sábado, 2 de novembro de 2019

Humor de saber



E saber com humor, embora sério, sem mistificação, este de VPV.

OPINIÃO  Diário
VASCO PULIDO VALENTE
PÚBLICO, 2/11/19
Para se instruir, quem comenta o “Brexit” em Portugal devia ver os sketches dos Monty Python sobre o pior tenista do mundo e a invasão da Inglaterra. Se os visse ficaria a saber que os ingleses detestam os escoceses.
Noutra linguagem, a Escócia é trabalhista e consome uma exagerada fatia do orçamento do Reino Unido. A separação, se fosse possível, e não é, só iria prejudicar os separatistas. A Europa não conseguirá nunca compensar a independência. Por alguma razão a Inglaterra não largou a libra mesmo quando estava na Europa.
De resto, o Reino Unido é uma invenção do século XIX; o que antes existia era a sobreposição das coroas da Inglaterra, da Escócia e da Irlanda na cabeça de uma só pessoa. Este estado de coisas sempre foi público e notório.
27 de Outubro: Marcelo descobriu agora, para passar o tempo, o desporto. Já andou a dizer enormidades a Rosa Mota e hoje exibiu à nação Figo e João de Sousa. É um Presidente muito cansativo.
28 de Outubro: Ontem, os discursos de Marcelo e de Costa e de  foram muito interessantes. Marcelo disse a Costa que ele nunca conseguiria responder às expectativas que se criaram em Portugal e, a propósito das bodas de Canaã, preveniu-o que só por milagre o segundo vinho seria melhor do que o primeiro. Ou seja, o Presidente preveniu o primeiro-ministro que não hesitaria em o pôr na rua se as coisas dessem para o torto.
E o primeiro-ministro respondeu ao Presidente, com toda a força de um socialista com 37 por cento dos votos: “daqui não saio, daqui ninguém me tira”.
Estas brincadeiras, de que os dois gostam muito, escondem uma realidade; se Marcelo se decidir por um segundo mandato, muito provavelmente afastará o PS para mais verdes pastagens.
30 de Outubro: Estive à espera. Esperei muito, mas finalmente ela foi pronunciada num discurso pesado de Augusto Santos Silva - a palavra “traição”. Bem sei que se tratava só da possível traição do Bloco e do PC ao seu eleitorado. Mas estas coisas não se dizem em vão. Se o PC e o Bloco fizeram chantagem com o PS, alegando que ele não era suficientemente de esquerda, chegou agora a altura do PS fazer chantagem com o Bloco e o PC, acusando-os de não serem fiéis ao cadáver da “geringonça”. Estas pequenas guerras religiosas são mais destrutivas do que se pensa. Como se viu durante a campanha eleitoral, o PC e o Bloco perderam qualquer espécie de racionalidade. Felizmente não governavam. Infelizmente o PS governa, e facciosismo não lhe falta para alimentar esta querela. Não há aqui “traição”. Nem uns nem outros têm direito a chamar-se “comunistas” ou “socialistas”. Marx morreu e se estas esquerdas não morreram ainda foi por puro acaso.
31 de Outubro: Sobre as bancadas da Assembleia da República pairaram dois fantasmas: a dívida e o défice. António Costa bem quis meter Centeno numa gaveta, mas toda a gente viu que ele estava lá.
As pomposas idiotias, a que chamam hoje “estratégia”, vão ser objecto por excelência das “cativações” e, antes disso, vai haver, em vez do fictício debate do Parlamento, uma guerra séria a respeito do Orçamento, e essa será a verdadeira política.
Colunista
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