quinta-feira, 31 de março de 2022

“Je pense, donc je suis”


Ou antes “je suis, donc je pense”? Paulo Tunhas minimiza,, demonstrando a acefalia  e o pedantismo – quem sabe se timorato - nesses tais… Os dizeres de alguns comentadores são exemplificativos de tais características.

O asno de Buridan actualizado em prol da paz

Porque se julgam estes vinte intelectuais de esquerda de tal modo acossados por uma sociedade que em nada os incomoda e lhes dá, como obviamente deve dar, toda a liberdade de palavra?

PAULO TUNHAS

OBSERVADOR, 31 mar 2022, 00:191

Nunca na minha vida tinha visto um tão extenso rol de queixumes. A propósito da invasão russa da Ucrânia, um grupo de vinte intelectuais de esquerda subscreveu um abaixo-assinado que tem por título “Pela paz contra a criminalização do pensamento. De que se queixam eles? Preparem-se, que a lista é longa. Por ordem: de serem vítimas de um “ambiente tóxico”, de “hostilização”, de “desacreditação pessoal”, de “intimidação”, de “escárnio”, de “desacreditação social”, de “pressão”, de “perseguição”, de “deturpação”, de “criminalização”, de serem objecto de uma “deriva totalitária”, de “intolerância” e de “censura”. Uf!

E qual a razão de tão inominável praga ter sobre eles caído? O motivo só acentua o horror e a tragédia do seu destino. A única razão de assim se terem transformado em párias de uma sociedade cruel é terem ousado “pensar diferente”. Como nos lembram, “pensar traz consequências”, e estas são tão mais dolorosas quanto “o poder político se sente proprietário das formas de pensar”, instituindo um “pensamento único” ao serviço daqueles que “colocaram de quarentena a faculdade de pensar”. Se, em geral, “pensar não é uma tarefa fácil”, como nos asseguram, certamente com conhecimento de causa, particularmente quando se trata de “pensar historicamente”, a missão roça o impossível quando se trata de elaborar “um pensamento subversivo que põe em causa a ordem das coisas” e a “criminalização da pluralidade do pensamento” atinge níveis nunca vistos. Estamos praticamente em presença, para utilizar os termos do governo russo a propósito dos russófonos do Donbass, de um “neo-holocausto” intelectual.

As forças de que o “poder” se serve para subjugar os seus heróicos, e aparentemente infrutíferos, esforços de pensamento são claramente expostas. São as forças de uma “sociedade onde o conhecimento é uma desvantagem e o saber não ocupa lugar” e que, “de forma acéfala”, propaga “opiniões irrelevantes e banais, sem referências éticas, e uma maneira de ser flexível e fútil”. O corolário do reino perverso dessas opiniões acéfalas, que dificilmente escondem “o desejo patológico de que a guerra se alastre à escala global”, é assinalado com grande profundidade filosófica: “O mundo torna-se instantâneo. Pode-se mudar mil vezes de princípios”.

Quem tiver lido a lista dos queixumes reproduzidos no primeiro parágrafo poderá compreensivelmente pensar que a força opressiva do “poder” se manifesta de forma tão implacável quanto as tropas invasoras de Putin se comportam na Ucrânia, destruindo cidades inteiras, causando inumeráveis mortes e provocando um fluxo de refugiados nunca visto na Europa depois da Segunda Guerra Mundial. Cometeria, no entanto, um erro quem pensasse desta maneira. Porque, para os signatários, a situação na Ucrânia é complexa e quem falar da luta de um povo pela sua soberania e liberdade contra uma potência invasora, assim resumindo a situação, simplifica “de forma acéfala” a realidade, impedindo “a compreensão do mundo em que vivemos de forma crítica”, ao passo que a “intimidação”, etc., de que as vinte personalidades afirmam ser objecto é de sentido único e inequívoco. Por outras palavras: temos aqui direito a vítimas em estado puro.

Há nesta auto-descrição dos signatários uma mistura inextricável de ridículo, grotesco e obscenidade. Ridículo: a auto-importância que a si mesmos se dão. Grotesco: a própria afirmação de que são “perseguidos”, afirmação sem qualquer correspondência, mesmo que remota, na realidade. Obscenidade: a comparação tácita, que é impossível não pressentir, entre a sua situação e a dos russos que, vítimas de perseguição no seu próprio país, corajosamente se manifestam contra a invasão da Ucrânia.

Vamos agora ao tal “pensamento” de que tanto falam. É, dizem, um “pensar diferente”, que “não é fácil”, “um pensamento subversivo que põe em causa a ordem das coisas”, indo contra o “pensamento único” do “poder”. Sigamos a ordem, começando pela “diferença” do pensamento. Em que consiste, precisamente, ela? Tanto quanto se percebe, numa recusa em aceitar extrair as devidas conclusões de um facto óbvio: a Rússia invadiu a Ucrânia. Disse “extrair as devidas conclusões” porque, ao contrário da diplomacia russa, não se nega o facto bruto da invasão. A subtileza do “pensamento” consiste em, não negando o facto, saltar daí imediatamente para um plano puramente abstracto em que, para falar como um filósofo, nos colocamos numa situação de perfeita indiferença em que nada nos inclina numa direcção ou outra. É, de uma certa forma, a posição do asno de Buridan, incapaz de escolher entre dois campos verdejantes a igual distância dele e assim condenado a morrer à fome. O salto para o abstracto aterra numa proposição geral cuja falsidade é patente, tornando a sua discussão, neste contexto, ociosa: “O que melhor defende a civilização da selvajaria da guerra é o apelo incessante e incondicional à paz”. O “apelo incessante e incondicional [sublinho: incondicional]” é aqui maravilhoso. Hitler e Estalinedesculpe-se a facilidade dos exemplos – tê-lo-iam apreciado sumamente e oferecido uma medalha muito reluzente aos vinte subscritores.

Percebe-se que o pensamento não seja assim “fácil”. O asno de Buridan que o diga. Não se percebe, em contrapartida, em que possa ele consistir em algo de “subversivo que põe em causa a ordem das coisas”. Tudo aponta para que seja antes um pensamento acomodatício que, enquanto apela incondicionalmente à paz, deixa livre o campo de acção ao exercício da força bruta, isto é, à “ordem das coisas”. Que se veja nisto algo de “subversivo”, só se pode explicar, francamente, pela alta opinião que os signatários têm de si mesmos e da sua missão no planeta.

As duas coisas são, de resto, testemunhadas quando nos deparamos com a caracterização que oferecem daqueles a que se opõem e que, aos seus olhos, os perseguem com sanguinário furor. A acreditar no abaixo-assinado, são criaturas acéfalas, que apenas conseguem exprimir “opiniões irrelevantes e banais, sem referências éticas, e uma maneira de ser flexível e fútil” – outra perfeição, a “maneira de ser flexível e fútil”. Por artes dialécticas, uma tal “flexibilidade” é, no entanto, capaz de conviver com uma monstruosa inflexibilidade, a saber: “o desejo patológico de que a guerra se alastre à escala global”. Esse desejo de morte é, como não podia deixar de ser, o produto da nossa sociedade, que desvaloriza o “conhecimento” e o “saber” de que os signatários são os mais lídimos representantes. E tal é o seu brilho que a sociedade, acéfala e fútil, pronta a “mudar mil vezes de princípios” (o “pensamento único” admite, aparentemente, a pluralidade – mas sob a estrita forma da sucessividade) não os pode tolerar. A mediocridade, como se sabe, concebe forçosamente um tenaz rancor contra a excelência. Daí que cometa sobre esta a extensa lista de perfídias mencionadas no primeiro parágrafo.

Não disse, de propósito, quase uma palavra sobre as intenções que eventualmente presidem a este abaixo-assinado, em particular no que respeita à transição do reconhecimento da existência de uma invasão a uma posição semelhante à do asno de Buridan em versão pacifista: limitei-me a procurar descrever o movimento geral do espírito que o governa. É verosímil que, num caso ou noutro, o desenrolar da história dos últimos trinta e poucos anos tenha baralhado as cabeças sobre o destino da U.R.S.S e da Rússia, ao ponto de conceberem estas sob o modo composto de uma espécie de Úrssia. Mas, com toda a sinceridade, não me interessa. Interessa-me sim perceber em que mundo é que vivem. Porque se julgam de tal modo acossados por uma sociedade que em nada os incomoda e lhes dá, como obviamente deve dar, toda a liberdade de palavra? Porque se crêem detentores de um pensamento subtil e subversivo? E, finalmente, qual a legitimidade da capacidade diagnóstica que se atribuem para se instituírem como consciência crítica de uma sociedade que julgam acéfala, fútil e sem princípios? Se a condição para obter resposta a estas três questões for pôr a minha assinatura num abaixo-assinado (de não mais de três linhas), subscrito por gente de esquerda e de direita, que deles discorde, pedindo que a sua presença na comunicação social seja, se possível, alargada para lá da sua actual e muito substancial dimensão – é como se o meu nome já lá estivesse. A investigação científica dos mistérios da psique humana justifica todos os labores.

GUERRA NA UCRÂNIA   UCRÂNIA   EUROPA   MUNDO   LIBERDADE DE EXPRESSÃO    LIBERDADES   SOCIEDADE

COMENTÁRIOS:

H Almeida: Muito bom. Total desconstrução do dito abaixo-assinado.           Américo Silva: A crise ucraniana é uma crise securitária mundial, entre outras criadas e dirigidas pelos USA, que alteram a ordem internacional e ameaçam a paz mundial, como a primavera árabe e a expansão da Nato cinco vezes para leste, violando as suas promessas, com o pretexto de consolidar a democracia, defender a estabilidade, e promover os valores ocidentais. E porque é que os ucranianos são mais vítimas do que os sírios?          Da Grreite Rizete: Bom artigo! Acho bem que se ataque e vilipendie o déspota Putin. Mas ditadores como Maduro, Kim, Díaz-Canel e Xi parecem ser “deixados em paz”. É certo que não invadiram nenhum país, mas não deixam de ser tiranos. Um momento… dizem-me aqui na mesa ao lado que o país do Xi invadiu o Tibete. A sério!? Ah, mas esse, ninguém ousa criticar, sobretudo em Portugal. O Xi é até recebido aqui com direito a tapete vermelho e discurso baboso do pantomineiro de Belém. Contra esse tirano já não se vê ninguém a rasgar as vestes ou a pintar os lábios de vermelho, sobretudo aquele idiota que dirige a “escolinha de corruptos” do PS, a JS. Esse à pergunta: Trump ou Xi, escolhe… Xi! Se ele decidir invadir Taiwan, quero ver se teremos as mesmas reacções que vemos agora relativamente a Putin.          João Ramos: Os tais « acéfalos » e « mal formados » serão sem dúvida os subscritores do tal abaixo assinado ou então são simples vigaristas mal intencionados!!!       jorge espinha: A Rússia/URSS deve ser o único país/império mundial que quando invade os vizinhos a culpa é do invadido. Nos anos 30 invadiu a Finlândia já não sei bem porquê mas certamente aquele país poderosíssimo deveria estar a ameaçá-los, depois juntamente com os seus amigos nazis invadiram a Polónia por medo duma suposta aliança Franco-Britânica. O Afeganistão deveria ter sido uma situação semelhante à Finlândia. Depois da queda do muro e já como "Rússia" invadiu a Geórgia, por culpa da Geórgia, claro está e a Ucrânia duas vezes. Dos tempos do principado da Moscóvia até 1917 foi invadindo e ocupando as terras a oriente numa fuga para a frente em busca duma sensação de segurança impossível de alcançar. Porque quanto mais aumentava o império mais fronteiras tinha para defender e descontentes no seu interior e maior a sensação de paranoia. Nem o Oceano Pacífico serviu de barreira pois chegaram até ao Alaska. Os comunistas do costume e os idiotas úteis da direita anti-woke estão na primeira linha da defesa. Sempre no caso dos comunistas, dá para acertar o relógio. Qualquer país que seja contra os ideais humanistas ocidentais e onde se esmague as liberdades que gozamos no ocidente é um bom país e um aliado. Para quem não sabia, fica agora a saber que o "ambientalismo" do Sr Soromenho Marques é alimentado a anti-capitalismo pois ele está-se a borrifar para a natureza.           António Sennfelt > jorge espinha: Caro Jorge Espinha; Lamento, mas parece ter-se esquecido de mencionar o esmagamento da revolta popular de 1954 em Berlim, de 1956 na Hungria e de 1964 em Praga! Eu sei que são minudências, comparadas com o Holodomor na Ucrânia nos anos 30 do século passado, já para não falar do sistema do terror vermelho e do Gulag que vigorou na URSS de 1917 a 1981!! Cumprimentos amigos.           jorge espinha > António Sennfelt: A minha intenção não foi escrever a história dos povos Russos desde a fundação de Kiev pelos Vikings. Há sempre muito que fica por dizer.         Isabel Gomes: Os “idiotas úteis “ que subscreveram este hino à hipocrisia bem podem bazar e desocupar o verdadeiro espaço da paz e da liberdade. Já chega de mentiras e de desonestidade! Estamos fartos desta neutralidade que defende a violência repressiva de Putin. Sim! Neste momento só há 2 caminhos e 2 lados! Escolham!! Cobardes!      AL MA: Indigentes de pensamento que se auto  intitulam, “Intelectuais”. Elogiam-se uns aos outros, premiando-se entre si. São  pessoas acéfalas, repetem chavões  com 120 anos, nunca fizeram nada de útil, mendigam nos jornais, televisões, associações, manifestos, manifestações, fundações, decoraram  palavras caras de  que não  sabem o significado quanto mais articular com mínimo sentido. A Esquerda só existe para alimentar estes parasitas.      Rui Rodrigues > AL MA: Olavo da Carvalho identificou bem esta intelectualidade dominante: -  "O imbecil colectivo não é, de facto, a mera soma de um certo número de imbecis individuais. É, ao contrário, uma coletividade de pessoas de inteligência normal ou mesmo superior que se reúnem movidas pelo desejo comum de imbecilizar-se umas às outras". -  “O 'imbecil colectivo' é uma comunidade de pessoas de inteligência normal ou superior que se reúnem com o propósito de imbecilizar-se umas às outras”.  Joaquim zacarias: Intelectuais da treta. Subsidio dependentes. Enganadores. Hipócritas. Ditadores. Resumindo: nazis-fascistas. João Afonso: O paradoxo de Buridan é extensível aos que elegem deputados da seitas a que pertencem estes "intelectuais", porque quando acusam a sociedade de ser "acéfala e fútil", estão de facto a classificar somente aqueles que votam nos partidos mais antidemocráticos e totalitários com assento parlamentar. São nostálgicos úrssios, da Úrssia              Mario Almeida: Pronto, já carreguei no apontador. Graaaaaaande surpresa. BSS! … cuja genialidade de pensamento sobre a Ucrânia se resume a isto: “A Ucrânia era uma gaja boa, pôs-se a jeito. O Putin até nem queria!” Uma maravilha de Politicamente Correcto! Isto não é uma carta aberta, é um frete! Se algum dos signatários dever alguma coisa a BSS e se quiser libertar do empenho posso quotizar-me nesse acto de ajuda ao próximo, como forma de solidariedade com a Ucrânia.          Mario Almeida: Ainda não sei quem são estes 20 génios perseguidos pelo  lumpenproletariat … mas basta ler o Triunfo dos Porcos para perceber de que forma seríamos eliminados pela sua genialidade caso tivessem essa oportunidade!          Cisca Impllit: O problema é  mesmo a levar anos a fio com as putativas inteligência e razão destes seres, a fazer escola e ajudar o  Costas a derrubar muros  - não passam de uns imbecis, no exacto significado do substantivo.       António Sennfelt: Parabéns e obrigado, Paulo Tunhas, por mais um magnífico texto! Só tenho pena de continuar sem saber  quem são os vinte asnos signatários do tal documento. É que asnos há muitos, mas asnos de Buridan são exemplares merecedores do nosso maior desvelo e atenção!             joão Floriano > António Sennfelt: Boa tarde caro António Repare na quarta linha do texto, a azul. Clique e imediatamente abre a página do Expresso com o texto integral e os signatários. nada de novo: os do costume.

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Um problema natural


Em que, suponho, todos vão pensando, o da integração a longo ou definitivo prazo desses povos estrangeiros, sofredores de uma guerra inesperada e monstruosa, a terem que aceitar uma hospitalidade que não pediram, mas lhes foi solidariamente oferecida, provavelmente com mais calor humano do que no caso dos “retornados”, estes, para todos os efeitos, usurpadores de espaços a que tinham deixado de pertencer, na sua maioria. Os escorraçados de África passaram por situações de adaptação, incomodativas, mas tinham a língua ou famílias em comum, e para além disso, o Estado Português, naturalmente, teve que os acolher, mantendo-lhes os seus direitos, como seres da mesma pátria, que se foram “virando” dentro do possível nos novos espaços. Não são situações do mesmo peso, claro, apesar do sentimento de revolta inicial daqueles, bem diferente do desespero absoluto destes, em fuga de uma pátria em inesperada guerra brutal, despojados de tudo o que significara para eles a própria vida. O que todos desejaríamos é que se adaptassem o mais cedo possível, pelo trabalho e a estabilidade, precários ou não, alguns junto dos seus familiares, que já anteriormente se haviam lançado nas migrações mais ou menos frutuosas, que muitos dos nossos, de resto, sempre praticaram, voluntariamente, e continuam, ao longo dos tempos, em busca de condições de vida  menos adversas, de uma pátria desde sempre metida "No gosto da cobiça e na rudeza Dua austera apagada e vil tristeza". Tudo isso é injusto, tudo é revoltante, só se deseja que a União Europeia os não abandone, nas várias pátrias a que eles terão que se acolher, por longo tempo ainda. E na nossa também, apesar do cepticismo do nosso épico, talvez eliminado por imposições exteriores, unionistas, ou internas, de solidariedade própria.

O perigo de ondas solidárias que viram marés vazas

Apesar de ser um conflito em solo europeu, o tema dos refugiados ucranianos não durará para sempre. Quando os meios de comunicação social abandonarem as fronteiras, estas pessoas ainda cá estarão.

PEDRO ROCHA E MELLO Ilustrador e Animador Digital

OBSERVADOR, 30 mar 2022, 00:071

No último mês, a guerra na Ucrânia tem levado toda a Europa a mergulhar numa enorme onda solidária, desde entidades estatais, empresas, até ao comum cidadão que, de forma organizada ou independente, se tem movido até às fronteiras do conflito para resgatar aqueles cujo futuro tem estado assente sob um sentimento constante de medo e incerteza.

Relativamente àquela que está a ser a receção contínua dos milhares de refugiados ucranianos em Portugal, quero com este artigo chamar à atenção para os perigos e riscos desta “onda solidária” que pode muito bem vir a tornar-se mais tarde numa “maré vaza”.

Hoje, mais do que nunca, somos bombardeados com um volume de informação muito superior àquele com que conseguimos lidar. O mediatismo gerado sobre o apoio à “causa do dia” deve ser gerido com muito cuidado e humanidade. A verdade é que, quer queiramos quer não, estamos constantemente “ligados à ficha”, inconscientemente condicionados pela quantidade de informação que nos chega pelos meios de comunicação, que nos últimos tempos nos têm garantido uma “guerra em directo”, uma guerra comentada e analisada ao minuto. Já para não falar das constantes mensagens de apoio, de vídeos, fotografias – verdadeiras ou falsas – que encontramos nas redes sociais.

Em resposta a esta torrente de informação, há um sentimento que desperta em nós. Um sentimento imediato de compaixão, urgência em tomar uma posição e fazermo-nos à estrada que, com tudo o que tem de louvável, traz consigo perigos e riscos associados, que devem ser geridos a longo prazo e não fundados meramente no calor do momento.

Em conversa com Rui Marques, fundador da Plataforma de Apoio a Refugiados em Portugal, ficou claro aquilo que tem sido o standard de acolhimento às famílias ucranianas que chegam a Portugal. Hoje já chegam mais refugiados ucranianos a Portugal do que no conjunto dos últimos sete anos, o que prova, não só no que toca à solidariedade colectiva, mas também do ponto de vista logístico e operacional, que é possível, e razão de muito orgulho para todos os portugueses, acolher. Citando Rui Marques: “Quando estamos disponíveis, que seja para uma maratona e não para uma corrida de 100 metros “.

O próprio reconhece que este êxodo, concentrado nos países vizinhos da Ucrânia, deita por terra a tese anteriormente defendida por países como a República Checa, Polónia e Hungria face aos refugiados que têm entrado na Europa nos últimos anos. A actual generosidade europeia a que assistimos e o movimento que se tem criado para acolher com a maior eficácia todos aqueles que hoje nos pedem asilo mostra que ela não pode caber apenas a um ou dois países, como foi o caso da Grécia e Turquia, na chegada de refugiados do Médio Oriente e Norte de África, a quem coube a total responsabilidade de acolhimento.

Torna-se claro que, mais do que nunca, a receção de refugiados nos nossos países deve basear-se na necessidade humana de refúgio, e não na cor da pele, religião ou origem.

Quanto à solidariedade a que assistimos hoje, é fundamental que esta tenha princípios sustentáveis, devendo ser interiormente preparada, garantindo mais tarde um bom enquadramento institucional dos que chegam, dando como exemplo a integração das crianças nas nossas escolas, como também uma expectativa realista relativamente à habitação que necessitarão, porque, se assim não for, corremos o perigo de defraudar as nossas expetativas e as daqueles que acolhemos.

Muitas vezes, a ideia romantizada sobre quem chega não corresponde à realidade. Estas famílias trazem muitas vezes consigo informações que não são reais face ao que as espera em Portugal. Imaginamos que a comunicação não será um impedimento, mas na verdade tem sido uma enorme barreira. No fundo, é importante perceber a necessidade de um amadurecimento prévio daquele que deve ser um acto de total generosidade e gratuidade, evitando impulsos mediáticos.

Devemos estar conscientes de que o factor de saturação da opinião pública face à chegada de refugiados ucranianos também nos afecta. Infelizmente, tal como com os refugiados sírios, para não falar da mais recente situação no Afeganistão, também os ucranianos serão vítimas, a médio prazo, do inevitável fenómeno de desmobilização civil e institucional quanto à sua situação precária e quanto ao actual estado de guerra.

Apesar de ser um conflito em solo europeu, uma notícia não dura para sempre, o tema dos refugiados ucranianos não durará para sempre. E depois de a guerra terminar, quando os meios de comunicação social abandonarem as fronteiras, estas pessoas ainda cá estarão: desamparadas, numa tentativa constante de integração, desejando fazer parte do sonho europeu, que a longo prazo caberá a cada um de nós garantir.

Apelo a todos aqueles que têm mergulhado nesta onda solidária, que a sua vontade em apoiar os que mais precisam se mantenha forte, constante e organizada, e que juntos possamos mostrar do que é a feita a solidariedade portuguesa.

Pedro Rocha e Mello é licenciado em Arte Multimédia pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, tendo terminado a sua formação no Reino Unido. Nos últimos anos tem trabalhado como Ilustrador e Animador Digital independente para vários sectores da indústria criativa, como estúdios e agências, editoras e consultoras.

O Observador associa-se ao Global Shapers Lisbon, comunidade do Fórum Económico Mundial, para, semanalmente, discutir um tópico relevante da política nacional visto pelos olhos de um destes jovens líderes da sociedade portuguesaO artigo representa a opinião pessoal do autor, enquadrada nos valores da Comunidade dos Global Shapers, ainda que de forma não vinculativa.

GLOBAL SHAPERS   OBSERVADOR   REFUGIADOS   MUNDO   GUERRA NA UCRÂNIA   UCRÂNIA   EUROPA

COMENTÁRIO:

bento guerra: Pois é, mas vai ser preciso muito trabalho e muito dinheiro, para apanhar aqueles cacos, LÁ

 

Um bom texto


De Jorge Fernandes. Merecedor de bons comentários. Somos assim, acomodados, nada da energia que se demonstra, na gente que luta, lá na Ucrânia. Desesperançados, mas trocistas, cautelosamente resguardados, envelhecidos, acobardados, crentes nos fados inalterados, bem entoados, por espécimes variados dos fadistas encartados, entre os quais os figurantes por quem somos governados, de mansos palavreados. Pessoa tinha razão, sempre foram esses os fados, e cada vez mais o serão:

«Quanto é melhor, quando há bruma,

Esperar por D. Sebastião,

Quer venha ou não!»


A Câmara Municipal instala-se em São Bento

Governar a Câmara de Lisboa é uma coisa, governar um país é outra bem diferente. Infelizmente, Costa nunca passará de um presidente de câmara. Com votos em todo o país, mas um presidente de câmara.

JORGE FERNANDES

OBSERVADOR, 30 mar 2022

A semana passada, António Costa apresentou a composição do novo elenco ministerial que nos pastoreará ao longo dos próximos quase cinco anos. A apresentação do novo governo coincidiu com uma notícia importante à qual, à excepção honrosa de José Manuel Fernandes no Observador, a maior parte da comunicação social Portuguesa não deu a devida atenção. Há motivos para esta aparente desatenção, que é mais do que uma coincidência, mas isso fica para outro dia.

Na última sexta-feira, o Eurostat disponibilizou os dados mais recentes – referentes ao ano de 2021 – do PIB per capita dos países Europeus em Paridade Poder de Compra. As notícias são as esperadas, e deveriam merecer uma reflexão aprofundada por parte da elite Portuguesa: Portugal foi ultrapassado pela Polónia e pela Hungria. Assumindo que os anos anteriores funcionam como bons predictores do porvir, com Portugal a cair e outros a ganharem terreno, no próximo ano seremos ultrapassados pela Roménia e pela Letónia. Já no próximo ano, seremos, então, o 4º país mais pobre da União Europeia e o mais pobre – a larga distância – da Europa Ocidental.

Penso que devemos tentar perceber o novo governo à luz destes dados. Sejamos claros: o novo governo é muito fraco e não há a mínima vontade de fazer quaisquer reformas que possam inverter a decadência relativa do país. A frase mais lapidar sobre a composição de governo foi dita por Fernando Alexandre: poderia servir para a Câmara de Lisboa. Para o governo da República, acrescento eu, é curto.

Senão vejamos. Na pasta das Finanças, ao longo dos últimos anos, tivemos dois ministros com altíssima preparação técnica (os Cambridge Boys) que tiveram a astúcia de, numa conjuntura difícil, na qual PCP e BE faziam pedidos continuados de mais e maiores rendas para as suas clientelas, manterem o país na senda das regras europeias. Neste novo governo, António Costa substitui Leão por Medina, utilizando, assim, a pasta das finanças como mecanismo para ressuscitar um cadáver político. Uma espécie de ‘Novas Oportunidades’ da política. Na Economia, a escolha de António Costa Silva é inenarrável. Deixando cair Pedro Siza Vieira, elogiado da esquerda à direita pela sua acção durante a pandemia nas ajudas à economia real, e que havia dado sinais de querer continuar, Costa Silva chega à pasta da Economia como especialista em Energia e, naturalmente, com a capacidade, quiçá única na Europa, de ter escrito um PRR sozinho para todo um país. Noutros países foram compostas equipas multidisciplinares para a feitura dos respectivos PRR. Em Portugal, a tarefa foi entregue a um homem só. O irónico de tudo isto é que Costa Silva não tutelará as áreas das quais é especialista. A Energia ficará sob a tutela do Ambiente, enquanto o PRR será tutelado por Mariana Vieira da Silva. Fica a pergunta: sem Energia e sem PRR, as suas duas especialidades, que qualidades tem Costa Silva que o recomendem para a Economia? Um mistério da fé.

Na Educação, António Costa escolheu a mudança na continuidade. João Costa, até agora Secretário de Estado de Tiago Brandão Rodrigues, sobe a ministro. Considerando o absoluto falhanço das políticas educativos dos últimos anos de Brandão Rodrigues, nas quais João Costa esteve envolvido enquanto número dois, não há quaisquer motivos para pensar que a mudança está a chegar. Depois de dois anos dramáticos de pandemia, nas quais Portugal se tornou, na prática, um estado falhado na área de educação, não temos quaisquer notícias sobre a existência de um plano de recuperação de aprendizagens. Num país fortemente desigual, e com défices importantes de educação, os custos destes últimos anos demorarão anos a corrigir. Com mais do mesmo, será difícil mudar a rota.

Para grande alegria dos Portugueses, especialmente dos grupos privados de Saúde que continuarão a aumentar os seus lucros (palavra maldita!), Marta Temido continuará na Saúde. Depois de um combate tão abnegado e bem-sucedido à pandemia, haveria razão para mudar em equipa que ganha? A resposta é absolutamente afirmativa, na medida em que os preconceitos ideológicos de Temido custaram, e continuarão a custar, imenso aos Portugueses que apenas dispõem do SNS. Os dados da OECD desmontam a ideia de que o combate à pandemia tenha sido bem feito: Portugal está bem acima da média em excesso de mortalidade desde Janeiro de 2020. Note-se que a ideia obsessiva que Temido tem sobre a organização da Saúde em Portugal, que o Estado, e apenas o Estado, deve providenciar cuidados de saúde, não é necessariamente má. Todavia, esbarra com a realidade, porquanto o Estado não tem dinheiro, nem recursos, nem capacidade instalada para providenciar esses cuidados. Temido prefere não utilizar capacidade instalada na sua totalidade, negando, assim, o acesso à saúde aos Portugueses que dele necessitam, do que reconhecer o Estado não tem meios para acudir a tudo.

Para último, deixo a Ciência, área que me é particularmente cara. Elvira Fortunato poderia ser uma excelente ministra da Ciência, deste ou de qualquer governo. Tem um currículo internacional excepcional e, de resto, ao longo dos últimos anos tem intervindo publicamente em defesa de um conjunto de reformas interessantes. No entanto, duvido que Fortunato seja uma boa ministra. Não por sua culpa. Tenho a certeza que envidará todos os esforços para ser bem-sucedida. Todavia, penso que rapidamente perceberá que recebeu um presente envenenado. Deparar-se-á com o maior problema de qualquer ministro da Ciência: a sua capacidade de ser bem-sucedida depende quase exclusivamente do peso político que o Primeiro-Ministro quer dar à ciência no modelo de desenvolvimento do país. José Mariano Gago foi um bom ministro da Ciência, mas foi-o, acima de tudo, porque tinha o respaldo de Guterres e, depois, Sócrates, que atribuíam importância à ciência no conselho de ministros. Independentemente das suas motivações, todos nos lembrámos como Sócrates falava recorrentemente de ciência e da sua importância para o futuro. Para além disso, Sócrates colocou dinheiro a sério na Ciência. Alguém se lembra de António Costa ter feito um discurso – um! – no qual tenha elencado com cabeça, tronco e membros uma ideia para a ciência ou a sua importância para o país? Voltando a Fernando Alexandre, governar a Câmara Municipal de Lisboa é uma coisa. Aí não é preciso preocupações com a Ciência. Arranja-se meia dúzia de idiotas úteis que assinam um manifesto cultural, recebendo em troca umas prebendas e sinecuras e passa-se por político culto e moderno. Governar um país é outra completamente diferente. Infelizmente, António Costa nunca passará de um presidente de câmara. Com votos em todo o país, mas um presidente de câmara.

COMENTÁRIOS:

Amigo do Camolas: Costa ao fazer do governo e do estado um verdadeiro cabide de empregos para todos os socialistas, amigos e familiares da Câmara de Lisboa, foi tão longe que é difícil lembrar que em algum momento ele tivesse grandes ideias diferentes. Hoje, a única grande ideia socialista é um grande estado socialista. E essa ideia blindada com um sistema de subsídios para os pobres e bons salários e privilégios estatais para usar os pobres como escudos humanos contra os críticos do governo e do estado. Mas os privilégios e subsídios não são o ponto; eles apenas fornecem a legitimidade moral para o governo sacar milhões em impostos a quem trabalha e para os déficits de milhões que acabam nos bolsos dessa grande bolha socialista e de todos que vivem ao redor do estado. Exemplos são muitos... e hoje saiu mais este: "EMEL e Assembleia Municipal de Lisboa alvo de buscas pela PJ". E isto é o que se vai sabendo, agora é só imaginar o que não se sabe.         José Manuel Ferraz: Depois da Polónia e da Hungria (além dos outros países que entretanto já nos tinham ultrapassado e que maioritariamente eram países miseráveis há apenas 30 anos), não tardaremos a ser ultrapassados pela Roménia (!) e pela Letónia ! Este é (vai ser) o legado de António Costa. Ficará na história como o PM que conduziu o país ao empobrecimento e à cauda da europa. E sim, a História irá explicar isto mesmo...          No More Bullsh1t: Introdução corrigida: "Governar a Câmara de Lisboa é uma coisa, governar um país é outra bem diferente. Infelizmente, Costa nunca passará de um péssimo presidente de câmara. Com votos em todo o país, mas um péssimo presidente de câmara." Assim, sim.            josé maria: Já aqui demonstrei, por várias vezes, que os melhores PM portugueses chamam-se António Guterres e António Costa. Contra factos não há argumentos,         Jorge Fernandes.  No More Bullsh1t > josé maria: Ora aqui temos a piada do dia. Já me fez rir hoje, obrigado.            Joaquim Rodrigues > josé maria: O tratador de galinhas anda desejoso de um lugar como "Bobo da Corte".           Luis Martins > josé maria: Sem dúvida, Costa é o maior, nomeadamente, em: maiores listas de espera de sempre no SNS; maior dívida pública de sempre; Maior roubo em paióis militares de sempre; Maior número de mortes em incêndios num só ano de sempre; Maior carga fiscal de sempre;  Maior queda os rankings europeus de riqueza de sempre a avaliar pelo número de países que os ultrapassaram sob o seu governo; Maior controlo de sempre na CS, outrora designada por censura (os 15M fizeram maravilhas)  Maior controlo dos órgãos de supervisão e regulação do aparelho do estado começando no BdP, passando na PGR e acabando no procurador europeu (entre muitos outros) onde foi só colocar amigalhaços que não o chateiem; Maior governo de sempre ...  Não há dúvidas Costa é mesmo o maior de sempre em variadíssimas questões, pena é que não se destaque em nenhuma boa para os portugueses em geral.            Ana Torres > josé maria: Tem razão! Só falta acrescentar o Sócrates, assim formam os 3 PM portugueses do PS, que justificam o porquê de sermos o país da UE na cauda da Europa, ultrapassados pela Polónia e Hungria e e 3 vezes falidos... acrescentaria pobres e iletrados, na verdade contra factos não há argumentos!            Sérgio: Muito BOM. Eu não queria nenhuns sócios do largo, nepotistas e ddt e bancarroteiros sequer para limpar os wc de casa. A minha empregada com a 4ª classe faz bem MELHOR! Povo iletrado e inapto elege figuretas de igual ou inferior calibre!          Francisco Tavares de Almeida: Nem para uma Câmara. Costa transferiu para o governo o que devia estar confinado ao partido e à assembleia: os candidatos à sucessão. São 4 ministros que passarão grande parte do tempo a vigiarem-se e a torpedearem-se mutuamente. Vai ser o máximo para os comentadores políticos. Para a boa governação, nem por isso. Com o PC a ter como única oportunidade o voltar às reivindicações e à luta sindical, se não de rua, o ministro mais directamente ameaçado é Pedro Nuno Santos, o ministro dos comboios, que vai precisar de dinheiro para gerir as crises. E quem lhe pode dar dinheiro é o seu mais directo competidor Fernando Medina. Como espectáculo promete, como interesse nacional, nem por isso. Com a preferida Mariana, Costa matou dois coelhos com uma cajadada. Deu-lhe a administração pública e o PRR, fazendo assim claro qual vai ser a aplicação das verbas. E condenando-nos a todos à cauda da Europa.          João Ramos: O Estado não tem meios para acudir a tudo”, pois eu acho que o Estado dado o elevadíssimo saque nos impostos até deveria ter meios para “acudir a tudo”, só que os gasta mal e sem utilidade para o país como se pode verificar!           Joaquim Rodrigues: É verdade: o “estatismo” e o “centralismo” têm vindo a “afunilar” de tal modo o campo de intervenção dos sucessivos Governos “socialistas” que chegamos ao ponto de passamos a ter um “Governo de Câmara Municipal” a Governar o País. Quando aconteceu o Golpe Militar do 25 de Abril, para acabar com a guerra colonial, como o único partido organizado, nessa altura, era o PCP, o poder passou, directamente, do Salazarismo para o Cunhalismo, no PREC. Fez-se então (de forma atabalhoada) a descolonização, mas ficaram por concluir as tarefas de democratização e liberalização do “regime salazarista”, designadamente, a sua “desestatização” e “descentralização”. O Cunhal, no PREC, após o assalto ao “Aparelho de Estado” o qual manteve quase intacto, encarregou-se de “branquear e certificar” os atributos totalitários “estatista e centralista” do regime de Salazar, dos quais, todos os políticos oportunistas que vieram a seguir, salvo honrosas excepções (Sá Carneiro), se serviram. Cunhal, o contraponto totalitário de Salazar, à imagem do Estado Soviético, via no “Estatismo e Centralismo”, herdados do Salazar, a oportunidade de tomada e perpetuação no poder pelo controlo do “Aparelho de Estado”. Quando Sá Carneiro se preparava para desestatizar (liberalizar) e descentralizar (regionalizar), foi assassinado. Estatismo e Centralismo, mantêm-se assim, ainda hoje, como heranças intocáveis do Estado Novo e do PREC, que estão a condenar Portugal ao lento, mas inexorável, definhamento, atraso e sub-desenvolvimento. Andam por aí uns “intelectuais da capital do Império” que, face ao descalabro, sentindo que é preciso fazer alguma coisa, para que, o que para eles é essencial, continue na mesma, clamam por “reformas”. Mas, na verdade, das Reformas que são imprescindíveis para que o País se desenvolva, eles fogem, que nem o diabo da cruz. O que eles queriam, era a “quadratura do círculo”, Reformas de fachada, um “parto sem dor”, baralhar e dar de novo, mudando nem eles sabem bem o quê, uns quantos nomes (de Ministérios e Secretarias de Estado), troca de competências siglas e minudências, tudo e mais umas botas, desde que se mantenha aquilo que para eles é essencial: os privilégios ligados ao “estatismo” e ao “centralismo”. Sem “Liberalização” (fim do Estatismo) e “Regionalização” (fim do Centralismo) Portugal, depois de ter sido ultrapassado por vários países da ex-União Soviética e ter sido agora também ultrapassado pela Hungria e a Polónia, será ultrapassado, em breve, pelas outras ex-Repúblicas Soviéticas que aderiram à União Europeia, todos eles, na mais pura das misérias. Portugal vai tornar-se, em breve, o País mais pobre da União.           joão Floriano: Crónica excelente.        joão reis: A 'experiência/conhecimento' do autor no tocante à gestão duma câmara municipal/governo/partido dizem bem da importância destas palavras do JF. Sublinho a coincidência do elogio à 'excepção honrosa' do JMF o que revela uma grande independência estrutural.           Luís Abrantes: Atenção, não é uma câmara municipal qualquer… é a da cambada comuno bloquista ditatorial do caviar…!!!        bento guerra: Costa, com os novos apoios de Bruxelas, tem todas as condições para ser PM, até ao fim da legislatura. E é tudo tão fácil, que já o vêem chefe da Europa (um Indiana Jones).Tudo isto se poderá complicar ,a partir do exterior, mas ele tem os assentos do Parlamento e um patrão cada vez mais preguiçoso.           joão Floriano: bento guerra:  O PS tem todas as condições para governar para além de 2026 devido em grande parte à falta de uma alternativa séria: todos querem o centrão. A crise gerada com o conflito na Ucrânia, a muito possível entrada para a UE e a política de rearmamento da Europa garantem que a torneira de Bruxelas pode reduzir mas algumas gotas irão sempre pingar. Enquanto o cão doente que Portugal é, tiver uma restinho anémico de sangue, as carraças não o irão largar.           advoga diabo: Que interessam 1º superavit , país do mundo mais vacinado, ou respeitar escolha e inteligência do povo, comparado com a necessidade de cumprir a agenda do patrão para receber uns cobres?! Presidente de Câmara?! Costa é já muito mais que 1º ministro! Simplesmente patético.         Pedro Godinho > advoga diabo: Já leu o artigo sobre Manuel Pinho?          Carlos Santos: Caro Jorge Fernandes, permita-me corrigi-lo num ponto. A Chechénia é uma região da Rússia que ao contrário do que vocês têm dito na rádio Observador fica no Cáucaso (EUROPA) e não na Ásia Central. Faz fronteira a sul com a Geórgia.           Carlos Chaves: Caríssimo Jorge Fernandes, sem dúvida uma excelente radiografia preliminar a uma parte deste “novo” executivo ministerial que tudo indica vai continuar a levar o país para a cauda da Europa. A razão por que os últimos dados do Eurostat não são postos em evidência, desmascarando a mentira em que vivemos, é pura e simplesmente responsabilidade directa da comunicação social (honra seja feita neste aspecto ao Observador). A quem servirá mais este apagão? É fácil adivinhar!         Luís Abrantes: Começaste bem e acabaste mal           FME: Uma crítica bélica sobre o novo governo.  Somos europeus, mas não somos alemães, nem ingleses, italianos ou mesmo espanhóis. Somos uma raça muito específica no conjunto europeu. Actualmente juntámos o envelhecimento com a pobreza. Na Alemanha, França, RU são velhos mas ricos, nos países de leste são pobres mas jovens, nós, nem somos ricos nem jovens. O nosso crescimento económico sem juventude nem dinheiro só pode gerar mais velhice e mais pobreza.  Justificada a nossa posição actual no ranking do PIB per capita e as ultrapassagens futuras, o governo eleito resulta também da nossa perversidade económica e demográfica. Os eleitores não são jovens nem ricos. Um eleitor idoso só pode pensar no futuro a curto prazo; as suas pensões. Um eleitor pobre concentra-se no aumento do ordenado mínimo. Dentro de 4 anos, nas eleições para as legislativas, estaremos indubitavelmente mais pobres e mais idosos. A espiral é negativa, e os governos eleitos - democraticamente - serão a condizer. Chegaremos nos próximos 20 anos à conclusão de que o socialismo (forte e de esquerda) é a única solução política para garantir a sobrevivência de um país com uma população idosa e pobre. O altruísmo do socialismo será a sopa dos pobres de um país todo entregue à misericórdia. Podemos ter esperança de inverter a espiral negativa? Não!          José Monteiro > FME: «está lá o PS inteiro»-Adelino Maltez. Com os 17 ministros e secretários de estado, os Ajudantes, segundo Dr. Cavaco. Na governança Costa II, com os 70 ministros e mandarins, estava lá o País inteiro. Inventados ministérios e SE, captadas mais famílias para o emprego & voto, que o País litoral, interior, norte e sul é grande e Costa um seu profeta. Na nova Paróquia de Bruxelas, capital na praia de Madrid.       Jorge Marques > FME: A sua síntese é nítida e arrepiante. Será que devemos dizer a cada criança que aqui nasce, para entender mais tarde, "Lasciate ogni speranza,voi ch'entrate"?          osé Paulo C Castro > FME: A espiral negativa só vai inverter depois da demográfica inverter. Isso irá acontecer naturalmente daqui a duas décadas, com menos dois ou três milhões de habitantes. Será um possível ponto de reinicio, SE a população jovem não estiver toda no litoral urbano por então... Pode ser antes, se existir forte imigração jovem (caso em que não sei se podemos chamar Portugal a isto). Talvez haja utilidade para uma Albânia a ocidente. É ficar atento ao desenvolvimento das máfias organizadas...     joão Floriano > FME: Comentário magnífico. Percebe-se o motivo de ter ido para moderação. Eu também acho que o governo socialista se vai manter para além de 2026. Olhando para o Parlamento que ontem se reuniu pela primeira vez percebe-se que alternativas, é coisa que não há e esperar que alguma coisa nova venha do PSD é esperar em vão.       FME joão Floriano: Estou a saber agora que o meu comentário foi dar uma voltinha. Deve ter sido por causa da palavra raça. Uma palavra que cria muitas susceptibilidades. Por falar nisso, quem terão sido os tipos que agrediram os dois GNR, em Cuba no Alentejo?         joão Floriano > FME: Ainda foi uma voltinha um tanto demorada. A CMTV não teve papas na língua e usou o termo etnia cigana para se referir aos cidadãos que agrediram os GNR's. Parece que foram para casa com termo de identidade e residência, o que nestes casos é o mesmo que nada.