quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Inútil tentativa


De investir em conhecimento, ainda que seja através da imprensa. Quem governa não tem tempo para ler. Já leu tudo. Não aprende outras línguas.

"Em Portugal, tudo parece acontecer em câmara lenta", diz economista dinamarquês Steen Jakobsen/premium

Economista dinamarquês Steen Jakobsen suspeita que haja "algum interesse político escondido" em "abrandar" o progresso no País. E alerta que a obsessão mundial com a "economia verde" pode acabar mal.

EDGAR CAETANO: Texto

ANA MARTINGO: Ilustração

OBSERVADOR, 29 set 2021

Portugal tem estado sob a protecção de um “tio rico” – chamado Banco Central Europeu – que assegura que os custos da dívida do Estado continuam baixos e que existe alguma margem para suportar a despesa pública. Mas, alerta o economista dinamarquês Steen Jakobsen, esse é um cenário que irá durar menos do que se pensa – porque a pressão da inflação será tudo menos “transitória” e irá forçar os bancos centrais a diminuir os estímulos monetários.

Em entrevista ao Observador, o chief investment officer do influente Saxo Bank avisa que, a menos que queira ser “eternamente o primo pobre”, com um PIB per capita de 77% da média europeia, o país precisa de ir além dos “slogans políticos” e tomar medidas concretas para transformar a economia. E nem é preciso inventar nada: “Por exemplo, se querem aplicar um conjunto de medidas que comprovadamente fizeram dos países escandinavos aquilo que são hoje, basta roubar as ideias. Ninguém leva a mal”.

“Em Portugal, tudo parece acontecer em câmara lenta” e, à falta de uma boa explicação para que assim continue a ser, o economista diz “suspeitar que possa existir algum interesse político, escondido, interessado em ‘abrandar’ as coisas”. E, quando se fala na chamada bazuca europeia, Steen Jakobsen lembra que, “se um país quer ser socialmente mais justo, mais inclusivo, mais ecológico, então tem de começar por aumentar o nível de produtividade na economia. Só daí vêm os despojos que depois podem ser distribuídos”.

“É um erro olhar para isto como um monte de capital que se aloca aqui e ali. Se não forem investimentos que aumentem a produtividade a prazo, não ajudará nada”, avisa.

“Portugal tende a só se mexer quando é encostado à parede”

Numa entrevista no final de 2018, disse ao Observador que “Portugal devia ter vergonha de não ser um país de topo mundial”. Entretanto, o mundo foi assolado por uma violenta crise pandémica. Ao regressar ao país, sente que alguma coisa está a mudar? Eu adoro Portugal, adoro as pessoas que conheço cá, a gastronomia – e sempre que critico o país é porque continuo a achar, sinceramente, que podiam estar muito, muito melhor do que estão. A realidade é que Portugal continua a ter pouco mais de 70% do PIB per capita em relação à média europeia [77%, em 2020]. Com uma História tão rica, boa capacidade de engenharia, sistema de saúde relativamente bom… Mas continuam a insistir em fazer as coisas em câmara lenta.

O que quer dizer com isso?

Quero dizer que Portugal tende a só se mexer quando é encostado à parede. Espera-se pelo colapso e depois, aí sim, avança-se para a solução. No caminho até ao colapso, parece que tudo tem de ser feito com muito cuidado, com medidas avulsas, porque há sempre um receio de incomodar alguém se se fizer alguma coisa mais audaz. Por exemplo: foi preciso uma crise enorme para se perceber que a primeira prioridade do país teria de ser alargar de forma drástica os incentivos à inovação, àsstartups, criar condições para essas empresas nascerem em Portugal.

E atrair estrangeiras…

Claro que sim, para ser um hub na Europa, como este país tem de ser. Depois as crises melhoram, ciclicamente, mas há que lembrar que é preciso continuar a investir nessas áreas, não pode ser uma coisa passageira. Se há um orçamento fixo anual para a Defesa, porque é que não se define 1% do orçamento anual público para o investimento nos sectores inovadores? Há tanta coisa que se pode fazer… Não se pode abrandar, desta vez Portugal precisa de levar as coisas em diante, para que elas dêem frutos.

“Desta vez”? A sua percepção é de que o país “não leva as coisas em diante”?

Portugal atravessou tantas crises sucessivas, desde os anos 70, após a queda do regime [Estado Novo]. Durante muito tempo, a desculpa foi essa – que a economia partia de uma situação difícil, após a ditadura. Mas chega um momento em que isso deixa de servir como desculpa, porque o país já tem óptimas condições de base para ter resultados muito melhores do que tem – designadamente nas infra-estruturas, graças aos fundos recebidos das entidades europeias, ao longo das décadas. Este é um país que, ao longo da sua História, teve acesso a enormes mercados, tem uma das línguas mais faladas em todo o mundo. Teria obrigação de estar muito melhor.

A chamada “bazuca” europeia pode ser uma oportunidade para dar a volta?

Pelo que ouvi, o lema será promover uma recuperação mais “verde”, mais inclusivaMas isso são apenas slogans. Falta a acção – e a acção é tomar medidas concretas para transformar a economia, e já falámos de algumas. E nem precisam de inventar nada, nenhum país patenteou as medidas que tomou para ter mais sucesso. Por exemplo, se querem aplicar um conjunto de medidas que comprovadamente fizeram dos países escandinavos aquilo que são hoje, basta “roubar” a ideia. Ninguém leva a mal. Do que me apercebo, apenas vejo um esforço pouco coerente, medidas avulso. O que me leva a suspeitar que existe algum interesse político escondido, interessado em “abrandar” as coisas.

Juros baixos: “Portugal tem um tio rico que irá sempre pagar as suas dívidas, o BCE”

Para já, porém, os mercados financeiros parecem estar tranquilos. Ou será que é mais correcto dizer que estão anestesiados pela política monetária dos bancos centrais?

Em Portugal, toda a estrutura de taxas de juro está dependente da graça do BCE. E se, como eu acredito que irá acontecer, a inflação se tornar um problema cada vez maior, então as taxas de juro terão de subir mais rapidamente do que se pensa. E, aí, aquilo que o Estado tem de pagar em juros da dívida anualmente vai aumentar, deixando menos espaço para o resto. Eu acredito que, antes do final do ano, a Alemanha vai voltar a ter taxas de juro positivas, e isso terá um efeito de arrastamento para países como Portugal – e uma subida de alguns pontos-base pode ter um efeito enorme nos custos de financiamento.

Recentemente a agência de rating Moody’s subiu a notação da República Portuguesa…

O que é que isso importa? Cada vez que há um rating prestes a sair, há sempre algum jornalista português que me contacta para falar sobre aquilo que pode ser decidido pela agência. E eu pergunto: “Qual é a relevância disso nesta altura? Nenhuma. A única razão pela qual vocês têm taxas de juro baixas é porque têm uma garantia implícita, por parte do BCE, na vossa dívida”. Isso significa que neste momento Portugal tem um tio rico que irá sempre pagar as suas dívidas. Mas chegará um momento em que, a menos que Portugal queira ser eternamente o primo pobre, será preciso mostrar que se consegue ser produtivo de forma duradoura. A prazo, não é possível continuar só a queixar-se da vida e a falar de como o Benfica jogou ontem à noite

"Portugal tem um tio rico que irá sempre pagar as suas dívidas, o BCE", diz o 'chief investment officer' do Saxo Bank. FOTO: Hugo Amaral/OBSERVADOR

Em que outras áreas teria de haver mudanças em Portugal, na sua leitura?

Penso que era Jim Rogers, um conhecido investidor de hedge funds, que costumava dizer que um extraterrestre que chegue à Terra e queira perceber quais são os países mais ricos, basta-lhe olhar para a bolsa de valores de cada país. E uma coisa que me choca é que em Portugal, quando se olha para a bolsa de valores, vê-se uma empresa eléctrica, uma cadeia de retalho… Pouco mais. No total, é uma bolsa onde as maiores empresas valem uns 20 mil milhões de euros – isto é dinheiro do Rato Mickey, é uma piada… Na Dinamarca temos 5 milhões de pessoas, metade de Portugal, e temos a maior empresa de sistemas eólicos, algumas das maiores farmacêuticas do mundo, temos a Lego, que faz os brinquedos mais populares do mundo… Tem de haver uma explicação para Portugal não ter nada disso – e a dimensão do país não pode ser uma explicação.

Mas, voltando à “bazuca”, está optimista de que será bem usada?

Não sei. Sei apenas que o país tem obrigatoriamente de decidir ser produtivo – tem essa obrigação. Todo e qualquer investimento que seja feito em Portugal tem de começar com uma questão: “Isto vai ou não ser produtivo?”. Esse dinheiro tem de ser aplicado de forma inteligente, fixando valores para as startups e para a inovação, fixando e aumentando os valores gastos na educação a cada ano, para melhorar as qualificações dos cidadãos. O resto, depois, vem por acréscimo. Se um país quer ser socialmente mais justo, mais inclusivo, mais ecológico, então tem de começar por aumentar o nível de produtividade na economia. Só daí vêm os despojos que depois podem ser distribuídos. É um erro olhar para isto como um monte de capital que se aloca aqui e ali. Se não forem investimentos que aumentem a produtividade a prazo, não ajudará nada.

Há um grande enfoque na habitação…

Certo, desde que seja numa perspetiva de incentivar construtores privados a fazerem os seus projectos com cláusulas que garantam o equilíbrio. Porque é que não fazem como na Dinamarca, onde cada vez que um empreiteiro faz um x número de casas para preços mais elevados tem, ao mesmo tempo, de se comprometer a construir y casas de preços acessíveis? Porque é que não fazem depender a autorização de construção desse compromisso? E porque é que o Estado não cria, depois, programas de incentivo aos jovens em que lhes garante os juros dos créditos à habitação?

ESG:“O mundo físico é demasiado pequeno para as aspirações dos políticos”

Outra prioridade é a promoção de uma economia mais “verde” – a preocupação com o meio-ambiente [environment] que é o E da sigla ESG, que agora está em todo o lado. Escreveu recentemente que o ESG é o maior projeto político global das últimas gerações e que está “condenado a falhar”. Porquê?

Compare-se com a a moeda única, o euro, que era constantemente atacado até ao dia em que um presidente do BCE disse que faria o que fosse necessário para o preservar. Isso mostrou aos mercados, que antes duvidavam disso, que era muito grande o capital político investido na continuidade da união monetária. Com o ESG é a mesma coisa – tornou-se uma prioridade política de uma dimensão tão gigante que os líderes políticos nunca vão olhar a meios para cumprir estas metas, sem questionar se aquilo que estão a fazer é totalmente correcto. E há outro problema: é que o mundo físico é demasiado pequeno para as aspirações dos políticos.

Como assim?

Porque as prioridades políticas estão a chocar com o mundo real e a criar desequilíbrios. Basta ver os preços da electricidade em máximos históricos. Os preços das casas estão em máximos históricos, porque não há oferta suficiente e escasseia a mão-de-obra e os materiais para construir mais. As coisas têm limites físicos e penso que estamos a chegar a esses limites – daí as pressões relacionadas com a inflação. Esta questão do ESG tornou-se o novo euro: também é demasiado importante para que os políticos permitam que ele falhe. Não importa se está totalmente correcto, o que importa é que o capital político e o investimento orçamental vão caminhar cada vez mais para estes temas.

O que significa a sigla ESG? ….

Referiu as pressões inflacionistas. São “transitórias”, como dizem os bancos centrais como a Fed e o BCE?

Claro que não. Quem diz isso é porque lhe convém, porque dá jeito para a narrativa que quer fazer valer. Como é que pode não haver inflação, sem que o mundo físico cresça a um ritmo minimamente comparável [ao ritmo a que cresceu o fornecimento de dinheiro, devido aos estímulos]? Não há excesso de capacidade no sector mineiro, portanto não há forma de os preços não subirem. Antes de 2023 ou 2024 não vai haver normalização no segmento dos chips – e pode ser ainda pior se Taiwan se envolver em questões com a China. E nos preços da energia passa-se o mesmo: como houve quebra de investimento os preços só tendem a subir ainda mais.

É uma tendência impossível de contrariar?

 É tudo a subir ao mesmo tempo – até os custos laborais sobem, porque nos EUA, sobretudo, muitas pessoas não querem trabalhar pois recebem mais ficando em casa do que indo trabalhar. Se isso não é um problema, não sei o que é um problema. Repare, ainda nem começámos a sério nesta caminhada e já está tudo em máximos históricos. Os preços dos metais estão em recordes, os custos do transporte não param de subir… O que está a acontecer é consequência do facto de os governos em todo o mundo terem intervindo directamente em algumas partes da economia, sobretudo na gestão da crise da Covid-19. Esta foi uma crise que levou os governos, apoiados pelos bancos centrais, a transferir dinheiro directamente para as empresas e para os consumidores – os layoffs, os apoios a fundo perdido às empresas…

Inflação apenas "transitória"?

"Como é que pode não haver inflação, sem que o mundo físico cresça a um ritmo minimamente comparável ao ritmo a que cresceu o fornecimento de dinheiro? Não há forma de os preços não subirem".

Nunca tinha sido feito, desta forma, com esta escala?

Nunca. As últimas crises que tivemos foram financeiras, embora pudessem ter uma componente de crise imobiliária. Desta vez, devido às implicações práticas de fechar as economias, tornou-se necessário compensar as pessoas por não poderem ter as suas actividades normais. Além de superar a crise pandémica, os governos estão, ao mesmo, a tentar resolver três desafios de escala geracional: a desigualdade – que é um grande problema em Portugal –, a transformação “verde” e a necessidade de construir infraestruturas melhores. Cada um destes desafios, por si só, teria sido um desafio gigante para alguém superar numa ou duas décadas. Estamos a enfrentar os três ao mesmo tempo. Os planos de recuperação e resiliência vão todos no mesmo sentido: grandes investimentos em combate às alterações climáticas e às desigualdades sociais. Nos EUA também está a fazer-se o mesmo.

Além das questões climáticas e das questões sociais, o E e o S. O que pensa acerca do G dessa sigla, as práticas sãs na administração das empresas?

As pessoas tendem a achar que esse último é o menos importante, eu acho que é o mais importante de todos – veja o Facebook, que todos os dias viola todos os tipos de princípios de gestão empresarial sã. Sabem que o Instagram faz mal às crianças e jovens e não fazem nada quanto a isso. Acredito que um dia haverá um estigma tão grande associado a alguém que usa o Facebook como vai haver em relação a quem conduzir um automóvel movido a combustíveis de origem fóssil.

Mas porque é que tudo isto surgiu agora, o ESG?

Porque as evidências da urgência climática tornaram-se mais óbvias. Mas parte da resposta a essa pergunta também está relacionada com os factores demográficos, a idade dos eleitores – veja que os Verdes na Alemanha começaram por ser um partido de protesto, agora vão ser uma força decisiva. O eleitorado é cada vez mais composto por pessoas que cresceram a ouvir o seu governo a dizer que o país está em crise – Portugal é um excelente exemplo disso – e isso está a fazer com que se mudem as prioridades.

É uma questão de justiça inter-geracional?

O grande fosso que temos nas nossas sociedades não é entre ricos e pobres, é entre as novas gerações e a minha geração, os baby boomers. Porque hoje é praticamente impossível para alguém que entre no seu primeiro emprego comprar uma casa, minimamente perto das cidades. E mesmo que até tenham um salário decente, mesmo assim não conseguem um empréstimo para uma casa porque não têm entrada para dar ao banco. Depois ouvimos dizer que os jovens gostam é de partilhar tudo, que não precisam de carros e casas porque partilham tudo. Não sei se é bem assim… Eu penso que ninguém quer partilhar nada se não precisar de o fazer. Se toda a gente pudesse facilmente ter a sua casa, o seu próprio carro, quase todos iriam querer isso.

 “Os veículos eléctricos que temos hoje não são a solução”

Há pouco dizia que esta transição, designadamente a climática, poderia não estar a ser bem feita mas que isso não seria importante porque os líderes políticos iam avançar na mesma. Como assim, não estar a ser bem-feita?

Estamos a ir demasiado rápido e há muitas evidências de que estamos a fazê-lo de forma errada, em muitos aspectos. Os veículos eléctricos que temos hoje não são a solução – não há infraestrutura para este sistema de baterias. As casas, os apartamentos, não estão construídos a pensar nisso… E a maioria desses híbridos apenas vão buscar uma pequena percentagem do consumo à energia eléctrica, a maior parte é a combustão normal. Só são vendidos porque o Estado dá um incentivo fiscal, embora na realidade sejam o pior de dois mundos – ficam mais pesados por terem os dois sistemas mas praticamente só usam a combustão normal. Eu não sou contra o ESG, só digo que é preciso ter noção de que “lá fora” há um mundo real e temos de ponderar bem o que fazemos, como fazemos e as tecnologias em que apostamos.

O governo português tem feito uma aposta no hidrogénio. Talvez a resposta esteja no hidrogénio. Talvez seja a fusão nuclear, que também está a ter resultados muito promissores. Mas é preciso investir de forma diversificada, não podemos sentar-nos num trono de reis a dizer que é isto ou aquilo que vai funcionar. Porque temos de garantir que as coisas podem funcionar mesmo quando não as subsidiamos.

O que é a teoria do "efeito cobra"? Corre-se um risco de criar um “efeito cobra”, como estuda a teoria económica?

O perigo é esse. Esquecemo-nos de que, quando estamos a descarbonizar a economia, estamos a metalizá-la, porque aumentamos a necessidade de todo o tipo de metais, baterias, cabos, etc. E as energias renováveis que temos hoje não são a solução – pelo que percebi, estas turbinas eólicas que estão em todo o lado… quando o vento sopra muito forte eles têm de as desligar porque a rede não aguenta. Mas as pessoas que têm o poder, os políticos, dizem que essas são as soluções. Criámos um sistema em que estamos a canalizar quantidades cada vez maiores de dinheiro para uma pequena parte da economia – isso cria desequilíbrios. E, tendo em conta o capital político ali investido, o problema é que à medida que as dificuldades surgirem a reação dos políticos vai ser injetar ainda mais dinheiro.

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COMENTÁRIOS:

Diogo Montalvao: Aconselho toda a gente a ler esta entrevista, pois contém nela reflexões muitointeressantes sobre coisas que tomamos como certas e adquiridas. Farto-me de dizer o mesmo sobre alguns  temas, mas a propaganda política é tal que se torna difícil evocar razoabilidade nas discussões. Para quem não concordar, continua a ser um bom conjunto de reflexões que só poderão fortalecer as suas convicções originais. FME: Este economista dinamarquês é semelhante a um osteopata com uma marreta. Portugal obviamente que precisa de um tratamento no esqueleto, mas não se cura com umas simples massagens com as mãos, precisa de umas porradas bem dadas aqui e ali. Uma dessas porradas no L5-S1 é precisamente para desfazer o nó do lobby da pobreza que alimenta o eleitorado das esquerdas. Outra porrada é no disco para os lados do L4 para descomplexar de vez o país com a iniciativa privada e aproveitar a maior força produtiva do país na criação de riqueza. O economista Steen Jakobsen, directo e frontal, que nos deu um grande raspanete, em vez de ser entendido como uma lufada de ar fresco, será agora um alvo a abater das esquerdas e da comunicação social comprada.       Joaquim Albano Duarte: Excelente artigo! Finalmente alguém sem medo de ser politicamente incorrecto.          Cisca Impllit: Por favor, conselheiros dinamarqueses no gabinete do pm. A tralha socialística & rios emigrem para os fiordes!        Hugo c: Chame se o ministro do Ambiente, mais o de Economia, se calhar até todo o Parlamento. Vamos convidar este senhor para fazer um discurso de 10 minutos na Assembleia da República. O convidado esquece-se de que o Estado se entende Totalitário, dinamizador, intervencionista, Criador. Alguém lhe diz que em Portugal, existem partidos que demonizam o Capital? Que manipulam o verbo?        Anibal Augusto Milhais: O governo português tem feito uma aposta no hidrogénio. Talvez a resposta esteja no hidrogénio. Talvez seja a fusão nuclear, que também está a ter resultados muito promissores. Mas é preciso investir de forma diversificada, não podemos sentar-nos num trono de reis a dizer que é isto ou aquilo que vai funcionar. Porque temos de garantir que as coisas podem funcionar mesmo quando não as subsidiamos. Não percebes nada do que devias... The Third Industrial Revolution pode ser que aprendas qualquer coisa. Justino Cigarrilhas >Anibal Augusto Milhais: Para burro só te faltam as orelhas.          JS M: O dinamarquês acertou em cheio! As maçonarias que controlam os órgãos de soberania e por isso mandam no pais não lhes interessa que nada mude. Em Portugal é assim há muito tempo. E o socialismo, seja de esquerda ou de direita é a doutrina ideal para manter as populações pobres e dependentes do estado. Karoshi: Em entrevista ao Observador, o chief investment officer do influente Saxo Bank... Um banqueiro de topo no activo a dar as "lições" que mais convêm ao grupo onde trabalha. Nem uma palavra sobre o sistema financeiro onde se insere...         Antes pelo contrário > Karoshi: Com o país a dever mais de 745 mil milhões, entre as dívidas do Estado, das Empresas e dos Particulares, depois de a UE ter despejado aqui 90 milhões por dia a fundo perdido entre 1986 e 2006 - isto sem contar o que nos emprestou e continua a emprestar - e sabendo-se pelos gráficos do Banco de Portugal que o principal "emprestador" é precisamente o sistema financeiro, é preciso lata para um parasita como tu vir falar de "inserções no sistema financeiro", pois os da tua laia são não apenas a causa mas os principais beneficiários do endividamento!!!           Alberto Rei > Karoshi: Segundo o Carocha, falta legitimidade a este senhor para falar da situação portuguesa. - Mas ele está certo ! - Não interessa, é chief investment officer de um influente banco, portanto convém ao grupo onde trabalha, pronto, não vale, aliás não fala nada do sistema onde se insere !?. Portanto, o homem pode ter razão, mas como trabalha num banco e não falou do sistema financeiro do lugar dele, pode ter razão, mas não vale. Oh man !              Karoshi > Antes pelo contrário: Seu aldrabão de m#"rd@! A pôr um zero à direita de um valor para tentar impressionar... Mas não é nada que não se espera de um militante do Chega. Vocês não querem nada com a realidade e preferem os chamados "factos alternativos". Acho é que ficaste ressabiado com os meus comentários sobre o mais recente ataque do tio Ventiras aos ciganos. Temos pena!           Karoshi >Alberto Rei: Este senhor é um dos chefes do sistema que detém o monopólio de criação de moeda e que nos suga sem necessidade 7000 milhões de euros por ano. E não se submeteu a qualquer sufrágio para obter tal poder nem mesmo na Dinamarca. Então porque é que haveria de acreditar que ele está interessado no bem estar de qualquer população que seja? Ele está é sobretudo interessado em fortalecer a posição dele e do sistema que lhe paga os "almoços".           Monica Cardoso: Devíamos mesmo ter vergonha, muita vergonha...     Luis Oliveira: Em Portugal ser político tornou - se uma profissão de carreira. Quem começa nessas andanças não muda mais o seu rumo profissional. E na política, para se ir subindo, é necessário prometer tachos e cargos aos seus pares em troca de apoio partidário. Uma vez alcançado o topo - lugares elegíveis, é necessário comprar clientelas, o que torna Portugal numa mercearia paga com votos. As clientelas estão há muito identificadas: funcionários públicos, empresas públicas, pensionistas. No fim, uma vez eleito o carreirista político, mostra não ter competências técnicas para o cargo; assim se nota, vezes sem conta, gente incompetente e inábil, que roda à vez, ministérios como o da economia, saúde, educação, justiça. Quem se der conta, perceberá que pouco é feito a cada legislatura. Podemos concluir portanto, que enquanto assim for, Portugal não terá a mínima chance de se aproximar da média da riqueza europeia. Ou o sistema político muda, ou estamos condenados a ser os indigentes do continente europeu.          maldekstre estas kaptilo: A desgraça de Portugal são os portugueses, pois são eles que querem abrandar o crescimento e desenvolvimento do país. Essa é a única explicação plausível para continuarem a votar em qualquer partido de esquerda e a participarem em qualquer organização de esquerda. Anibal Augusto Milhais > maldekstre estas kaptilo: A desgraça de Portugal são os portugueses, pois são eles que querem abrandar o crescimento e desenvolvimento do país. Essa é a única explicação plausível para continuarem a votar em qualquer partido de direita e a participarem em qualquer organização de direita. Panfleto do tempo do PREC.          Manuel Cardozo: É tão verdadeiro que até dói...

 

Balanço final


Do baloiço em que por aqui vamos baloiçando, ora subindo, ora descendo, aos baldões, alguns parados, amorfos, outros tentando compreender, com vozearia de permeio, de justificação ou de ataque, de repúdio ou de aceitação, na mesquinhez dos nossos meios de acção, todavia, reduzidos  a percentagens de votações, por vezes de volte-face inesperado. Mas muitos na lucidez da interpretação, como este texto de Maria João Avillez, que uns comentadores se apressam a justificar, outros a agredir.

O equívoco/ premium

Havia algo de aterrador na pura ira de Costa contra a Galp: passou a ser legítimo que nos interroguemos até onde irá tão perigoso entendimento do uso do poder em democracia.

MARIA JOÃO AVILLEZ

OBSERVADOR, 29 set 2021usual

1Faltavam três, quatro dias para o domingo eleitoral, cruzei-me numa rua lisboeta com um “alto responsável” (não é assim que se diz?) do PSD, apoiante de sempre de Rui Rio. Sendo também ele o “inventor” da candidatura de Carlos Moedas a Lisboa, pareceu espantado com a minha desatenção profissional, e de resto não só a minha: quem tinha dado conta de que Moedas até já estava “eleitoralmente encostado a Medina” e isto quando ainda faltavam quatro dias?

2Era verdade. Tudo se encaminhava para uma boa “possibilidade” de sucesso: as sondagens internas que o PSD mandava diariamente fazer circunscrevendo-as obviamente apenas a Lisboa e seguindo sempre um mesmo padrão de modo a obter uma tendência, traziam não só indispensáveis indicadores como eram fiáveis instrumentos de navegação. Com elas se navegou por mares adversos numa campanha muito profissional e com um bom programa de candidatura.

Mas como nada acontece até ser contado” (Virginia Woolf), e muito pouco disto nos era realmente contado – ou dado a ver – houve duas campanhas: a da coligação PSD/CDS que depois de um frouxo início seguiu (convictamente) o seu caminho; enquanto a do poder, do governo, do PS, de Medina e da media, seguiam (convictamente) o deles. Tal como sucede com as linhas paralelas, nunca se poderiam encontrar. Mas enquanto Medina se movia (aparentemente, pelo menos) assente na sua própria certeza de vencedor antecipado, Moedas antecipou outra coisa, percepcionando o desagrado ou o cansaço de um eleitorado – urbano, informado, politizado. E farto de abusos socialistas e dos excessos do Rei-Costa-Sol. Ou seja, para além de uma escolha circunstancialmente autárquica, houve um forte protesto político, com oportunidade e data marcada: as eleições de domingo. E no domingo as urnas falaram. Demérito de Medina/Costa mais que mérito de Moedas? Não, mas uma coisa é indesligável da outra.

A dupla campanha de António Costa, ora secretário-geral socialista doublé de chefe do governo, ora vice versa – era conforme –, virou o feitiço contra o feiticeiro. Havia o costume de se dizer “Costa é mau em campanhas” e ninguém fazia muito caso, estava assente e há muito que tudo se lhe aceita e perdoa. Desta vez, porém e para lá da costumeira falta de talento do líder do PS para campanhas e carne assada, o que o eleitorado reteve foi também (sobretudo?) uma sucessão geográfica de puros abusos (ilhas incluídas). Abusos enrolados numa litania infindável de promessas com dinheiro que não é do PS.

A resposta – não sabemos se com futuro consistente e persistente – foi o veto político de parte considerável do eleitorado mais urbano que se apercebeu dessa espécie de “apropriação” socialista dos fundos do Plano de Recuperação e Resiliência e não gostou. A voracidade – visível e audível – com que na campanha os autarcas do PS se congratularam com a aterragem garantida (para eles) de tais fundos também caiu mal. E, last but not least, a interferência nunca vista – na forma, no tom, no conteúdo, na dimensão do despropósito – numa empresa privada, no decurso de uma campanha partidária (!) caiu ainda pior. Por momentos houve mesmo qualquer coisa de aterrador naqueles minutos de pura ira contra a Galp. Ou de como passou a ser legítimo que nos interroguemos até onde irá (e actuará) um tão perigoso entendimento do uso do poder? Sim, justamente em democracia.

Foi só isso que fez ganhar Moedas? Foi uma soma de boas parcelascandidato confiável, programa, atitude, equipa – mas é imprescindível somar-lhe o protesto sob pena de não se perceberem as coisas. E não foi só em Lisboa. Quem olhar para o Porto, por exemplo – onde o PS quase se sumiu do mapa – perceberá bem o poder que um voto tem. Ou seja, estão aí os sinais e alguns já acesos. O centro e a direita ganharam? Não, mas.

3E depois foi muito interessante de observar como, de um minuto para o outro, o mal amado PSD passou a tema forte da longuíssima noite eleitoral e Moedas a um inesperado produtor de suspense político. Ou como Rio foi expeditamente convocado do banco para o relvado como grande goleador (que não é).

Claro que o triunfo de Carlos Moedas lhe conferiu a voz política e a influência partidária que nunca teve. Que vai fazer com ambas será o mais difícil para ele mas da facilidade nada reza. E o resto – à direita ou à esquerda – criou alguns equívocos.

Equivoco um: à excepção de Coimbra, o líder do PSD pouco teve a ver, pessoal e politicamente, com os municípios ganhos pelo PSD. O genuíno empenho e energia postos na quilometragem feita de norte a sul por Rui Rio não se confunde com capacidade de liderança, talento estratégico, projecto político, produção de uma alternativa. Meia dúzia de vitórias municipais, mesmo que muito suadas (por outros) não fornecem a um líder a capacidade política que aparentemente lhe parece faltar e já vai tempo. Agora é mais fácil, Rio passou a “vencedor”? Só aparentemente. Um mínimo de racionalidade política recomenda que continuem em aberto no PSD os capítulos previstos. Já anteriormente previstos. Há equívocos duros de roer. Se forem políticos, ainda mais, são fatais.

Equívoco dois: a derrota de Medina fragilizou-o mais no Largo do Rato do que na Praça do Município. Inviabilizando (irreversivelmente?) a sua tão por ele sonhada futura liderança do PS. O fracasso do ex-autarca de Lisboa fez de imediato projectar sobre Pedro Nuno Santos prognósticos taxativos: será dele o próximo PS. Dele, do seu aparelho, das suas tropas, das suas certezas, da sua ambição. É esquecer que António Costa acha – sabe – que seria um equívoco politico grave “conceder” a liderança da sua casa de família a alguém que ele não aplaude (politicamente) e de quem desconfia (politicamente). Não concederá. Nem consentirá. Nem que para isso tenha de rever planos que lhe são caros e projectos que gostaria (muito) de concretizar.

Equivoco três: seria mais conforme à sua função que o Presidente da República não insistisse no comentário ao ar do tempo político e aos seus protagonistas, louvando-os ou desgraduando-os. Há arautos oficiais e oficiosos que se encarregariam com júbilo e zelo da tarefa.

AUTÁRQUICAS 202  1ELEIÇÕES  POLÍTICA  CARLOS MOEDAS  PAÍS  RUI RIO

COMENTÁRIOS:

Carlos Monteiro: Gosto do que escreve MJA. Termina dizendo a verdade plena sobre o PR. Mas fiquemos desiludidos,por mais que as pessoas (mesmo apoiantes de Marcelo) procurem chamá-lo à razão,ele não corrige. Hitlerilas Ventura:  Meus amigos, isto são tudo fait-divers que não interessam para nada. O importante é o nosso partido recuperar os 300 mil votos que perdeu domingo. Éramos 500 mil em Janeiro nas presidenciais e agora fomos apenas 208 mil nas autárquicas. CHEGA!          LUIS PIRES: Vindo de uma inveterada cavaquista faz rir. Ou não fosse o comedor de bolo-rei um dos mais assanhados anti-progressistas da História. Por exemplo, perguntem ao bolo-rei o que ele pensa (?) destes novos factos. "San Marino, com 33 mil habitantes, é um dos últimos Estados da Europa, à semelhança de Malta, Andorra e o Vaticano, onde a interrupção voluntária da gravidez é totalmente interdita, mesmo em casos de violação, incesto, perigos de saúde para a mãe ou má formação do feto. A interdição remonta a 1865 sendo o aborto um crime punido com pena de prisão até três anos para a mulher e seis anos de cadeia para o médico que participe no processo de interrupção voluntária da gravidez. Em relação aos direitos das mulheres, San Marino só aprovou a lei do divórcio em 1986, o voto das mulheres verificou-se em 1964 e a ilegibilidade das mulheres só acontece desde 1974." E vem falar do perigoso Costa? Santa Maria!         João Afonso: Geralmente os comentadores não socialistas têm sempre esta postura de incredulidade e uma certa ingenuidade perante o somatório de sinais ditatoriais oriundos da esquerda. Os discursos socialistas-comunistas-neo-comunistas não deixam qualquer dúvida sobre que valores políticos defende esta gente. São profundamente anti-democráticos. Porquê tanta dúvida e tanta esperança que algo mude no futuro?          Francisco Correia: Muito importante não esquecer que o PS acende todos os dias uma "velinha" para que Rui Rio (que se define como não sendo de Direita) se mantenha como líder do PSD.           PEDRO AIRES PEREIRA: Eu não tenho só ira contra a Galp mas contra todas as petrolíferas e empresas de energia como a EDP. São empresas monopolistas e cartelistas que usam os recursos naturais que são de todos para ganharem fortunas

Os portugueses do verdadeiro sector privado não têm aumentos de salários há anos mas eles estão sempre a aumentar os preços para engordar os accionistas e administradores e convenhamos que os trabalhadores também ganham bem acima da média do país. Nunca percebi a política de preços dessas empresas glutonas. Se, por exemplo o barril de petróleo está a 50 dólares e sobe para 52 eles aumentam 20 cêntimos os combustíveis. Mas se logo a seguir o barril desce para 30 dólares eles só baixam 10 cêntimos. Ou seja com esta prática enganadora e exploradora os preços dos combustíveis ficaram mais caros com o barril a 30 dólares do que quando estava a 50. Mais vale nacionalizar essas empresas, pelo menos ficamos com a ilusão de que os lucros são para o povo. E já agora nacionalize-se também a banca comercial pois não vejo vantagem nenhuma em ser privada. Quando perdem dinheiro paga o povo, quando ganham ou dizem que ganham fica para eles. Tanto falavam do anterior regime mas eles eram meninos de coro comparados com esta bandidagem democrática. E também não gosto que as empresas portugueses sejam vendidas aos chineses!      joão barbosa: Em Portugal é sempre fácil passar de besta a bestial e vice-versa (RR ) . Nada a fazer. Só que o votante não é tão estúpido como parece                Maria da Graça de Dias > joão barbosa : @ ...claro que os votantes estão atentos, daí a gloriosa vitória de Carlos Moedas em Lisboa. Parabéns a Carlos Moedas e sua equipa…. Mais um brilhante artigo da MJA sobre os muitos "equívocos" nestas autárquicas, e a perspicaz e finíssima interrogação sobre o exercício do poder em democracia. MJA uma profissional da comunicação social com conhecimento, sabedoria e pensamento muito bem estruturados. Parabéns.         josé maria: Costa, nas declarações públicas, que fez sobre a galpada, cometeu uma enorme argolada...     joão reis: O título está correto 'O equívoco' foi exactamente o que aconteceu no dia das declarações do PM que tal como todos os outros políticos/partidos se esqueceram de que os acontecimentos tinham ocorrido em 2020.             Maria Madeira: Excelente texto               Sérgio Coelho: Excelente artigo! Penso o mesmo! Isto é, Rui Rio não teve qualquer mérito pela vitória de Carlos Moedas! Foi uma vitória unicamente do próprio e com a ajuda da inaptidão e incompetência do nepotista que estava no poleiro e do seu chefe que disparava a bazuca para todos os lados (xuxalistas) como se a guita fosse do largo dos ratos e não do país (na realidade dos contribuintes poupados e civilizados do norte da Europa). O discurso de RR, miserável e com recados à direita ?!? diz tudo! Vai continuar "fofinho" para com o DESgoverno mais inapto e incompetente da história, nepotistas e DDT e unicamente ao "centro". Este RR não é solução para o PSD e só um cegueta não vê....          mamadorchulo dostugas: O bazuco pensava que eram favas contadas, saiu-lhe o tiro pela boca grande.           Nuno Pê: A Maria Joãio não falou da ira que levou um PM a ter a coragem de roubar durante anos os subsídios de férias e de natal a tantos milhões de pessoas, só para ir além da troika. Mas quando a ira é contra a GALP que despede centenas e tem milhões de lucro, a Maria João já tem medo da ira. O que dirá da ira dos berlinenses que pensam em expropriar prédios de multinacionais para baixar as rendas, acabando com a especulação imobiliária? Serão eles, num país desenvolvido e decente, uns irados? Ou uns corajosos?           Sérgio Coelho > Nuno Pê: Credo, tanta idiotice.....O "roubo" teve de ser feito para evitar a BANCARROTA dos seus camaradas do largo! Ou já esqueceu quem chamou a TROIKA porque não havia guita para pagar sequer salários?! Típico esquerda com palas....          Mestre Nhaga > Nuno Pê: Os primeiros cortes, foram feitos pelo grande construtor da bancarrota o inefável 44, bancarrota essa , que foi conseguida com a preciosa ajuda do habilidoso. Todos os cortes subsequentes, tiveram como responsável moral o mesmo 44 e toda a tralha que o auxiliou, muita da qual, acompanhou o habilidoso na usurpação do lugar de primeiro-ministro.            Joaquim Rodrigues: A “Oligarquia” não gosta, mas acima de tudo desconfia do que possa vir a ser Rui Rio como Primeiro Ministro. Desde a primeira hora, com o apoio da Comunicação Social e da inabilidade política do próprio Rui Rio, que anda a preparar o terreno para poder correr com ele da liderança do PSD. Mas só o queria fazer quando tivesse a garantia de que, no seu lugar, podia pôr um “funcionário” ao seu serviço. Não esqueceram o fiasco que foi a tentativa de correr com Sá Carneiro para pôr lá o Sousa Franco. Nessa altura o tiro saiu-lhes pela culatra. Comprovámos a “natureza” do Moedas quando, enquanto Comissário Europeu, usurpado o lugar de Primeiro Ministro a Passos Coelho, veio a correr de Bruxelas, prestar vassalagem ao Costa. O “problema” para os "oligarcas" é que o Moedas se revelou muito fraco e deitou a perder toda a “estratégia” que tinham montado. Reparem que num universo de 26 000 votos perdidos pelo Medina, o Moedas só conseguiu ir buscar pouco mais de 2000. Rui Rio, se quiser continuar, tem que perder o medo de afirmar um “Programa Político” claro, como Sá Carneiro afirmou, na defesa da “libertação da sociedade civil”, da “livre iniciativa privada”, do “mercado e da concorrência” da “igualdade de oportunidades” e da “liberalização da economia”. Se não o fizer, nunca terá condições políticas para “Reformar o País” e corre o risco de vir a ser o “trampolim” para que a “Oligarquia” coloque um “lacaio” seu como líder do PSD. Caso Rui Rio, antes de chegar ao poder, não afirme o seu Programa Político, mobilizando a Sociedade Civil em torno das suas Propostas de Reforma do Sistema, nunca terá condições políticas para fazer as Reformas de que o país necessita. E, nesse caso, mais vale deixar o lugar para outro que honre a memória e o Projecto Político de Sá Carneiro o qual, infelizmente, passadas 4 décadas, mantém plena actualidade.....Tivesse o PSD apresentado um candidato minimamente competente à Câmara de Lisboa, capaz de capitalizar o descontentamento do povo de Lisboa em relação ao Medina e hoje estaria a comemorar uma maioria absoluta na Câmara.          Jose Costa: Lamento mas o grande responsável por esta vitória do PSD foi mesmo Rui Rio. Não vale a pena tentar apoucar o seu papel, foi ele que escolheu o candidato a Lisboa e definiu o rumo do partido. Análise enviesada e tendenciosa, na minha opinião.          Joaquim Ribeiro: Ora aí está em marcha o assalto ao poder. Com uma vitória, que o foi, no PSD cheira a poder e a uma possível vitória nas legislativas. Começa a contagem das facas. Maria João, tal como ontem Henrique Raposo no Expresso e outros, começam com a ofuscação de Rui Rio na vitória, que o foi, nas autárquicas. Lembram-se do que Costa fez a Seguro em que a direita achou abominável? Pois, agora já não é!       Francisco Correia > Joaquim Ribeiro: Não queira confundir as pessoas! Costa desafiou Seguro fora do período eleitoral (vá ver quando, em condições normais, terminava o mandato de Seguro como Secretário Geral do PS). Agora já há muito tempo que se sabe que haverá eleições para a liderança do PSD em Janeiro e qualquer militante, que reúna as condições, as pode disputar.          Joaquim Ribeiro > Francisco Correia: Caro Francisco Correia, como sabe, quando queremos defender a nossa dama, argumentos é coisa que não falta. Penso que aceita que havia pessoas no PSD a contar com o ovo no dito cujo como ,por exemplo, o Paulo Rangel e o Jorge Moreira. Acontece que as autárquicas lhe estragaram os planos e a solução qual foi, o Rio ganhou por "poucochinho". Apesar de você tentar dar a volta ao assunto, isto foi exactamente o que aconteceu com o Costa e o Seguro, com o Costa a dizer que o Seguro ganhou as eleições na altura europeias por "poucochinho". Sabe, isto em política não há santos de um lado e pecadores de outro. Tem dias...         Francisco Correia > Joaquim Ribeiro: Uma coisa é dizer que ganhou por "poucochinho", outra coisa é desafiar o líder do seu partido, ainda com o mandato longe de terminar, para eleições. Costa, se fosse sério, tinha concorrido às eleições em que Seguro fora eleito. O facto de não haver santos em política, não nos deve isentar de observar e interpretar os acontecimentos políticos com rigor. Seguro foi desafiado fora de tempo. Rio sê-lo-á em devido tempo.         Joaquim Ribeiro > Francisco Correia: Sabe que isto do rigor varia com os sentimentos e disposição de quem "rigora". Você tem o seu rigor e eu tenho o meu. Já os expusemos. Fiquemos assim.               Alberto Rei > Francisco Correia: JR, o Correia tem razão. Como disse em baixo, não se pode ofuscar parte dos resultados positivos conseguidos por Rio para o PSD. Ele tem grande parte na estratégia que foi delineada para as eleições, isso é indiscutível, até teve atritos por causa disso, mas porfiou. Outra coisa é a seu comportamento como líder da oposição, que de resto também penso que não é incisivo e espectacular o suficiente. Talvez não seja o seu estilo, mas é preciso denunciar os podres xuxas a todo o instante. Andando, O Francisco tem razão porque o tal, está-lhe no sangue, lixou Seguro, fora do tempo eleitoral, quis mostrar que era o maior da cantareira, foi sacanita. A luta que se avizinha, e estou certo que Rio não a enjeitará, está programada. Mª João e Raposo escolheram, tudo bem. Iremos ver as cartas de Rio, estou curioso, mas falta muito tempo. Deixemos pra já os xuxas à nora.                    Joaquim Ribeiro > Alberto Rei: Caro Alberto Rei, pelos seus comentários reparei que é uma pessoa isenta e ponderada. Como tal, na tal luta que se avizinha pelo poder no PSD, não há nada como bater num lider "frouxo" e que, não vá o diabo tecê-las, mostrar que ganhou por "poucochinho". Por acaso, a vitória que teve em Lisboa também foi com uma pessoa que tem, pelo menos a fama, de ser "frouxo". Felizmente que o lado bom, o seu, ao contrário do outro, não está a usar a imprensa amiga para promover o bota-abaixo do actual lider. Claro que, para tudo ser claro no PSD, vão andar a queimar o homem em lume brando até às eleições que, para se demarcarem do outro, não vão ser em Directas porque a gentalha não sabe o que quer. Por fim, deixe-me dizer que não pertenço ao outro. Tenho, é verdade, uma estima por Rui Rio, mas o que me move ao escrever isto é apenas e só mostrar que isto da ética e do bom senso tem dias...          Carlos Monteiro > Alberto Rei: O mais grave é eliminar o Seguro por ter ganho por poucochinho e depois perder, tendo de agarrar-se a quem sempre foi contrário às opções do PS. Carlos Quartel: Rio não mudou nada e muitos destes resultados têm a ver com Costa, com o "algo aterrador" que a autora define muito bem. Um lado escuro, ditatorial, ameaçador que alertou milhares de eleitores. Penso e desejo que esse alerta não esqueça. Pode mesmo fazer-ironia com o tirar da máscara, não só a anti-covid mas também a máscara democrática e tolerante que disfarçava uma alma irrascível e autoritária. Quanto a Rio, é dramática a insensibilidade com que debita vazios, insistindo numa social-democracia (que já tem dono) e num centro que é uma abstracção, revelando, aliás um profundo desconhecimento do que é a política e as opções de governação. Qualquer partido democrático, preparado para a alternância e para perder eleições não pode deixar de ser social. Boris é direita mas apoia e financia o NHS o sistema educativo, as vias de comunicação, etc Querer limitar as opções entre direita, centro e esquerda, cada uma delas muito bem definida, é usar linguagem do século XIX O PSD precisa de outra liderança, imediatamente         João Floriano: Análise muito lúcida e sobretudo muito inteligente. Concordo integralmente com a apreciação que faz do papel de Rui Rio. Estou curioso para ver como vai ser a actuação de Rui Rio nos meses que faltam para Janeiro ( é em Janeiro que a questão da sucessão se vai colocar, não é?). Vai continuar a fazer oposição ocasional e inócua ao PS, deduzindo que os resultados eleitorais das autárquicas se ficaram a dever à sua atitude conciliadora, ou vai mudar? Em relação ao equívoco dois, com o qual também concordo, espero que MJA esteja certa e António Costa não queira mesmo entregar as «chaves do galinheiro» a uma figura como PNS. António Costa é um verdadeiro raposão e a entrega do cartão de militante a Marta Temido parece-me uma leitura inteligente da sua sucessão. PNS não tem de se preocupar com Medina, aparentemente, porque em política há vários casos de fénixes (o plural é assim?) renascidas e uma que ainda não renasceu mas que muitos temem e muitos esperam que renasça futuramente. Agora com Marta Temido, PNS tem de ter especial atenção.           Carlos Vito: De acordo. A vitória de Moedas não foi graças a Rio, mas "apesar" de Rio. Quem até agora nunca fez oposição e, pelo contrário, foi um apoiante de Costa devia era demitir-se. Caso contrário vão ser mais 4 ou 5 anos ainda a sermos governados pelos mesmos, com o que isso significará de soberba, má administração e incompetência.        Pedro Almeida: Costa é mais perigoso que Sócrates! Nunca me enganou!         afonso moreira: O povo português tem-se libertado cada vez mais, da bolha mediático-lisboeta. Uns por interesses, outros por simples desconhecimento do resto do país e outros ainda porque os argumentos, com a elasticidade conveniente, têm sempre de confirmar as ideias feitas. No entanto a realidade é que o que é, e Rui Rio, mesmo com as suas insuficiências também ganhou. Não dizem tantas vezes, citando Salazar, que em política o que parece é?        Alberto Rei: Maria João, excelente análise pós-eleitoral. Não concordo que Rio apenas teve a ver com Coimbra. Está redondamente enganada. Moedas tem muito mérito, acreditou, lutou e venceu. Mas Rio, ali na sombra, também desenhou a campanha autárquica. Tem inegavelmente mérito, goste-se ou não. Provou umas quantas coisas, aferrou-se às suas ideias e modo de agir, foi fiel à sua estratégia e esta deu resultados. Pô-lo de canto, não é correcto, isto sem prejuízo de uma luta pela liderança que se avizinha. É problema futuro. De resto, aquela escrita habitual, e eloquência que não dispenso. Um beijinho e cumprimentos.

 

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Contrastes


A nossa pequenez endémica, exposta em alguns comentários, com a reconhecida exploração nas compras de casas, de juros infindáveis, pelos bancos exploradores, e o caso descrito na crónica sobre uma falência hipotética de um colosso real chinês. A dureza do primeiro caso talvez seja superior à do segundo, porque mais abrangente. E vitalícia. E mesquinha, naturalmente.

Evergrande. O gigante chinês dono de um clube de futebol que seduziu o povo com juros de 13% e malas Gucci/premium

A Evergrande, à beira da falência, pode significar o fim de uma era na China – a era do "construir, construir, construir", com base em dívida e mais dívida. Até onde podem cair os dominós?

EDGAR CAETANO: TEXTO

OBSERVADOR,23 set 2021

Reza a lenda que havia na China, em tempos idos, um artista de rua que conseguia muitas moedas graças ao seu pequeno macaco, que fazia umas danças engraçadas. Um certo dia, porém, o macaco decidiu que não estava para aí virado. Então, o dono pegou numa galinha, degolou-a e, apontando a faca ensanguentada ao macaco, não precisou de muitas palavras para que ele percebesse que, se não começasse imediatamente a dançar, o próximo pescoço a rolar no passeio seria o seu. Daqui surgiu um antiquíssimo provérbio chinês: “Se queres assustar o macaco, mata a galinha”.

À medida que a promotora imobiliária Evergrandese aproxima do abismo, o governo chinês mostra (publicamente) que tem pouca vontade de colocar a mão por baixo – algo que está a gerar receios de um “momento Lehman” nas bolsas mundiais, com danos para os mercados e para as economias comparáveis aos que foram causados pelo colapso súbito e desordenado do banco de investimento norte-americano, em 2008. Estará Pequim a deixar morrer a proverbial galinha para pôr na ordem um “macaco” há muito bem identificado na economia chinesa –a gigantesca “banca-sombraque alimenta a bolha de dívida de empresas como a Evergrande?

Segundo a imprensa financeira dos Estados Unidos, o poder central já pediu aos governos regionais para se “prepararem para a tempestade” que surgirá com uma possível falência. Entre os riscos a acautelar está a “instabilidade social”, isto é, protestos volumosos por parte de lesados que podem perder as poupanças que aplicaram na Evergrande – sejam activos reais que podem perder valor ou, sobretudo, instrumentos financeiros que foram colocados no retalho com promessas de juros chorudos (até 13%), malas Gucci e purificadores de ar da Dyson. Foi dessa forma que se geraram os enormes fluxos de dinheiro, alheios à regulação bancária, que alimentam a chamada “banca-sombra” chinesa.

A Evergrande é um dos maiores conglomerados empresariais chineses, focado na área da promoção imobiliária. Emprega cerca de 200 mil pessoas na China, tem mais de 1.300 projectos imobiliários em cerca de 280 cidades chinesas e é a principal dona de uma equipa de futebol bastante bem sucedida – a Guangzhou Football Club (que até há pouco tempo se chamava Guangzhou Evergrande Football Club).

É para esse clube que está a ser construído um estádio projectado para albergar 100 mil pessoas, que terá uma forma icónica de flor de lótus e abrirá portas no final de 2022, se nada correr mal.

Mas está tudo a correr mal. A Evergrande é, também, uma das empresas mais endividadas do mundo, sentada numa “montanha” de créditos equivalente a 305 mil milhões de dólares, ou 260 mil milhões de euros.

À medida que essas dívidas vão chegando à maturidade, está a ser cada vez mais difícil cumprir – sobretudo desde que no ano passado o governo chinês promoveu algumas alterações legislativas no mercado imobiliário, que levaram a que muitos promotores como a Evergrande se vissem obrigados a vender casas e prédios com grandes descontos. Ou a detoná-los.

Esses protestos até já começaram, de momento organizados por grupos de funcionários da Evergrande que dizem ter sido persuadidos pelo seu empregador a investir naqueles produtos de “gestão de património”agora, estão confrontados com o sério risco de perder tudo, ou quase tudo. A alguns dos investidores já terão sido propostas extensões nos prazos de pagamentos, mas sem garantias. E há outro problema: se a Evergrande colapsar e as suas operações ficarem suspensas, quem já entregou dinheiro (depósitos iniciais) à empresa para lhes comprar casas arrisca, agora, ficar sem o dinheiro — e sem a casa.

Oficialmente, a empresa tem dito que os rumores de que está à beira da bancarrota são “completamente falsos“. Em comunicado, a Evergrande reconheceu que “a empresa está, com efeito, confrontada com dificuldades sem precedentes”, mas garantiu que “está empenhada em fazer tudo o que é possível para retomar as operações normais e proteger os legítimos interesses dos clientes”.

A solução poderá passar por vender alguns negócios em que o conglomerado se foi metendo nos últimos anos, como a produção de componentes para carros eléctricos. Até agora, porém, nenhum investidor quis comprar esses negócios e dar à Evergrande algum encaixe financeiro que pudesse servir como “balão de oxigénio”.

A pressão financeira é “tremenda”, reconheceu a Evergrande, culpando os jornais e a imprensa pelas “notícias negativas” que estão a diminuir as vendas do grupo (e, presumivelmente, a tornar mais exíguas as entregas de dinheiro recebidas em troca dos produtos de investimento que distribui junto dos cidadãos).

Os dias do sufoco: irá Pequim ceder à pressão e pôr a mão por baixo?

Para esta quinta-feira, estava previsto o reembolso de um cupão de dívida a investidores externos que, à hora de publicação deste artigo, parecia caminhar para o incumprimento, com vários credores a dizerem que, até ao momento, ainda não receberam qualquer pagamento. Trata-se de 83,5 milhões de dólares em obrigações denominadas em dólares norte-americanos.

Outros reembolsos significativos vão ter de ser feitos nos próximos dias, daí a pressão financeira “tremenda”. Ainda assim, de acordo com as regras em vigor, se o pagamento não for feito até ao final dos prazos, a empresa só será considerada (formalmente) em incumprimento 30 dias depois.

Bem antes disso, a situação pode tornar-se um problema político para o Presidente Xi Jinping porque se gerou uma percepção de que, tendo em conta as particularidades da política económica chinesa o governo, no final, acaba sempre por intervir. Foi o que aconteceu em 2018 com o grupo financeiro Anbang – dono dos hotéis Waldorf Astoria, que chegou a estar interessado no Novo Banco – e, também, do grupo HNA, que em 2020 também foi alvo de uma reestruturação patrocinada por Pequim.

Talvez por isso os economistas e analistas de mercado pareçam estar relativamente tranquilos em relação a esta matéria. Uma sondagem feita esta semana pelo Deutsche Bank junto dos seus clientes, investidores institucionais, revelou na terça-feira que “apenas 8% dos inquiridos acreditam que a Evergrande poderá ter um impacto significativamente negativo para os mercados financeiros globais, com 68% a anteciparem “nenhum impacto ou um impacto limitado”.

Porém, com mais ou menos pressão diária, o que parece inevitável é que no fim da linha terá de estar Pequim. E o risco de o governo central mostrar relutância em garantir as dívidas da empresa é que, na realidade, a Evergrande não é apenas uma “galinha” insignificante, que está ali à mão de degolar. Com tanta dívida, ninguém pode prever até onde podem ir as ramificações de um incumprimento — no fundo, quantas peças de dominó podem cair depois.

Além disso, a Evergrande é um símbolo de um modelo económico que, para alguns economistas, tem os dias contados: construção excessiva e endividamento astronómico. Os problemas da empresa não são apenas seus, são o reflexo de um padrão de desenvolvimento desequilibradoé no sector imobiliário chinês que se gera quase 30% do Produto Interno Bruto (PIB) do país e, agora, esta actividade arrisca deixar de ser um motor de crescimento para ser um fardo.

Porém, com mais ou menos pressão diária, o que parece inevitável é que no fim da linha está Beijing.

O excesso de oferta deixa poucas dúvidas sobre a inversão que está a prestes a acontecer – ou que já terá começado. Como apontou recentemente Logan Wright, de uma consultora de Hong Kong chamada Rhodium Group, mesmo com as detonações que têm sido feitas em algumas “cidades-fantasma”, estima-se que existam na China casas vazias que poderiam albergar 90 milhões de pessoas. Seria suficiente para dar casa a toda a população de cinco países dos sete países do G7 – França, Alemanha, Itália, Reino Unido e Canadá. E ainda sobrava espaço.

“Existe uma noção de que o velho modelo de construir, construir, construir, já não funciona e está, na verdade, a tornar-se algo perigoso”, comentou Leland Miller, de outra consultora, a China Beige Book, citado pelo Financial Times. “A liderança política, agora, parece reconhecer que já não pode esperar mais para alterar o modelo de crescimento económico”, acrescenta o especialista.

Exposição “directa” da instituição é “imaterial”, garante o UBS

Robert Carnell, economista do ING especializado nos mercados Ásia-Pacífico, diz em nota de análise que “parece, nesta fase, que a narrativa em torno da Evergrande deixou de ser de que pode ser um problema sistémico” – os investidores estão, agora, “a considerar provável que a Evergrande acabará por ser reestruturada e os danos colaterais serão apenas localizados”.

Porém, já estão a fazer-se contas a quem são as instituições financeiras ocidentais mais expostas, caso aconteça o pior. E, segundo uma análise da Morningstar, divulgada já esta quarta-feira, o gigante dos fundos de investimento BlackRock, o maior banco do mundo HSBC e o suíço UBS estão entre os mais expostos a títulos de dívida da Evergrande. Já esta quinta-feira, porém, o presidente do UBS foi à antena da televisão da Bloomberg garantir que a exposição “directa” da instituição é “imaterial”, ou seja, é pouco significativa.

Numa situação de grande gravidade como esta, envolvendo uma empresa com tanta dívida, o risco é que possam existir exposições indirectas ou impactos de segunda ordem como aqueles que podem surgir se um eventual colapso levar a um congelamento dos mercados monetários – como aconteceu na falência do banco de investimento Lehman Brothers.

Para já, não é essa a visão partilhada pelos bancos de investimento. “São limitados os riscos de um contágio financeiro com impacto para os mercados globais”, assinalou Paul Lukaszewski, responsável pela pesquisa em dívida empresarial asiática do Aberdeen Standard Investments. “A exposição à Evergrande é predominantemente detida dentro do país, a China, e mesmo o mercado obrigacionista estrangeiro é muito especial porque os investidores domésticos representam 80% ou mais dos títulos denominados em dólares norte-americanos, emitidos por empresas chinesas”, acrescenta o especialista.

“Para que o contágio atingisse os mercados financeiros globais, seria necessário que houvesse efeitos de segunda e terceira ordem, em que a situação da Evergrande levasse a uma crise mais vasta no país – e acreditamos que isso é improvável“, termina Paul Lukaszewski.

Paul Lukaszewski, responsável pela pesquisa em dívida empresarial asiática do Aberdeen Standard Investments.

“Extrapolação preocupante” sobre o crescimento futuro da China (e do mundo)

Por cá, o economista João Moreira Rato disse à Lusa acreditar que o Estado chinês “estará pronto para lidar com o problema” da Evergrande, rejeitando “grandes razões para alarmismos” relativos ao grupo imobiliário.

“Isto tem a ver com medidas que o Estado chinês tomou no verão, que visavam, de alguma forma, regulamentar o grau de alavancagem destas empresas imobiliárias, de alguma forma para proteger o retalho chinês e a população em geral destas tendências especulativas”, indicou o antigo presidente do IGCP e actual professor universitário. “Essas limitações é que tiveram impacto na Evergrande”, acrescentou o economista, considerando que “o Estado chinês estará pronto e tem capacidade suficiente para lidar com o problema internamente”.

Porém, outros analistas alertam que, mesmo que o impacto imediato nos mercados financeiros possa ser gerível, olhar apenas para isso pode ser uma visão redutora sobre o que o possível fim da era do “construir, construir, construir” na China pode significar.

Continuamos a achar que a importância da Evergrande não está no facto de poder ser um gatilho capaz de desencadear uma crise sistémica mas, sim, na extrapolação preocupante que pode ser feita acerca das perspectivas de crescimento futuro da economia chinesa, com implicações para o crescimento global”, aponta a equipa de economistas do holandês Rabobank,

Rabobank, equipa liderada pelo economista Richard McGuire, em Londres.

Nesta fase, todavia, a aparente serenidade dos especialistas também pode encontrar explicação no provérbio do artista de rua. Porquê? Porque o governo chinês também tem beneficiado do modelo de crescimento turbinado por empresas como a Evergrande. E porque o governo de Pequim é o principal interessado em manter a paz social que pode estar em perigo se muitos investidores perderem fortunas e a economia tropeçar.

No fundo, a razão pela qual o homem cortou o pescoço à galinha foi porque, embora ela pudesse não ter grande valor para ele, o macaco ainda tinha – desde que estivesse disposto a dançar.

MERCADOS FINANCEIROS  ECONOMIA

COMENTÁRIOS:

Eduardo Lopes: Bom dia! Não consigo perceber o porquê de alguns comentadores trazerem logo alguns políticos para aqui! A banca alemã esteve falida à semelhança da portuguesa por causa de investimentos em muitos países neste tipo de negócio não foi o que disseram alguns especialistas na matéria? A ganância sempre matou a felicidade, mas só daqueles que trabalham no dia-dia e têm que pagar impostos até ao tutano. Certamente, que os accionistas da referida empresa vão continuar a viver à grande e à Francesa. A banca portuguesa não emprestava para comprar e para obras no mesmo empréstimo, na década de 90? Quem pagou? Quase todos os políticos se " vendem " e os que não se vendem tiram-se da política e, metem-se lá outros. Não é o caso da China, mas também não sei de quem é a referida empresa.          Cabide..... What Else: A Dona Branca também fazia o mesmo.          PENSADOR: Esses edifícios demolidos faziam muito jeito aos presidentes que prometem habitação e não cumprem. O DDT de Lisboa bem que podia aproveitar...         Cabide..... What Else >PENSADOR: Ou então podia alojar lá os refugiados afegãos.         Paulo Orlando: Não consigo deixar de ver muitas semelhanças entre a Evergrande e o Portugal de Sócrates. Resta saber se daqui a 5 anos os investidores já esqueceram tudo e voltam a apostar no mesmo. A cinzentude dos eleitores portugueses é sui generis e o seu grau de sadomasoquismo não tem equiparação lá fora, mas vamos ver como os chineses vão reagir…         Maria L Gingeira: Construir para ninguém habitar. Há imensos edifícios novos vazios. A política do “faz de conta”             Mr. Lobby > Maria L Gingeira: Chama-se capitalismo de futuros, a última Coca-Cola do d€$€rto em matéria de panaceias financeiras materializadas economicamente... Baseado no conceito de crescimento infinito, e na crença da indução de desejos como necessidades.          Karoshi > Maria L Gingeira: Esta é uma das formas de se aumentar o "Produto Interno Bruto" e manter todo um sistema fiscal e contabilístico falacioso que se baseia nessa estatística. Há muita coisa no sistema financeiro que tem de ser mudada. Uma delas é a importância que se dá ao "PIB", o qual rotineiramente é redefinido e manipulado consoante os interesses da época.         Miguel Eanes: Sempre podem pedir ajuda ao Passos Coelho; Carlos Costa e Comissão Europeia, pois foram os únicos responsáveis pela resolução do BES e da criação do Novobanco, como o conhecemos hoje.         Ze Povinho > Miguel Eanes: Claro, porque os que levaram o BES à falência nada tiveram a ver com o assunto e o António Costa e Mário Centeno que "venderam" (porque vender pressupõe que se receba algo em troca e o estado só pagou e muito) o Novo Banco da forma como o fizeram também não! Harry Dean Stanton: Ainda não saímos das análises ocidentais. Que Xi avisou que estava na altura de travar alguns gananciosos até para distribuir mais renda confere mas desconfio bem que a estratégia não passa só por ficar a assistir à queda. O Senhor de Guangzhou não foi o primeiro nem vai ser o último. A seu tempo Pequim restruturará a Evergrande como tem vindo a reestruturar outras grandes empresas. Pequim tem o sistema financeiro chinês controlado há muitos anos. Não obstante a especulação destes senhores e os protestos sociais que daí poderão advir. Também sem qualquer histórico de impacto na economia chinesa. E a história da galinha e do macaco também não se aplica porque antes de chegar ao pescoço...E vamos ver se com tanta agressão externa ainda não podemos vir a ouvir alguns sopranos noutras praças. Se calhar não há tão pouca dívida fora da China como se diz e se calhar até vai haver retaliação. É bom lembrar que ainda há dias a China respondeu a outra declaração de guerra. E um estado como a China por norma não aprecia muito ver as suas empresas e a sua economia tão expostas na praça pública. Ainda-por-cima se a dívida está toda na China...         Ze Povinho > Harry Dean Stanton: Claro, os comunistas têm "o sistema financeiro chinês controlado há muitos anos" e por isso é que se chega a este ponto.          jorge espinha: É? E os chineses passarão a investir o dinheiro em quê? Só as classes bem pensantes ocidentais e os avençados da RPC é que confiam no estado e governo chineses. Os chineses não confiam. Os que não podem comprar um prédio na Lapa, vão fazer o quê ao dinheiro?    Karoshi > jorge espinha: Olha que boa parte da população da China parece estar genuinamente satisfeita com o governo deles...          Mario Silva > Karoshi: Sim, até porque têm muitas alternativas         Karoshi > Mario Silva: Quando escrevo "genuinamente" quero mesmo dizê-lo. Tanto quanto sei, uma parte significativa da população chinesa olha para o seu país, para o seu governo e para tudo aquilo que conquistaram ao longo das últimas décadas com orgulho. Não são é todos, claro.            Cabide..... > What ElseKaroshi: As prisões chinesas têm muitos "satisfeitos"             Karoshi > Cabide..... What Else: Não duvido. Mas isso não muda o que escrevi.          Antonio Tavares: Essa empresa pode começar a oferecer contentores com pedaços de alcatrão e betão aos investidores, visto gostarem de gastar dinheiro nesses produtos.          Andrade QB: Então será que já se chegou ao ponto da falência de uma empresa levar à falência de um Banco e em cascata de outros? Não haverá quem descubra vacina para impedir a contaminação da irresponsabilidade (ou manha) das administrações dos bancos? Percebe-se que quando um Banco vai à falência abre um buraco cerca de cinco vezes superior aos depósitos que lhe entregaram, mas como é que um banco pode deter dívida de uma empresa cuja falência possa representar a sua própria falência? Pelos visto pode e, vá-se lá adivinhar porquê, desconfio que se a China deixar cair o que tiver de cair, por aqui vai haver cobertura do Estado para que, com perdas ou sem perdas, os Bancos que operam em Portugal possam aumentar custos para os seus clientes.        Miguel Eanes: Esquema idêntico ao do BPP dos liberais Rendeiro e Cotrim Figueiredo.         Cabide..... What Else > Miguel Eanes: O BPP foi vítima da " Boa gestão" dos Varas no BCP em que as acções do BCP nem para limpar o traseiro servem.          Filipe Costa: Há 17 anos comprei casa. Hoje vale o dobro, não vendo porque é onde quero viver. Hoje as casas estão muito inflacionadas, há algo que não percebo, se temos casas a mais, porque faltam? Henrique Pt > Filipe Costa: Porque quem anda a comprar casa é pessoal com dinheiro e numa perspectiva de investimento ou seja arrendamento. A pessoas como o Pereira rejeitam créditos é preciso cunhas ou ordenados acima dos 1500 líquidos e mesmo assim sendo só um titular se calhar vão pedir fiadores.    Pereira > Henrique Pt: Vencimento liquido média de 1100/1200, de IRS com a esposa média de 23000 anual, com 1 prestação automóvel de 120 mensal, não consigo o crédito, porque não tenho como entrada os 10% exigido...ora como é que consigo poupar se tenho de renda mensal de 500 euros ? Das conversas que tive com Bancos não me foi pedido fiador, só pedem os 10%... No fim de contas pago uma casa e nunca vai ser minha....          josé alvesPereira: Entre os dois, têm 1916€ por mês ... se quiserem, podem poupar 10 000€/ano basta cortar nas despesas supérfluas. Exige alguma disciplina e alguns sacrifícios, mas é completamente possível.         Pereira: Já a minha avó dizia, quando a esmola é muita... Já que não consigo comprar casa com um ordenado acima da média, por mim podem rebentar todos os bancos e todos os empréstimos podem rebentar, não me preocupo!! com 37 anos é muito triste ter de pagar 500 euros de renda e não conseguir comprar casa!!