segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Après la pluie le beau temps


Após os extremismos insensatos, de presunção de uma justiça apressada, como urgente e exibicionista, a moderação virá, talvez, assente numa racionalidade de menor toleima. Mas outros comentadores, da excelente reflexão de Vicente Ferreira da Silva, não pensam assim, mais sabedores e sem falsos lirismos.

I have a dream – O sonho desfeito

Já não se trata de cumprir o sonho. 60 anos depois, os actuais activistas desfizeram o sonho de Martin Luther King, Jr.

VICENTE FERREIRA DA SILVA Investigador do Centro de Investigação em Ciência Política da Universidade do Minho, fundador da Iniciativa Liberal

OBSERVADOR, 28 ago. 2023, 00:206

Qualquer homem, independentemente da sua raça, da sua etnia e da sua nacionalidade, pode ser preconceituoso. O preconceito é uma forma de discriminação, manifestável através de pensamentos e de acções. Ora, o preconceito e a discriminação não são circunstâncias novas ou recentes. Existem desde que há diversidade biológica, contexto humano e organização social. O racismo é um preconceito.

Não deve surpreender ninguém que a definição de racismo tenha evoluído de forma a acompanhar o desenvolvimento e a complexidade da sociedade. De todas as diferentes formulações, saliento a de Kovel, Dovidio e Gaertner, que definiram o racismo aversivo como os comportamentos raciais dum grupo étnico ou racial, que racionalizam através de estereótipos a sua aversão face a um outro grupo. Este tipo de pessoas, que julgam advogar crenças igualitárias, negam a sua postura racial, mesmo perante a evidência da discriminação que promovem para com outros.

Dito isto, é importante ter em mente que tanto a ignorância como a manipulação alimentam o racismo. E estas características são importantes para classificar movimentos como o Black Lives Matter (BLM) e o pseudo-activismo da Cancel Culture e do movimento Woke. Estes exemplos são a negação das ideias e dos ideais de Nelson Mandela e de Martin Luther King, Jr.

Hoje, já não se trata de cumprir o sonho. 60 anos depois, os actuais activistas, ditos defensores dos direito civis, desfizeram o sonho de Martin Luther King, Jr. e a postura de Mandela ao repudiar os seus exemplos. Depois de ter passado 27 anos na cadeia, Mandela foi libertado. Saiu das grades com o perdão no coração e foi capaz de unificar o seu país. Martin Luther King, Jr., defendeu os direitos civis e políticos através da não-violência e da desobediência civil (inspirado pelo activismo não-violento de Mahatma Gandhi).

Sobre a não-violência, em 1958, Martin Luther King, Jr., afirmou que “só através de uma abordagem não violenta os medos da comunidade branca podem ser mitigados. Uma minoria branca cheia de culpa vive com medo de que, se o negro algum dia alcançasse o poder, agiria sem restrições ou piedade para vingar as injustiças e a brutalidade dos anos. É algo como um pai que maltrata continuamente o filho. Um dia aquele pai levanta a mão para bater no filho, apenas para descobrir que o filho já está tão alto quanto ele. Subitamente, o pai fica com medo de que o filho use seu novo poder físico para retribuir todos os golpes do passado.”

Em 1964, discursando perante a audiência que o ouvia na Universidade de Oslo, Martin Luther King, Jr., expressou que “a violência como forma de alcançar a justiça racial é impraticável e imoral. É impraticável porque é uma espiral descendente que termina na destruição para todos. A velha lei do olho por olho deixa todos cegos. É imoral porque procura humilhar o oponente em vez de conquistar a sua compreensão; procura aniquilar em vez de converter. A violência é imoral porque prospera com base no ódio e não no amor. Destrói a comunidade e torna a fraternidade impossível. Deixa a sociedade em monólogo em vez de diálogo. A violência termina por se destruir. Cria amargura nos sobreviventes e brutalidade nos destruidores.”

No meio destes dois episódios, a 28 de Agosto de 1963, precisamente há 60 anos, Martin Luther King, Jr., proferiu o discurso “I have a dream” onde disse sonhar com um mundo onde os “meus quatro pequenos filhos viverão um dia numa nação onde não serão julgados pela cor da sua pele, mas pela qualidade do seu carácter”.

Mamadou Ba e os BLM são um insulto à memória de Martin Luther King, Jr. (e de Nelson Mandela). Ao serem apologistas do fim da violência contra negros, e apenas contra os negros, são sectários. Consideram-se inspirados pelo Movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, mas não só renegam a não-violência como, ao permanecerem em silêncio, defendem abertamente o discurso do ódio e a promoção da violência pela destruição e pilhagens. Para mim, inspiram-se muito mais nos Black Panthers, que tinham como fonte de inspiração Frantz Fanon – um dos heróis de Mamadou Ba – um homem que só tinha ódio no coração e que defendia a violência como única solução.

Os marxistas jamais abdicarão da violência. 60 anos depois, o sonho foi desfeito.

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COMENTÁRIOS

Belo: Muito bem!                    hugo Carreira: O sonho não foi nada desfeito, existem é mais uns idiotas racistas com que tem de se lidar (em Portugal trata-se de Mamadous e Bloco de Esquerda em geral).             António Coutinho: O interessante é que Marx era anti semita e racista para com os negros                Meio Vazio >António Coutinho: Marx era judeu. Reveja essas etiquetas.                 Nms: Excelente artigo!       observador censurado: Enquanto as associações "anti" racismo receberem dinheiro dos contribuintes por um suposto combate ao racismo nunca irão ter interesse em que o racismo acabe.                       Meio Vazio > observador censurado: Exactamente como acontece com os "salvadores de planetas" - mortinhos por que o nosso não "se salve".

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