terça-feira, 15 de março de 2022

A velha questão


“Pois se não foste tu, foi teu pai!”, já o lobo o afirmava, acusando o cordeiro, postado na parte inferior do rio, de lhe beber a água, conspurcando-a, ignóbil mentira. Quem é forte, se por acaso deseja justificar-se - mais perante os outros fortes, é certo – (não é o caso do lobo, sem pruridos de expor razões, embora sofismadas, ao frágil cordeiro, como bom camarada, já de sensível cultura democrática  - de resto um anjinho, que tantas provas deu disso, face à raposa sabidona) – mas como ia dizendo, se por acaso se justifica, fortalhaço, fá-lo com a artimanha habitual, só para inglês ver, que este – inglês, é claro - é perito em todas as matérias, para poder dar opinião. Sim, trata-se da velha questão do mais forte. E mais esfomeado também. Do absoluto poder. Esta questão do lobo, só para justificar Putin e os seus actos.

Quanto aos nossos putinistas, José Milhazes é assaz explícito a respeito das virtudes desses nossos generais desagravadores das acções de Putin. Eu sinto vergonha de o fazer.

Quanto aos generais russos apoiantes de Putin … onde é que já se ouviu falar em idênticos modos de corrupção?

Quanto ao neonazismo ucraniano… esses, ao menos defendem a sua pátria! E com admirável  empenho!

Ucranianos, rendei-vos!

Os generais e intelectuais filhos de Putin tentam sacudir a responsabilidade da invasão dos militaristas russos para as vítimas da agressão. Lembram o violador que acusa a vítima de andar de mini-saia

JOSÉ MILHAZES Colunista do Observador. Jornalista e investigador

OBSERVADOR, 15 mar 2022, 00:194

A cada dia de guerra que passa, a resistência dos ucranianos continua a ser alta, mas alguns analistas militares e políticos da nossa praça insistem na tese de que a Ucrânia se deveria ter rendido ou que ainda vai a tempo de baixar as armas e levantar a bandeira branca perante a máquina militar do Kremlin, a pretexto de “salvar vidas de inocentes”.

No fundo, os generais e intelectuais filhos de Putin tentam sacudir a responsabilidade da invasão militar de um país soberano, dos militaristas russos para cima das vítimas da agressão. Isto faz lembrar a narrativa do violador que acusa a vítima de ter sido violada por andar de mini-saia, embora, neste caso, há muito que era evidente que a Ucrânia não escaparia à fúria expansionista do “czar” nem que estivesse tapada da cabeça aos pés como uma freira.

Imaginemos uma máquina do tempo que levasse os generais putinistas da nossa praça para a frente da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Seriam muito úteis a Hitler e companhia para tentar convencer finlandeses, polacos, franceses, ingleses, soviéticos a não resistirem às hostes nazis para não provocar derrame de sangue desnecessário. Além disso, como forma de prevenção, andariam na imprensa de Lisboa e de Madrid a convencer portugueses e espanhóis a também pensarem antecipadamente na rendição para que não caísse um cabelo da cabeça de um inocente.

Não sei se algum dos conhecidos generais na reserva, que agora defendem posições destas, ordenavam aos seus soldados que não começassem a combater para “evitar chatices”. Quando prestaram serviço na NATO, defendiam os mesmos princípios?

Dizem estes senhores que era preciso ter tido em conta o direito que assistiria ao Kremlin para exigir garantias da sua segurança. Estou completamente de acordo, mas isso é apenas uma parte do problema. Olhemos para a outra parte do problema: isso autoriza Putin e a sua camarilha a espezinhar os mais elementares princípios do Direito Internacional, violando as fronteiras dos países vizinhos?

A pronta resposta é, invariavelmente, a de sempre: se os Estados Unidos e a NATO podem fazer, porque é que o Kremlin não pode? Se se trata de um dirigente insano, Putin pode repetir os erros dos outros para mostrar que o seu país é uma superpotência que deve ser “temida”. E é, precisamente, o que está a fazer; só que Putin pensava que não errava, que iria ter um passeio fácil pela Ucrânia, como lhe prometeram os serviços secretos e os militares das suas forças armadas “hipersónicas”.

“Viva” a corrupção

Um dos dirigentes do Comité de Combate à Corrupção na Ucrânia enviou uma missiva a Serguei Shoigu, ministro da Defesa da Rússia, onde lhe agradecia pela corrupção reinante no corpo militar russo. Claro que se tratou de uma mensagem sarcástica, mas muito exacta. Em grande parte, a tão apregoada modernização das forças armadas russas não passou de uma cortina para desviar milhares de milhões para as contas de generais, dirigentes dos serviços secretos e seus familiares e amigos. Os militares russos que combatem na Ucrânia deparam-se com grandes dificuldades no terreno porque, afinal, os generais se preocuparam mais com as suas algibeiras do que com a ameaça dos “neonazis ucranianos” e da NATO.

Outra vez “neonazis”

A existência de neonazis nas estruturas do poder ucraniano é empolada pelos filhos de Putin para justificar a “desnazificação” do país, apregoada pelo Kremlin. Não tenho a menor dúvida de que na Ucrânia há neonazis, assim como nas forças armadas há traidores, mas daí até se concluir que estamos perante um país dominado por “radicais” vai uma grande diferença. Os neonazis, graças à sabedoria do eleitorado ucraniano, praticamente não têm representação na Rada Suprema (Parlamento) da Ucrânia.

Se a invasão da Ucrânia foi feita, entre outras coisas, para “desnazificar” aquele país, então Estados como a Alemanha ou a Áustria já deveriam ter sido “visitados” pelos tanques “libertadores” de mais uma “operação especial” do Kremlin, pois o número de deputados neonazis é bem superior ao registado na Ucrânia.

No caso da invasão selvagem e desumana da Ucrânia pelas hordas putinistas, não há mas, nem meio mas; tudo está claro: Putin é o agressor e o povo ucraniano é a vítima que heroicamente resiste.

E apenas uma nota optimista para terminar: felizmente, vejo que há muitos oficiais portugueses na reserva sensatos, que nos ajudam a entender a situação. A todos uma grande saudação!

GUERRA NA UCRÂNIA   UCRÂNIA   EUROPA   MUNDO

 COMENTÁRIOS:

Rui Gomes: Obrigado!           José Fernandes: Não foi por acaso que, logo no início, foi oferecido exílio ao presidente ucraniano.            servus inutilis: o exército português sempre esteve infiltrado de comunas e fascistas, agora majores-generais de opereta que passaram vinte e poucos anos de carreira a coçar aquilo de que carecem.           Paulo Cardoso > servus inutilis: Muito bem!!! Resquícios do 25 de abril. Aquela data que hipotecou um futuro mais risonho para este país…            Paulo Silva: Caro Milhazes, uma guerra não se trava apenas no campo de batalha com tanques e misseis. Há todo um trabalho de desinformação e desmoralização das hostes adversárias feito em paralelo para convencimento da inutilidade da resistência. Os filhos de Putin têm como missão espalhar o Síndrome de Moscovo, simpatia pelo agressor do Kremlin. Mas como é que um gigante com o maior arsenal nuclear do mundo pode sentir-se ameaçado por um país que em 1996 cedeu as últimas armas nucleares que detinha, a troco da sua integridade territorial? A vulnerabilidade russa, com base na topografia, é um discurso bem antigo para justificar as posturas belicosas dos Czares, mas que persiste nos dias de hoje em relação à fronteira com o Ocidente. A Oriente a Rússia não tem inimigos, não se sente ameaçada? Não terão bem mais razão para sentir insegurança países como a Estónia, Letónia, Lituânia, Ucrânia, Moldávia, Geórgia, Arménia, etc., etc., etc. todos eles ex-repúblicas soviéticas sob a pata do Kremlin durante décadas?… Há qualquer coisa que já não cola...                 sioux boomerang: Em timor ouvem-se as vozes dos teus avós , e na palestina e ,e ,e ,e ,e na catalunha também,   e e e e e na ukrania , é isso , na ukrania ouvense a vozes do teus avós, muito bem . No donbass se calhar não teem avós mas teem outra coisa que os ukranianos não sabiam , teem mais 180 milhões de irmãos que falam a mesma lingua ali ao lado , e sabe o que faz um irmão quando vê o outro em aflição?  Pergunte aos ukranianos.             klaus muller: Embora ache esquisito, tenho de aceitar que haja quem não consiga ver nenhuma agressão contra a Ucrânia da parte dos russos.mMas que uma das nossas TVs tenha por lá um tal general qualquer coisa Branco como comentador desta invasão russa, isso sim, confunde-me completamente. É que o tipo é mesmo faccioso,

 

 

 

 

 

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