quinta-feira, 31 de agosto de 2023

Verdades

 

De um repisar inútil. Massacrante sempre. 

Estudasses menos

Não sei se esta é a geração mais bem preparada de sempre, mas é a mais bem preparada para se ir embora. E precavida: acabado o curso, vão saber construir um foguetão para os levar para longe daqui.

JOSÉ DIOGO QUINTELA, Colunista do Observador

OBSERVADOR, 29 ago. 2023

Aleluia! Afinal ainda há esperança para a nova geração. É costume dizer-se que os jovens não se interessam pela política, que não estão a par da actualidade, que não se informam nem se querem informar, mas basta ver as notícias sobre as colocações no ensino superior para percebermos que afinal estão atentíssimos. É que, pela primeira vez em muitos anos, o curso com a média mais alta não é medicina. Significa que os melhores alunos não querem ser médicos, provavelmente porque lêem jornais e sabem que é uma profissão sem futuro em Portugal. Ganham pouco, são obrigados a trabalhar sem descanso e ainda têm de ouvir bocas do Governo se forem para o privado. Os mais inteligentes já toparam. É uma questão de tempo até a média de entrada em medicina ficar igual ao valor normal da tensão arterial. Altura em que os candidatos a médicos não vão compreender essa analogia. Um dia, vamos entrar num consultório e ficar contentes se o doutor usar o estetoscópio no sítio certo.

Em vez de medicina, o curso com a nota de entrada mais alta é Engenharia Aeroespacial. O que confirma estarmos perante jovens que acompanham a situação económica do país. São das pessoas mais inteligentes daquela idade e têm a capacidade de perceber que o melhor é escolherem uma ocupação que os obrigue a emigrar. Como em Portugal não há indústria aeroespacial, quem tira esse curso já tem uma boa desculpa para se pisgar do país. É como um estudante suíço que queira ir para a pesca do bacalhau. Em princípio, é porque está mortinho para descer da serra.

Não sei se esta é a geração mais bem preparada de sempre, mas é a mais bem preparada para se ir embora. E precavida: acabado o curso, se não conseguirem arranjar trabalho no estrangeiro, ao menos vão saber construir um foguetão para os levar para longe daqui. Aliás, quantos dos OVNI que têm sido avistados nos últimos tempos serão recém-licenciados portugueses à procura de melhores condições profissionais?

Há outra hipótese: o investimento na indústria da defesa, com o surgimento de várias novas empresas pode significar que em breve vamos começar a construir o primeiro míssil português. Estes universitários podem estar a contar com isso. Se é o caso, vão ter de se aplicar na qualidade dos explosivos. Para já, os rebentamentos que houve no Ministério da Defesa não fizeram mossa nenhuma ao Governo.

Recentemente, um estudo concluiu que a diferença salarial entre quem tem o ensino superior e quem tem apenas o secundário caiu de 51% para 27% na última década. Não é preciso ser um dos marrões que entrou agora em aeroespacial para perceber que, daqui a mais ou menos 10 anos, vão todos ganhar o mesmo. E, daqui a 20, vai-se valorizar mais um trabalhador que nunca tenha gritado um “efe-erre-á” na vida.

Entretanto, o curso com a média mais baixa de entrada este ano é Enologia na Universidade de Évora. Ou seja, daqui a uns anos, o licenciado que olhar para o salário e ficar deprimido está tramado. Se quiser ajuda médica, vai ser atendido por um psiquiatra burro. Se quiser afogar as mágoas no vinho, só vai ter à disposição a zurrapa produzida por cábulas.

ENSINO SUPERIOR     EDUCAÇÃO

COMENTÁRIOS:

Carlos Real: Excelente ironia como já estamos habituados. Muitos pensam que o problema e a desgovernação chuchialista. A questão é muito mais transversal. Se perguntarmos ao Marcelo ou ao Montenegro que metas definiram para que Portugal possa ser mais próspero em 2030 não sabem dizer nenhuma. Estamos entregues a uma classe política que só verbaliza o discurso ideológico e a critica aos adversários, que nem sequer e capaz de dizer que turismo devemos ter. Os orçamentos de Estado são meros trabalhinhos de adaptação do ano vigente. Não se fazem escolhas e nem sabemos para onde ir. A única coisa que interessa é continuar na União Europeia e receber o cheque. Se por milagre deixássemos de ter os políticos que temos, continuaríamos na mesma, os últimos da Europa.                    Joana Fernandes: Muito bem, Zé Diogo Quintela! Uma ironia fina que sublinha a angústia que tantos jovens e famílias sentem! Será que os nossos jovens já não podem ter um futuro com qualidade em Portugal? O Socialismo é isto, nivelam os resultados salariais a todos e claro, os que podem fogem! Não há que saber. O que aqui é relatado são já os factos a “gritar”!                   Américo Silva > Américo Silva: Portugal não precisa de teses de doutoramento sobre criação de empresas, precisa é de quem crie empresas, nem precisa de teses de mestrado sobre incêndios, precisa é de quem previna e combata o fogo. Façam-se à vida, nem todos podem ser administradores da EMEL.                   Jorge Tavares: O título do artigo é genial! Praticamente diz tudo.                       M L: O comunismo/socialismo alimenta-se dos analfabetos, pessoas com pouca instrução, pouco sentido critico, parco poder económico, sempre à espera de uma esmola do estado. Os jovens tugas não são tolos, não querem viver num país assim.                       Américo Silva: O Observador parece com dificuldade em ultrapassar banalidades de verão, mas a vida continua: - serviços de meteorologia acusados de aumentar as temperaturas não negam, e atribuem o erro às aplicações informáticas. - universidades ditas republicanas criadas contra as religiões, em concreto a católica, têm salas de oração para os alunos islâmicos.               JOSÉ MANUEL: "a geração mais bem preparada de sempre, mas é a mais bem preparada para se ir embora" e que o kosta está rapidamente a substituir por quem lhe interessa, de forma a perpetuar a xuxaria no poder                Maria Paula Silva: Muito bom, como sempre. Este já não me deu tanta vontade de rir. Porque o futuro, não para mim de certeza mas para os nossos netos, afigura-se muito estranho. É verdade que estamos entregues a uma bicharada de gente que nos (des) governa, que paira como ovnis alheios à realidade e às necessidades reais e urgentes do país e, isto para mim ainda é o mais doloroso, goza connosco à brava. É verdade, as cenas do Ministério da Defesa, as broncas da TAP, o SNS moribundo e outros, tudo cai no esquecimento, abafados pelo excesso de informação constante, quase histérica, ou sobre as vindas de papas ou sobre alterações climáticas ou m e r d i c e s futebolísticas.  Se não houver, é preciso arranjar uma histeria "jornalística" que nos distraia da realidade pela qual os excelsos desgovernantes não querem ser penalizados. É preciso entreter a malta, isso sim. Quanto mais anestesiados com porcarias, big brothers, programas de culinária e futebol, melhor. Portugal nunca foi pródigo em cultura e consciência cívica. E é isso que nos falta. Mas cada vez mais, ou se emigra ou sobrevive quem tiver um naco de terra e souber pegar na enxada.

Maria Melo: Aliás, os melhores alunos de muitos outros cursos é o que fazem. Vão-se embora. Fazem doutoramentos e vão ganhar dinheiro no estrangeiro: Reino Unido, Suíça, Alemanha, etc. Cá no país ficam os incompetentes e os que se aproveitam da política… Lamentável! O que vai ser deste país

Os jovens que estudam fora


Talvez pudessem trazer para cá, exemplos de competências governativas e de trabalho, estrangeiras, que os ajudassem – se fossem políticos cá – a disseminar experiências e dignidade de comportamentos, aliados a um amor pátrio que superasse ambições pessoais e preservasse os comportamentos de inteligência e dignidade necessárias no governo de uma nação – a sua nação, a nossa velha nação.

Passado, passado, pouco futuro

Os jovens, ao contrário do que se dizia, estão envolvidos na política e em movimentos sociais. É o sistema eleitoral e os partidos que não estão a conseguir alcançar o público jovem.

JOÃO MIGUEL MIRANDA Estudante de Mestrado da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Presidente da Europa Hoje.

OBSERVADOR, 30 ago. 2023, 00:116

Qualquer bom político sabe que a política se faz para o presente, mirando sempre o futuro. É essencial que uma legislatura seja marcada, não só por medidas concretizadas, mas, também, por projectos que garantirão a sustentabilidade do sistema a longo prazo e apenas se concretizarão passando vários anos.

Estas medidas podem parecer invisíveis ao eleitorado mais afastado do processo político, para alguns até podem parecer medidas desnecessárias, pouco dignas do tempo e atenção dos deputados. Projectos a longo prazo são sempre difíceis na política portuguesa, não só pelo baixo impacto eleitoral, mas pela descontinuidade dos projectos nas variações dos governos esquerda-direita, nas rápidas e brutais alterações do panorama económico do país ou na incomensurável burocracia. A integração dos jovens na política portuguesa é um destes exemplos.

Nas últimas legislaturas portuguesas, tem falhado de forma agressiva a comunicação e o debate com os mais jovens. Precisamos de ouvir e compreender os jovens que estão hoje a ingressar nas nossas escolas e nas nossas universidades. São estes jovens, a classe mais bem preparada e mais bem informada de sempre, que poderão realmente fazer cumprir o progresso económico, industrial, político e cultural de um país que ainda sofre várias represálias de 46 anos de ditadura.

Não precisamos de ouvir os jovens meramente com o intuito de resolver os problemas que os assombram (o alto custo de vida, a crise climática, os baixos salários, entre muitos outros) e fazer contínuas vagas promessas, mas, sim, de entender como é que eles vivem, como imaginam o futuro: o seu, das suas famílias, do seu bairro, das cidades em que vivem, do sistema educativo que os ensina, da cultura. Não o estamos a fazer, estamos a falhar!

Esta falha, embora pareça inofensiva e até normal, está, agora mais do que nunca, a criar um intervalo intergeracional. Ficámos a saber, segundo estudos recentes, que os jovens, ao contrário do que se dizia, estão informados e envolvidos na política e em movimentos sociais de variadas causas e formas. É o sistema eleitoral e, consequentemente, os partidos políticos que não estão a conseguir alcançar o público jovem.

Pela primeira vez, temos uma geração com acesso imediato ao mundo inteiro a tentar viver confortavelmente num país com instituições envelhecidas, presas no tradicional, cujo esforço para se aproximar deles chegou tarde e não tem tido muito sucesso. Porque não basta publicar um Tik Tok e esperar que o algoritmo faça o resto do trabalho. É preciso compreender os movimentos sociais das novas gerações.

Sempre ouvi dizer, durante a minha adolescência, que os meus ideais políticos eram meras miragens temporárias da idade e iriam amadurecer. Mesmo que estes tivessem de facto amadurecido com o tempo, não significa que aquilo que eu tinha a dizer há sete anos tivesse menos valor do que aquilo que eu tenho a dizer hoje ou do que aquilo que terei a dizer daqui a vinte anos. Os problemas que procurava resolver continuam presentes, a forma de o fazer é que poderá ter sofrido alterações.

Os jovens estão ansiosos para ser ouvidos e por isso os partidos políticos devem começar por repensar as juventudes como um simples viveiro de possíveis-futuros candidatos a longo prazo e passar a vê-las como uma força interna, ao mesmo nível que os órgãos do partido, com um peso de opinião semelhante e com oportunidades de integrar listas às instituições democráticas. As juventudes partidárias devem, ao mesmo tempo, parar de se olharem como muleta dos partidos e como campos de preparação para cargos de alto nível e passarem a ter um papel mais cívico, na vivência da democracia como um movimento intelectualmente desafiador e plural e muito menos limitador de um só ideal, muito menos torcedor de bancada do clube de eleição e abanador de bandeiras.

As juventudes têm tido o seu papel ao longo dos anos e é um papel válido e de mérito. Também a pouca representação parlamentar com menos de 30 anos deverá deixar orgulhosos todos os interessados neste tópico, mas estas não são apostas seguras para o futuro de uma geração muito mais fluída e céptica das grandes narrativas que nos guiaram até agora.

Se queremos um sistema sustentável daqui a setenta anos, precisamos de começar a prepará-lo no presente, olhando para o passado como um exemplo do que foi feito e não daquilo que deverá a continuar a ser. O futuro é que deveria ditar as regras do presente, mas, em Portugal, temo que seja sempre o passado a fazê-lo.

PARTIDOS E MOVIMENTOS      SOCIEDADE     JOVENS

COMENTÁRIOS:

Maria Cordes: O que eu verifico na geração dos meus netos é uma vontade inquebrantável de saírem do país, não só depois de concluírem a sua formação, mas, mais recentemente, fazerem a formação universitária lá fora. Constato uma generosidade imensa na nossa juventude, colaborando em projectos de voluntariado. Nas juventudes partidárias, quem dera que estivesse enganada, destaca-se uma formação visando alcançar o poder, o estatuto e o dinheiro, pelo andar da carruagem, todos os meios servem: escolas de aprendizagem do que nunca seria lícito fazer. A política e os políticos, com casos e casinhos a surgirem como cogumelos, estão conotados com gente de má nota. Esta aura negativa está a afastar gente recomendável e com provas dadas, de desempenhos, a bem da nação, para mal dos nossos pecados. A apatia e passividade dos mais velhos são maus exemplos. Quanto aos tempos idos, têm as costas largas. A última coisa a morrer é a Esperança.                 GateKeeper: Caríssimo JMM: Concordo que este "regime" e as suas molduras sociais e económicas, assim como os seus actuais dogmas "ideológicos" dos séculos  XIX e XX não  se coadunem com a "juventude" actual. Mas, sabe tão bem que eu sei que o JMM sabe bem, que eu esperaria SOLUÇÕES, PROPOSTAS para discutir consigo. E, contudo, não as vejo. Gerações de "protesto, vitimização e perdidas do seu Norte, Sul, Oeste e Este, vejo com fartura. Vamos a a isso? Quer começar?                 Cisca Impllit: Uma visão do e para o País. Deixem-me lembrar- Francisco Sá Carneiro tinha! Liberalismo e desenvolver. Sabia que o País tinha um atraso de vários ordens, económico, cultural e social, de tal ordem que se tinha que colmatar essa pobreza e crescer para o mundo! Hoje, volvidos tantos anos, continuamos a ser empurrados e a destruir valor!!                João Floriano: Leio sempre com especial interesse os artigos dos jovens que bem podiam ser meus netos e geralmente discordo do que escrevem. Mas isto não significa automaticamente que estejam errados ou confusos. Ainda sou suficientemente lúcido para achar que a incompreensão resulta da minha idade aliada ao meu conservadorismo. O nosso jovem articulista fala em: «variações dos governos esquerda-direita» Parecem-me mínimas. o PS governa desde 2005 com o primeiro governo de Sócrates como PM e em 2023 com António Costa, estamos numa situação calamitosa. Pelo meio tivemos os anos da troika e de Passos Coelho, que nos puseram num rumo esperançoso, logo mudado pelas eleições de 2015. A. Costa é derrotado mas arranja um modo de governar através de alianças anteriormente impensáveis com o grande opositor do PS até aí: o PCP e não só. Portanto não podemos falar de variações significativas. Temos sido um país governado pela esquerda, moderada até 2022, mas que uma maioria absoluta tornou muito próxima do comunismo Depois o articulista retoma um chavão já extremamente batido quando fala que «São estes jovens, a classe mais bem preparada e mais bem informada de sempre,». Uma afirmação simpática aos ouvidos dos jovens e suas famílias mas com a qual não concordo. De um modo geral a nossa juventude é pouco informada, pouco madura, muito falha de inteligência emocional. Sabe de novas tecnologias de informação , mas tudo o resto é uma nebulosa confusa de conhecimentos não consolidados. Não conseguem aprofundar um assunto, não se conseguem situar no momento histórico, são formatados por forças que dominam o espaço universitário. «Os jovens estão ansiosos para ser ouvidos», mas o que nós ouvimos são papagaios formados nas juventudes partidárias, activistas pelo clima tipo Guterres, que esvaziam pneus de SUVS, se colam a portas da GALP , emprestam os seus esforços a causas que não têm a ver com os nossos problemas. A geração mais bem preparada de sempre é também a mais instrumentalizável.              Rosa LourençoJoão Floriano: Infelizmente, concordo que a ingenuidade juvenil é, facilmente, manipulável pelos partidos políticos. Mas, se os jovens se querem manter, politicamente, livres, têm de se afastar dos partidos políticos mas devem ouvi-los, questioná-los e exigir-lhes soluções atempadas para os seus problemas de educação, saúde, trabalho, justiça e, principalmente de Futuro. João FlorianoRosa Lourenço: Totalmente de acordo. O que este jovem nos transmite é que quer futuro na continuidade. Não haverá futuro se as coisas continuarem como até aqui, ou melhor será um futuro de desconsolo.

 

quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Pena que assim seja


Pena que os nossos mal leiam.

Europeus, mas pouco

Há o país que Costa ali representava e o outro. É uma cisão entre o país que ambiciona e trabalha por mais e o que espera que os outros façam e paguem por si e que se revela sempre que falta dinheiro.

NUNO GONÇALO POÇAS:   Colunista do Observador. Advogado, autor de "Presos Por Um Fio – Portugal e as FP-25 de Abril"

OBSERVADOR, 29 ago. 2023, 00:2047

É um dos meus momentos preferidos do Verão. Todos os anos, num sábado de Agosto, dois primos nomeados no ano anterior organizam uma reunião de primos na terra dos avós, bisavós e assim sucessivamente. Obrigamo-nos, assim, uns aos outros a regressar a Monfortinho, onde tantos já não têm família directa, mas onde guardam ainda muitas memórias e uma grande raiz familiar. Somos sempre muitos, não contando com os ausentes – a minha avó tinha mais de 20 primos direitos e as respectivas descendências estendem-se largamente. É também aí que voltamos a encontrar a família emigrante, alguns deles já nascidos noutras paragens, filhos de gente que saiu do país com 15 ou 16 anos para trabalhar, e vamos, naturalmente, vendo os mais novos crescer.

Um dos mais novos nasceu e vive na Holanda. Faz 14 anos em breve. Naqueles dias que se seguiram à reunião familiar, entre mergulhos de piscina, imperiais, gelados e passeios de gaivota, soubemos que o rapaz andava ansioso pelo aniversário. A razão era simples: com 14 anos feitos, podia juntar-se aos seus amigos que já tinham atingido a idade legal para trabalhar na Holanda e começar a prestar serviço quatro horas em cada sábado num supermercado da cidade onde vive. Ia continuar a estudar, mas o trabalho ia permitir-lhe ganhar algum dinheiro, contribuir para as despesas da família, poupar e ainda lhe sobrava algum para gastos supérfluos da idade, poupando também os pais a essa despesa.

Não é um feito notável, diga-se. Poderá até parecê-lo para nós, num país onde a criançada aparentemente só pode ganhar dinheiro a trabalhar se estiver a gravar telenovelas, mas o entusiasmo do miúdo foi partilhado pela mãe, minha prima, com algum orgulho, é certo, mas também com uma naturalidade contagiante.

Fiquei a pensar nisto. E lembrei-me de um episódio com três anos, poucos meses depois do início dos confinamentos decretados pelos Governos do mundo para ver se um vírus se ia embora, vendo que não havia ninguém na rua. Em Julho de 2020, António Costa andava, de cabeça baixa e mão estendida, a percorrer a Europa, reunindo-se com os líderes dos outros Estados-membros, resumidamente a pedir esmola. O périplo terminaria com a boçal pergunta do Primeiro-ministro à presidente da Comissão Europeia, uma vez recebido o cheque, sobre se já podia ir ao banco no dia seguinte, e teve ainda passagens memoráveis como uma sabujice prestada a Órban, quando António Costa para aí afirmou que a Hungria não podia ficar sem fundos europeus só por causa daqueles pormenores sem importância das falhas no seu Estado de Direito. Outro dos momentos dessa jornada de pedinte deu-se precisamente na Holanda, com uma vénia muito simpática, muito diplomática e também muito pelintra a Mark Rutte.

Meses antes, logo nos primeiros tempos de confinamento, Wopke Hoekstra, ministro das Finanças holandês, tinha sugerido que a Comissão Europeia devia investigar países, como Espanha, que afirmavam então não ter margem orçamental para lidar com os efeitos da crise provocada pelos lockdowns, quando a zona euro estava em crescimento há sete anos consecutivos. Costa insurgira-se contra as declarações, fora mesmo contundente, tratando-as como declarações repugnantes. E, para consumo interno, dentro e fora dos estúdios de televisão, teve ali o seu momento de glória em prol da unidade europeia. Mas, passada a propaganda para comentador repetir, extasiado o eleitor com a fibra do seu chefe, António Costa lá ia ter com Rutte, Primeiro-ministro holandês, pedir os devidos dinheiros.

O momento era curioso, de facto. Em tempos, Vítor Gaspar, ministro das Finanças do tempo de Passos Coelho, tinha sido fotografado a conversar com o homólogo alemão de então, Wolfgang Schäuble, que, como é sabido, usava uma cadeira de rodas para se mover. Gaspar tinha cometido a imprudente delicadeza de se baixar para conversar com o alemão. E António Costa, uma espécie de conde de Abranhos com melhor berço, chegou mesmo a anunciar, tempos depois, de ventre inchado, todo ele ufano, e sem se referir concretamente ao episódio, que os tempos em que os ministros portugueses se ajoelhavam aos pés dos alemães tinham, com ele, terminado.

Enfim, menos de dez anos depois de estendermos a mão da pobreza, na sequência da bancarrota, Costa voltava ao mesmo, cheio de sabujice para com os holandeses. À saída do encontro com Rutte, um homem que, sendo Primeiro-ministro, vivia ainda no seu apartamento de estudante, Costa sorria, prestando declarações aos jornalistas, antes de entrar num tradicional carro preto de pessoa importante. Rutte saiu de bicicleta.

Há, entre nós, o país que Costa ali representava e o outro, que emigra ou, ficando, que desiste. É uma cisão entre o país que ambiciona e trabalha por mais e o outro, que espera que os outros façam e paguem por si, e que se revela sempre que falta dinheiro. Esta última é, afinal, a predisposição maioritária, como as eleições vão demonstrando: a vontade quase generalizada de um país que quer pagar com o dinheiro dos outros os luxos e os direitos dos europeus mais desenvolvidos, sem fazer o que precisa para lá chegar sozinho. É como se achássemos sempre que são os mais ricos quem tem de esperar por nós, em vez de termos de ser nós a acelerar para os alcançar. Mergulhado numa piscina em Monfortinho, olhei para o meu primo e vi ali um miúdo de 14 anos luso-holandês a dar uma sova moral ao país onde passa férias.

ANTÓNIO COSTA    POLÍTICA    FUNDOS COMUNITÁRIOS    UNIÃO EUROPEIA   EUROPA   MUNDO   ECONOMIA

COMENTÁRIOS (de 47)

Américo Silva: Caro cronista: felizmente você é capaz de muito melhor do que esta crónica derrotista, fadista, declinante, infantil, sem autoestima; não foi assim que os nossos antepassados fundaram Portugal, e logo a Holanda, um país parasita da união europeia onde empresas estrangeiras pagam impostos, e são permitidas aquelas organizações de burlas por telemóvel.                Carlos Quartel: Retrato real da nossa pobre sociedade. Com todas as culpas que possam ser assacadas a Costa, deve dizer-se que quem inventou um dos maiores erros cometidos foi Durão Barroso (se não me engano), Refiro-me à obrigatoriedade de andar na escola até aos 18 anos, produzindo milhares de ociosos, sem objectivo e ganhando maus hábitos, que vão inquinar toda a dinâmica futura. Com escola obrigatória até ao nono ano seria suficiente para dar um pacote de conhecimentos, podendo libertar milhares para o mercado de trabalho, ou para as escolas profissionais. Mas ninguém mexe nisso, porque todos querem ser doutores .....                  António Lamas: Costa é máximo exemplo do socialismo actual (extensivo à extrema esquerda folclórica). Com o dinheiro dos outros fazem um figurão. Nunca criam nada de raiz. Enchem a boca de promessas que não cumprem. Usam e abusam do nepotismo, amiguismo, e todos os "ismos" que lhes encham os bolsos. Nascidos e criados na mentira, aplicam-na na perfeição. Até quando?                        Vitor Batista: Acabou de retratar muito bem como funcionam os portugueses lá fora e cá "dentro". Em Portugal a culpa do que corre mal é sempre do Passos, da Merkel e da crise financeira, lá fora atiram-se ao trabalho com afinco, sem queixumes e bodes expiatórios, não se queixam, mas os que ficam, e alguns deles já estiveram lá fora, mas não tiveram foi arcaboiço para trabalhar, esses votam ps, porque a mama está garantida e não precisam de trabalhar, como demonstra a maioria absoluta dos xuxas. Carlos Chaves:  “Mergulhado numa piscina em Monfortinho, olhei para o meu primo e vi ali um miúdo de 14 anos luso-holandês a dar uma sova moral ao país onde passa férias.” Caríssimo Nuno Gonçalo Poças, genial esta sua crónica, é exactamente isto! Temos dois países, mas o da sabujice de Costa vence largamente o que desejaria e ainda luta, para ter a qualidade de vida dos Holandeses ou dos Alemães. Não posso deixar de lhe agradecer ter trazido novamente a imagem do encontro de Vitor Gaspar com Wolfgang Schäuble e o abominável comentário de Costa, que espécie a deste homem que temos como Primeiro Ministro! Nojento, simplesmente nojento!!                                    João Floriano: Começo por dar os parabéns ao adolescente luso holandês e à sua orgulhosa mãe porque 4 horas semanais de trabalho nunca mataram ninguém e vão ser uma lição de vida tão importante como as que vai aprender na escola e mais tarde na universidade. Por cá se tal acontecesse o empregador levaria com uma multa avultada e possivelmente a CPCJ investigaria a família, deixando para trás outros casos pungentes que por cá temos. Mas nós somos assim. Muito interessante o revisitar das vénias ridículas de AC aos «repugnantes» do norte. E não me tinha apercebido do pormenor da cadeira do Schäuble. De facto «lamentável» o gesto de cortesia de Victor Gaspar ao curvar-se para poder ouvir o cadeirante. Quando AC se curva e espeta o gordo traseiro para agradecer o cheque e perguntar se já pode ir ao banco, isso sim, é posição de estadista. E é esta personalidade que sonha todas as noites com um alto cargo em Bruxelas. Europeus somos de certeza geograficamente falando, mas no coração, na mentalidade, temos dias, de acordo com as conveniências. Mas quem tem famílias numerosas sabe sempre que há aquele primo crava, que aparece para almoçar e pede dinheiro «emprestadado» para as suas extravagâncias. Um dia a família cansa-se e deixa de abrir a porta ao «crava» .               Carlos Chaves > Américo Silva: Caro Américo, a Holanda um país parasita da UE? Nomeia logo o país que mais contribui em termos líquidos anuais por habitante para o orçamento da UE? Portugal sob a batuta socialista, este sim é um “parasita” do orçamento da UE, pior que nós só a Grécia e mais oito países de leste: https://maisliberdade.pt/maisfactos/contribuicoes-liquidas-por-habitante-para-o-orcamento-da-uniao-europeia/                     Francisco Ramalho > Américo Silva: Este comentário do Sr. Silva ou é de socialista-comuna a justificar a mama ou de quem não percebe absolutamente nada. Por isso anda o país mal.      João Amorim: Esta lógica dura há centenas de anos: os melhores e mais esforçados saem daqui e não voltam. E os que ficam, os piores e mais preguiçosos, e que juntam a estas características o feio defeito da inveja, são sempre a maioria que dita o passo e as escolhas da nação (hoje através do voto). Eu estou mais do que convencido que a esmagadora maioria dos votantes tem já perfeita consciência da incompetência, maldade e corrupção dos socialistas. Mas é sobretudo a inveja e o ressentimento que os leva a votar sempre e de novo no PS, Bloco & Companhia.               Madalena Sá: Costa é o exemplo máximo dum xulo duma sociedade! No entanto, o mais vergonhoso são os portugueses votarem nesta canalha!                     João Ramos > Américo Silva: A sua crónica se for por ironia ainda vá que não vá, agora se for a sério eu meter- me ia por um buraco bem fundo, tenha vergonha sr. Américo, os 31 likes é de ver que é a máquina de propaganda do largo das ratazanas a funcionar sem qualquer vergonha!!!                    António Patricio > Américo Silva: O sr. Américo Silva tem um conhecimento da Holanda como deve ter de lagares de azeite!... Que indigência mental de comentário!... Quanta obesidade néscia!...                Antonio RodriguesAmérico Silva: Se o ridículo passar a ser taxado não era preciso andar a pedinchar na Europa. Mas para si seriam más notícias.                    Adolfo Castro: O Costa é um traste! Podem apagar, mas fica aqui a ideia, para todos os milhões que ainda não perceberam.    Luis Oliveira > Américo Silva: O esquerda.net é no jornal ao lado. Os únicos parasitas aqui são os PIGS 🐷   Antonio Rodrigues: É a realidade aqui descrita aquela que eu conheço, infelizmente.               Ana Maia: Este país, que vende nas TV s nacionais uma bonança, até riqueza, que não trabalha para criar, onde um pai que, por castigo pelas más notas, leva o seu filho para lhe mostrar que a vida custa, é castigado na sua acção pedagógica, com 4 meses de prisão. É nestas pequenas coisas que se constrói a diferença para mais e melhor. Também gostei da referência aos pequenos actores. Sempre me questionei se a diferença entre criminalizar o trabalho infantil é pela idade ou pelo rendimento. É que de facto nunca vi ninguém a reclamar pela exploração da mão de obra infantil quando é nas TV s.                GateKeeper: Caro NGP, as boas elites deste pobre País refugiaram-se, "fecharam-se" e, quem, de facto, "quer fazer pela sua vida e pela dos seus" tem que "SAÍR" deste pardieiro esquerdalho. Os jovens de valor têm que se "exportar" e, no entanto, ao fazê-lo, dois dos meus filhos foram, com gosto e vontade. Vivem, labutam e são felizes, com as suas famílias, amigos e, também, nas comunidades locais de Portugueses. Em Portugal já nem vivemos actualmente em demagogocracia populista-liberal; (sobre)vivemos em plena autocracia xuxú, esquerdalha & woke, sem governo, sem PdaR e só com dois ddts a virarem os frangos e a amanharem o peixe que apanham.

 

Em todo o caso


Um texto – de PEDRO TAMENbrilhante de riqueza linguística e profundidade do humor satírico. O título acima tem a ver com os comentários, alguns contestando o obscuro da expressão de “gozação” do seu autor. A mim, pareceu um relato de excepcional calibre, pese embora a minha simpatia pelos esforçados apresentadores dos programas, que têm que obedecer às imposições provindas dos chefes das programações.

A liturgia de Verão

O medo de ainda não nos ter acontecido uma coisa é o ingrediente mais seguro do telejornal, como foi sempre o da poesia.

MIGUEL TAMEN Colunista do Observador, Professor (e director do Programa em Teoria da Literatura) na Universidade de Lisboa

OBSERVADOR, 27 ago. 2023, 00:1718

Apesar de nominalmente interessados no que se passa, muito poucos portugueses frequentam com regularidade as cerimónias informativas. O assunto tem vindo a preocupar as autoridades. Para o Verão, em que os dias longos não convidam ao recolhimento das vésperas, os telejornais vesperais recorrem aos métodos mais robustos de catequese. Não se trata, naturalmente, de trair a sua natureza profunda; não há grande diferença de doutrina entre o telejornal de Verão e o de Inverno. Trata-se de no Verão tornar a doutrina completamente aparente, e assim poder melhor resgatar do desamparo cognitivo a massa decrescente dos fiéis.

O filósofo tinha observado que a diferença principal entre história e poesia é que a primeira descreve aquilo que se passou; e a segunda aquilo que pode muito bem passar-se. Concluiu que por isso a poesia é mais filosófica e mais séria que a história. A tese ilustra perfeitamente a natureza filosófica do telejornal, e desde logo dos telejornais de Verão: tudo neles poderia muito bem ter-se passado. Ajuda que quem os apresenta seja por regra autor de ficção publicada. A sua credibilidade na matéria permite-lhes comentar o significado daquilo que pode acontecer, e relembrar como o mundo é triste e reprovável; e, visto que nada ainda se passou connosco, que existe uma ameaça: qualquer coisa pode acontecer. O medo de ainda não nos ter acontecido uma coisa é o ingrediente mais seguro do telejornal, como foi sempre o da poesia.

No Verão a liturgia organiza-se em dois segmentos principais: por esta ordem, o segmento-tragédia e o segmento alimentar. No segmento-tragédia são ilustrados fenómenos naturais e opiniões que poderão ter ocorrido em diversos destinos turísticos. O género é a teodiceia: como é possível que haja tanto mal no mundo? As causas metafísicas alegadas são: a cobiça de alguns, a cegueira de todos, e as alterações climáticas. Estas várias causas são declinadas a cada caso pelos ficcionistas, como apostos jaculatórios às tragédias. Com conhecimento explicam que tudo se possa vir a passar, e que tudo já se tenha passado; que nada de novo haja sob o sol, e que a terra esteja a aquecer.

No segmento alimentar a situação é diferente. Um casal de etnólogos percorre por regra paragens remotas. Se num momento anterior não se tivesse procedido à sua localização suspeitaríamos de que poderia haver por ali ranchos de nativos, ou de acordéons. O diálogo franco e malicioso fez maravilhas, e dispô-los a dar acesso aos seus preparados alimentares secretos. Durante os preparos os nativos declaram que estão a mexer um tacho sempre que é esse o caso; os etnólogos observam-nos perfunctoriamente. O método resulta. Os resultados parecem-se uns com os outros: carnes que foram cor-de-laranja e, a emergir do fumo delicioso, bordas de alguidar e sopas no mel. Durante a ingestão participativa os etnólogos conversam entre si com embirração humorosa e combinada. Tudo aquilo se poderia ter passado.

ERRO EXTREMO   OBSERVADOR   COMUNICAÇÃO SOCIAL   MEDIA   SOCIEDADE   VERÃO   NATUREZA   AMBIENTE   CIÊNCIA   TELEVISÃO   ECONOMIA

COMENTÁRIOS:

Maria Paula Silva: desta vez dei-me ao trabalho de ler o texto com calma e tal, etc.... e percebo a ideia mas continua a parecer-me que a necessidade de adjectivos rebuscados e frases redigidas de forma complicada tornam difícil o objectivo final de qualquer texto: a sua compreensão. Mas, pronto.... cada um escreve como sabe.            João Floriano > Maria Paula Silva: Ai, a menina Maria Paula percebe a ideia? Então esclareça aqui a massa associativa porque pelos vistos ninguém entendeu nada. Ou pensa que se escapa assim tão airosa e formosa com a fama de ser tão inteligente e nós todos tapadinhos!!                 Maria Paula SilvaJoão Floriano: ahahahah, ai o menino João a picar-me... ora bolas, (acho) que o que o Prof. quer dizer é que é tudo lixo, notícias alarmistas (até as alterações climáticas lá estão) só sobre desgraças, o medo instalado no subconsciente (só faltou falar da covid mas vai ter oportunidade em breve, lá pra setembro/outubro, esteja atento Professor) e para nos entreter/manter a massa cinzenta de forma estagnada uns programas de culinária para nos fazerem salivar, sonhar e pensarmos que estamos vivos. Mas não, somos todos zombies manipulados e embrutecidos. Estupidificados, melhor dizendo. O pior é que até tem razão, e a coisa não é por acaso, mas sim propositada, é preciso anestesiar a malta para que não mexa muito.....Il faut leur donner du sucre pour qu'ils ne bougent pas trop.....          João Floriano > Maria Paula Silva: Ainda bem que escrevi a minha resposta ao Francisco antes do seu comentário, porque lá tinha eu a Maria Paula a dizer que tinha sido plagiada. Mas também entendi o mesmo.             Maria Paula Silva > João Floriano: Ahahahah não vi, vou ver :)))) acho que não há outra interpretação, mas oh João, SE há (e é possível que haja porque com o Prof. Tamen nunca se sabe....) então está para além da Metafísica ahahahahaha                      António Sennfelt: Como exemplo de filosofia barata também se pode afirmar que uma rosa é uma rosa é uma rosa!                João Floriano > António Sennfelt: Isso também é filosoficamente muito controverso. A rosa pode não ser uma rosa de verdade. Eu tenho uma amiga que se chama Rosa e faz umas caipirinhas fabulosas e não se parece nada com uma rosa, pelo menos antes da quinta caipirinha. Depois há o verbo rosar: Eu roso, tu rosas. ele rosa: mas neste caso há um erro ortográfico.......Depois há a rosa do PS que já está murcha há muito tempo e ninguém percebeu no largo do Rato. Eu cá metia uma foice a ceifar a rosa. E finalmente o maior dos mistérios que requer uma profunda análise filosófica: o que é ser cor-de-rosa? é que há rosas brancas, vermelhas de várias tonalidades, amarelas ( as minhas favoritas), Quando alguém me diz: eu vou com um vestido cor de rosa: «Tá bem! mas de que cor é a rosa?» Compreende a angústia do meu dilema?            Maria Paula Silva > João Floriano: ahahahahahah muito bem :))                       António Sennfelt >João Floriano: Esplêndido comentário!!          João Floriano > António Sennfelt: Caro António Por vezes até eu me surpreendo com a minha facilidade para escrever coisas disparatadas e sem nexo nenhum. Paulo Castelo: Obrigado TAmen              João Floriano: Caro professor. Tentei, li, reli mas não percebi patavina.               Francisco Almeida > João Floriano: Tem-me acontecido o mesmo com este professor. Hoje acho que percebi parte - na crítica aos telejornais - mas, por antítese, recordo-me das claríssimas aulas que tive com Adriano Moreira. E, mais ainda, de uma frase de um professor de Coimbra: "A clareza é a boa fé do filósofo".                 João Floriano > Francisco Almeida: Bom dia caro Francisco. Não vou desistir tão facilmente. Vou reler mais tarde e pode ser que se faça luz.                     Maria Paula Silva > João Floriano: ahahahahahaha finalmente :)           Maria Paula Silva > Francisco Almeida: Exacto, a clareza e simplicidade andam de mãos dadas com a Sabedoria. Mas a capacidade de comunicar verdades profundas com frases simples não é para todos.        João Floriano > Francisco Almeida: Eu li novamente e cheguei à conclusão que se trata de uma crítica televisiva, mas que o telejornal não é aquilo que pensamos, com os pivots a lerem o teleponto. Eu acho que aqui os telejornais são aqueles programas que quer de manhã quer de tarde repetem sempre o mesmo figurino. Só desgraças! Daí o medo de nos acontecer a nós. Daí o aspecto didáctico destes programas: estamos mal? Nem por isso! Há sempre quem esteja muito pior. E há sempre culinária, dai os etnólogos e os ranchos de acordeons, às vezes há cante alentejano ou música pimba com bailarinas rechonchudas: uma morena, outra loura e sempre uma africana para não haver acusações de racismo e xenofobia, com o par apresentador a trocar piadas entre si, algumas que só eles percebem porque são private jokes. Impossível não atingir a imbecilidade completa com estes programas. E neste momento o professor Tamen está a rir de tantos disparates. Mas desisto, caro professor: não percebo nada.                     Maria Paula Silva > João Floriano: ahahahah! ainda foi mais preciso na análise com pormenores tão importantes, aliás, como é seu hábito. O João devia pensar seriamente em escrever um livro..... upssss, se calhar até escreve, não sei. Mas a sua capacidade de pormenorização é excelente.

terça-feira, 29 de agosto de 2023

Mais um

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Artigo de opinião que pretende esclarecer-nos a respeito de “como isto nos vai”, cada vez mais sem esperança, acomodados que somos, poveri noi.

A batalha pela democracia

Portugal é hoje uma autocracia de fachada democrática. A última maioria absoluta do Partido Socialista deu a António Costa um poder absoluto sobre o Estado e sobre muitas instituições da sociedade.

HENRIQUE NETO, Empresário

OBSERVADOR, 29 ago. 2023, 00:152

O jornal Expresso publicou um artigo sobre o estado de indigência a que chegaram as nossas Forças Armadas. O tema, dada a sua importância, foi também tratado nas diferentes televisões e feitos vários comentários e análises de especialistas, a maioria militares de patentes superiores. No final, as análises não  se afastam do que se passa na saúde, na educação, na justiça e na economia, como reflexo dos cerca de catorze anos da governação do Partido Socialista de José Sócrates e. de António Costa. O estado de degradação e de desorganização de todos estes sectores não diferem, porque as causas são as mesmas: a total incapacidade dos governantes e quadros do PS para organizar e gerir organizações complexas. Nunca o fizeram, nunca aprenderam como se faz e o resultado da sua intervenção no governo do País só poderia ser este.

Para além da gritante incompetência do PS, o País é confrontado com uma outra questão igualmente demolidora: a ausência de liderança perante o excesso de ideologias esquerdizantes que convivem em plena contradição com as democracias europeias e com as regras de mercado dominantes na Europa e no Ocidente. Na habitação, na ferrovia, na saúde e em tudo o resto, os saldos de uma cultura marxista fora do tempo dominam as decisões impostas de forma crescentemente mais autocrática. Acresce a cultura do assistencialismo do Estado agora instalada, não com o objectivo de minorar as crescentes dificuldades das famílias portuguesas, mas como um instrumento do poder socialista com vista a ganhar eleições.

A grande família socialista domina o Estado em todas as suas dimensões e através da cultura da subsidiação controla as mais variadas instituições da sociedade. Os apoios da União Europeia e o empobrecimento da classe média feita através dos impostos que atingiram níveis insustentáveis, criaram em Portugal um Estado suficientemente rico para comprar os votos dos portugueses, mantendo as famílias entre as mais pobres da Europa.

Infelizmente, a União Europeia é também hoje parte do problema, em que o objectivo de Bruxelas se limita a manter o equilíbrio financeiro e a ideia de que todos os problemas se resolvem com dinheiro, muito dinheiro. Com esse fim a União Europeia esquece as suas próprias regras e decisões, como acontece com a nossa ferrovia ou no caso da TAP, fecha os olhos às ideologias extremistas da esquerda e da direita e convive com práticas de corrupção que minam o tecido democrático. A União Europeia preocupa-se geralmente com as pequenas questões burocráticas, aceitando que a má gestão domine alguns países como é o nosso caso.

Portugal é hoje uma autocracia de fachada democrática. A última maioria absoluta do Partido Socialista deu a António Costa um poder absoluto sobre o Estado e sobre muitas instituições da sociedade. Após muitos anos de nomeações dos boys da grande família socialista para tudo que é poder, António Costa tem hoje o domínio do partido e do País. Depois de quatro anos de coabitação com o Presidente da República, agora o crescente poder do primeiro-ministro permite-lhe confrontar Marcelo Rebelo de Sousa e muitas das restantes instituições democráticas, mostrando ao País quem manda. Neste processo, a separação de poderes é a última ficção e a máquina da Justiça é mantida a pão e água por entre as mordomias das nomeações e das contractações do Estado.

A última batalha pela democracia trava-se agora na comunicação social entre os vários textos de uma certa reserva democrática de universitários, jornalistas, gestores e de políticos na reforma de um lado e os textos que, sob a capa de uma certa independência formal e fortemente ideológica, da esquerda e da direita, com que muitos modernistas e passadistas tentam justificar com boas palavras e algum ganho as inconsequências da governação.

Nota: este texto foi escrito sob a inspiração do extraordinário livro de Henry Kissinger “Liderança”, que, de alguma forma, retrata a nossa tragédia nacional.

POLÍTICA    DEMOCRACIA    SOCIEDADE

COMENTÁRIOS:

Momo, um Deus em Cascais: Cada vez que leio um artigo de opinião de Henrique Neto bato com a cabeça na parede pelo menos três vezes. Em 2016 era o meu candidato de eleição, sem conseguir entender até hoje a razão que me levou a tal estupidez, acabei por votar Marcelo (1x). Parabéns por mais este excelente artigo de opinião.                  JOHN MARTINS: E inspirou-se muito bem e com grande sentido crítico, trazendo à tona muitos dos podres desta autocracia socialista que nos tem desgovernado durante uns 15 anos, Sócrates & Costa.

Parabéns. Sabe dos podres socialistas como ninguém; e tem coragem de os revelar como poucos.