De uma prosa exemplar de acerto pela
caracterização humana e desmontagem dos fundamentos que movem os protagonistas
que se rotulam de direita quando subservientemente se encolhem sob a alçada desse
“socialismo” que se impõe cinicamente, por ter faca e queijo para as esmolas
com que de fora lhe enchem os alforges a despejar, como se tivesse ganho
honradamente pelo esforço próprio o seu recheio. Partidos de uma falsa direita,
pois, tal como toda a nação, afinal, se submete subservientemente, apenas
rugindo mas não trabalhando, a mostrar outros procedimentos de uma diferente orientação,
que implique desenvolvimento económico próprio. Sim, Alberto
Gonçalves, como sempre, põe o dedo na ferida, descrente em
todos nós, provavelmente em si próprio também, apesar da sua exemplaridade
intelectual e sem retórica, de quem não nos gosta
nem se gosta, na acomodação
geral, mau grado o rugido parcimonioso dos tais que se pretendem de direita,
sem a solidariedade requerida.
O jogo que a “direita” aceitou perder
A “fatwa” socialista aterroriza tanto
os principais partidos de “direita” que estes, na ânsia de se distinguirem dos
“radicais”, com frequência se esquecem de se distinguir do socialismo.
ALBERTO GONÇALVES Colunista
do Observador
OBSERVADOR, 19
ago. 2023, 00:213
Como cá o dr. Costa, o sr. Sánchez mostrou em Espanha que, no que
toca à Ibéria, a esquerda não volta a perder eleições. O método é simples. Se o partido socialista (o deles ou o,
salvo seja, nosso) ganha com maioria absoluta, os socialistas vão naturalmente
para o governo. Se ganha com maioria relativa, os socialistas aliam-se a
meia-dúzia de fanáticos disponíveis e vão para o governo. Se perde, os
socialistas aliam-se a duas dúzias de fanáticos com toda a sorte de exigências
e vão para o governo. O observador distraído diria que o principal
partido da “direita”, o PSD ou o PP, beneficia de iguais regalias, mas o
observador distraído está enganado.
Isto porque algures nos finais de
2015 entrou em vigor na Península uma lei não escrita, excepto em boa parte dos
“media” e nas cábulas dos comentadores avençados, segundo a qual o principal
partido da “direita” não pode fazer alianças ou acordos à toa. Aliás, não pode
fazer alianças ou acordos de todo, sob risco de “normalizar” (o termo em voga)
as forças de “extrema-direita”, conceito nebuloso e flexível que compete aos
socialistas estabelecer. Os
socialistas podem, e devem, juntar-se a comunistas, trotskistas,
independentistas, terroristas, mercenários e, se for o caso, canibais
moderados. Os não socialistas estão impedidos de se juntar a qualquer força
política a que os socialistas chamem “radical”. “Radical”, no léxico oficioso,
não é o partido que nega a existência do Gulag, tenha cadastro na ETA ou
reclame a implosão da própria soberania: é apenas o partido que facilite o
acesso da “direita” ao poder, ou a “direita” em geral. Conforme as centrais de
propaganda dos socialistas explicam pedagogicamente, é assim que funciona o
parlamentarismo.
Engraçado: da penúltima vez
que vi, as democracias parlamentares eram diferentes. O partido mais votado
formava governo e o rival ia para a oposição. Tratava-se de um sistema simples,
quiçá simplório, com a agravante de permitir que, de quando em quando, a
“direita” vencesse de facto. Sucede que o bem-estar dos povos, ainda que contra
a vontade destes, não aconselhava a perpetuação de semelhante desordem e
impunha acções urgentes que a impedissem. Vai para oito anos, o dr. Costa, um
videirinho típico, estendeu o tapete a trupes de heróicos resistentes à
liberdade e o resto é história, a história de duas democracias recentes que
resolveram partir em marcha acelerada rumo aos encantos da América Latina.
Claro que, em teoria, há a hipótese de o principal partido de
“direita” regressar ao poder mediante maioria parlamentar. Na prática, não há
hipótese nenhuma. Por um lado, se acontecesse tamanha desgraça os socialistas
arranjariam maneira de a vetar por vias que nem me atrevo a antecipar. Por
outro lado, a coisa está inquinada o suficiente para tornar a referida vitória
impossível. Em Espanha e aqui, ambos os partidos ditos de “extrema-direita” são
fundamentais à estratégia, já que cativam votos, inúteis na medida em que não
são utilizáveis em eventuais pactos. Por isso o PS e o PSOE não se calam com a
“ameaça” do Chega e do Vox, respectivamente: estes são a garantia de que 10% ou
15% dos eleitores à “direita” não são tidos em conta no apuramento dos
resultados. Para
cúmulo, a “fatwa” socialista aterroriza tanto os principais partidos de
“direita” que estes, na ânsia de se distinguirem dos “radicais”, com frequência
se esquecem de se distinguir do socialismo. A consequência é verem fugir
descontentes para os “radicais” (que pelo menos berram protestos sortidos) e
apáticos para os socialistas (que pelo menos são o produto original).
Nada disto é fácil. Se são
brutalmente incompetentes ou deliberadamente daninhos a governar, os
socialistas são bastante hábeis a encher de absurdo a realidade. Só dessa
forma se consegue convencer um pedaço significativo da sociedade de que as
“extremas-direitas” locais, sem dúvida agremiações difusas e contraditórias,
constituem um perigo maior do que bombistas mal reformados, fugitivos da
justiça e os seus simpatizantes aquém de Badajoz. Torcer a
percepção das massas dá trabalho, dá trabalho e dá emprego a socialistas,
avençados dos socialistas e inúmeros “independentes” que, fora as televisões,
semanalmente assinam artigos ou “tweets” a exaltar as virtudes do “centro”. O
“centro”, escusado informar, é o lugar designado pelos socialistas, eles mesmos
tão embrenhados na ideologia que hoje atropelam leninistas diversos. O “centro”
está a meia expropriação de distância das manas Mortágua e dos venezuelanos do
Podemos. O “centro” mudou a ponto de Chega (quase sempre) e Vox (tem dias)
serem, na economia, socialistas banais.
E pronto. É verdade que, com a
cumplicidade de muitos, a ambição de uma parelha de nulidades sem escrúpulos
enfiou Portugal e Espanha num vórtice capaz de dilacerar dois países, um pela
miséria, o outro pela literal divisão física. Mas é um erro supor que o
problema é pessoal. Atrás do dr. Costa e do sr. Sánchez encontram-se, em fila
de espera, uma resma de irresponsáveis iguais e igualmente dispostos a tudo,
incluindo a aproveitar o jogo viciado que não os deixa sair derrotados. A
derrota cabe à “direita”, enquanto a “direita” jogar.
ESPANHA EUROPA MUNDO EXTREMA DIREITA POLÍTICA EXTREMA ESQUERDA SOCIALISMO
COMENTÁRIOS:
Jorge Lopes: Excelente
artigo!
observador censurado: O
Alberto Gonçalves veio pôr o dedo na ferida e, provavelmente, aumentar a
venda de comprimidos para a azia dos que ainda simpatizam com o Partido
Socialista Dois (PSD). Recentemente,
Francisco Balsemão, fundador do PSD e DDT de Portugal, confirmou o que qualquer
pessoa que tenha andado acordada nos últimos 28 anos já sabia, ao avisar o "líder" Luís Montenegro que o
PSD é um partido de "centro esquerda". A comunicação social não quis dar relevância
ao assunto. Em particular, o Observador passou directamente essa notícia das
"Últimas" notícias para uma página bem escondida. Assim, continuaram
a falar em direita e lá continuaram
a meter o PSD para não levantarem nenhuma onda. O
Alberto Gonçalves não foi na cantiga e "chafurda" abundantemente em
direita com aspas (onde estão os da direita sem aspas?) para designar o partido
que aceitou seguir os passos do seu "guru espiritual" PS.
Maria Paula Silva: Mas
aonde é que há "extrema direita" em Portugal?!!! Há 1 partido de
direita e há 1 partido de centro que de há 7 anos para cá anda a boiar em águas
turvas fazendo-se passar por sucursal do PS.
Tal
como AG explica e muito bem, esta gentalha não tem vergonha nenhuma, não
trabalham, e dizem "n'importe quoi" para iludir
tontinhos. O único trabalho deles tem sido exactamente esse. Esse e minar todo
o sistema, com lacaios incompetentes, criando uma rede corrupta que
garanta que o poder e a impunidade sejam as
principais questões a defender e manter. E o pior é que esta
"rede" inclui pessoas e é muito maior do que imaginamos. Recentemente
tivemos oportunidade de verificar isso. E por aqui me fico. É caso para dizer
que precisamos urgentemente de um milagre!
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