sábado, 31 de agosto de 2019

De ir às lágrimas



Uma panorâmica perfeita das excentricidades pedantes deste nosso mundo fraudulento que não se coíbe de escarrar, do fausto das suas empreitadas de custos vultuosos, figurinhas da nossa ternura inócua, endeusando-as, como meios de alerta previdentes, quais pitonisas avisadoras, dos destinos da humanidade, para a nossa parolice dengosa e cega ante o paradoxo. Tal é o artigo de Alberto Gonçalves, de uma causticidade sem peias, na sua troça impagável, que muitos comentadores admiram – troça que merecemos, mas sem resultados práticos, laracheiros que somos, para mais hoje, tempo de selfies…
A pequena Greta e os seus minúsculos devotos /premium
ALBERTO GONÇALVES
OBSERVADOR, 31/8/19
A pequena Greta mostrou aos brutos que atentam contra a natureza a maneira correcta de se viajar: em veleiros que pertencem a príncipes e custam milhões.
Após enfrentar a fúria dos mares e as más-línguas que a dizem patrocinada por lobbies políticos e empresas de energias “verdes”, Greta Thunberg chegou enfim à costa americana. Em Nova Iorque, foi recebida por 200 pessoas, ou cerca de 0,002% da população local. Melhor ainda, recebeu uma mensagem do eng. Guterres, sujeito com olho para identificar causas nobres e descobrir novos talentos. O eng. Guterres elogia a “determinação e a perseverança” da pequena Greta durante a epopeia marítima (entrou num barco e ficou nele até atracar). O elogio é merecido. Desde logo, a pequena Greta mostrou aos brutos que atentam contra a natureza a maneira correcta de se viajar: em veleiros que pertencem a príncipes e custam milhões. Se você, pobre de espírito, não desencantar um veleiro semelhante para se deslocar ao Algarve ou a Torremolinos, resta-lhe permanecer em casa, e investir os mil e duzentos euros das férias a emoldurar retratos da pequena Greta, a santinha que faz jus à época.
Entretanto em Manhattan, a pequena Greta regressou ao activo, ou ao “activismo”, que é o trabalho dos que não trabalham em profissões chatas e mal remuneradas. Segundo o “Público”, a missão da pequena Greta começará com uma “greve pelo clima” em frente à sede das Nações Unidas. O “Público” não explica a que é que a pequena Greta faz greve. A um emprego nas minas de Skellefteå? À escola? A um workshop de rendas de bilros? Certo é que a pequena Greta saberá educar os americanos sem educação (um pleonasmo) nas matérias ambientais. É curioso ter sido necessário uma criança de 16 anos – diagnosticada com autismo ligeiro e à espera de um diagnóstico de presunção terminal – para alertar a humanidade sobre os perigos que a ameaçam. E é curiosíssimo que a criança nem sequer precise de dizer nada de especial. E não diz. No meio da ignorância própria da idade e do deslumbramento, a pequena Greta, que pede ao sr. Trump que “ouça a ciência”, limita-se a repetir os clichés da ortodoxia e, quando estes não parecem suficientemente assustadores, a inventar versões distorcidas dos clichés. No fundo, a pequena Greta traduz o típico alarmismo do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) para uma linguagem mais alarmista, mais simples e mais adequada a cabecinhas como a do eng. Guterres e dos eleitores do PAN.
Exemplos? Há três ou quatro meses, um relatório do IPCC avisava “ser provável que o aquecimento global atinja 1,5ºC entre 2030 (ou daqui a 11 anos) e 2052 se continuar a aumentar à taxa actual”. No dialecto da pequena Greta, a frase transformou-se em “De acordo com o relatório do IPCC, estamos a 11 anos de se iniciar uma reacção em cadeia humanamente incontrolável”. É a mesma coisa? Não é a mesma coisa: é mais alarmista, mais simples e mais mentirosa. E é o estilo de primarismo notável e demagogia pedagógica que convém aos tempos que correm, tempos que não deixam os meros factos atravessarem-se no caminho de um bom pânico generalizado. Se a salvação da Terra implica reduzir a respectiva população a níveis medievais de crendice e fanatismo, força. O importante é legar um planeta imaculado aos nossos filhos. Na condição, claro, de os nossos filhos serem tão conscienciosos quanto a pequena Greta. Se não forem, os fedelhos e o planeta que se lixem.
O que vale é que há esperança, e pequenas Gretas em abundância. Passei a semana anterior com amigos numa casa de praia na Catalunha, região em que jurara nunca pôr os pés (salvo pela temperatura do mar, evidentemente resultado das perturbações meteorológicas, não valeu a pena quebrar a jura). Os amigos têm prole, uma garota de 5 anos e duas adolescentes. Todas reproduzem o que aprendem na escola. Na escola, aparentemente, a petizada não aprende português, matemática ou a discernir que “funk” brasileiro não é música. Em compensação, absorve farrapos soltos de informação inútil ou discutível. Ou seja, os meninos e as meninas partilham os palpites da pequena Greta e do semi-alfabetizado médio.A separação do lixo é fundamental” (concedo que o lixo unido é difícil de aturar). “O homem está a destruir tudo” (não identificaram o homem em questão, pelo que não pude apresentar queixa nas autoridades). “A Amazónia é o pulmão do mundo” (e o parque de Monsanto, um joanete?). Etc.
Significa isto que a reciclagem não é importante? Depende. E que a intervenção humana não é influente? Depende. E que a Amazónia não é o pulmão do mundo? Depende. No que toca à ecologia, tudo depende imenso, e por depender assim é que evito convicções firmes nesses domínios do conhecimento. Veja-se o caso da exacta Amazónia, que ardeu numa escala incomparável nos idos de 2004, 2005, 2006 e 2007. Alguém elevou o tema a manchete angustiada? Alguém organizou petições internacionais? Alguém convocou milhares de criaturas a fim de protestarem nas capitais? Alguém pediu a intervenção de chefes de Estado e milagreiros diversos? Alguém, em suma, se maçou? Ninguém. Porquê? Porque na altura o presidente do Brasil era o sr. Lula e não dava jeito criticar um amigalhaço dos pobres, dos oprimidos, da cachaça e de uns trocos por fora. Hoje, que o presidente é o sr. Bolsonaro, ai Jesus que a Amazónia está em chamas. Ai Jesus, vírgula: as aflições versam apenas a parte da Amazónia que pertence ao Brasil. A da Bolívia, governada por outro camarada com consciência social, pode desaparecer à vontade. Aliás à imagem das florestas de Angola e do Congo, em processo de combustão acelerada e ignorada. O ambiente é um assunto complicado, tão complicado que só uma criança o entende. Uma, ou milhões delas.
COMENTÁRIOS
Pedro Reis: Tempos medievais aproximam-se. Antigamente era a falta de informação, agora é o excesso de dela. A informação e desinformação é tanta que andam que nem baratas tontas, ao sabor de modas e de novos credos. Como que à espera de encontrar um caminho, esperou-se por um homem providência, hoje dá-se crédito a uma Greta endeusada.
Antonio Fonseca: " Há três ou quatro meses, um relatório do IPCC avisava “ser provável que o aquecimento global atinja 1,5ºC entre 2030 " Estas previsões são uma forma de terrorismo. Quando o ZERObama foi presidente dos USA encomendou um estudo ECOTERRORISTA onde se concluía que partes dos USA iriam ficar submersas. Entre elas Martha's Vineyard. Agora o mesmo ZERObama vai comprar uma mansão em Martha's Vineyard por 15 milhões. É ver como levam a sério essas previsões.
Manuel Marques 1. Após 2001, 2018 foi o ano recordista do menor número de fogos, em 2019 cresceram uns 60% mas mesmo assim é um dos anos com menos fogos florestais no Brasil. https://forbes.uol.com.br/wp-content/uploads/2019/08/gra%CC%81fico_ince%CC%82ndios_florestais_26.jpg 2.O luxo industrial de um veleiro que permite retornar à Europa cavalgando um único sistema frontal https://www.youtube.com/watch?v=diM1h4WTSgc  Qual a pegada humana envolvida na construção deste iate hi-tech?
Cinete: Eu sou dos que gosto imenso desta pipi das meias altas (não reparei no tamanho, mas concedo) e, solidário com ela, também quero ir a NY protestar, fazer greve ou atirar tomates ao Trump. Pouco importa, sou a favor do ambiente e tudo o mais. Como não tenho dinheiro nem um príncipe com um barquito de € 34.000.000 (número que li algures como sendo o custo do dito) fico por cá, a lamentar Pedrógão, Monchique, etc., que não queimou nada de relevo e, no entretanto, aproveitei ver um programazito no canal Odisseia intitulado, salvo erro, "Como o clima mudou a História", o qual foi um pouco mais elucidativo que as tretas da pipi acima referida e concluiu, como é óbvio, que a única permanência ao longo dos milénios a nível do clima é que está sempre a mudar (eu já desconfiava disso, pois quando uma vez estive na cidade de Óstia, em Itália, só assim se percebia porque é que aquele imenso e antigo porto romano de mar do século I da nossa era estava tão longe... do mar. É que, como é óbvio, o clima entretanto foi mudando e o porto... secou!)
José Ramos A pequena Greta, e os miúdos da sua idade, devido à sua pouca idade e nenhuma experiência, estão sujeitos ao tipo de doutrinação em voga em cada época ministrada por gente crescida, responsável e com interesses enormes, geralmente camuflados. A diferença entre os miúdos de hoje e, por exemplo, os dos anos de 1960 - garanto que houve tipos encharcados em ervas de proveniências diversas, ácido lisérgico e outras substâncias, que acreditaram conseguir fazer levitar o Pentágono através da concentração das suas alucinadas mentes - é que os de hoje são levados a sério por uma sociedade cada vez mais infantilizada e acrítica, A mundivisão e os desejos da pequena Greta não andam longe dos disparates e discursos feitos por outras Gretas de décadas passadas, ligeiramente mais crescidas que esta e geralmente candidatas ao título de Miss Universo ou algo parecido. Hoje, como essas coisas são consideradas "incorrectas" por censoras puritanas de carregar pela boca e, geralmente, com o prazo de validade ultrapassadíssimo há lustros, as Gretas metem-se no veleiro fino e rumam às NU. Antigamente, com um bocado de sorte, iam apanhar sol junto à piscina de Hugh Hefner e talvez viessem a ser Miss July ou September.
Fernando Gomes da Costa Pelo menos construímos um elo com a petizada. No nosso tempo, a Pipi das Meias Altas. Agora a Pipi das Marés Altas...
Paulo Silva: Lido o artigo na íntegra apraz-me registar que as expectativas não foram defraudadas. Caro AG, que a voz nunca lhe doa na denúncia da infantilização em curso pelos educadores do ‘socialismo de cátedra’, nesta e em muitas outras matérias...
Jorge Maria Soares Lopes de Carvalho: Gil Vicente:” RIDENDO CASTIGAT MORES” Absolutamente Extra o ordinário habitual dos lacaios da comunicação canhestra. Obrigado A. Gonçalves
Manuel Ferreira: Dois exagerados; a pequena Greta e o Sr. Alberto!
Liberal Impenitente > Manuel Ferreira: Equipará-los é um grande erro.
André Ondine: Gosto sempre de ler as crónicas de Alberto Gonçalves. Desta vez, tendo gostado de ler, não concordo. Independentemente das contradições e do iate milionário, se o percurso de Greta contribuir (e julgo que está a contribuir) para uma tomada de consciência de novas gerações para um problema evidente e urgente, e com uma consequente mudança de comportamentos, isso não é bom? Eu penso que é. Claro que estas questões têm sido hipocritamente apropriadas por cínicos como o BE, PAN e PS novo turco, mas não podemos ser cinicamente Costistas em relação a tudo e todos.
Liberal Impenitente "Veja-se o caso da exacta Amazónia, que ardeu numa escala incomparável nos idos de 2004, 2005, 2006 e 2007.": O embaixador do Brasil em Paris disse isto mesmo. Seria importante que os jornalistas averiguassem, mas confio em Alberto Gonçalves. Porquê? Porque não tenho nenhum motivo para desconfiar.
Quanto ao artigo, é simplesmente delicioso.
Pedro Ferreira: Excelente artigo. Uma sociedade infantilizada e de consumidores de lixo está extremamente vulnerável  à manipulação, mas dá gosto ver o AG a desmontar as torpes técnicas que usam.
Stra. Anabela Faísca: É um gosto ler as crónicas do Alberto Gonçalves. É um absurdo existir um pobre de espírito chamado Guterres, um bando de malfeitores radicados na ONU a querer controlar o mundo e a Greta, para miúda e ainda por cima com asperger não se orienta nada mal. Terá um agente para tratar de patrocínios e contratos?
Tiago Queirós > Stra. Anabela Faísca: Alguns dos mais confessos e ardentes defensores da Revolução Bolchevique foram ricos proprietários.


Se cá nevasse, fazia-se cá ski



O texto infra, que, pelo título, se oferece como um bom exercício pedagógico, bem no fundo apresenta-se como um breve e útil despejar de dados históricos sobre a temática dos direitos humanos, através dos tempos, e nesse aspecto o apreciamos. De facto, ao historiar a evolução de um conceito que desde sempre coexistiu nas sociedades humanas regidas por dualidades irredutíveis – o Bem e o Mal, o Branco e o Preto, a Matéria e o Espírito, o Céu e o Inferno da metáfora teológica … (o bom senso sendo antes equiparado às meias tintas, ao nem tanto ao mar nem tanto à terra dos equilíbrios baços, que enervam os de aspirações mais afoitas) – os direitos humanos têm sido caso de consciência desde sempre considerado, e gradualmente mais enriquecido de novas achegas valorativas. O certo é que, quanto maior o afinco sobre a defesa desses direitos, mais o mundo é pervertido por desequilíbrios e violência sem tréguas, envilecido pelos discursos de ataque contra os que representam a facção egoísta, segundo o ponto de vista faccioso do grupo solidário ou que se designa como tal, no seu pobre maniqueísmo de empréstimo, que esconde, afinal, as mesmas ambições de todos. Sim, a convulsão e as tais desigualdades sociais são cada vez mais fundas, e a defesa piedosa dos mais sensíveis relativamente aos direitos humanos logo se traduzem em discursos exaltados contra os promotores – reais ou imaginários – das desigualdades sociais. E o papel da educação para os direitos humanos, embora se afigure válido, não deixa de ser irrisório, com tanto desequilíbrio que pende sobre a Terra.
OPINIÃO
Qual o papel da educação para os direitos humanos?
No ano do septuagésimo aniversário da Declaração dos Direitos Humanos, saberemos o que são os direitos humanos? Para que servem? Quem os protege?
FILIPE PINTO
JOANA MORAIS E CASTRO
PÚBLICO, 30 de Agosto de 2019
A educação para os direitos humanos tem potencial para ser a abordagem pedagógica para a aprendizagem da coragem e da esperança no mundo. Na sua base contém princípios da justiça social e de que forma eles estão ancorados no direito nacional e internacional. Para além dos elementos teóricos e históricos, pode ser um instrumento que fomenta a acção, para que cada um de nós possa ser o protagonista de mudanças. No centro, devem estar materiais e metodologias que nos permitam abandonar o papel de simples observadores e que activem a responsabilidade de sermos defensores dos direitos humanos.
Partindo desta base, existem elementos fulcrais para a educação para os direitos humanos – o corpo dos direitos humanos – que procuraremos desenvolver: a dignidade humana, a empatia e o activismo servidor.
A dignidade humana como a cabeça dos direitos humanos:
A Declaração Universal dos Direitos Humanos começa, no seu preâmbulo e no seu art. 1.º, a declarar que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos.
Na Roma antiga, dignidade tinha sentido moral, político e social. Era, por exemplo, reconhecida a quem tinha altos cargos públicos (como os magistrados – dignitates) ou pertencia a uma determinada classe social. Posteriormente, o cristianismo foi construindo a ideia de dignidade. Ao longo de milhares de anos a ideia de dignidade não teve uma distribuição igual e em muitas sociedades continua a não ter, existindo uma discriminação com base numa série de razões (religiosas, políticas, étnicas, etc). No mundo ocidental, porém, a dignidade tem vindo a ganhar um relevo social e jurídico começando a ser considerada como um valor cuja dimensão é intrínseca ao ser humano. A partir desta ideia nasceram e desenvolvem-se os direitos humanos.
Como se protege a dignidade humana? Os direitos humanos são direitos que uma pessoa tem por se tratar de um ser humano, são pertença de todas as pessoas de forma igual, universal e permanente e são as condições básicas sem as quais uma pessoa não pode viver com dignidade. Violar um direito humano é tratar uma pessoa como se ela não fosse um ser humano. Defender os direitos humanos é exigir que a dignidade humana de todos os indivíduos seja respeitada.
Esta noção de que qualquer pessoa, em virtude da sua humanidade, detém certos direitos, é uma ideia recente, apesar de as suas raízes se encontrarem em ensinamentos culturais antigos. Por exemplo, a maior parte das sociedades partilhou tradições semelhantes à “Regra de Ouro”: “Faz aos outros o que gostavas que te fizessem a ti” (Vedas Hindus, Código Babilónico, a Bíblia, o Corão e os Anacletos de Confúcio, Códigos de Conduta Incas Azteca, etc). Apesar disso, grande parte dos documentos históricos antecedentes à Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), na prática, não se aplicavam aos negros, mulheres e a membros de certos grupos. De facto, a questão dos direitos humanos tornou-se preponderante logo após o final da Segunda Guerra Mundial. O extermínio de seis milhões de judeus, povo roma (ciganos), homossexuais e pessoas com deficiência horrorizou o mundo. Foi neste contexto, a 10 de dezembro de 1948, que nasceu a Declaração Universal. A DUDH teve e tem uma influência substancial. Os seus princípios foram integrados nas constituições de mais de 185 nações que fazem parte da Organização das Nações Unidas (ONU). Embora não seja um documento com valor legal compulsório, a Declaração e os seus pactos tornou-se num estatuto de direito internacional convencional.
Por todo o mundo, os maiores guardiões dos direitos humanos têm sido simples cidadãos. Também as Organizações da Sociedade Civil têm desempenhado um papel importante ao chamar a atenção da comunidade internacional. É assim que se vai garantindo a protecção dos direitos humanos e é por esta razão que a educação para os direitos humanos é crescentemente importante. Não é suficiente existirem actores governamentais sensíveis ao problema dos DH e instrumentos de garantia de protecção, apesar de naturalmente serem os grandes promotores. Para os direitos humanos, para a sua salvaguarda e evolução, cada pessoa é fundamental.
A empatia enquanto tronco dos direitos humanos:
É-nos mais fácil a compreensão das alegrias e dos sofrimentos dos outros se estes nos forem mais próximos. As distâncias culturais e geográficas acompanham frequentemente as distâncias do coração e muitas vezes evitamos a interacção com aqueles que consideramos diferentes, acabando por vê-los à luz de lentes desfocadas e de estereótipos. Acresce que, no mundo em que vivemos, a mobilidade humana é cada vez maior e a discriminação cultural, religiosa ou étnica tem ganho proporções inconcebíveis. Em alguns pontos do planeta acentuam-se discursos e acções de ódio, que são claras violações aos direitos humanos. Lamentavelmente, ao encontrarmo-nos distantes desses pontos geográficos, ainda que não subscrevamos tais discursos e actos, acabamos, com frequência, por nos “deixarmos no sofá”, caindo na indiferença silenciosa que agudiza as situações.
A crise dos refugiados é um exemplo entre muitos e, também neste caso, é necessário que passemos a ver aqueles que um dia foram empurrados para esse estatuto por terem de fugir da guerra ou de outro tipo de catástrofe, não em função das suas diferenças étnicas ou religiosas, mas como pessoas que partilham da nossa comum condição humana: pessoas que sonham, riem, choram e têm valor como todos nós. Neste caso concreto, pese embora muitas das pessoas que se encontram na situação de refugiados sejam por vezes mal recebidos em alguns países, são imensas as pessoas e grupos que são movidos pelo impulso humano da empatia, que se põem nessa posição, por vezes desconfortável, de se colocarem no lugar dos outros.
É aqui que educar para os direitos humanos se torna fundamental, pois é necessário um compromisso resiliente por parte de todos com a protecção dos que são vítimas de violência ou discriminação. Conforme dito, não basta fortalecer as estruturas jurídicas institucionais, nem chega a acção da ONU e de tantas Organizações da Sociedade Civil que se empenham pela defesa e promoção dos direitos fundamentais. No final, para que se possa construir com eficácia uma sociedade global onde a dignidade humana seja respeitada, é preciso que essa mesma sociedade, constituída por cada um de nós, cultive a atitude empática (o tal tronco) que faz alargar a lógica e o pensamento racional,
que compreenda com o coração que tem poder para transformar o seu pequeno contexto e que o impacto dessa pequena transformação na rede global é decisivo para que as relações se reconfigurem positivamente e para que o mundo se torne num lugar de tolerância (mas de intolerância face à violência e discriminação).
Activismo e serviço, os membros dos direitos humanos:
Os membros do corpo dos direitos humanos são, como já referimos, as pessoas e a sua acção. A educação para os direitos humanos pretende reforçar o conhecimento (através da análise crítica das situações), alterar atitudes (estimulando o diálogo e a empatia) e alterar comportamentos (promovendo a capacidade de agir e defender os direitos humanos). Activismo e serviço surgem nesta última linha de acção. Com frequência, o “activismo” é associado ao conceito de acção, resistência ou desobediência, e o “serviço” ao conceito de obediência, pelo queactivismo servidorsurge paradoxalmente. No entanto, é neste aparente paradoxo que podemos encontrar os ingredientes essenciais para a transformação social, sobretudo, para o trabalho em prol do bem comum e defesa dos direitos humanos. A dimensão do serviço pressupõe uma ética do cuidado através da máxima de que não se pode agir se não se cuidar. Activismo, por outro lado, está relacionado com o olhar num determinado momento da história da humanidade, à luta contra as injustiças ou à história dos movimentos sociais, à arte ou à resistência. A possibilidade e o alcance do ativismo servidor podem ser testemunhados através do estudo dos movimentos sociais e políticos (Movimento sufragista, Movimento de vida independente das pessoas com deficiência, etc.) e de personalidades como Nelson Mandela, Madre Teresa de Calcutá, Gandhi, Martin Luther King, entre outros.
A educação para os direitos humanos tem como objectivo melhorar a compreensão, atitude e comportamento em relação aos direitos humanos. Para tal, é necessária uma abordagem participativa e interactiva tendo em conta estas três componentes do corpo dos direitos humanos. No entanto, deve ter-se em conta o conteúdo a discutir e de que forma este deve ser contextualizado, mantendo-se equilíbrio e foco pois muitas questões relacionadas com os direitos humanos são chocantes, difíceis de compreender ou estão demasiado distantes da nossa vida. Por outro lado, é estreita a linha que separa uma discussão aberta de uma apresentação chocante, a promoção de uma mera empatia ou de uma verdadeira solidariedade. Para garantir este foco e equilíbrio deve-se ter em conta a abordagem holística, as faixas etárias, o ambiente social, escolar e cultural, bem como utilizar manuais pedagógicos adequados.
Professor na Área Transversal da Economia Social da Universidade Católica Portuguesa, no Porto
Professora da Área Transversal de Economia Social da Universidade Católica Portuguesa no Porto

COMENTÁRIOS:
Euros de Eos, 18:08: Vamos lá ver se agora passa, que nos defensores dos DH não está propriamente a liberdade de expressão. Antes era a Catequese, a que consegui escapar. Agora são os DH, que não são muito diferentes, no conteúdo e na intenção. Se te baterem numa face, dá a outra. Se o outro não tiver de comer, dá-lhe metade da sandes e paga mais impostos. Se o outro não tiver trabalho, reparte o teu ordenado com ele ou aceita uma redução no vencimento. Todos bons, todos pobrezinhos, será dos pobres o reino dos céus.
manuelserra72: A empatia, como a inteligência, são recursos humanos que não foram distribuídos de forma igual pelas pessoas. Tal como a inteligência, não há provas de que a empatia possa ser aumentada, pelo menos a nível individual. Há diferenças fundamentais entre discurso e acção. O que é o ódio? Pode a supressão da expressão do ódio suprimir o ódio? A discriminação é sempre má? Ou seja, certos conceitos são suficientemente vagos e com fronteiras indefinidas, para me interrogar que tipo de projecto está por trás destas aparentes boas intenções dos "direitos do homem". Estamos a caminho de uma sociedade perfeita que vai ser conseguida pela engenharia social? Tenho a impressão de que já tentámos isso no passado com os resultados que se viu. Veja o François Furet e o Samuel Moyn com "The last Utopia"...
No clima actual, fortemente polarizado, onde certas opiniões são logo categorizadas de "ódio" e por isso proferidas por sub-humanos, interrogo-me quais são as verdadeiras motivações dos que proclamam os direitos humanos. Resguardados por uma auto-proclamada atitude empática e humana, alguns decidem menorizar e dirigir o ódio (e por vezes violência) contra os que não se alinham nessa forma de pensar. Às vezes é útil ver as verdadeiras acções para lá da retórica para se perceberem as verdadeiras motivações.


sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Olha a mala



O ministro da melena loira expôs à rainha a sua vontade de encerrar o Parlamento, provavelmente no nobre intuito de dar descanso de férias ao pessoal, e a rainha confirmou, agarrada à eterna malinha que a ajuda a sustentar a pose e o poder. Enquanto a malinha da rainha permanecer, no rigor do seu simbolismo, que, impassível, atravessou épocas em evoluções sucessivas que foram dando que falar, com mais ou menos adoração, com mais ou menos acinte, mas sempre com a educação necessária que a sua realeza recuada impõe, vamos tendo fé nessa aparência de rigor e de snobismo característica recuada, já conhecida dos tempos do Rei Artur e da sua “Távola Redonda”, de traições e devoções, mais ou menos escandalosas, mas sempre muito empenhadas. A malinha da Rainha será o talismã para a continuidade da travessia.
1 - EDITORIAL:  Boris pôs a rainha a vandalizar a democracia
O Reino Unido está em guerra civil. Churchill, aquele que Johnson (um tanto pateticamente) quis emular, uniu o país no momento mais difícil da sua história recente. Boris, que vive agora perto dos “War Rooms” a partir de onde Churchill dirigiu o país em guerra, empenha-se em estilhaçar o Reino.
ANA SÁ LOPES
PÚBLICO, 28 de Agosto de 2019
A decisão do novo primeiro-ministro britânico de suspender o Parlamento até à véspera do Brexit – para impedir a democracia parlamentar de funcionar - é um ultraje inominável para um país que se orgulhava justamente das suas instituições democráticas. O que Boris Johnson fez ao suspender a democracia põe também em causa outra instituição que até agora tem funcionado como factor de coesão daquelas várias nações em risco de se desintegrarem por estes dias: a rainha de InglaterraNo ocaso do seu reinado, Isabel II é envolvida numa golpada institucional sem moral nem ética – mas é assim que Boris é, é assim que Boris funciona. Isabel II não teria forma de dizer que não ao chefe do “Governo de Sua Majestade”, já que os seus poderes são meramente simbólicos, os de “rainha de Inglaterra”. Para todos os efeitos, a partir de uma decisão tomada nas suas férias no Castelo de Balmoral, na Escócia que agora já vê a independência inevitável, a rainha envolve-se num dos maiores escândalos institucionais de que há memória no Reino Unido. É duvidoso que aceite a enorme quantidade de pedidos de audiência que lhe foram dirigidos depois do anúncio da decisão do primeiro-ministro. Mas as multidões que saíram à noite um pouco por todo o Reino Unido a protestar contra a decisão de Boris, dirigem-se também ao carimbo da Rainha.
É verdade que a Europa foi dura com o Reino Unido da mesma forma que agiu de forma grostescamente malévola com a Grécia depois do referendo. Domina nas instituições europeias um “efeito castigador”, vinda de cabeças educadas em escolas primárias de meados do século XX, segundo o qual a punição grosseira é a única via para tratar um país “rebelde”, mesmo que esse país esteja apenas a respeitar o voto legítimo do seu povo. A Europa já está a pagar por este género de políticas e pagará ainda mais no futuro.
Não foi a Europa que nomeou Boris primeiro-ministro – como fez em Itália, ao “substituir” Berlusconni por Mario Monti em plena crise financeira – mas ajudou à criação de um sentimento que facilitou o sucesso do discurso básico e populista. Mas Boris já era um vândalo, antes de ter chegado a primeiro-ministro (Os comentários que ontem muitos deputados do parlamento britânico dirigiram ao seu primeiro-ministro tornam esta expressão “vândalo” não tão violenta assim).
O Reino Unido está em guerra civil. Churchill, aquele que Johnson (um tanto pateticamente) quis emular, uniu o país no momento mais difícil da sua história recente. Boris, que vive agora perto dos “War Rooms” de Churchill, empenha-se em estilhaçar o Reino.
COMENTÁRIOS
JDF, 29.08.2019 17:00: Faço uma adenda, talvez um pouco desviada do assunto do artigo, mas aqui vai: tem um bom exemplo de porque é que as direitas (mais ou menos de extrema, mas a fugir ao centro) ganham. No grosso são aproximado a mais do mesmo, mas quando são para dizer eu faço isto ou aquilo, principalmente se for impopular ou megalómano (ninguém se acredita que será mesmo realizado). Boris com o brexit, trump com o muro, bolsonaro com armas. Certo que ninguém quer ditaduras, mas para fazer alguma coisa tem de se levantar a democracia? Dá que pensar se a máquina funciona ou não quando é preciso. Não esquecer que foi o povo britânico que votou em referendo (mal ou bem) para sair. No meio disto, andamos a discutir a pouca vergonha que é o que boris faz, enquanto a UE se comporta como uns nbonhas! Querem ir? Já!
P Galvao. 29.08.2019: Tanto Boris, e tão pouco Corbyn. Os britânicos votaram num referendo (que se não fosse pela incompetência e inabilidade de Cameron, nunca teria existido), e o Parlamento nunca se entendeu relativamente ao trabalho levado a cabo por Theresa May. O pior foi mesmo o Labour, e o seu líder, que disse tudo e o seu contrário. Theresa May prometeu cumprir com a vontade expressa democraticamente pelos eleitores, mas não conseguiu ultrapassar as barreiras levantadas pelo Parlamento; Boris vai cumprir, com uma suspensão da democracia (como Manuela F Leite já havia sugerido aqui para Portugal). Não se percebe a indignação da colunista: é Política. Já as consequências deste acto tresloucado, é outra história, para a qual os eleitores não foram perdidos nem achados.
José Cruz Magalhaes, 29.08.2019: O segundo acto da peça que está em cena, na velha Albion, desde o referendo de 2016,encontrou um novo protagonista. Boris tomou conta do palco e iniciou o seu monólogo e, nesse exacto momento, transformou uma comédia brexitiniana, em curso, numa farsa, sem epílogo, nem fim à vista. Shakespeare não recusaria este argumento, nem a época, recheada de burlões, pantomineiros, magarefes e actores de segunda, uniformemente distribuídos, como Salvini, Le Pen, os jovens austríacos, entre outros, pelo lado de uma Europa à procura de uma identidade que lhe permita sobreviver, num mundo canibalizado por superpotências predadoras, e os profetas do Reino do apocalipse como Steve Bannon e outros teóricos do mal. É imprevisível o tempo de duração em cartaz; uns referem 31 De Outubro outros ,arriscam o prolongamento das exibições, mas o desfecho deverá ultrapassar todo o drama das grandes tragédias do genial dramaturgo.
JDF, 29.08.2019: Agora sim (não só mas também), dá para escrever: jornalismo de treta. Assim posto, parece que a rainha não sabe pensar pela própria cabeça, ou pela dos acessores, e foi tomada refém pelo boris...a sério?! Sobre-simplificando, boris fez o que é raro os políticos fazerem: cumprirem o prometido e arranjarem condições para o fazer. Afinal é para fazer o brexit, ou foi para arranjar tema de conversa e pertinência, para existência a politicas? depois, a nomeação de boris como substituto para primeiro ministro, não eleito, já a tivemos, santana lopes, e a geringonça: já não era de termos maturidade politica para aceitar que isto faz parte das regras? Jornalismo do velho do restelo...

2 - OPINIÃO:    O “Brexit” e a crise existencial britânica
O “Brexit” mostra como pulsões populistas e nacionalistas podem colocar em crise o funcionamento regular da arquitectura institucional de uma democracia pluralista, com larga tradição, como a britânica.
JOÃO PEDRO CASTRO MENDES
PÚBLICO, 29 de Agosto de 2019
O Parlamento é o cerne da democracia britânica, que assenta na soberania parlamentar. Afrontar o Parlamento já levou a uma guerra civil e custou a vida ao rei Carlos I, no séc. XVII. E é o Parlamento que tem estado na linha da frente a defender que o Reino Unido não pode sair da União Europeia sem acordo. O Parlamento britânico, um ex libris da democracia parlamentar.
Foi este mesmo Parlamento britânico que acabou de ser encerrado, a pedido do primeiro-ministro e brexiteer Boris Johnson. Se o Parlamento se coloca à frente dos desígnios de Boris Johnson e dos brexiteers, então o Parlamento tem de ser afastado. Não para sempre. Durante cinco semanas. Mas afastado tempo suficiente para dificultar a vida aos parlamentares que queiram impedir a saída sem acordo por via legislativa. Ainda assim, fala-se entre deputados da oposição e deputados conservadores não-alinhados sobre apresentação de uma moção para fazer cair o Governo. Pode bem haver novas eleições. Eleições em que o tema poderá ser o povo contra o Parlamento, num exercício de ataque à própria noção de democracia parlamentar.
Depois de um referendo, em 2016, em que ninguém prometeu sair da União Europeia sem um acordo, em que Brexiteers de diversas estirpes se dedicaram a anunciar que seria tudo muito fácil e simples, estamos, em 2019, perante a possibilidade de uma saída sem acordo no dia 31 de Outubro. E os mesmos que diziam que iria ser tudo fácil, que não se iria sair sem acordo, agora vêm dizer que a saída sem acordo é a forma de respeitar o resultado do referendo. Depois de um referendo em que se prometeu que o objectivo era “take back control”, para defender as instituições britânicas, são os próprios Brexiteers a colocar em causa o Parlamento (o cerne da democracia britânica, assente na soberania parlamentar) e os tribunais (que chegaram a ser apelidados de “inimigos do povo”). Foi também reportado que Boris Johnson pondera propor a ascensão à Câmara dos Lordes (não eleita) um conjunto de aliados políticos que empurrem essa Câmara para o lado brexiteer, ao mesmo tempo que reclama da falta de eleições para cargos europeus.
O “Brexit” colocou em cima da mesa, novamente, a independência da Escócia. Os nacionalistas escoceses aproveitaram a ocasião para relançar a questão, depois do referendo de 2014 ter sido perdido pelos nacionalistas. O objectivo seria acabar com o Reino Unido e pedir a admissão da Escócia (que votou maioritariamente pela permanência) na União Europeia. Curiosamente (ou talvez não), os argumentos que já vi Brexiteers usarem para a permanência da Escócia no Reino Unido são muito parecidos com os argumentos utilizados pelos Remainers para a permanência do Reino Unido na União Europeia. Mas outros Brexiteers (ingleses) há, que estariam dispostos a assistir ao colapso do Reino Unido só para saírem da União Europeia. Ao menos, são consistentes. Estas divergências mostram bem, também, os conflitos identitários grupais subjacentes ao “Brexit”, e a forma como o povo, na verdade, não é um ente amorfo e homogéneo. A gestão pacífica destes potenciais conflitos (e, numa perspectiva liberal, a protecção do indivíduo) são a razão de ser para as instituições políticas. Conflitos institucionais como os que estão a ocorrer no Reino Unido testam a resistência das próprias instituições, colocando em causa a arquitectura constitucional e institucional vigente.
Na Irlanda do Norte, o “Brexit” veio levantar o espectro da guerra civil, do regresso da violência sectária, e do terrorismo e dos grupos paramilitares. A Irish backstop, que tanto irrita os brexiteers, foi um compromisso para tentar salvaguardar o acordo de paz na Irlanda do Norte, colocado em crise pelo “Brexit” e pela possibilidade de existir novamente uma fronteira “dura” entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda. De notar que em resposta a estes problemas, os Brexiteers, em alternativa à backstop, não propõem nada de concreto. De notar ainda que, desde 2017, a assembleia regional (que funciona numa lógica de partilha de poder entre nacionalistas e unionistas) se encontra dissolvida, após um escândalo de corrupção, e quem “governa” é a função pública. Pode haver a tentação de ser novamente imposto governo directo a partir de Londres, e isso também serve para inflamar tensões. Tudo em nome do “Brexit”.
O Reino Unido vive hoje uma crise existencial. O processo do “Brexit” colocou o sistema político britânico a ferro e fogo. Em causa estão confrontos entre democracia directa (o referendo) e democracia parlamentar (o Parlamento e a maioria parlamentar), entre o Parlamento e o Governo e entre Westminster e as assembleias e os governos regionais. Os tribunais vêm sendo chamados a decidir questões de natureza constitucional que há uns anos ninguém pensaria que se sequer fossem colocadas, quanto mais discutidas em tribunal. Os vários partidos estão divididos, com potencial para existir um realinhamento partidário de cariz estrutural. Esta divisão reflecte tensões dentro da própria população britânica que, aconteça o que acontecer, não desaparecerão tão cedo.
O “Brexit” mostra como pulsões populistas e nacionalistas podem (pelo menos ajudar a) colocar em crise o funcionamento regular da arquitectura institucional de uma democracia pluralista, com larga tradição, como a britânica. Mostra bem como não devemos tomar por garantidas as instituições que protegem a nossa liberdade individual e colectiva, e que para o bom funcionamento das instituições não basta tradição. É preciso, a cada momento, que haja alguém disposto a lutar por essas instituições, a preservar o seu bom funcionamento, a respeitar normas éticas, e que essas instituições sejam consideradas, efectivamente, um mínimo denominador comum para a convivência em comunidade. O Reino Unido pode bem continuar a existir depois desta crise. Pode até nem se desagregar. Mas suspeito que as feridas criadas pelo “Brexit” tardarão a sarar. E não será o mesmo Reino Unido.
Vogal do Conselho Consultivo do IPCG (Instituto Português de Corporate Governance); associado do Institute of Public Policy.
COMENTÁRIOS:
paula.o.rego.442120: A prerrogativa da suspensão do parlamento é da rainha, que por convenção segue sempre o conselho do PM. Simplificando e deixando - nos das hipocrisias de forma que são tão caras ao british people, que se diga preto no branco: a suspensão do parlamento é quando e como o PM queira. E pronto, sem papas na língua está tudo dito sobre a permissividade anti- democrática do sistema inglês, à conta dessa figurinha inútil e anacrónica que é a rainha, que desde que este escândalo rebentou, não li nos media crítica alguma à sua " prerrogativa de convenção". O problema está no perverso das convenções que nos condicionam o cérebro, e nos põem a todos a falar como carneiros. Que os defensores da monarquia estejam calados, percebo, mas os outros porque se calam? Boris Johnson, o PM que não foi eleito, que mentiu com quantos dentes tem aquando do referendo condicionando o seu resultado, que é consensualmente reconhecido como um mentiroso sem escrúpulos e político de apetências anti- democráticas, é um crápula que lançou o RU ( UE ?) numa crise existencial . E a rainha, que tendo a prerrogativa de se opôr não o fez, não é ela cúmplice deste incrível atentado à democracia, nem que não seja por negligência?
Leitor Registado, 29.08.2019 : é o Parlamento que tem estado na linha da frente a defender que o Reino Unido não pode sair da União Europeia sem acordo....mas infelizmente nunca afirmou que iria cumprir a vontade expressa do povo inglês o que lhe retira credibilidade e legitimidade!


Ainda a questão neologística na evolução do bem-estar social



Haja quem saiba opor-se, mesmo sem grande impacto junto dos responsáveis governativos, que não são receptivos, é certo, a propostas que não fortaleçam o seu estatuto de governantes de pedra e cal, (com uns alicercezitos de ferro a segurá-los no poder). Julgo, todavia, que António Costa não é tão progressista assim, que não lhe custe aceder a estas questões do chiquismo intelectual da esquerda sua apoiante (- a troco de reciprocidades vinculativas que esta, certamente, exige, sendo o transgénero uma delas, como outras o foram e outras chegarão a sê-lo, como essa da eutanásia, evoluídos que somos). O Padre Portocarrero faz o relato, como outros já o fizeram, e recebeu comentários de aprovação, contra os costumeiros de difamação, que não pretendem senão exibir as suas contorções de espécimes frustrados, menos em despejos de ordinarice que a escola da vida lhes proporcionou e as liberalidades da imprensa estranhamente lhes proporciona, provavelmente com gozo e sem respeito pela decência do grosso dos leitores, o que não deixa de ser estranho, apesar da democracia.
A ideologia de género, a imprensa e as redes sociais    /premium
OBSERVADOR, 24/8/2019
O despacho que impõe a ideologia de género nas escolas foi ignorado pela imprensa: a primeira notícia foi dada, três dias depois, por uma rede social.

O Governo, por via dos secretários de Estado para a Cidadania e a Igualdade e da Educação, publicou no passado dia 16 o Despacho nº 7247/2019, que “estabelece as medidas administrativas para a implementação do previsto no nº 1 do artigo 12º da Lei nº 38/2018”, enquanto o país estava a banhos e a imprensa entretida com a greve dos motoristas de combustíveis.
Esta lei é a que impõe a ideologia de género nas escolas. Por ser de muito duvidosa constitucionalidade, a sua fiscalização foi recentemente pedida por mais de um terço dos deputados. À socapa do parlamento e no mais absoluto desrespeito pelo Tribunal Constitucional, dois membros do governo, em fim de mandato, apressaram-se a implementar, às escondidas dos órgãos de soberania e do país – numa sexta-feira de Agosto, em plena ponte do feriado do dia 15! – medidas que decorrem de uma ideologia que não tem qualquer fundamento científico e, muito provavelmente, é inconstitucional.
Como se todos estes atropelos ao normal funcionamento das instituições democráticas não bastassem, a notícia foi praticamente silenciada pelos principais meios de comunicação social. Com efeito, o referido despacho foi publicado no passado dia 16, mas a primeira notícia do mesmo só foi dada, a 19, pelo Notícias Viriato. O que diz muito da imprensa e das redes sociais que temos.
No caso Watergate, um jornal norte-americano conseguiu o que parecia impossível: a demissão de um presidente dos EUA! Mas, quase meio século depois desta façanha, a imprensa não foi capaz de evitar as eleições de Trump e de Bolsonaro.
Quase toda a imprensa norte-americana empenhou-se em impedir a eleição de Donald Trump, apresentado invariavelmente como um louco e um potencial detonador da terceira guerra mundial. Hoje, estas acusações devem fazer sorrir até os maiores inimigos do dito. Apesar das suas evidentes limitações, a verdade é que Trump parece ter derrotado o Estado islâmico e travado a ameaça nuclear norte-coreana, ou seja, fez muito mais pela paz mundial do que o seu antecessor que, no entanto, recebeu, não se sabe bem porquê, o Nobel da paz. Mas, se a imprensa norte-americana – que, mais do que pró-Hillary Clinton, era furiosamente anti-Trump – não conseguiu evitar a sua eleição presidencial, é porque os eleitores já não ligam ao que alguns media dizem.
O mesmo aconteceu no Brasil: alguma imprensa e muitos intelectuais também tentaram, por todos os meios, que o denominado fascista-nazi-antidemocrático Jair Bolsonaro não ganhasse as eleições presidenciais. Mais uma vez, os cidadãos fizeram orelhas moucas a tais paternalistas advertências e presságios de mau agoiro, e o horrível candidato da direita, passe o pleonasmo, foi mesmo eleito, sem que o seu país tenha mergulhado no caos que muitos profetizaram (e alguns, decerto, desejavam). Decididamente, a imprensa já não é o que era.
Estes acontecimentos criaram uma situação paradoxal: a de pretensos democratas criticarem, em nome da democracia, eleições democráticas. A mal disfarçada irritação dos media pôs também a nu a sua falta de isenção: afinal, os meios de comunicação social não são, salvo honrosas excepções, instâncias de reflexão crítica do poder instituído, mas instrumentos desse mesmo poder. Na realidade, já foi assim no fascismo (Estado Novo) e no social-fascismo (PREC) quando, para saber o que
realmente acontecia no país, era preciso recorrer às agências noticiosas estrangeiras.
É verdade que a imprensa é essencial à democracia, mas não é um poder democrático, porque os jornais, rádios e televisões têm donos e interesses que não estão legitimados pelo voto popular. Em geral, a imprensa está alinhada com o politicamente correcto e, por isso, quem queira aceder a um discurso livre, tem que recorrer a meios alternativos, como são as redes sociais, os blogues e sites independentes, que têm também, como é óbvio, as suas debilidades: recorde-se a censura, feita pelo Facebook, a ‘sites’ católicos e o seu fraudulento uso, para fins eleitorais, de dados pessoais.
Um sinal significativo desta perda de influência de alguma comunicação social é o seu insucesso entre a gente mais nova. Durante três semanas deste mês participei num curso de verão, frequentado por mais de três dezenas de profissionais com formação universitária, com idades entre os vinte e cinco e os oitenta anos. Curiosamente, só vi os mais velhos a assistir aos telejornais, porque todos os outros preferiam informar-se por outras vias. Eu próprio, que já não sou jovem, há já vários anos que não vejo um telejornal, não só por falta de tempo, mas também de interesse.
Por acaso, no referido curso, ao passar por uma sala onde três pessoas de idade viam a televisão, vi-me obrigado a ouvir, durante alguns minutos, o telejornal da RTP. Era na antevéspera da greve dos motoristas de combustíveis e essa estação tinha repórteres em várias bombas de gasolina do norte, centro e sul do país. O pivot fez a ligação para os jornalistas destacados e todos, em directo, informaram … que não havia nada para informar! Foi como naquela tempestade-que-era-para-haver-mas-depois-não-houve, da qual as televisões fizeram uma impressionante cobertura! Não critico os infelizes profissionais destacados para tão inglórias missões, mas quem faz questão em informar o país inteiro de que … não há nada para informar! Como alguém disse: bem-aventurados os que, nada tendo para dizer, o não explicam com muitas palavras!
Enquanto as televisões estavam entretidas a noticiar o que não aconteceu, ocorreu uma coisa muito importante e grave, não só porque afecta milhares de crianças e famílias, mas também porque é, pela certa, inconstitucional: a publicação, de forma sorrateira, de um despacho que implementa a perniciosa ideologia de género nas escolas. Mas, como se trata de uma manigância muito politicamente correcta, alguma comunicação social fez o favor de nada dizer. Ante esta cúmplice conspiração do silêncio, valeu-nos a rede social que se ufana de ter sido o primeiro meio de comunicação a denunciar o escandaloso despacho, três dias depois da sua publicação.
Não estranha que haja quem não esconda o seu propósito de controlar, ou mesmo proibir, as redes sociais. Em nome da qualidade da democracia, claro! As redes sociais, na medida em que dão voz a quem a não tem nas televisões, rádios e jornais detidos pelo poder politicamente correcto, são hoje um dos mais importantes espaços de liberdade de pensamento e expressão, religiosa e política, dos cidadãos. Felizmente, como dizia o poeta, “há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não”!
COMENTÁRIOS:
Carolina Ogando: Bravo!
Vitor Prata: Uma óptima reflexão sobre uma manipulada comunicação social manipuladora.
1Responder
ca ac: Em primeiro lugar, é preciso explicar duas coisas aos chamados "transgéneros", criancinhas ou não.
Primeiro é que os eventuais fenómenos de rejeição de que se possam queixar não resultam de eles, "transgéneros", se apresentarem com os tiques e adornos típicos do sexo oposto ao seu. Esses fenómenos de rejeição resultam, sim, de eles, os "transgéneros", enganarem os outros ao procurar fazer-se passar pelo que não são (membros do sexo oposto ao que é efectivamente o seu sexo). Segundo, que os chamados "transgéneros" enganem terceiros ao procurar fazer-se passar pelo que não são é evidentemente uma imoralidade. Em segundo lugar, é preciso explicar o seguinte aos governantes ou políticos do "género", da "identidade de género" e da "igualdade de género" (secretários João Costa, Rosa Monteiro, etc, etc): Forçar a sociedade (seja nas escolas ou noutro sítio qualquer) a aceitar e a conviver com a imoralidade dos chamados "transgéneros" que procuram fazer-se passar pelo que não são é também evidentemente uma imoralidade. E, ao fazer isso, tais políticos e governantes estão efectivamente a corromper a sociedade.
Von Galen: Há crónicas que concordamos com 95% do que está escrito, outras menos, outras que não concordamos nada. Esta é uma crónica que se me pedissem para alterar o que discordo e assinar por baixo, não mudava nem uma vírgula. 100% de acordo. Tendemos a olhar para o passado e a fazer juízos da organização social dessas épocas, sempre numa perspectiva que, limando uma ou outra aresta, a actual é o modelo. Que somos muito esclarecidos, que os políticos já não nos conseguem manipular, que as ideias que temos são as certas porque temos muita informação disponível e não há qualquer intenção ideológica de moldar o nosso pensamento. Mas pormenores à parte, o que vivemos hoje é igual ao que se viveu há 50 e há 70 anos. O Estado controla a comunicação social, impõe uma ideologia e censura (hoje de outros modos) os dissidentes que não partilhem essa mesma ideologia.  
E não só o "género". O "género" e a "identidade de género" e a "igualdade de género": tudo isso é trapaça de
Stra. Anabela Faísca: Muito bem Pe. Portocarrero. Os progressistas afinal somos nós e a imprensa é passado.
Gostava de acrescentar que as limitações apontadas a Trump (um discurso com menos floreados do que Obama, demasiado directo e assertivo) não lhe tira a inteligência, pois se não a tivesse nunca teria sobrevivido aos ataques da imprensa, conluiados com o Partido Democrata e até com altas instâncias da UE que combatem o nacionalismo no que se está a provar ser uma conspiração para o depor (e prender), o equivalente a um acto de traição ao presidente norte-americano e ao povo que o elegeu.
Tornou-se também um líder global no combate ao globalismo, um herói do nacionalismo como Orbán e Salvini que representam efectivamente os seus povos.
Também considero que a Igreja tem de liderar contra o movimento de imposição de uma ditadura do pensamento, ateia, jacobina, imoral, comunista e criminosa. Penso que a defesa da inocência das crianças e jovens, da liberdade de pensamento e de vivência religiosa estão em causa e, se bem que o Pe. tem dado um bom contributo nesta luta, a tomada de posição por parte do Cardeal e Bispos teria outro impacto e uniria todos aqueles que são cristãos ou, não o sendo, vivem em sociedade de acordo com esses valores e seria uma séria reprimenda ao poder político que, em dias de comemorações religiosas ou em funerais de pessoas de estatuto social de relevo aparecem em igrejas como católicos, mas são maçons, ateus e socialistas em todos os outros dias.
Paulo De Sousa Pinto: Excelente. A comunicação social é excelente e terá sempre clientes enquanto seja veículo da verdade. Quando se resume a mero instrumento político de manipulação das gentes estará condenada ao fracasso e ao abandono. Ou seja, a qualidade da informação será também o seu único meio de sobrevivência.
Vítor Costa Lima: O que é o "género"?
Fernando Manuel Rodrigues > Vítor Costa Lima: Uma invenção "pós-moderna" elaborada por "pseudo-cientistas sociais".
Luis De Moraes Sarmento: Mais um brilhante e esclarecedor artigo do Padre Gonçalo. É um gosto ler os seus eloquentes artigos. Bem haja !
Maria Emília Ranhada Santos: Obrigada padre Gonçalo! Já tínhamos falado em si, nos seus artigos sempre tanto a propósito, tão esclarecedores e verdadeiros! Num país quase sem comunicação social, temos cada vez mais necessidade uns dos outros, e de perceber com quem podemos contar. É importante desde já, sabermos quais são os órgãos que estão ao serviço das esquerdas (progressistas, e os que lutam pela verdade e desejam realmente informar o povo.
Lucindo Monteiro: Transgénero são pessoas que têm uma identidade de género, diferente de seu sexo atribuído. O transgénero também é um termo abrangente: além de incluir pessoas cuja identidade de género é o oposto do sexo atribuído (homens trans e mulheres trans), pode incluir pessoas que não são exclusivamente masculinas ou femininas.
Há algum tempo, surgiu na comunicação social uma notícia sobre um dos filhos de Angelina Jolie e Brad Pitt, Shiloh Jolie Pitt, que nasceu menina, mas que não se identifica com o corpo feminino e passou a se vestir como garoto. Shiloh estaria fazendo substituição hormonal para interromper as mudanças naturais do corpo. 
Em entrevista a Oprah Winfrey, em 2008, Angelina já havia declarado há algum tempo que, aos dois anos, Shiloh pedia para ser chamada de John. Aos quatro, a criança gostava de se vestir como menino e falava aos pais que gostaria de ser um menino. É claro que os pais de Shiloe Jolie Pitt – como aliás não seria de esperar outra atitude de pessoas culturalmente evoluídas que são – nunca contrariaram as opções da criança.
Posto este preâmbulo, enquadra-se melhor o facto de o padre Gonçalo Portocarrero diabolizar assim tanto esta questão deveras complexa. Para ele – e para a Igreja – a natureza funciona tão certinha como um relógio suíço, mas a realidade é bem diferente. 
Há quem nasça fisicamente homem ou mulher, mas pense e aja, de acordo com o género diferente daquele com que nasceu. Mas para o padre Portocarrero – e para a Igreja Católica – essas pessoas têm de viver agarradas ao género com que nasceram. Felizmente, muitos contrariam esta mentalidade reaccionária e retrógrada, tentando tudo – inclusive recorrendo-se a cirurgias, – de forma a viverem de acordo com aquilo que pensam e sentem em relação ao género, ainda que diferente daquele com que nasceram.
De uma vez por todas, o padre Portocarrero de Almada – e a Igreja Católica – deviam interiorizar que a natureza humana nem sempre funciona como um relógio suíço, e nem sempre de acordo com a tão famigerada vontade de Deus.
Maria Costa: Parabéns! É urgente que a ICAR e a Aliança Evangélica se levantem contra a imposição da ideologia de género na Escola. As crianças portuguesas não são cobaias para uso de pedófilos e propósitos políticos totalitários. Deixem As Crianças EmPaz
Rui Rebelo: O facto de uma pessoa ter um nome feminino ou masculino independente do sexo não me incomoda pois isso é uma decisão privada de cada um com a responsabilidade que dai advém. Importante é ser da máxima importância que se saiba se a pessoa é transgénero, pois o género é determinante nas relações, respeito e gostos das outras pessoas.
Fernando Manuel Rodrigues > Rui Rebelo: Ai é? Mas então não é para isso que servem as leis anti-discriminação?  Agora respeitamos as pessoas em função disto ou daquilo? Se o género é determinante, que género tenho de ter para ser respeitado?
Rui Rebelo > Fernando Manuel Rodrigues: Para seres respeitado tens que te dar ao respeito. As questão é saber se és masculino, feminino ou transgénero. Esconder isso é sinal que andas a enganar e não inspiras confiança! Faz parte do relacionamento humano a maneira como nos vestimos e comportamos bem como o aspecto e nome (masculino ou feminino) passa uma mensagem para quem te rodeia. E é com sinceridade que se criam as boas relações e se superam as barreiras.
Maria da Luz: Obrigado por pôr em escrito o óbvio e que toda a gente sabe. É muito triste que se tenha chegado a este ponto. A comunicação social, em geral, perdeu toda a credibilidade na sociedade. São meros activistas políticos ao serviço de camaradas de extrema-esquerda, do marxismo cultural e de negociatas com o erário público que parasitam. São dos primeiros responsáveis pela desgraça e miséria humana e social que atravessa o mundo.
Paulo Silva: Excelente! Desde o golpe palaciano que levou a troika de esquerda ao poder este tipo de medidas passa sempre quando a sociedade civil vai a banhos, ou anda distraída com outras questões. Foi assim com o fim das taxas moderadoras ao aborto - ainda nem o poucochinho tinha tomado posse - foi com a Lei da identidade de género, ou mudança de sexo, e é agora com este Despacho. Os amigos da geringonça sempre a servirem as Leis que normalizam as causas fracturantes por baixo da mesa, ou às escondidas... Serventuários do marxismo cultural que despejam na sopa dos confrades a Revolução Cultural em pó, quando estes estão a olhar para o lado… desta vez foram apanhados. Espera-se...
Se não seria necessariamente você lá sabe, mas na primeira resposta do ateu Ricardo Nuno à colega Maria Nunes, apenas por ser uma crónica e não uma notícia, o texto do Pe. Gonçalo nunca estaria onde está agora a crónica da Helena Matos, e antes esteve a crónica do Alberto Gonçalves… e de outros. Gosto de dialogar, mas não com trapalhões e mal-educados… prefiro desmacará-los.
Ricardo Nuno > Paulo Silva: Ai o Paulo Silva manda-me ir tomar banho e eu é que sou o mal-educado? Então, se assim é, não fico só com fama, mas com o proveito também. Não sei se reparou, seu idiota, mas a crónica da Helena Matos que você deu de exemplo é sobre o mesmo tema - ideologia de género - e vai no mesmo sentido que a do Pe. Gonçalo, com a diferença de que está mais bem escrita e é ligeiramente mais interessante, talvez por isso tenha conquistado o destaque, o qual, de resto, só existe na versão desktop.
Desculpem a minha ignorância, o que é a ideologia de género? Que realidade se propõe alterar e com que fins?
Já agora o que é uma ideologia?
Gil Bernardes > Alex de Sousa: É a versão moderna dos Protocolos dos Sábios de Sião: os planos maléficos de Soros e companhia para destruir a civilização cristã ocidental.
Zacarias Pançudo: Não sou grande simpatizante do padre, mas desta vez esteve em grande. Quanto ao famoso despacho opino o seguinte: os meninos vão à casa de banho dos meninos, e as meninas à das meninas.
Carlinhos dos Rissóis : Já restam tão poucas pessoas clarividentes e reflexivas, que não se pode deixar de louvar texto tão elucidativo (mais um) do Pe GPA. Bem haja.
Maria Nunes: Excelente.
Carminda Damiao: Completamente de acordo. Excelente texto.