Bolsonaro é o derradeiro capítulo de um processo de autodestruição das elites políticas brasileiras. Como todos os outros capítulos, é uma vergonha e uma desgraça.
PÚBLICO, 28 de Outubro de 2018
A eleição de Jair Bolsonaro aconteceu sem surpresa e não apenas por causa da sua vitória categórica na primeira volta ou devido às sondagens que o colocavam a grande distância de Fernando Haddad. Depois de tantos escândalos, da espiral de violência, de crises que foram da economia à ética, de uma destituição (a de Dilma Rousseff) aprovada por um congresso minado pela corrupção, não surpreende que os brasileiros elejam um Presidente que não resiste sequer ao teste da decência mínima que se exige a qualquer cidadão. Bolsonaro é o derradeiro capítulo de um processo de autodestruição das elites políticas brasileiras. Como todos os outros capítulos, é uma vergonha e uma desgraça.
Se o novo Presidente do Brasil tem um mérito é o de não esconder a sua homofobia, o seu racismo, ou a sua propensão para a arruaça e para a violência. Não sabemos o que ele pensa sobre a educação ou as finanças públicas (recusou todos os debates), mas sabemos sim o que ele gostava de fazer aos negros, aos gays ou aos militantes do PT. E é por conhecermos essas misérias que vai ser fundamental saber se as instituições incumbidas de defender os valores que ele ataca serão capazes de o travar. Sem uma maioria no Congresso, Bolsonaro vai ter de negociar todas as leis espúrias que lhe passam pela cabeça. Mesmo que as consiga aprovar, terão se passar pelo crivo do Supremo Tribunal Federal que zela pela Constituição. Mesmo que se esvazie a Constituição, há no Brasil organizações sociais, sindicatos e a imprensa para escrutinar os seus delírios.
Talvez Bolsonaro tenha de renunciar a parte do seu programa, indo ao encontro das expectativas de uma certa direita inorgânica de Portugal que, de tanto se deleitar com a apologia da liberdade, esqueceu que a liberdade só existe onde existe decência e respeito pelos outros. Ou talvez o seu temperamento agressivo se exalte com esta extraordinária vitória e o leve a desafiar os mais básicos alicerces do sistema. Aconteça o que acontecer, hoje é um dia mau para a liberdade, para a tolerância ou para a devoção ao pluralismo e à diversidade humana. A democracia no Brasil não morreu. Mas com o PT condenado pela sua própria venalidade, arrogância e cegueira, o PSDB destruído pela sua inconsistência, o MDB minado ainda mais do que todos pelo flagelo da corrupção, a justiça politizada e a sociedade descrente, Bolsonaro pode estar a um passo de a querer matar. Pobre querido Brasil.
COMENTÁRIOS:
Nuno Silva: Os brasileiros nem sabem no que se estão a meter com o fascista Bolsonaro (devem pensar que o Brasil são os EUA)...
Jocelia Martins: Quem és tu caríssimo para falar de um político eleito pela maioria do povo brasileiro, que como dizeis faz parte da elite política? A elite política é aquela que ele combate descendente das capitanias hereditárias distribuídas pelo rei D. João, combate igualmente o comunismo de Cuba, as dádivas doadas por Lula e Dilma a países ditatoriais. VC sabe que Lula estava para formar uma nova União Soviética na América do Sul? Alienado, estude antes de escrever.
Wladia Mamede: Negro? PQ? Concordo com Leandro Teixeira "público sofre da mesma arrogância e cegueira que a esquerda brasileira. Conheça melhor o Brasil !" Quem é você para dizer que temos um dia negro? Vive aqui? passou por tudo que passamos com o PT? Então fique calado, não se meta em assunto que não lhe diz respeito. E mais importante, RESPEITE a vontade soberana do POVO BRASILEIRO, que nada pede a vocês.
Alvaro C. Pereira: Não entendi o propósito! Se queremos paz e democracia no Brasil, textos como este devem ser bem pensados! Eu nunca votaria em Bolsonaro, mas o povo brasileiro votou! Exige-se respeito! Ou isso só vale para um lado? Nos próximos anos, em vez de desclassificar quem votou, o melhor seria 'entender' a razão e arrepiar caminho numa certa maneira de fazer política, convencidos que são donos da verdade! O que mais espero, neste momento, é que os outros poderes (nomeadamente o judicial e o militar) estejam bem fortes para vigiar e defender a democracia e a justiça social!
Alforreca Passista, Anti-liberal fascistas : Quando os próprios neoliberais já não são suficientemente extremistas e são chamados de comunistas, como é o caso aqui do nosso querido editor neoliberal Manuel Carvalho, nós sabemos que estamos a atravessar momentos extremos!
Ricardo Bugalho, Lisboa : Comentário ao caro editor: textos como este só pregam aos convertidos e criam mais polarização. Se pretende escrever em favor da Democracia, é preciso ser mais imaginativo e dizer as verdades sem alienar.

domingo, 28 de outubro de 2018

Acefalia haverá sempre, mas…

Exemplifico o conceito expresso por Salles da Fonseca, a partir de um verso de Alberto Caeiro – “Pensar incomoda como andar à chuva” - cujo sentido é objecto da sua contestação - com um texto de Teresa Sofia Serafim, do Público de 23/10, divulgando a extraordinária odisseia de um jovem explorador da Antárctida, Barney Swan, que aliandou cerca de mil quilómetros até chegar ao Pólo Sul, em Janeiro deste ano”, primeiro acompanhado do pai, Robert Swan, e continuando so com os companheiros a sua viagem de trenó, por desistência daquele. Num intuito aventureiro, inicialmente, seguindo as pisadas do pai - “Em 1989, Robert Swan tornou-se a primeira pessoa a andar no Pólo Sul e no Pólo Norte” - tendo fundado a “organização 2041 ClimateForce” com fins educativos de prevenção contra os desastres ecológicos causados pela inconsciência humana. O texto de Teresa Sofia Serafim é uma autêntica história de encantar, que subentende enorme espírito de sacrifício aliado a uma vontade indomável de “salvar a Terra” deste jovem de 24 anos, e os companheiros, merecedor, certamente, também de prémio, pelo alcance da sua mensagem de anti-poluição salvadora do nosso planeta.
Mas, continuando no espírito da mensagem de Salles da Fonseca, de que é pelo pensamento que algo se cria, de superior, não podemos rejeitar, nessa criatividade, o complemento da emoção e da sensibilidade a ele aliados. Acabo de assistir, no 2º Canal, a um concerto de “Carmina Burana”, e fico maravilhada com tais provas do engenho humano e da extraordinária adaptação sinfónica e coral feita por Carl Orff (1895-1982) em 1935, de textos medievais exaltadores dos prazeres da vida, executada por uma enorme orquestra e coral franceses, julgo, onde entrava diversidade de componentes, entre os quais rapazinhos cantores.
Fernando Pessoa /A. Caeiro), um homem só, embrulhado em pensamentos de extrema genialidade…
Quanta maravilha neste mundo de acção e pensamento! A acefalia é, talvez, a excepção à regra. Mas, como disse Reinaldo Ferreira, “Mínimo sou, Mas quando ao Nada empresto A minha elementar realidade, O Nada é só o resto.” Com acefalia ou sem ela, o Homem é uma extraordinária criatura criadora.

HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 26.10.18
Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais. (…)
Ser poeta não é uma ambição minha,
É a minha maneira de estar sozinho.
Alberto Caeiro  In “O Guardador de Rebanhos”
O poeta que me perdoe, mas prefiro o incómodo à acefalia.
Quanto à poesia, creio que há muito quem se limite aos jogos de palavras e sons pelo que raramente ela faz sentido no papel; prefiro-a na vida.
II - ANTÁRCTIDA - Barney Swan sobreviveu dois meses no Pólo Sul só com energia renovável
Ao longo de 60 dias, um explorador percorreu a Antárctida com um trenó que tinha um sistema que lhe permitiu derreter gelo para ter água. Nessa expedição, iniciou também um desafio para limpar 326 milhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera.
PÚBLICO, 23 de Outubro de 2018,
Já tinha passado mais de um mês desde que Barney Swan começou uma expedição ao Pólo Sul e tudo se estava a complicar. “Andar só no gelo deixa-nos loucos. Só temos a nossa respiração e silêncio. É difícil especialmente um mês depois. Não há banhos, não há boa comida, nada”, conta agora. Além disso, o seu pai – Robert Swan – tinha abandonado esta aventura a meio. Mas havia algo que movia Barney Swan e que o fez continuar: inspirar as pessoas no combate às alterações climáticas. Afinal, na expedição de dois meses ao Pólo Sul – que terminou em Janeiro deste ano –, o explorador e a sua equipa tornaram-se os primeiros a andar no Pólo Sul apenas com energia renovável.
Barney Swan, de 24 anos, nascido no Reino Unido e agora a viver nos Estados Unidos, não se considera bem um explorador. Aliás, para si, um explorador é já algo obsoleto. “Todos sabem onde os mapas terminam, sabe-se explorar os oceanos profundos ou ir ao espaço. Somos aventureiros não exploradores”, considera. “Só queria ter uma história que fosse relevante para falar de desenvolvimento sustentável.”
No fundo, Barney Swan está a seguir os passos do seu pai agora com 62 anos. Em 1989, Robert Swan tornou-se a primeira pessoa a andar no Pólo Sul e no Pólo Norte. “As suas expedições foram épicas: não havia GPS, rádio, nem rede de protecção”, lembra Barney Swan. Como tal, Robert Swan fundou a organização 2041 ClimateForce, inspirado no explorador Jacques Cousteau. O nome da fundação refere-se ao Tratado da Antárctida, que determinou que o continente só deverá ser usado para fins pacíficos e científicos até 2041. “Basicamente, a fundação que o meu pai fez serve para educar e inspirar as pessoas.”
Ao longo da sua vida, Barney Swan sempre ouviu histórias sobre as expedições do pai e sentiu o peso do seu legado. Há uns anos, quando num encontro da NASA (em São Francisco) lhes falaram do que estava a acontecer na Antárctida, nomeadamente do degelo, pai e filho sentiram que tinha chegado o momento de fazerem uma expedição em conjunto. “Queríamos [passar] uma mensagem focada na Antárctida e que as pessoas se sentissem inspiradas.” Juntamente com mais duas pessoas, prepararam uma expedição ao Pólo Sul só com energia renovável.
Como conseguiram? Levaram nos seus trenós uns painéis solares – fornecidos pela NASA –, que derretiam gelo e lhes permitia ter água. “Com estes ‘fornos’ de gelo movidos a energia solar podíamos fazer cerca de seis litros de água quente”, recorda Barney Swan. Além disso, tinham biocombustível produzido pela empresa Shell a partir de lascas de madeira obtidas na Índia. “Tudo isto combinado e tínhamos um sistema de energia diferente, que nos permitiu conseguir andar milhares de quilómetros na Antárctida [andaram cerca de mil quilómetros até chegarem ao Pólo Sul em Janeiro] durante 60 dias de forma sustentável.”
Barney Swan refere ainda que – apesar de não ter notado as consequências das alterações climáticas durante a expedição porque só a longo prazo se tornarão visíveis – o seu pai sentiu a neve mais mole do que nas expedições anteriores.
Um espelho na neve
Enquanto andava todos esses quilómetros, Barney Swan diz que teve momentos inesquecíveis. “[O melhor] foi quando vi cristais de gelo no ar. Como a latitude é tão baixa, só acontece assim lá. E vi um arco-íris à volta do Sol. Foi lindo! A certa altura, tinha os pés e a cara gelada e já nem sentia as mãos. Os meus dedos não se mexiam. Mas, ao mesmo tempo, foi a luz mais fantástica que vi. Foi um momento superpoderoso.”
Outro dos momentos mais poderosos foi a desistência do seu pai. “Chegámos a meio do caminho e o meu pai disse que não conseguia continuar. Depois de me deixar ficou tudo mais silencioso e difícil”, lembra. Também recorda como ficou surpreendido com o seu aspecto quando chegou à estação no Pólo Sul Amundsen-Scott, uma base de investigação dos EUA. “Há lá uma esfera que reflecte – parece um espelho – e bandeiras [dos países que ratificaram o Tratado da Antárctida]. Já não tomava banho há muito tempo e quando olhei [para a esfera] … Uau! Olhei para mim depois de dois meses e parecia que tinha envelhecido e perdido quilos [perdeu cerca de 30 quilos].”
Ao mesmo tempo pensou: “Estava numa situação de sobrevivência, mas tinha sido eu a escolher. E tinha um propósito.Nessa mesma expedição, iniciou o Desafio ClimateForce, em que pretende limpar 326 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) da atmosfera até 2025. Esse objectivo insere-se dentro das ambições do Acordo de Paris, de 2015, que quer limitar a subida da temperatura até aos dois graus Celsius face aos níveis pré-industriais até ao final do século. “Queremos criar soluções inteligentes, usar redes de estudantes e famílias para reduzir o CO2, usando menos plástico ou considerando melhor o que se come [ou projectos a larga escala como reflorestação e limpeza dos oceanos]. Ou seja, coisas básicas que todos sabemos, mas que muitas pessoas não fazem.”
Além disso, há aventuras como uma viagem ao Árctico no próximo ano.Queremos que líderes, educadores e artistas venham falar de soluções e que vejam com os seus próprios olhos um urso polar ou um glaciar a cair no oceano. É um mecanismo que o meu pai usa há muito tempo [nos últimos 15 anos levou cerca de 3500 pessoas a expedições nas zonas polares] para envolver e inspirar as pessoas.” Aliás, Barney Swan esteve em Portugal na última sexta-feira para entregar o prémio de um concurso que o banco BNP Paribas desenvolveu internamente para levar os seus funcionários nessa expedição.
 “Neste momento, o CO2 é o elefante na sala. E as pessoas deviam preocupar-se mais”, frisa Barney Swan. Para si, a solução está nas acções diárias e nos incentivos que empresas e governos possam criar para que essas acções se tornem possíveis. “Não devemos comer carne nalguns dias da semana”, diz, acrescentando que ele só come frango e peixe. “Também devemos reconsiderar os plásticos de uso único, o carro que conduzimos ou a origem da nossa roupa. No fundo, tornarmo-nos cidadãos habilitados e consumidores que façam ouvir a sua voz e que influenciem políticas e o uso de certos produtos.”
E resume: “O mais preocupante é as pessoas pensarem que o problema é dos outros e não colocarem a responsabilidade nelas próprias. Assusta-me a passividade das pessoas sobre este assunto.”

sábado, 27 de outubro de 2018

Sentido de voto português para eleições brasileiras, sentido do comentário das esquerdas sobre Cavaco Silva


São de Maria João Lopes os textos do Público que seguem, o primeiro acerca das eleições brasileiras e o ponto de vista de alguns portugueses, com as respectivas razões desses. Naturalmente, os amantes da esquerda, bem como alguns assim-assim, odeiam Bolsonaro, mas querem mostrar que estão contra um Lula de esquerda que destruiu, ao que parece, o sentido da palavra democracia, ao permitir tanta corrupção, favorecedora dos seus próprios ideais de sobrevivência, por isso parece que não arriscam informar que votariam rotundamente Fernando Haddad, seu apoiante, mas apenas que não votariam em Bolsonaro, um criminoso em potência. Jaime Nogueira Pinto, corajosamente, afirma-se a favor de Bolsonaro, o que lhe merecerá muitos doestos de uma sinistra esquerda, como se esperaria.
Quanto a Cavaco Silva, apenas informo que o apanhei já em plena entrevista de Clara de Sousa, no Canal 5, sobre o seu segundo livro de memórias políticas que publicou, e gostei da sua boa aparência física e arrojo mental em defender os seus pontos de vista, que lhe mereceram sempre os ataques dos da sujeição aparente aos ideais democráticos. De facto, uma vez mais, ele é tratado com muito desprezo irónico pelos tais, no artigo de Maria João Lopes. Mas os comentários de apoio e simpatia, desta vez foram superiores aos negativos. Apenas cito um.
I - Jaime Nogueira Pinto votaria Bolsonaro. Nobre Guedes também o admite
O politólogo votaria Bolsonaro, por entender que “se proclama nacionalista e religioso e defende os valores tradicionais contra a agressão das contra-culturas marginais que se querem impor como regra”. João César das Neves votaria Haddad.
PÚBLICO, 26 de Outubro de 2018
À pergunta “em quem votaria nestas eleições brasileiras e porquê?”, o politólogo Jaime Nogueira Pinto assume sem rodeios: “Em Jair Bolsonaro”. Não é o único no espectro da direita em Portugal a admitir o voto no controverso candidato de extrema-direita às eleições presidenciais brasileiras. O ex-dirigente democrata-cristão Luís Nobre Guedes também admite que escolheria abster-se ou votar Bolsonaro, sempre “contra o PT”.
Numa resposta enviada por escrito ao PÚBLICO, Jaime Nogueira Pinto explica as razões pelas quais votaria em Bolsonaro (pela negativa e pela positiva) e ainda as “reservas”. Que razões apresenta, então, para votar em Bolsonaro “pela positiva”? Porque Bolsonaro se proclama nacionalista e religioso e defende os valores tradicionais contra a agressão das contra-culturas marginais que se querem impor como regra.
Quanto às “reservas”, acrescenta:Dito isto, acho que por vezes Bolsonaro usa uma linguagem demasiadamente brutal e violenta na polémica. Mas não serão esses excessos retóricos – e um ‘processo de intenções’ que a esquerda quer levantar e sobrevalorizar – que devem impedir alguém de votar contra a continuação do poder petista.”
Já em relação aos motivos que o levariam a votar “pela negativa” em Bolsonaro,  Jaime Nogueira Pinto escreve quea alternativa é Fernando Haddad, um subestabelecido de Inácio Lula da Silva e por isso um representante de um ‘mecanismo’ de corrupção organizada que governou o Brasil por mais de uma década”. E acrescenta ainda: “Devo dizer que as histórias do Mensalão, do Petrolão e do Lava-Jato me chocaram e entristeceram, pois, apesar das diferenças políticas, tinha uma certa simpatia por Lula, e nunca o teria imaginado cúmplice de tais esquemas. E também porque o grau de insegurança, com mais de 60.000 assassinatos só em 2016, chumba qualquer governo”.
Quanto a Nobre Guedes, que sublinha ter vivido cerca de cinco anos no Brasil e continuar a ter escritório de advogados em São Paulo e no Rio de Janeiro, escolheria um de dois caminhos: a abstenção ou o voto em Bolsonaro.
“Votaria convictamente contra o PT. Dizer que votaria a favor, é mais difícil. Acho o PT a maior tragédia que o Brasil conheceu. Aquela corrupção generalizada, a violência, a pobreza. Acho que era minha obrigação, como democrata, votar contra aquilo que põe em causa a democracia que é este reino do PT. É como vejo as coisas, se calhar mal, mas é assim”, diz, recordando as eleições em que o comunista Álvaro Cunhal apelou ao voto no socialista Mário Soares, porque o adversário era a direita representada por Freitas do Amaral. “Se for preciso tapem a cara [de Soares no boletim de voto] com uma mão e votem com a outra”, pediu Álvaro Cunhal.
Nobre Guedes dá uma reviravolta à história, para falar do presente e das razões que o levam a admitir um voto em Bolsonaro: “Tenho a certeza que dr. Álvaro Cunhal não concordaria com Mário Soares e votou”, diz, contrariando que seja o candidato Jair Bolsonaro quem poderá colocar em causa a democracia no Brasil. “O que eu acho que põe em causa a democracia do Brasil era uma eventual vitória do PT, que originaria uma profunda revolta social e popular”, afirma.
“Não concordo com Bolsonaro em inúmeras coisas, com aquilo que tem dito, estou mesmo nos antípodas, mas concordo muito e bastante na parte económica”, afirma Nobre Guedes, sem concretizar, no entanto, quais as propostas ou afirmações de Bolsonaro que merecem discordância. “Na parte política, quem me conhece sabe que não subscrevo muitas coisas que tem dito”, declara. Quais, em concreto? As que se referem aos homossexuais? Às mulheres? Aos negros? “Não ouvi, tem de se ver o contexto [em que foram ditas as afirmações de Bolsonaro], mas sim, são coisas unânimes em se discordar. Mas, para mim, a questão é ser condescendente ou não com o tempo que o PT esteve no poder”, afirma.
César das Neves votaria Haddad
Também há, porém, no espectro da direita, quem recuse o candidato Jair Bolsonaro. O professor universitário e economista, João César das Neves, por exemplo, diz ao PÚBLICO por email que votaria Fernand Haddad: “Porque temo pela democracia brasileira na alternativa.”Nesta semana, a líder centrista, Assunção Cristas, disse em entrevista ao PÚBLICO e à Renascença que não votaria nestas eleições no Brasil. À pergunta “abstendo-se, não estaria a dar a vitória a Bolsonaro?”, respondeu: “Não sei. Dependeria de todos os que votassem do outro lado. Eu certamente não seria capaz de votar num partido que destruiu o sistema democrático brasileiro, que é responsável pelo outro extremismo que está a crescer. Como também, apesar de ser do espaço político de centro direita, não me revejo nos extremismos de Bolsonaro e não seria capaz de votar nele.”
Até agora, porém, têm sido mais os intelectuais, políticos e artistas portugueses, da direita à esquerda, a posicionarem-se contra Bolsonaro. A 17 de Outubro, o PÚBLICO noticiava que nomes como o de Eduardo Lourenço, Freitas do Amaral, Francisco Louçã, Francisco Pinto Balsemão, Pepetela, Ricardo Araújo Pereira, José Pacheco Pereira, Boaventura Sousa Santos, Manuel Alegre, Sérgio Godinho, entre muitos outros, assinavam um texto, apelando à derrota do candidato Bolsonaro.
No texto, Solidariedade com a democracia e com os democratas do Brasil, pode ler-se que o candidato Jair Bolsonaro “promove o elogio da tortura e da ditadura, que propõe a discriminação das mulheres e o desprezo pelos pobres, representando uma cultura de ódio”.
UM COMENTÁRIO:
 tp.ocilbup@sepoljmJosé Sousa: Os votantes da marionete de Lula, o Haddad, envolvido em diversos processos, são efectivamente responsáveis morais e alguns materiais de todos os crimes do reinado do PT. Passaram pelo governo durante mais de uma década e o resultado miserável está à vista. Os mais de 60 0000 mil assassinatos, ligações às piores ditaduras e Farc, assim como a tentativa de destruição cultural do país, através do seu marxismo cultural, vai ser travada finalmente a alguém que não é o melhor político do mundo, mas é dos coerentes e corajoso. Oxalá que os muitos interessados pelo velho sistema não o eliminem. Comunismo nunca mais. E será mais um prego no caixão do activismo político transvestido de jornalismo.

II - CAVACO SILVA - PCP: “Percebe-se que Cavaco queira mostrar que existe.” BE chama-lhe “ressabiado”
Comunistas recordam ainda “a patética tentativa de manter com vida o Governo PSD-CDS que havia sido política e socialmente condenado nas eleições de 2015”.
PÚBLICO, 26 de Outubro de 2018
O PCP já reagiu às declarações do antigo presidente da República Cavaco Silva, que revelou estar surpreendido com a facilidade com que bloquistas e comunistas “se curvaram” perante as imposições ditadas pelo ministro das Finanças. “Percebe-se que Cavaco Silva queira mostrar que existe”, começam por escrever os comunistas, acrescentando ainda que “o que Cavaco Silva não tolera nem se conforma é com o facto de o PCP não se curvar” perante os objectivos que perseguiu enquanto primeiro-ministro e Presidente.
Já para os bloquistas, Cavaco ataca o BE porque o partido tem agora mais força: “Esta menção explícita ao BE não é apenas por ser um homem ressabiado, com esse traço ácido perante a realidade que muda. Acho que é uma referência que Cavaco tenta fazer, porque hoje o BE tem mais poder. É um ataque político, porque hoje BE tem capacidade de influenciar as decisões”, diz o deputado José Manuel Pureza.
Na nota enviada pelo gabinete de imprensa do PCP, os comunistas escrevem ainda: “Percebe-se que Cavaco Silva queira mostrar que existe. O PCP afirma e afirmará o direito do país a um desenvolvimento soberano inseparável da libertação da submissão às imposições da União Europeia e ao euro.”
Os comunistas acrescentam também que “o que Cavaco Silva não tolera nem se conforma é com o facto de o PCP não se curvar aos seus objectivos, à sua obsessão de querer manter o país, os trabalhadores e o povo amarrados à marcha de exploração, empobrecimento e saque de recursos nacionais que, enquanto primeiro-ministro antes, e Presidente da República depois, sempre procurou garantir, como o revela a patética tentativa de manter com vida o Governo PSD-CDS que havia sido política e socialmente condenado nas eleições de 2015”, recordam ainda.
Em causa estão as declarações que Cavaco Silva fez na manhã desta sexta-feira à TSF. A propósito do lançamento do volume mais recente das suas memórias, «Quinta-Feira e Outros DiasDa Coligação à Geringonça», compara a atitude destes partidos de esquerda face à austeridade decretada nos tempos do Governo de Pedro Passos Coelho com aquela que manifestam agora com o Governo socialista: “Agora aceitam com toda a facilidade a imposição do ministro das Finanças – correctamente –  para respeitar aquilo que ele próprio procura impor no Eurogrupo aos outros países, nos mais variados domínios fiscais ou de despesas públicas.”
O “homem ressabiado”
A reacção do BE às palavras de Cavaco também não tardou: “Sempre que no plano económico e no plano social Cavaco quis recuar e sempre que o PS hesitou no caminho, o BE esteve do lado do avanço, ou seja, Cavaco recua, PS hesita e BE avança”, diz José Manuel Pureza, dando de seguida exemplos. “O PS queria congelar as pensões. Cavaco apoiaria certamente o programa do PSD, que era não de congelamento, mas de diminuição de pensões. E o BE conseguiu um aumento de pensões. O PS queria o despedimento conciliatório, Cavaco estaria certamente de acordo, deu vários sinais de que era precisar flexibilizar as relações laborais, o BE conseguiu vitórias para estabilidade das relações laborais”, enumera o deputado.
“Esta menção explícita ao BE não é apenas por ser um homem ressabiado, com esse traço ácido perante a realidade que muda. É uma referência que Cavaco tenta fazer, porque hoje o BE tem mais poder. É um ataque político, porque hoje o BE tem capacidade de influenciar as decisões.”
Em suma, diz o bloquista: “Não tem sido um caminho fácil, mas nesse caminho Cavaco tem estado de um lado e o BE do outro. O país tem estado melhor graças ao empenho do BE e Cavaco não gosta desse país melhor. Não gosta disso, é inimigo disso. O país avançou com o contributo do BE e o Cavaco está onde sempre esteve, contra esses avanços.”
UM COMENTÁRIO
Gabriel Moreira, Lisboa 26.10.2018 : Oh ti Jerónimo. O Cavaco Silva existe mesmo. Foi o único português que venceu quatro eleições com maioria absoluta. Não precisa para isso de fazer qualquer esforço. Mas eu sei, o PCP precisa sempre de demonstrar mesmo, que apesar dos seus 10% de votantes também existe.