Parece que isso não oferece dúvidas, a
responsabilidade putiniana da morte de Prigozhin, para mais num sítio lá para
os lados do Cáucaso, onde Prometeu foi
agrilhoado por um Júpiter vingador, só
por aquele lhe ter roubado o fogo, “que
ajuntou ao peito humano” como muito bem disse também Camões, nos finais do
discurso do seu inconformado Velho do Restelo, que não posso deixar de aqui pôr,
a confirmar e a condenar:
“Trouxe
o filho de Jápeto do céu
O fogo
que ajuntou ao peito humano,
Fogo
que o mundo em armas acendeu,
Em
mortes, em desonras. Grande engano!»
Não, Júpiter não foi nada compassivo e
pelo contrário mostrou-se um vingador bem cruel, segundo a tal tragédia do
Ésquilo, que o Putin, que vive para os lados do Cáucaso, deve ter conhecido,
para mais com tantos outros seus antecessores da hierarquia governativa também
habituados a acorrentar.
Por isso, eu também me parece que a
queda do Prigozhin, embora já esperada, se deve a ele, Putin, qual Júpiter
vingador. O nosso PR bem que quis amenizar o caso, com o seu habitual
protagonismo incomodativo lá na Ucrânia “acorrentada” que ele foi visitar, não
se entende porquê, passeando-se, contudo, pelas trincheiras, por ele regaladamente
equiparadas às da 1ª GG, a cabeça protegida e o fato escovado pelos que lhe
seguiam no rasto, na visibilidade das suas suposições de relevo habituais.
A morte de Prigozhin ao menos não
envergonhou ninguém, mais pacífica que a tal visita……
Marcelo, Prigozhin e a paz
A ideia de que poderá resultar uma paz
a qualquer preço com Putin ignora os esforços feitos antes e depois de 2014. Foram múltiplas as tentativas de
apaziguar sucessivos senhores do Kremlin.
BRUNO CARDOSO REIS,
Historiador e especialista em segurança internacional
OBSERVADOR, 25
ago. 2023, 00:226
Marcelo Rebelo de Sousa está na Ucrânia, mas foi ultrapassado no
jogo de criação de factos políticos pela queda do avião de Prigozhin. O PCP
voltou a manifestar-se contra qualquer gesto de solidariedade com a Ucrânia
invadida, em nome do apoio a uma paz a qualquer preço, que só serve os
interesses da Rússia. O que podemos concluir daqui?
Putin elimina Prigozhin?
É claramente a hipótese mais
provável. Apesar de Putin e o seu círculo de securocratas (siloviki) terem
feito o possível para transformar a Rússia no país onde tudo é possível e nunca se sabe o como conta Ésquilo, numa peça
de vinganças que é verdade. Prigozhin
terá pago um preço muito elevado pelo seu sucesso na criação de factos
políticos cada vez mais ameaçadores para Putin. Parece
confirmar-se o que eu e muitos outros analistas previmos: depois do seu golpe
falhado de 23 junho, Prigozhin era um cadáver adiado. Os mesmos que diziam que a Rússia nunca
ia invadir a Ucrânia, que a Wagner nunca iria desafiar Putin, agora vêm dizer
que não se pode afirmar nada sobre este caso. Eu não preciso de esperar que o
Kremlin venha deixar claro qual é a linha de propaganda que vai seguir sobre o
caso, prefiro lidar com factos conhecidos.
Temos mais de 10 tentativas bem documentadas de assassinato de
russos que desafiaram Putin, por exemplo Sergei Skripal ou Alexei Nalvany,
por bem menos do que Prigozhin fez. Portanto, não é uma tese, é um facto que o actual regime russo não
hesita em tentar eliminar quem considera serem traidores. Temos a coincidência
da data da queda do avião com a do golpe falhado de Prigozhin. E ela
ocorre um dia depois da purga
formal do general Surovikin, privado do seu comando por ser visto como próximo do grupo Wagner e crítico da incompetente
burocracia militar. Temos
até a pressa com que, mal o avião caiu, foi logo anunciado pelos media oficiais
russos que Prigozhin estava a bordo.
Tudo isto pode ser uma coincidência?
Pode, mas os sobreviventes do grupo Wagner não parecem acreditar em
coincidências. E, com base nos dados disponíveis, tudo aponta para o avião ter sido abatido pelo regime de Putin para
eliminar um aliado que se tornou perigoso. Até porque as outras alternativas
não me parecem muito credíveis. Foi uma avaria? Peritos vieram dizer que o tipo
de queda não aponta nesse sentido. Erro humano? Não parece crível que pilotos
que aterravam nas piores pistas de África não conseguissem aterrar em segurança
no país que melhor conheciam. Foi a Ucrânia? Teria certamente motivo para
eliminar um criminoso de guerra, mas não faltam alvos com essas
características, e neste momento Prigozhin era um problema sobretudo para
Putin. Prigozhin ainda pode estar vivo como em 2019, quando um avião da Wagner
caiu numa zona remota do Congo e correram rumores da sua morte? Não vejo que a
situação seja comparável e o líder da Wagner não ficou conhecido pelo seu
talento para passar despercebido. Em suma, e até ver fontes credíveis que
apontem noutro sentido, os dados disponíveis apontam no sentido da decapitação
deliberada da Wagner.
Se o regime russo não quer estas suspeitas não devia ter-se dedicado
a assassinar dissidentes no passado. E tem fácil remédio: uma investigação
internacional independente, desde já, enquanto há provas para examinar. Não
creio que o faça. E se não o fizer temos mais uma razão para suspeitar do
envolvimento do Estado russo na queda, e nenhuma para acreditar no que venha de
um inquérito oficial. Alguém crê que será independente do Kremlin e que poderia
concluir oficialmente que Putin mandou matar Prigozhin? Voltando ao mais
importante: que podemos concluir daqui e o que importa isto para o objetivo
louvável da paz na Ucrânia?
Só uma paz armada é possível
Continua a evolução do regime de Putin,
mais ameaçado e enfraquecido, no sentido do reforço da violência autoritária.
Veremos nas próximas semanas e meses se com sucesso ou se haverá alguma reacção.
Fica mais uma vez evidente que o
Kremlin só respeita a força. Putin foi forçado a chegar a um compromisso com
Prigozhin para evitar o prolongar da crise, não podia correr o risco de testar
a eficácia e o empenho dos militares e dos chechenos que supostamente o
defenderiam da marcha da Wagner sobre Moscovo, nem arrastar um conflito interno
que podia pôr em causa a capacidade russa de resistir à ofensiva ucraniana. Com
o grupo Wagner mais desarticulado e desarmado, Putin podia avançar contra
Prigozhin. Em suma os compromissos com Putin não valem de nada se não forem
garantidos pela força.
É isso que Ucrânia e grande parte dos vizinhos da Rússia já
perceberam. É isso que
todos nós no resto da Europa devemos perceber se quisermos uma paz durável no
continente. Uma paz que não seja uma mera trégua para permitir ao regime de
Putin retomar a sua agressão em melhor ocasião. A ideia de que poderá resultar
uma paz a qualquer preço com Putin ignora os esforços feitos antes e depois de
2014. Foram múltiplas as tentativas de apaziguar sucessivos senhores do Kremlin
desde 1991. Eles incluíram a enorme pressão do Ocidente para a Ucrânia ceder
todo o seu arsenal nuclear – o terceiro do Mundo, quando se tornou independente
em 1991. Passaram também pelo veto
da Alemanha e da França à adesão da Ucrânia à NATO em 2008, que Putin declarou
que nunca iria esquecer. Vimos o resultado. Só uma NATO e uma Ucrânia coesas,
determinadas, e bem armadas poderão dissuadir futuras agressões da Rússia.
É isto que o PCP insiste em não perceber. É isto que a maioria dos
líderes políticos e dos portugueses parecem perceber. Foi isso que o Presidente
Marcelo deixou claro nas suas declarações exemplares na Ucrânia. O mais difícil
vem a seguir.
VLADIMIR
PUTIN RÚSSIA MUNDO GUERRA NA
UCRÂNIA UCRÂNIA EUROPA
COMENTÁRIOS (de 6):
Filipe Paes de Vasconcellos: As
veleidades do facínora abatido vieram demonstrar que as forças armadas do
regime russo estão a ficar exauridas, pelo que basta que umas dezenas de
capangas decidam invadir a Rússia que não há militares do exército russo que os
impeçam, e que o povo não agradeça e bata palmas. Esta humilhação que Putin
sofreu é-lhe completamente insuportável! O clima de perfeito terror que se
deve sentir no Kremlin e nos “homens de mão” que estão mais próximos do grande
facínora, deve começar a tornar-se irrespirável, porque trabalham “sob o fio da
navalha”! Assim, devem pensar os “serviçais” que se por qualquer motivo, com
ou sem razão, desagradarem ao chefe, podem ter os seus dias contados (na
verdadeira acepção da palavra). Portanto, em face deste clima não é despiciendo
pensar que entre os “serviçais “ de Putin se comece a pensar “ou tu ou eu!” Conclusão:
há sempre um facínora mais facínora que outros e aqui pode estar a chave do
problema.
João Ramos: O PCP é uma vergonha nacional, parece impossível como
é que alguém no seu perfeito juízo ainda vota naquela gente…
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