segunda-feira, 31 de agosto de 2020

«Sabe-se lá!»


Rui Tavares está muito pessimista, com receio de que Donald Trump ganhe as próximas eleições. Cá por mim, que só sei que nada sei, vou com a nossa Amália, no fado dos compositores Frederico Valério / Silva Tavares, que eles todos é que sabiam bem:

«Lá porque ando em baixo agora  Não me neguem vossa estima  Que os alcatruzes da nora  Quando chora  Não andam sempre por cima  Rir da gente ninguém pode  Se o azar nos amofina  E se Deus não nos acode  Não há roda que mais rode  Do que a roda da má sina.

«Sabe-se lá
Quando a sorte é boa ou má
Sabe-se lá
Amanhã o que virá
Breve desfaz-se
Uma vida honrada e boa
Ninguém sabe, quando nasce
Pró que nasce uma pessoa.

«O preciso é ser-se forte  Ser-se forte e não ter medo  Eis porque às vezes a sorte  Como a morte  Chega sempre tarde ou cedo  Ninguém foge ao seu destino  Nem para o que está guardado  Pois por um condão divino  Há quem nasça pequenino  Pra cumprir um grande fado.

OPINIÃO

O estilo apocalíptico na política americana

Para os republicanos os EUA estão ao mesmo tempo no melhor momento da história — e à beira do colapso

RUI TAVARES

PÚBLICO, 28 de Agosto de 2020

Num dos mais importantes ensaios políticos do século XX, o historiador Richard Hofstadter escreveu sobre “o estilo paranóico na política americana”. A sua primeira frase é: “a política americana tem muitas vezes sido uma arena para mentes zangadas”. O estilo paranóico, explica Hofstadter, “não é uma coisa nova e não é necessariamente de direita”, mas a designação inovadora que ele emprega é necessária para descrever a amplitude e a intensidade que essa atitude política foi assumindo até à época em que o ensaio foi escrito, nos anos 1960: “chamo-lhe o estilo paranóico simplesmente porque nenhuma outra palavra evoca adequadamente a sensação de exagero fervoroso, suspeição e fantasia conspiratória que tenho em mente”.

Passado meio século, o ensaio de Hofstadter continua a ser brilhante, mas foi superado pelos acontecimentos. Já não é possível chamar à maneira de fazer política de um Donald Trump “estilo paranóico”. A paranóia continua a fazer parte, mas atingiu um tal ponto de incandescência que se torna necessário encontrar um novo termo para esta fase. Proponho “apocalíptico”.

Na convenção republicana desta semana os oradores sucederam-se repetindo sempre o mesmo motivo discursivo paradoxal: que os EUA estão ao mesmo tempo no melhor momento da história — e à beira do colapso. Para Trump e os seus apoiantes é considerado possível e até lógico acreditar nas duas coisas ao mesmo tempo: para poder ganhar, Trump tem de repetir contra todas as evidências que tornou a “América grande de novo”; para que o seu adversário perca, Trump tem de provar que essa América “grande de novo” é afinal tão frágil que, se Biden ganhar, o país acaba. Como disse o vice-presidente Pence na convenção republicana: “a escolha nestas eleições é se a América continua a ser a América”.

Seria fácil descontar esta retórica como banal à aproximação de actos eleitorais. Aconteça o que acontecer, a América não vai desaparecer depois das eleições. Mas implícita naquela frase está uma insinuação à base eleitoral demograficamente mais homogénea dos republicanos: sem Trump, a América que desaparece é aquela em que automaticamente vocês fazem parte da maioria e estão no topo da hierarquia, a América mais branca, mais masculina e mais velha, na qual vocês se sentem mais escudados da competição de uma América mais jovem, mais feminista e mais multicolor.

Trump precisa que essa “nova América”, — ao invés de ser o resultado da evolução da sociedade, das lutas históricas das minorias e da implementação real de direitosseja assustadora. Ele precisa que a sua descrição das cidades americanas como vivendo num estado de “carnificina” seja real, precisa que o país pareça como estando à beira da guerra civil. Só assim o estilo apocalíptico parecerá credível, demovendo alguns de votar e levando outros a votar como se as suas vidas dependessem disso. Só assim Trump poderá ganhar, ou ficar tão próximo disso que a definição do vencedor real das eleições se torne incerta. E, digam as sondagens o que disserem agora, isto não é uma impossibilidade.

De certa forma, a Convenção de Trump não foi a do Partido Republicano — foi a que se viveu nas rua de Kenosha, Wisconsin, após o cidadão negro Jacob Blake ter sido baleado sete vezes pelas costas à queima-roupa por um polícia. Trump pretende ganhar à maneira de Nixon no tempo do “estilo paranóico”, apresentando-se como candidato da “lei e da ordem”. Talvez por isso um dos seus apresentadores predilectos — e possível candidato republicano em 2024 — tenha chegado ao ponto de justificar os actos criminosos de um adolescente de 17 anos, aderente de uma das milícias de “vigilantes”, que saiu de casa armado de uma metralhadora e fez 25 quilómetros para matar dois manifestantes nas ruas de Kenosha, Wisconsin. Tucker Carlson, o apresentador e apoiante de Trump, precisa que os seus espectadores acreditem que a situação nas cidades dos EUA é tão caótica que, numa inversão orwelliana, o crime é segurança, o tiroteio com armas semi-automáticas é paz e o homicídio indiscriminado de manifestantes é lei e ordem.

O que acontece aos movimentos apocalípticos? Uma de duas hipóteses opostas.

No mundo real, chega sempre um momento em que as profecias falham, em que a realidade lá fora não condiz com as “mentes zangadas” dos crentes, e em que a seita tem de digerir a derrota e seguir em frente, como aconteceu às várias igrejas que previram o fim do mundo para uma data precisa no calendário, e esse fim do mundo não veio.

Mas a política, em particular quando apocalíptica, corre o risco de ver as suas profecias auto-realizadas. A história conta-nos que se se repetir muitas vezes que nós, os mais poderosos e perfeitos do mundo, somos na verdade vítimas à mercê de serem destruídas, se pode eternizar um cenário de guerra civil cultural que alimenta temores de uma guerra civil real.

A tese de Joe Biden é que basta derrotar Donald Trump para que o febrão passe e a sociedade norte-americana se una. Para isso, Biden precisaria de uma vitória ampla e indubitável e de um Trump que aceitasse a derrota graciosamente. É uma história bonita — mas é difícil acreditar em milagres contra o apocalipse.

Historiador; fundador do Livre

TÓPICOS

OPINIÃO  EUA  AMÉRICA  AMÉRICA DO NORTE  DONALD TRUMP  PARTIDO REPUBLICANO  RACISMO

COMENTÁRIOS

JDF EXPERIENTE: Peço desculpa que percebi "estilo apocalipso" e pensei que eram gelados norte-americanos. Continue rui tavares! 28.08.20

Rita_Laranjeira INICIANTE: Mais uma pequena amostra da loucura que varre a esquerda radical norte-americana foi a mensagem de anteontem de Bernie Sanders: "Não mais gás lacrimogénio, não mais gás pimenta, não mais balas de borracha nos manifestantes". Só faltou acrescentar o corolário inevitável: "Deixem-nos incendiar, destruir e pilhar tudo à vontade!" 28.08.2020

Rita_Laranjeira INICIANTE: Nisso a esquerda radical também é especialista: muito críticos do capitalismo, mas em mais de 100 anos, ainda não vimos porem em prática uma alternativa melhor! Já o excepcionalismo americano está aí à vista de todos os que tiverem olhos para ver. Até os esquerdistas anti-americanos seguem as tendências da esquerda radical americana! 28.08.2020

ramalheira63 INICIANTE: Rui Tavares, por que razão não te preocupas com o que se passa em Portugal? Há 15 anos um PR, sem dizer nada a ninguém, dissolve o parlamento. Agora um PR, sem ninguém lhe ter perguntado nada, diz que não dissolve o Parlamento. 28.08.2020

bento guerra.919566 INICIANTE: Como diria o Mark Twain, o anúncio da morte politica de Trump é manifestamente exagerada. E isso deixa desesperados os anti-trumpistas de pacotilha 28.08.2020

paula.o.rego.442120 INICIANTE: "As massas nunca tiveram sede de verdade. Elas querem ilusões e não vivem sem elas" S. Freud.

 

Continuação do tema sobre corrupção

 

Por João Miguel Tavares. Com um bravo pela sua coragem e clareza de argumentação.

I - OPINIÃO: Portugal e o problema da corrupção – parte 2

JOÃO MIGUEL TAVARES

PÚBLICO, 27 de Agosto de 2020

Façamos um breve resumo do que aconteceu em Portugal na última meia-dúzia de anos. Um ex-primeiro-ministro foi preso. O grande banco do regime – o BES – faliu. Uma das maiores empresas portuguesas – a PT – foi destruída. Os dois principais líderes da empresa mais poderosa do país – a EDP – vão ser acusados de corrupção activa e já foram afastados dos cargos. No Tribunal da Relação de Lisboa, dois juízes terão andado a vender acórdãos e os seus dois últimos presidentes são suspeitos de cumplicidade.

Reparem na gravidade da situação: a corrupção chegou aos cargos mais altos do poder político, do poder económico e do poder judicial. Tudo foi contaminado. Em Itália, o regime caiu. Por cá, resmunga-se muito, mas continua a tratar-se o cancro com aspirinas.

Àquele conjunto podemos juntar o futebol, deputados, câmaras, associações, institutos de solidariedade social, forças de segurança, advogados, procuradores do Ministério Público, já para não falar nas relações suspeitas com o jornalismo. Não parece haver uma única área intocada pela corrupção. E, no entanto, caímos inexplicavelmente num duplo erro ao reflectir sobre o tema: 1) olhamos para cada caso de forma individual, e não como um problema estrutural, ou seja, como uma cultura de corrupção instalada no coração do regime; 2) tendemos a moralizar cada caso e a encará-lo como uma falha de carácter dos envolvidos, como se o problema residisse em questões de ética pessoal e não no desenho institucional do regime político e jurídico português e dos incentivos (ou da falta deles) no combate à corrupção.

No número 51 dos Federalist Papers, escrito por James Madison em 1788, há um excerto famoso sobre a natureza humana que ajuda a perceber o argumento (a tradução é minha): “Se os homens fossem anjos, nenhum governo seria necessário. Se os anjos governassem os homens, não seriam necessários controlos externos ou internos de governo. Na construção de uma forma de governo para ser administrada por homens sobre homens, a grande dificuldade é esta: primeiro, é necessário conseguir que o governo controle os governados; de seguida, é necessário obrigar o governo a controlar-se a si próprio.”

O grande mérito dos founding fathers que criaram os Estados Unidos da América é que, juntamente com a aspiração aos grandes ideais (“life, liberty and the pursuit of happiness”), cultivavam uma profunda desconfiança sobre a natureza humana, que deu origem a uma obsessão: o firme propósito de controlar todos os excessos de poder. Madison não estava preocupado em fazer o bem – estava preocupado em prevenir-se contra o mal.

Essa deveria ser também a nossa preocupação. Numa pessoa corrupta certamente escasseiam bons valores morais, mas não compete a um regime político corrigir a natureza humana – compete-lhe, isso sim, garantir que a arquitectura do regime não incentiva a corrupção. Ora, aquilo que temos em Portugal são inúmeros estímulos à criação de trapaceiros e à preservação da sua impunidade: 1) o sistema de justiça é de uma lentidão exasperante; 2) o excesso de garantias de defesa permite o infinito arrastamento dos processos; 3) faltam meios para a investigação da criminalidade complexa; 4) o ordenamento jurídico não contempla formas eficazes de combate à corrupção, como a delação premiada ou o enriquecimento ilícito; e, sobretudo, 5) o país está pejado de incentivos à economia extractiva e à troca de favores políticos. Este ponto 5 será o tema do meu próximo artigo.

Jornalista

TÓPICOS

POLÍTICA  CORRUPÇÃO  JUSTIÇA  OPINIÃO  MINISTÉRIO PÚBLICO  TRIBUNAIS  PT

 

UM COMENTÁRIO (de 85)

Luís Azenha Bonito EXPERIENTE: É necessário a convocação da memória. Pelos factos e pela interpretação livre e fundamentada, o artigo é da maior importância. É curioso, ou preocupante, depende do olhar, verificar que, em Portugal, o número de médicos subiu de 28.016 (1990) para 55.432 (2019); o número de enfermeiros subiu de 28154 (1990) para 75773 (2018); no mesmo período, o número de magistrados subiu de 1028 (1990) para 1734 (2019). Resultados destes números: o Serviço Nacional de Saúde é dos melhores do mundo e o sistema(zinho) de justiça(zinha) é dos mais atávicos e dos mais fracos do mundo... A centralidade da análise e discussão deve ser em torno da justiça e da corrupção. Quanto ao resto, até agora, tudo bem... 27.08.2020

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II -Portugal e o problema da corrupção – parte 3

A ida de políticos para os conselhos de administração de grandes empresas está relacionada com o nível de corrupção do país e com a importância das decisões governamentais em áreas altamente reguladas, como a energia ou as telecomunicações.

JOÃO MIGUEL TAVARES

II- PÚBLICO, 29 DE AGOSTO DE 2020

Portugal e o problema da corrupção – parte 3

Há duas semanas, foi notícia um estudo internacional da Universidade Católica que analisou 12 mil nomeações de antigos detentores de cargos públicos para lugares em grandes empresas, em 14 países diferentes. Portugal não foi incluído, mas a conclusão é fácil de extrapolar: a ida de políticos para os conselhos de administração de grandes empresas está relacionada com o nível de corrupção do país e com a importância das decisões governamentais em áreas altamente reguladas, como a energia ou as telecomunicações.

Por isso, de cada vez que vir ex-ministros, ex-secretários de Estado, ex-deputados, ex-assessores, ex-embaixadores ou amigos do primeiro-ministro espalhados por conselhos de administração, geralmente em cargos não-executivos e tantas vezes em áreas das quais não percebem um caracol, já sabe porque é que estão lá, e pode até citar o estudo da Católica: ou fizeram bons favores a essas empresas no passado, ou têm os contactos certos no presente, conseguindo chegar com rapidez a quem manda e a quem decide.

A maior parte desses ex-políticos não são corruptos, no sentido criminal do termo. Mas fazem parte de uma cultura de corrupção, enquanto peças fundamentais de uma economia extractiva baseada em favores políticos.

Mais uma vez, e como referi no meu último artigo, a questão moral é a menos interessante. Embora o senso-comum nos diga hoje que todos os países do mundo deveriam ser como a Suécia, a verdade é que a maior parte dos países continua a ser como Angola, e a própria Suécia o foi durante muitos séculos. O grande milagre político não é a lógica tribal, que leva a abocanhar o que está disponível, mas o desenvolvimento de sociedades livres orientadas pela “mão invisível” de Adam Smith. Em sociedades institucionalmente precárias, é óbvio que as elites açambarcam para comprar influência, pois é isso que permite a sua perpetuação no poder (seja ela pessoal ou partidária).

Estes problemas agravam-se em países economicamente frágeis, como Portugal, com empresas descapitalizadas, um Estado gargantuesco e o maná dos fundos europeus ao dispor do poder central. Numa sociedade onde é sempre preciso mais um papel, o encosto das empresas ao Estado é uma forma perfeitamente racional de agir. É a lei do menor esforço: tal como a natureza é sempre económica nas suas acções, também uma empresa procura lucrar o máximo com o esforço mínimo – e daí que contratar um ex-ministro possa compensar vários anos de inovação ou de busca de alternativas para o negócio.

Enquanto uma assinatura valer mais do que uma boa ideia, haverá sempre demasiada corrupção. O regime português promove-a de várias formas: 1) a economia está brutalmente dependente dos favores do Estado; 2) a justiça tem falta de meios humanos e legais; 3) o sistema partidário é dominado por grupúsculos de escassos milhares de militantes; 4) o escrutínio mediático é frágil; 5) a sociedade civil é demasiado passiva.

Como é que se abate uma cultura de corrupção? É muito difícil. Mesmo com terramotos políticos, o que costuma acontecer é a troca de uma elite predatória por outra (veja-se Itália ou o Brasil). A luta contra a corrupção ganha-se passo a passo, com melhores leis, maior liberdade económica, uma sociedade civil mais forte, e, claro, vigiando, vigiando, vigiando. Não fechar os olhos às inúmeras alarvidades que são feitas à frente do nosso nariz já é um pequeno passo. É para isso que serve o jornalismo, e é isso que se continuará a fazer por aqui.

Jornalista

COMENTÁRIOS (de 33)

Marielibere INICIANTE: As divisões entre esquerda, direita e meio já há muito que não me interessam. Onde estão os políticos honestos ? Será que existem? É difícil pois para obter uma posição no poleiro tem que se pactuar e muito com os culpados de ilegalidades e meias verdades e assim se cria a cumplicidade e as teias. A corrupção é um tecido que envolve toda a sociedade a todos os níveis Muitos nem consciência disso têm. O Estado e os políticos são uma reflexão e um produto da sociedade civil. Temos o que merecemos. Temos o que escolhemos.

Joao Garrett INICIANTE: Muito bom, obrigado por estes seus artigos. Continue assim, no bom jornalismo de escrutínio!

BinoC INICIANTE: O sistema educativo pode ser bom para começar a mudar a cultura e para desenvolver a noção do interesse comum. 29.08.2020

EXPERIENTE: O sistema educativo ensina a cultura portuguesa. Não a combate. Isso seria o cúmulo da manipulação das crianças. 30.08.2020

RustyTachikoma INICIANTE: A educação das crianças, seja pelos pais ou pelas escolas, quer se goste do termo ou não, é sempre uma forma de manipulação. Como pais e como educadores temos a responsabilidade de transmitir o conhecimento e os valores que achamos que devemos passar. À medida que crescemos e nos vamos tornando adultos escolhemos se continuamos a aderir a esses valores e/ou aderimos a outros. Nenhuma cultura é perfeita e em Portugal há claramente uma cultura de chico-espertismo e de pequena corrupção/"favorzimos". muitas vezes até de desprezo pelo conhecimento que devia ser claramente combatida em casa e na escola.

liteira.de.spam MODERADOR: JMT não abordou o papel do jornalismo, o impacto da generalizada falta de qualidade e, em particular, a quase inexistência de jornalistas isentos. Quem lê algumas crónicas de opinião, percebe rapidamente que há certos jornalistas/opinion makers com dois pesos e duas medidas. As mudanças começam por dentro. Como se pode esperar uma mudança no status quo da nossa sociedade se o jornalismo, um dos poderes da democracia, que deve ser factual e isento, tem na sua maioria jornalistas que não conseguem despir a camisola das suas convicções políticas e que, como tal, fazem vista grossa às situações dúbias daqueles com os quais partilham ideologias. Aqueles, com exposição mediática e um espaço informativo e de denúncia, têm que dar o exemplo!   29.08.2020

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domingo, 30 de agosto de 2020

Lá vamos, cantando…

 

Basta de pânicos! Temos que espicaçar a economia! O PCP sabe as linhas com que cose a sua. E dá um exemplo de boa orientação económica ao governo, no seu apelo à sua vida de sempre. Afinal também se abriram as fronteiras para o turismo…

OPINIÃO

A superioridade imoral do PCP

O PCP insiste e insiste e insiste em realizar os três dias de Festa do Avante! recorrendo a um absurdo discurso de vitimização.

SÃO JOSÉ ALMEIDA

PÚBLICO, 29 de Agosto de 2020,

A “novela” começou em Maio e tem entretido muitas pessoas desde então, deixando perplexas outras tantas. O PCP tem ocupado o espaço noticioso não com reivindicações políticas de aumentos salariais ou de defesa de direitos dos trabalhadores, não com propostas e exigências de medidas para serem negociadas com o Governo e vertidas no Orçamento do Estado de 2021, nem mesmo com a apresentação de ideias que ajudem a combater a pandemia de covid-19, mas porque insiste e insiste e insiste em realizar a Festa do Avante!

Contra tudo o que o bom senso indica, ao arrepio do que tem sido o comportamento de quase todos os partidos parlamentares, que praticamente suspenderam comícios, congressos, conferências, universidades de Verão, rentrées, o PCP insiste em viver num mundo à parte em que acha que pode fazer tudo. E tem feito. Aliás, um comportamento que tem sido também o do deputado único e líder do Chega.

Não sei se o PCP acha que o vírus SARS-CoV-2 é reaccionário e, portanto, não há risco de contaminar um verdadeiro comunista. Mas parece-me que o PCP não percebe a imagem que está a passar de si para o país, nem como se está a expor e a dar a ideia de que deixou de ser o partido institucional, responsável, sério e defensor do que entende ser o interesse público e nacional. Desde Maio, o PCP insiste e insiste e insiste em ser excepção, numa tentativa de afirmação que raia o disparate e que irá, muito provavelmente, causar-lhe sérios danos eleitorais. Esperemos que este não seja o último acto de liderança de Jerónimo de Sousa. E pior, ao insistir em manter os três dias de Festa do Avante!, no próximo fim-de-semana, o PCP está a pôr-se a jeito para vir a ser responsabilizado, na opinião pública, por eventuais aumentos de contaminados que se verifiquem em Setembro, mesmo que, por milagre, não haja um contaminado sequer dentro da Quinta da Atalaia.

É certo que há um precedente a que o PCP se agarrou com unhas e dentes e que responsabiliza o Presidente da República e o Governo. Trata-se da autorização, em estado de emergência, para a manifestação do 1.º de Maio da CGTP. É verdade que os direitos políticos não estavam suspensos, apenas o foi o direito à greve. Mas o bom senso aconselhava a que não tivesse sido autorizado. No entanto, realizou-se e foi uma demonstração de poder de rua que ficará na memória do país. Convém, porém, salientar que uma coisa é encher a Alameda Dom Afonso Henriques, em Lisboa, com distância de segurança, de sindicalistas treinados e experientes, outra é querer fazer as Festa do Avante!, achando que conseguem travar os contactos num evento de massas. Isto quando o PCP podia ter dado novo sinal de força, realizando o comício de encerramento da Festa do Avante! nos mesmos moldes que foi celebrado o 1.º de Maio e em que tem feito vários comícios.

E pior, o PCP insiste e insiste e insiste em realizar a Festa do Avante! recorrendo a um absurdo discurso de vitimização, chegando ao ponto de se achar no direito de insultar os outros. Vejamos. Primeiro, em Maio, o secretário-geral, Jerónimo de Sousa, começou por pedir: “Descansem as almas mais inquietas que isso não seria determinante para as nossas opções”, referindo-se à acusação de que mantinham a Festa do Avante! para garantir o financiamento partidário. Quando ela é, de facto, uma importantíssima fonte de receita para o PCP e permite a leitura de que, para este partido, a necessidade de arrecadar receita parece estar acima da preocupação em preservar a saúde pública.

Depois, o PCP atacou o líder do PSD, acusando-o de “má-fé e desonestidade”, porque Rui Rio lembrou o óbvio, os jogos de futebol continuam sem público. Isto para além de as discotecas continuarem sem poder funcionar normalmente e terem sido suspensos os festivais de Verão. E é bom não esquecer que a Festa do Avante! foi precursora deste tipo de eventos em Portugal e contém uma quantidade considerável de espectáculos.

Agora, o PCP vê-se a braços com uma providência cautelar, que classificou de “operação antidemocrática contra a liberdade, a cultura e os direitos dos trabalhadores e do povo”. E mantém, há semanas, negociações com a Direcção-Geral da Saúde. Começou por dizer que o evento levava cem mil pessoas por dia, depois anunciou que apontava para 33 mil, para, esta semana, continuar a insistir em que a assistência dos espectáculos possa ficar de pé, quando as regras da DGS apontam para que estejam sentadas. Levando mesmo Graça Freitas a reconhecer, na quarta-feira, que há uma real preocupação em evitar “aglomerados de pessoas”.

A soberba com que o PCP está a insistir e a insistir e a insistir na Festa do Avante! faz lembrar um livro inigualável na capacidade de autoconvencimento e megalomania, escrito por Álvaro Cunhal, A Superioridade Moral dos Comunistas. Só que pelos piores motivos, que provavelmente Álvaro Cunhal não subscreveria. A pandemia está a revelar a superioridade imoral do PCP.

P.S.– A Semana Política regressa a 3 de Outubro.

tp.ocilbup@adiemla.esoj.oas

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POLÍTICA  COVID-19  CORONAVÍRUS  PCP  FESTA DO AVANTE  JERÓNIMO DE SOUSA  DIRECÇÃO-GERAL DA SAÚDE

 

COMENTÁRIOS:

Jorge.Queirós INICIANTE: O melhor mesmo é vir aqui ler os comentários dos comunistas a justificarem a irresponsabilidade do partido. Há comentários que são de ir às lágrimas. Haja imaginação e pouca vergonha.

anarquista inconformado INICIANTE: Imoral, é a forma como a jornalista tenta passar a ideia que o PCP é um partido irresponsável nunca foi nem nunca será para desgosto de todos aqueles que tentam denegri-lo. São velhos hábitos, que ainda continuam enraizados em quem sempre viveu desse trabalho. 29.08.2020

Sandra. MODERADOR: Sugiro a São José Almeida a leitura do artigo de Sónia Sapage, ontem aqui no Público. Isto a propósito do que realmente move o PCP. Salários, direitos, pensões, coisas assim, ligadas à vida concreta das pessoas.

gillsousa INICIANTE: Mas, o que pretende a D. Sandra??? Matar-nos a todos de riso??? De que planeta veio Vª Exª? E lá existe vida inteligente, ou são todos assim??? Olhe, cara Sandra, não é muito sensato acharmos que, lá porque não conseguimos entender nada do mundo que nos rodeia e apenas termos nascido para obedecer ao Grande e Querido Líder e ao partido, os outros também! Não, cara Sandra! Por muito que não o consiga perceber, há mesmo vida inteligente, neste planeta! Por muito que não a possamos acusar de tal... PS 1- ainda espero pelo tal exemplo, um que seja, de sucesso do Marxismo. Um único caso que não tenha sido apenas tirania assassina, atraso civilizacional e miséria geral (menos o aparelho, claro). Sentado, claro... PS 2 - vá lá... obedeça ao controleiro e censure, vamos...

Nuno_P INICIANTE: Será que o forte ressurgimento de casos nos últimos dias tem algo a ver com a Festa do Avante? Ainda ontem um canal de notícias entrevistava espanhóis de férias em Portugal, com "nuestros hermanos" a elogiarem a gastronomia, hospitalidade e o número reduzido de infectados em relação a Espanha. Marcelo, promove (e bem) as Feiras do Livro de Lisboa e Porto. Os britânicos são recebidos de braços abertos e balcões do SEF encerrados. Jovens holandeses ignoram as recomendações de saúde e embebedam-se nas ruas do Algarve. Os portugueses são convidados a fazer férias em Portugal, promovendo a mobilidade entre regiões mais e menos infectadas. E a imoralidade é do PCP? Sério?

cidadania 123 INICIANTE: Já há muito percebi que, para mim, apesar de ser um partido com valores positivos, e de muita gente com bons valores humanos, é como partido muito ortodoxo, fechado, arrogante, pouco democrático. Quase como um culto religioso, o interesse do partido, definido por um comité obscuro, reage como um animal ferido como se da festa do avante dependesse a sua sobrevivência. O problema é que essa teimosia poderá custar vidas...

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Histórias do oriente e da “ocidental praia”


Do oriente europeu, que José Milhazes bem descreve, com efeito sobre os “barões assinalados” do nosso hoje, que todos conhecemos, ai de nós!

Depois digam que a extrema-esquerda é civilizada /premium

A Bielorrússia mereceu três artigos do Avante!, mas em nenhum deles se condena a violência policial do ditador Lukachenko. A culpa é toda da oposição e do Ocidente que ataca um regime “progressista".

JOSÉ MILHAZES

OBSERVADOR,20 ago 2020

A Bielorrússia mereceu a atenção em três artigos do órgão oficial do Partido Comunista Português, mas em nenhum deles há uma palavra a condenar a violência policial do ditador Lukachenko. A culpa é toda da oposição e do Ocidente que ataca mais um regime “progressista”.

Na semana passada, na minha opinião do Observador sobre a situação presente na Bielorrússia, citei um artigo do jornal Avante que indiciava que o Partido Comunista Português iria mostrar uma vez mais que esta força política radical iria ser “consequente” e apoiar a falsificação das eleições presidenciais naquele país, bem como a forte onda repressiva contra a oposição. Recebi numerosos comentários a acusar-me de “tendencioso”, “mentiroso”, etc., etc. Segundo os comentadores, o texto apenas apresentava factos!

Claro que não fico à espera de pedidos de desculpa, pois uma das características desses comentadores é pertencer à casta da “suprema ideologia” que é o marxismo-leninismo-estalinismo.

Porém, é necessário analisar a forma como os “jornalistas” do Avante falsificam as notícias a fim de justificar a “esmagadora vitória” Alexandre Lukachenko. No artigo “Bielorrússia rejeita ingerências externas”, os comunistas afirmam: “Embora a candidata opositora, Svetlana Tijanovskaya – que após as eleições viajou para a Lituânia – tenha obtido apenas 10,1 por cento dos votos nas urnas, segundo a Comissão Central Eleitoral, logo na noite das eleições os seus apoiantes levaram a cabo protestos violentos na capital, repetidos nos dias seguintes. Dos choques entre estes grupos e a polícia resultaram feridos e detidos, em números que variam conforme as fontes”.

Eles partem do princípio que as eleições foram limpas e transparentes, tese muito duvidosa, e, depois, recorrem a um eufemismo quando dizem que Svetlana Tikhanovskaya “viajou para a Lituânia”. Ora é do conhecimento público que ela foi obrigada a sair do país. A seguir vêm mentiras quando acusam a oposição de levar a cabo “protestos violentos”, como se a polícia de choque de Lukachenko fosse constituída por santos defensores da legalidade democrática. Uma carga policial nos Estados Unidos ou França é para eles um símbolo da “repressão capitalista”, mas, na Bielorrússia, já é justificável.

Todos os três textos visam fazer-nos acreditar que tudo foi organizado a partir do estrangeiro, mais precisamente “por países vizinhos, pela União Europeia e pelos Estados Unidos”.  Ou seja, as várias centenas de milhares de pessoas que saem para as ruas das vilas e cidades bielorrussas não passam de “fantoches” dos países capitalistas! E se fossem conduzidas pelo Partido Comunista, a única força política com “carta” para conduzir as massas?

Também não é surpresa o apoio do PCP à potencial invasão da Bielorrússia pelas tropas russas: “No dia 15, Lukashenko anunciou que acordou com Vladimir Putin que a Rússia ajudará a Bielorrússia a garantir a sua segurança, em caso de ameaças militares externas e se solicitado por Minsk, no quadro dos tratados existentes entre os dois países”.

E também para esta “missão libertadora” há justificação: “o teor do «programa» da oposição não deixa, aliás, margem para dúvidas do que realmente se pretende: a retirada do país das organizações internacionais euro-asiáticas e subsequente integração na União Europeia e na NATO, limitações significativas nas relações económicas, políticas e culturais com a Rússia e privatizações do vasto e valioso sector público bielorrusso”.

Para o PCP, os povos não têm direito a decidir como viver. Quanto à “subsequente integração na União Europeia e na NATO”, a líder da oposição nunca defendeu tal coisa. Ela defendeu relações mais equilibradas da Bielorrússia com a União Europeia e a Rússia, mas nunca defendeu a integração na NATO. Aliás, a oposição bielorrussa tem em conta a experiência da Ucrânia em 2014, quando parte do seu território foi ocupado pelas tropas de Putin.

As mentiras continuam: “entretanto, por mais que as grandes cadeias mediáticas o procurem ocultar, um pouco por todo o país estão a ter lugar manifestações de apoio ao actual presidente e ao processo político que encabeça. No domingo, 16, dezenas de milhares concentraram-se numa praça central da capital e a 18 realizaram-se grandes manifestações noutras cidades, como Gomel e Mogilev”.

Mas será que os jornalistas do “Avante” não vêem televisão? Só isso poderá explicar o facto de eles não terem visto a cobertura televisiva das manifestações pró-Lukachenko nos canais informativos portugueses, para já não falar dos internacionais. Pena foi que, em Portugal, a comunicação social não tenha comparado os números de manifestantes nas iniciativas pró- e anti-Lukashenko.

No artigo “Democracia “à la carte””, o autor começa por escrever que “esta crónica não é sobre a Bielorrússia, nem sequer sobre mais uma revolução colorida que ali estará em preparação, seguindo o mesmo guião de outras. É sobre democracia ou, melhor dizendo, sobre o que o imperialismo realmente quer dizer quando fala em democracia”.

Porém, só quem se ficar pelos primeiros dois parágrafos não verá que todo o artigo visa justificar a política sangrenta do ditador bielorrusso. E para isso repete o velho rótulo da Ucrânia “fascizante”, caluniando todo um povo, tal como Estaline fez para reprimir chechenos, inguches, tártaros da Crimeia, etc., etc.

Noutro texto: “Três exemplos, volta a soar o mesmo tema: “que não se tenha dúvidas: a agenda em desenvolvimento [levada a cabo pelo Ocidente] é uma replicação das «revoluções coloridas» que, recorde-se, instalaram na Ucrânia um regime de natureza fascista”.

Uma das razões do ódio à Ucrânia consiste em que o Partido Comunista desse país foi impedido de correr a eleições. É verdade que essa força política está proibida não só nesse país, mas em muitos dos antigos países integrantes ou satélites da União Soviética. E isto tem uma explicação, com a qual se pode concordar ou não. Pessoalmente, não concordo com semelhante proibição, mas é preciso chamar a atenção para o facto de esses países terem sido vítimas dos mais hediondos crimes perpetrados pelos comunistas.

Qual teria sido a posição do Partido Comunista Português se, após o 25 de Abril de 1974, as autoridades não tivessem proibido as actividades da União Nacional, da PIDE/DGS, da Legião Portuguesa e de outras organizações do Estado Novo?

Será que só os regimes de extrema-direita cometem crimes? Será que o assassinato de milhões de pessoas por regimes da extrema-esquerda não são crimes, mas apenas “desvios”?

Por isso, não compreendo o que leva 187 intelectuais lusófonos a assinaram uma carta aberta virada apenas para o combate contra a extrema-direita. Concordando com o que está escrito nesse texto, pergunto: mas porque será que eles não olham para o perigo que vem da extrema-esquerda? Como é que forças que apoiam regimes como a Venezuela, a Bielorrússia ou a China, podem defender a dignidade humana?

Sejamos sensatos, a vossa frase “na certeza de que, como sempre nos mostrou a História, quem adormece em democracia acorda em ditadura” vale tanto para a extrema-direita como para a extrema-esquerda. Ambas apenas geram violência, repressão, sangue, ódio. Os exemplos do passado e do presente ainda não chegam para ver que entre o nazismo e o comunismo venha o diabo e escolha?

BIELORRÚSSIA  EUROPA  MUNDO  EXTREMA ESQUERDA  POLÍTICA  PCP

COMENTÁRIOS:

Filipa Morão: Excelente!!  Carminda Damiao: Óptimo artigo.    António Duarte: Certeiro como sempre

José Pinto de Sá: Bom artigo, Milhazes!

José Mendes > Alfredo Fernandes: Por exemplo a democracia portuguesa permitiu, sem consulta eleitoral, entregar a uma corja de tecnocratas ao serviço de lobbys do sistema financeiro internacional, nunca eleitos, a soberanias: Aduaneira  Monetária  Financeira  Cambial  Orçamental  Bancária  Negócios estrangeiros  Justiça  Constituição Etc. Tudo entregue nas costas dos eleitores. Vote um português em quem votar, ou não vote em ninguém, o resultado certo é serem aplicadas as políticas impostas pela corja de Bruxelas. Isto é democrático?

José Carlos Lourenço: O Sr. Cronista não devia malhar de forma tão certeira e metódica nos comunas tugas. Assim, como é que eles vão ter cabeça (discernimento) para montar as bancas na Festa !! Ou procurar os lugares mais frescos e arejados para instalar as delegações dos amigalhaços democratas da Coreia do Norte, Cuba, Venezuela, China ou Bielorrússia !! Ou dos grupos "revolucionários" latino-americanos especializados no narco-tráfico!! Por mais uns dias, dê-lhes algum descanso.....

sábado, 29 de agosto de 2020

Sem argumentos contra

 

Os factos e as conclusões referidos por Alberto Gonçalves. Que naturalmente se arrisca. Nós não, que nos convém a modorra.

Um homem sem qualidade /premium

Não seria demasiado grave que ao dr. Costa faltasse lisura, decência e, vá lá, coragem. Acima de tudo, falta ao dr. Costa humanidade.

ALBERTO GONÇALVES, Colunista do Observador

OBSERVADOR, 29 ago 2020

Horas depois da reunião com o dr. Costa, da qual saiu todo contentinho, o bastonário da Ordem dos Médicos, já um pouco abatido, queixou-se de o dr. Costa de não ter dito em público o que, em privado, se tinha comprometido a dizer. Aparentemente, o senhor bastonário é um dos muitos portugueses que, em Agosto de 2020 e a julgar pelas sondagens, continuam a tomar o dr. Costa por um indivíduo confiável. Há fenómenos extraordinários. Submetidos a doses adequadas de propaganda, os mesmos portugueses acreditariam que Khomeini era um baluarte da luta feminista.

Noto, dado que a propaganda não deixou que se notasse devidamente, que a reunião citada surgiu na sequência de um vídeo em que o dr. Costa, em “off” e perante jornalistas do “Expresso”, chamava “cobardes” aos médicos que não andaram a reboque das “autoridades” socialistas locais, no caso do lar de Reguengos onde morreram 18 infelizes por desidratação, incúria e outras inevitabilidades. Durante a reunião, pelos vistos, o dr. Costa explicou ao senhor bastonário que as suas declarações haviam sido descontextualizadas, e que, no contexto, o “cobardes” apenas pretendia expressar a admiração e o respeito que sente pela classe. Após a reunião, declarou que o Estado, leia-se meia dúzia de figurinhas do partido, estivera impecável em todo o processo. Em todo o processo, em “off” e em “on”, o dr. Costa nunca pediu desculpa aos médicos. Muito pior, nunca pediu desculpa aos familiares das vítimas.

O episódio resume a personagem. Aqui, como em dezenas de ocasiões anteriores, temos o sujeito que mantém uma relação complicada com a verdade, o sujeito que tem uma relação nula com a responsabilidade, o sujeito que perde a (débil) compostura ao primeiro entrave, o sujeito que não tolera divergências, o sujeito habituado a debater assuntos sérios com a sofisticação de comentadores da bola, e o sujeito que tem os pobres – e bem agradecidos – jornalistas por capachos da sua vontade. E isto, aliado ao domínio precário da língua portuguesa e à tendência, fatal no PS, para se rodear de trapaceiros e nulidades, é o lado menos nocivo do dr. Costa. Não seria demasiado grave que ao dr. Costa faltasse lisura, decência e, vá lá, coragem. Acima de tudo, falta ao dr. Costa humanidade.

Em 2017, logo após a primeira vaga de incêndios e de cadáveres, o dr. Costa apareceu aos saltinhos de alegria no lançamento da candidatura de um futrica à câmara de Lisboa, pediu uma avaliação do impacto dos fogos na respectiva popularidade e, por fim, rumou de férias para Ibiza. Após a segunda vaga de incêndios e cadáveres, realizou uma “comunicação” ao país em que exaltava o excelso trabalho dele e do governo dele, e em que nem por um instante lhe ocorreu lamentar com um vestígio de franqueza os cento e tal cidadãos que o Estado deixou arder. Mais tarde, evidentemente aconselhado, fingiu comover-se numa sessão parlamentar: não foi uma grande interpretação. Para lá das inúmeras virtudes de que carece, o dr. Costa carece de empatia.

Quando o dr. Costa consumou a subida de “apparatchik” de paróquia a chefe nacional, os pasmados da praxe, para efeitos de legitimação, cobriram-no de elogios, entre eles o de “príncipe da política”. Hoje, parece sarcasmo. À época, também parecia. É difícil conceber maior insulto à monarquia e à política. Mesmo a política portuguesa, com um vasto rol de doutores sem letras, de manhosos sem mundo e de prepotentes sem razão, não produzira, fora das fileiras secundárias ou de partidos totalitários, um líder tão literalmente desumano – pondero a palavra – quanto o dr. Costa.

Não meço a humanidade pela inteligência, pela bondade ou, Deus me livre, pelo sentimento: meço-a pela possibilidade de olharmos alguém e, sob as imperfeições e divergências, suspeitarmos de alguma característica partilhável, de um pormenor susceptível de nos convencer que seria suportável passar dez minutos a tomar café com aquela criatura. Eu, que já passei horas (e abracei) Jerónimo de Sousa, um ignorante afável, não imagino conviver dez segundos com o dr. Costa. Um fulano normal olha o dr. Costa com horror. E ele olha-nos com desprezo.

A cada dia de uma longa carreira, o dr. Costa ajuda a definir o arquétipo, felizmente raro, do político privado de dúvidas, escrúpulos, vergonha, limites. Cavaco não tinha dúvidas, mas tinha escrúpulos. Guterres não tinha escrúpulos, mas tinha dúvidas. Durão não tinha limites, mas tinha vergonha. Sócrates não tinha vergonha, mas tinha limites (e Pedro Passos Coelho nem é para aqui chamado). O dr. Costa não tem nada que se aproveite, incluindo a capacidade de ver nos semelhantes (salvo seja) qualquer coisa diferente de instrumentos ou empecilhos dos propósitos dele. O dr. Costa não é só um mau governante: é obviamente má pessoa. E uma pessoa má que manda sem escrutínio num país é obviamente um governante terrível. E perigoso.

Principalmente, por dispor de poder absoluto e não o emprego subalterno na repartição das finanças que um carácter assim recomendaria, o dr. Costa é um perigo, cujas consequências ainda não experimentamos na totalidade. Nem todas as calamidades que vêm sucedendo a Portugal são culpa do dr. Costa. Demasiadas calamidades evitáveis exibem, directa ou indirectamente, a sua autoria. Muito além da covid, os sucessivos, e arbitrários, estados de emergência e contingência não escondem o estado de agonia a que chegamos: um povo voluntariamente entregue aos apetites de um homem sem qualidade. É talvez merecido. É de certeza trágico.

ANTÓNIO COSTA  POLÍTICA

 

COMENTÁRIOS:

António Lamas: Extraordinário Alberto. Em cheio na avaliação.

Carlos Quartel: Arrasador, sem paninhos quentes. Em minha opinião, corresponde à verdade, mas não se pode deixar de referir que está lá com os votos dos eleitores portugueses. A geringonça foi uma golpada, em que os enganou (nem se deram por enganados, coitados) mas agora não houve engano. O que o autor viu, todos vimos, por que razão consegue os votos ?? Tem feitiço???

Xico Nhoca: Esta avaliação foi de arrasar. E, desgraçadamente, certeira. Desconfio que AG nutre uma repugnância pelo espécime que só é comparável com a minha.    Luís Marques Óptimo artigo.

fritz maier: A vida andava a correr mal ao Khosta. Vai daí, o gajo (emprego as mesmas palavras que ele costuma empregar), como sempre faz quando acossado e apesar de protegido pela CS que ele próprio paga, organizou, com uma pressa no mínimo desagradável, uma reunião com o BE. Ora, o BE e o PCP vão ter o cuidado de terminar quaisquer danos que ainda não tenham sido feitos.

Catarina Alves Costa: não é só um mau governante: é obviamente má pessoa. E uma pessoa má que manda sem escrutínio num país é obviamente um governante terrível. E perigoso. Muito obrigado Alberto Gonçalves pelo seu inestimável desassombro e lucidez. Fica assim dito, por intermédio da sua pena lapidar, o que igualmente penso e profundamente sinto. Nem de encomenda se obteria um matarruano de repelência superior ao assaltante do poder instalado no governo do nosso país.

Maria Alva: Se a xica-espertice manhosa e sem escrúpulos fosse música, Kosta seria a Orquestra Sinfónica de Viena a tocar à desgarrada com Orquestra Filarmónica de S. Petersburgo. Parabéns e até prá semana, AG.

André Ondine: Nada a acrescentar. Uma descrição perfeita do manhoso habilidoso.

Numantinus Cipianus Estou de volta, depois de um retiro sabático a que em parte me propus e, noutra parte, fui obrigado pelo azedume esconso e trauliteiro de uns quantos esquerdosos e alguns também direitalhos salazarentos que sempre que posto por aqui qualquer treta, passam a denunciar-me mais rápido do que o execrando Che tratava de dar uns quantos tiros na nuca dos recalcitrantes que o afrontavam. E regressei, hélas, para comentar as façanhas de um verdadeiro artista português seguindo o mote, pois então, do nosso estimado AG que o criador guarde na sua bondade infinita e o proteja dos nefandos e truculentos prosélitos de São Marx. Adiante que se faz tarde. Alguém de vcs que me lêem teriam o topete de comprar um carro em segunda mão ao Dr. Kostas? Certamente que, pelo menos hesitariam ou, no mínimo, iriam pressurosamente ler no Portal da Queixa da net se, o cidadão em questão, não tinha pelo menos uma vez metido serradura no motor do veículo a fim de que desse para rolar uns quilómetros. O suficiente, pois claro, para ainda acusar o comprador de ter sido ele mesmo o autor da marosca! Diz o povão que quem vê caras não vê corações. Mas todos nós, pelo menos aqueles que não têm o cérebro trepanado ao estilo de uma boa parte dos comunistas, há muito aprendeu a intuir que pessoas existem a quem lhes está escarrapachada na cara a desfaçatez e a mais que provável falta de carácter. AG anda bem ao interrogar-se como é possível certo tipo de pessoas alcandorarem-se aos lugares cimeiros do estado. E tenho para mim que, de uma forma até mais prosaica, raro é o político que não deita mão da arte da dissimulação e da falta sistemática de vergonha. Nicolau Maquiavel explicou-nos isso de forma sucinta e directa e, de uma forma genérica, quase todos eles surfam a mesma onda da genial personagem criada pelo também genial Jorge Amado que é, como muitos certamente se lembrarão, do prefeito Odorico Paraguaçu da cidade baiana de Sucupira, do romance e novela O Bem Amado. Não gosto muito de perorar sobre pessoas que pessoalmente não conheça e, por isso mesmo, devo ater-me àquilo que ressalta da personagem política. E, sem quaisquer dúvidas, parece-me tratar-se de uma pessoa manhosa, arrogante, prepotente e trapalhona. A psiquiatria tem para este tipo de pessoas uma designação que indicia uma psicopatologia concomitante. E, como bem diz o AG, tudo isto é trágico. Usa dizer-se que cada povo tem os governantes que merece. Também acho. Bem lá no fundo o povão tuga merece o Dr. Kostas. E, este, olhará certamente de soslaio e com desdém para o povo ignaro que o incensa. Que a miséria, em especial a miséria moral, gosta de se sentir suficientemente acompanhada!... PS- Aos que têm várias contas e denunciam por aqui "democraticamente" certos comentadores (só um destes artistas tem umas 40 contas pelo que pude observar) direi que, sempre que me apeteça, cá estarei para dar luta. Gostem ou não!...

CN Romeu Francisco> Numantinus Cipianus Bravo! Precisamos de si. Não abandone a partida por causa de 1 Kosta dos Komentários. É dar a vitória a um grupo de bestas.   Liberal de Castigo > Numantinus Cipianus Seja bem aparecido, cônsul Numantinus Cipianus, muitos por aqui, entre os quais este seu fã agora de novo assinante (tive que criar nova conta de correio electrónico!), aguardavam que o vencedor de Cartago voltasse às lides. Só tenho um pouco pena de ter sido para falar sobre uma personagem da "vida nacional" em relação à qual até mencioná-la nos suja a boca ou os dedos. Hesito é em saber se nos suja mais ou menos do que referir o professor Selfies. Vendo bem as coisas, estão bem um para o outro. Aproveito para lançar um 'fatwa' sobre quem quer que denuncie os comentários de Públio Cornélio Cipião Emiliano Numantino o-Africano, que essa pessoa sofra como castigo ter que abraçar o Dr. Costa mil vezes.     fritz maier > Numantinus Cipianus Diz bem, NC, pois realmente é impressionante como é que uma criatura tão medíocre consegue estar à frente dum governo da UE !    André Ondine > Numantinus Cipianus: Eu devo dizer que nunca compraria um carro em segunda mão ao Dr Costa. Nem sequer um carro novo, pois estou seguro de que se trataria de uma velharia com o conta Kms manipulado, tal a manhosice da personagem. O homem anda a vender gato por lebre desde que começou na política, onde parece que sempre esteve.     Anibal Augusto Milhais > Numantinus Cipianus: Até pensei que tinha desistido! Bem vindo de volta! Nós os da Esquerda gostamos de o ver por cá! E....claro, veja lá se ...."pára de espumar da boca, tremelicar, e deitar fumo das orelhas", Saudações aqui do Soldado Milhões!    John Doe > Numantinus Cipianus: um povo voluntariamente entregue aos apetites de um homem sem qualidade Como é que um povo que se pode encontrar em todos os países do mundo, que é muito prezado pelas autoridades e os empregadores lá fora, como é que esse povo consegue chegar a uma situação tão assustadora ? Mistério para mim !

paulo Vasconcelos: Lisura e decência são coisas que abundam na personalidade do bastonário da ordem dos médicos. São tantas toneladas de lisura e decência que em Dezembro jurava que a ordem não podia fazer auditorias com muita pena dele. Já em Agosto, a mesma pessoa munida da mesma lisura e decência já dizia completamente o contrário do que tinha dito em Dezembro para surpresa dele e principalmente para surpresa nossa.     Jorge Carvalho: Obrigado pela coragem e lucidez. A actualidade portuguesa é atroz, descemos tanto, que por vezes até perto de um cão sentimos vergonha.      Ana Rebelo: Muito bem.

Observa Ador: Está a dar demasiada importância ao dr. costa.   John Doe: Observa Ador: Não lhe dar a devida importância maléfica seria um erro tremendo !    T R Sem tirar, nem pôr.

António Duarte: AG back on track após um anterior artigo menos conseguido, soberbo, verdadeiramente soberbo. Que regalo para o intelecto. Anseio pela próxima semana