Ao texto que postei anteriormente - Bullying e
boa educação /premium do
P. GONÇALO PORTOCARRERO DE ALMADA
pois entendo que é assunto para reflexão, esse, que trouxe, e a que posso ligar
o meu velho texto.
Procurei–o no DN da Internet onde em tempos, para surpresa minha, o
encontrara, seguido de comentários, alguns bem rebaixantes para as minhas
pretensões intelectuais, mas o DN hoje não me
deu o acesso de outrora. Todavia, encontrei-o, embora incompleto, em João Adelino Santos, com vários comentários
que transcrevo, engolindo humilhações, por conta dos que me apontavam a inefável
ignorância.
Eis o texto de João Adelino Santos que coloco, como apoio ao do delicado e
sabedor P. GONÇALO PORTOCARRERO DE ALMADA, retirando,
todavia as “considerações
históricas e filosóficas” que aquele referiu, talvez com ironia, que desculpo, como
falsa e inútil:
«terça-feira, 26
de janeiro de 2010
Os calmantes da nossa impotência
educativa
Transcrevo parte de uma crónica,
de Berta Brás, polémica, certamente, que, após algumas considerações históricas
e filosóficas, incide na análise do comportamento das crianças, sobretudo
daquelas que apresentam aparentes sintomas de hiperactividade e défice de
atenção.
«A
medicação para a docilidade, para o cada vez maior embrutecimento. Para
vivermos em paz. Demos calmantes aos nossos filhos hiperactivos. Em vez de
regras de educação.
(...)
O 25 de Abril, na vizinhança do liberalizador “Maio de 68” francês, trouxe a
explosão, com a destruição das regras – de disciplina, sobretudo – geradora do
caos. O caos nas famílias, o caos nas escolas. Os professores passaram por
isso, mas nunca como hoje, em que os professores têm uma sobrecarga de aulas e
acompanhamentos, nas mesmas turmas de cerca de trinta alunos, como eram dantes,
em que estes se comportavam bem. Mas a notícia que vem no Diário de Notícias
deste domingo, 10/1, é a prova flagrante da insensatez brutal instalada no
nosso mundo de falsa bondade para com a criança, em que pais e professores são
condicionados por leis atropeladoras do seu direito a uma repressão sensata,
leis hipocritamente escamoteadoras da realidade social exigente e repressiva
que a espera na vida activa.
Ela
refere, em letras garrafais, que “CRIANÇAS TOMAM CADA VEZ MAIS MEDICAMENTOS
PARA SE ACALMAREM”. E conta casos. O de três irmãos hiperactivos, com défice de
atenção na escola que tomam comprimidos de “Ritalina”, o que os domou,
tornando-se mais atentos na escola e mais sociáveis. 35.845 as embalagens de
metilfenidato vendidas em 2004, 140.424, as vendidas em 2009, diz o esquema
gráfico da notícia. Com efeitos secundários de febre, agressividade, alteração
de humor, hipertensão arterial, perda de apetite, perda de cabelo, de sono,
taquicardia, dores de estômago, erupções cutâneas. É este o novo universo
infantil. E para se domarem as crianças, que uma palmada a tempo teria ensinado
no momento próprio a respeitar regras de educação, dão-se-lhes medicamentos
para a nova designação de má criação: hiperactividade, que os torna desatentos,
insubordinados, preguiçosos, desinteressados, esquivos. A medicação para a
docilidade, para o cada vez maior embrutecimento. Para vivermos em paz. Demos
calmantes aos nossos filhos hiperactivos. Em vez de regras de educação. Mostremos
ao mundo que somos pais amoráveis, incapazes da tapona, enquanto, às
escondidas, ou mesmo às claras, os vamos drogando para os domesticar.»
Publicada por João Adelino Santos à(s) terça-feira, janeiro 26, 2010
Etiquetas: Distúrbios
graves de atenção, Família,
Hiperactividade,
Professores
COMENTÁRIOS:
Atena disse...: ... Já tinha lido esta notícia que considereí algo
alarmante. Já há muito tempo que me dou conta que imensas crianças andam
medicadas com ritalina, quando na verdade e na minha opinião, nada têm de
problemático a não ser de facto alguma falta de regras, disciplina, ou atenção.
Como sabe, o meu filho apresenta um quadro de PEA em que tive de aceitar
dar-lhe medicação para equilibrar alguns comportamentos inerentes à sua
condição. Após grande resistência minha, algumas conversas com médicos, muitas
pesquisas sobre a substância e verificação do seu comportamento na falta da
dita medicação, vi-me na posição de ter de escolher de entre 2 males, o
menos... E dadas as evidências que eu própria comproveí, rendi-me com
dificuldade e continuo a dar-lhe Risperdal, por força real das suas
necessidades. No entanto, vivo sempre esperando o dia em que possa parar de o
fazer, e nunca estou totalmente tranquila com esta medida. Como tal, calcula a
relutância que tenho em perceber esta facilidade que muitos pais têm em medicar
os filhos que objectivamente nada de consistente apresentam que justifique tal
medida. O que me
parece é que muitos adolescentes estão completamente fora do controlo dos pais,
que naturalmente desesperados procuram ajuda, o que eu até compreendo. Mas, no
meio disto tudo, pergunto-me, que "raio" se passa com a nossa
sociedade? Mas que filhos estamos a criar? E que resultado vão dar todas estas
alterações que verificamos na juventude actualmente? Será algo passageiro,
próprio das idades, ou as repercussões de uma educação involuntariamente
negligente terão um impacto tremendamente negativo na sociedade? Vê-lo-emos com
o passar destes jovens a adultos... Espero francamente que tudo corra bem, e
que eles venham a crescer e evoluir, reconhecendo todas as oportunidades que
tiveram... assim o espero até para bem do meu filho, que precisa tanto de
crescer numa sociedade com pessoas, o mais evoluídas possível. 26 de janeiro de 2010
às 22:54
Minadisse...: Polémica,
mas assertiva, esta crónica. Agora parece que é crime dar uma tapona nas
crianças?!... Vem logo a protecção de menores, até já há adolescentes que chantageiam
os pais com essa possibilidade... Mas, não é crime dar doses medicamentosas,
para os trazer "domesticados"?!... Como diz a crónica. Acho que dá
uma discussão, bem inflamada... A diferença estará na prescrição?!... Um abraço
27 de janeiro de 2010
às 00:45
淑琴
disse...: welcome to join us!!聊天室........................................
27 de janeiro de 2010
às 09:45
João Adelino Santosdisse...: Os factos são evidentes, os alunos com o diagnóstico de
hiperactividade e com défice de atenção têm vindo a aumentar! Porquê? Existem,
naturalmente, vários factores. Sem qualquer base de cientificidade, posso
referir: as condições sociais, contribuindo para que as crianças sejam
obrigadas a deixar o meio familiar cedo, sendo colocadas em ambientes
propiciadores dessa agitação, como creches...; a falta de um acompanhamento
mais presente por parte dos pais, sobretudo no que se refere à escola e às
actividades aí desenvolvidas; a falta de formação por parte dos professores
para lidarem com a diversidade na sala de aula, rotulando e discriminando esses
alunos mais agitados, encaminhando-os, regra geral, para os serviços de
psicologia;... Quantos de nós não se recordam de colegas que foram rotulados e
não puderam beneficiar das medidas que existem hoje, sendo, na altura,
remetidos para o caminho do insucesso e do abandono escolar?! Certamente que
existem casos de hiperactividade e de défice de atenção! E esses têm de ser
devidamente referenciados, pois existem medidas específicas, incluindo,
naturalmente, a medicação. No entanto, acontece com frequência que algumas
atitudes, alguns comportamentos menos correctos dos alunos levem à sua
rotulagem de "hiperactivos", "com défice de atenção". Para
bem de todos (alunos, pais e professores), é importante que o diagnóstico
corresponda de facto à realidade para que as medidas a adoptar sejam as
ajustadas. 27 de janeiro de 2010
às 20:27
PDD-NOS (Menina)
disse...: A minha filha tem PDD-NOS e quando aos 3
anos de idade, por lhe tirarmos a chucha teve um ataque de raiva que me ia
pondo maluca, quiseram que ela tomasse ritalina, eu recusei. Desculpem-me, mas
levou umas boas palmadas no rabo até perceber que não podia fazer o que queria
para tentar obter a dita chucha. Foram 3 meses infernais, mas como nós Pais não
cedemos, cedeu ela. Nunca mais, fez disparates como os dessa época, até porque
sabe que leva umas palmadas e tem castigos. Hoje com 6 anos já responde que não
se pode bater nas crianças, ao qual eu lhe pergunto, se ela acha que pode bater
nos Pais? Já lhe disse que se bate nos Pais leva palmadas, e se faz disparates
é castigada, e que só quando tiver a sua casa quando for muito grande, que
mandará lá. Eu nunca na minha vida, me passou pela cabeça desafiar meus Pais
como agora fazem. E acreditem, cada palmada, dói-me mais a mim que a ela.
Recuso-me a drogá-la, mas estou sempre pronta para aplicar o castigo necessário
às suas acções. Tenho um mapa de comportamento diário, e se ela ultrapassar o
que está estipulado sabe que vai ter o castigo designado, como por exemplo, não
ir ao computador jogar que ela tanto gosta, etc. 29 de janeiro de 2010
às 17:45
Cristina disse...: Desculpem-me,
mas acho esta notícia bastante cretina, pois só quem não tem um filho
hiperactivo ou com nee é que pode acreditar que umas palmadas bem dadas na
altura certa são a solução. Concordo que hoje em dia a medicação é um recurso
demasiado fácil para tratar problemas que se calhar não estão assim tão bem
diagnosticados e pode servir para colmatar uma série de deficiências de
educação e de desresponsabilização por parte dos pais, mas não podemos cair em
generalizações. A medicação quando bem aplicada e monotorizada melhora
consideravelmente as capacidades de aprendizagem e de socialização das crianças
com nee, proporcionando-lhes uma qualidade de vida e sucesso escolar que com
muita dificuldade conseguiriam obter de outra forma. A par da medicação é
necessário haver um acompanhamento adequado por parte de psicólogos, pediatras,
professores e pais, sobretudo dos pais, pois a medicação por si só não produz
milagres. Todos conhecemos ao longo da nossa vida, crianças com graves
dificuldades de aprendizagem, desatentas ou irrequietas e quantas dessas são
hoje adultos independentes sem problemas de auto-estima, sem comportamentos
depressivos, quantas conseguiram terminar o liceu, quantas não tiveram
problemas de droga? Será que as palmadas que todos levaram não foram
suficientes? 7 de junho de 2010 às
10:03
Unknown disse...: A ignorância é a maior causa de posturas absurdas,
infundadas e generalistas como esta! A ritalina não amansa ninguém, qualquer
ser informado sabe que esta é uma substância estimulante e não calmante! Só uma
ignorante(pois a minha educação não me permite adjectivá-la de outra forma),
pode invocar a "tapona" (que a própria merece vezes sem conta ao
fazer afirmações deste tipo), como solução! A esta senhora deixo um sábio
conselho…trate-se minha senhora, pois deve havê-los internados por menos!
9 de junho de 2010 às
16:27»
O TEXTO
integral
DOMINGO, 10 DE JANEIRO DE 2010
Os calmantes da nossa impotência educativa
Às
vezes, quando recordo com a minha amiga os tempos da nossa escola primária e da
nossa escola secundária, em contestação contra os que a acusam de demasiada
rigidez, é para lembrarmos o encantamento dessa fase, de inconsciência da vida
que nos esperava. Lembramos os professores, bons e menos bons, os colegas, as
brincadeiras no recreio, que, logo que acabavam os cinquenta minutos de aula,
não podíamos perder, ocupando as respectivas posições para os jogos de basebol,
os mortos, com o ringue, o caçador, os saltos à corda e o berlinde... Oh! O
berlinde!
Em
África, as aulas começavam às 7h 30, às vezes às 6h30 da manhã, para a
ginástica com a Drª Deolinda Martins, acabavam às 12h20 e, duas vezes por
semana, salvo erro, havia mais duas aulas à tarde. Lanchávamos bem, líamos,
brincávamos, estudávamos, éramos disciplinados segundo as regras de então. As
notas finais mostravam o nosso cumprimento, era necessário ter positiva em
todas as disciplinas para se passar de ano.
Mais tarde, já professora no mesmo espaço africano, as modernas pedagogias
aliadas às modernas técnicas de ensino, apontaram o rigor da disciplina antiga,
defenderam mais autonomia para o aluno, foram retirando gradativamente a
autoridade disciplinar ao professor, permitiram que os alunos acedessem ao ano
seguinte reprovados numa disciplina, posteriormente em duas. O papel reservado
à memória, pela interiorização de conhecimentos foi gradualmente abandonado,
recorreu-se à compreensão e dedução pela imagem, por vezes os livros lembravam
as bandas desenhadas, com cada vez menor recurso à palavra escrita, na escola
primária o método global da imagem para a letra e o fonema substituiu o
tradicional e mais racional método da leitura alfabética, silábica e frásica. A
aritmética ignorou as tabuadas, adoptou a teoria dos conjuntos. E nunca mais os
alunos tiveram problemas para resolver, problemas que os livros escolares da 4ª
classe tão profusamente continham, nem a álgebra nos anos seguintes, em que
tantas gerações de alunos resolviam os inúmeros problemas do Palma Fernandes,
despertou mais as capacidades de compreensão dos alunos, incapazes de resolver
contas sem ser por computador.
O
25 de Abril, na vizinhança do liberalizador “Maio de 68” francês, trouxe a
explosão, com a destruição das regras – de disciplina, sobretudo – geradora do
caos. O caos nas famílias, o caos nas escolas. Os professores passaram por
isso, mas nunca como hoje, em que os professores têm uma sobrecarga de aulas e
acompanhamentos, nas mesmas turmas de cerca de trinta alunos, como eram dantes,
em que estes se comportavam bem.
Mas
a notícia que vem no Diário de Notícias deste domingo, 10/1, é a prova
flagrante da insensatez brutal instalada no nosso mundo de falsa bondade para
com a criança, em que pais e professores são condicionados por leis
atropeladoras do seu direito a uma repressão sensata, leis hipocritamente
escamoteadoras da realidade social exigente e repressiva que a espera na vida
activa.
Ela
refere, em letras garrafais, que “CRIANÇAS TOMAM CADA VEZ MAIS MEDICAMENTOS
PARA SE ACALMAREM”. E conta casos. O de três irmãos hiperactivos, com défice de
atenção na escola que tomam comprimidos de “Ritalina”, o que os domou,
tornando-se mais atentos na escola e mais sociáveis.
35.845
as embalagens de metilfenidato vendidas em 2004, 140.424, as vendidas em 2009,
diz o esquema gráfico da notícia. Com efeitos secundários de febre,
agressividade, alteração de humor, hipertensão arterial, perda de apetite,
perda de cabelo, de sono, taquicardia, dores de estômago, erupções cutâneas.
É
este o novo universo infantil.
E
para se domarem as crianças, que uma palmada a tempo teria ensinado no momento
próprio a respeitar regras de educação, dão-se-lhes medicamentos para a nova
designação de má criação: hiperactividade, que os torna desatentos,
insubordinados, preguiçosos, desinteressados, esquivos.
A
medicação para a docilidade, para o cada vez maior embrutecimento. Para
vivermos em paz. Demos calmantes aos nossos filhos hiperactivos. Em vez de
regras de educação. Mostremos ao mundo que somos pais amoráveis, incapazes da
tapona, enquanto, às escondidas, ou mesmo às claras, os vamos drogando para os
domesticar.
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