“Coisas que eu teria preferido nunca ter aprendido na escola” é o título da “Carta Aberta” do Comendador Marques de Correia, de 20/9 da Revista Única que li, como sempre, em primeiro lugar, para sentir o prazer da graça sadia forjadora da gargalhada sem atritos, pois nos livra, embora só momentaneamente, da tristeza que outras crónicas ou outras notícias mais sérias nos transportam diariamente ou semanalmente. A graça do destemor com que aponta o erro, tantas vezes através da mistificação e do absurdo dos seus discursos sempre elegantes, contudo, sem a contundência usual em tantas outras crónicas, talvez mais ricas de conteúdo mas mais pesadas de intenção.
Todavia, não entendi o texto desta última carta aberta, que me pareceu contraditória. Ao valorizar alguns saberes da escola antiga, como as equivalências do metro cúbico, ao destacar a ignorância aritmética dos actuais alunos incapazes de somar, sem computador, dois mais dois, parece defender as exigências da escola antiga. Ao pôr a ridículo a memorização das linhas férreas portuguesas ou dos rios moçambicanos e quejandos, como coisas inócuas, inúteis à formação do aluno, parece atacá-la.
A verdade é que, se não tivesse aprendido as terras atravessadas pelo ramal de Viseu ou pela linha do Norte (a que faltou Paialvo e Pombal, da minha memória), não teria feito humor com elas. Nem António Gedeão usaria as suas ensaboadelas de química e física nos seus poemas originais. Nem Rui Knopfli em “Hidrografia” de “Reino Submarino” faria a extraordinária apologia dos tais rios de Moçambique, nem Goethe faria viajar o Dr. Fausto na busca do saber absoluto, nem Óscar Wilde, na esteira daquele, faria o seu Dorian Gray rodear-se da ciência das jóias e dos perfumes, e dos quadros e das músicas universais, para arrebatamento permanenente dos seus sentidos... Nem eu teria sentido o prazer que senti quando, de retorno de África, subi pela primeira vez a Rua do Alecrim, evocada por Cesário Verde...
Todavia, não entendi o texto desta última carta aberta, que me pareceu contraditória. Ao valorizar alguns saberes da escola antiga, como as equivalências do metro cúbico, ao destacar a ignorância aritmética dos actuais alunos incapazes de somar, sem computador, dois mais dois, parece defender as exigências da escola antiga. Ao pôr a ridículo a memorização das linhas férreas portuguesas ou dos rios moçambicanos e quejandos, como coisas inócuas, inúteis à formação do aluno, parece atacá-la.
A verdade é que, se não tivesse aprendido as terras atravessadas pelo ramal de Viseu ou pela linha do Norte (a que faltou Paialvo e Pombal, da minha memória), não teria feito humor com elas. Nem António Gedeão usaria as suas ensaboadelas de química e física nos seus poemas originais. Nem Rui Knopfli em “Hidrografia” de “Reino Submarino” faria a extraordinária apologia dos tais rios de Moçambique, nem Goethe faria viajar o Dr. Fausto na busca do saber absoluto, nem Óscar Wilde, na esteira daquele, faria o seu Dorian Gray rodear-se da ciência das jóias e dos perfumes, e dos quadros e das músicas universais, para arrebatamento permanenente dos seus sentidos... Nem eu teria sentido o prazer que senti quando, de retorno de África, subi pela primeira vez a Rua do Alecrim, evocada por Cesário Verde...
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