quarta-feira, 31 de março de 2021

Recorro à Wikipédia


Para obter mais esclarecimentos a respeito da questão do Holomodor, que Louçã põe em dúvida, corroborado por um ou outro comentador sapiente, socorri-me uma vez mais da Wikipédia, esperando que ela seja suficientemente competente e convincente. Só sei que nada sei sobre o assunto. Mas recordarei sempre a figura do Louçã de outrora, a espumar no entusiasmo do seu proselitismo transparente de ódio, nesses tempos em que lutava pelo seu lugar ao sol. As violências estalinistas nunca o perturbaram, se bem me lembro, e assim continua, nos dias de hoje, bem soalheiros, e cada vez mais propícios à espuma bucal.

O Dr. Louçã /premium

O Dr. Louçã prefere ser um negacionista do Holomodor, um dos maiores genocídios da História. Está no seu direito. A SICN também. A estupidez, a mentira, a conivência com o Mal ainda não pagam impostos

JORGE FERNANDES           OBSERVADOR, 31 mar 2021

Na última Sexta-Feira, no seu espaço de comentário na SIC-N, o Dr. Louçã dedicou o momento Zen a mostrar um vídeo no qual Aline Beuvink, deputada à Assembleia Municipal de Lisboa eleita pelo PPM, criticava a recusa dos deputados de extrema-esquerda em aprovarem um voto de saudação pela deliberação do Parlamento Europeu, no qual este equiparava o Comunismo ao Nazismo. Na sua intervenção, Beuvink, deputada municipal de origem ucraniana, dizia que houve fome e canibalismo na Ucrânia durante o Holomodor. No seu tom habitual de escárnio e ironia, Louçã afirmou então que “alguns sectores da direita acreditam mesmo nas suas lendas mais sanguinolentas”, recebendo um risinho cúmplice do jornalista.

É lamentável, mas não surpreendente, que Louçã, um membro do Conselho de Estado, continue com a impunidade de sempre a espalhar mentiras. Qualquer pessoa que tenha tido a felicidade de viver para lá de Badajoz, o que manifestamente não aconteceu com o Dr. Louçã, sabe que, na Europa civilizada, os crimes contra a humanidade cometidos em nome da construção do Socialismo são hoje factos estabelecidos equiparados ao Nazismo. Infelizmente para todos nós, o Dr. Louçã nunca saiu da paróquia, fazendo toda a sua carreira política e académica ali na D. Carlos I, entre o ISEG e a Assembleia da República. O Dr. Louçã fala habitualmente das mentiras e da realidade paralela na qual vivem Trump ou Bolsonaro. É pena que nunca tenha parado para se olhar ao espelho. Uma vez que este tema é demasiado sério, decidi escrever este artigo no qual vou tentar elencar alguns factos básicos sobre o Holomodor. Tal como o Dr. Louçã, não sou especialista no tema. Portanto, troquei emails com três colegas nos Estados Unidos e na Europa, especialistas em genocídios na Europa de Leste no período entre guerras, que me indicaram algumas referências bibliográficas básicas.

Comecemos por um breve enquadramento. Ao contrário das profecias de Marx, o primeiro país do mundo onde a revolução chegou era uma nação de camponeses, com uma classe proletária mínima. Havia, pois, necessidade de industrializar e lançar as sementes para que a ditadura do proletariado lançasse frutos. Num ensaio na New York Review of Books, Sherhii Plohky, director do Harvard Ukranian Research Institute, explica como Estaline e Vyacheslav Molotov assinaram um decreto, em 1932, que visava utilizar cereais produzidos na Ucrânia e no Cáucaso como meios de troca comerciais com países estrangeiros para compra de maquinaria indispensável à industrialização da União Soviética. Os solos destas zonas são altamente férteis e rentáveis, daí a sua escolha pelo pai dos povos como centro cerealífero da União Soviética. À boa maneira Comunista, o decreto continha, naturalmente, um conjunto de provisões sobre o que deveria acontecer aos camaradas Ucranianos caso não conseguissem cumprir a quota de produção: prisão e execução sumária.  No entanto, e ainda segundo o mesmo decreto, Estaline procurava ainda a “sovietização” da Ucrânia: de forma breve, a eliminação das elites políticas e económicas de origem Ucraniana e a sua substituição por elites Russas, garantindo assim a fidelidade política.

Os camponeses ucranianos resistiram em força à colectivização da economia, não conseguindo cumprir a quota de produção imposta centralmente. Estaline, pensando que os camponeses estavam a esconder a sua produção, respondeu enviando tropas Soviéticas, as quais tinham ordens para fiscalizar todos os locais de produção e simplesmente obrigar, à força se necessário, os camponeses a entregar toda a sua produção para entregar ao Estado. Nada sobrava, então, para os camponeses comerem. Começava então o que a literatura descreve como a Grande Fome Ucraniana.

Robert Conquest, Professor de História Russa em Stanford, escreveu em 1986 o livro The Harvest of Sorrow: Social Colectivization and the Terror-Famine, na Oxford University Press. Neste livro, uma das maiores referências académicas sobre o tema, Conquest estima que o total de mortos da Grande Fome imposta por Estaline rondará os 3.5 milhões, com altíssima probabilidade de ter chegado aos 5 milhões. Para se colocar isto em perspectiva, o número de Judeus mortos no Holocausto é de 6 milhões. Para além do tremendo número de mortos, ao contrário do que o Dr. Louçã afirma, o genocídio provocado pela fome, envolveu práticas canibais, de onde viria a surgir o ‘mito’ de que os comunistas comem criancinhas. Isto é, obrigados a passar fome por Estaline, os ucranianos viraram-se para o canibalismo como forma de sobreviver. Para sustentar esta afirmação, vou citar, em Inglês, como na fonte, para não ser acusado de ter enviesado a tradução, um conjunto de trabalhos académicos da vastíssima literatura sobre o tema.

No seu livro The Years of Hunger: Soviet Agriculture, 1931–1933, R. W. Davies e Stephen G. Wheatcroft afirmam que “there were many cases of cannibalism by peasants desperate for food: both cannibalism in the strict sense – that is, murder for food (known as lyudoedstvo – eating people) and corpse-eating (trupoedstvo).” (p. 421). Nesse tempo, “the Kiev GPU was receiving ten or more daily reports of cannibalism: in at least one district ‘in the majority of occurrences is even becoming “normal” (p. 422). De acordo com relatos constantes dos arquivos ucranianos, abertos já depois da queda da União Soviética, os próprios pais matavam um dos filhos para se alimentarem a si e aos restantes filhos, “In a typical case: ‘A mother or father kill a child, the meat is used for food, and their own children are fed with it. Many prepare stocks [of human flesh] and salt the meat in barrels’” (p. 422).A existência de canibalismo era reconhecida pelas próprias autoridades ucranianas, que chegaram a abrir processos judiciais contra os cidadãos que praticavam tais actos. O Harriman Institute da Universidade de Columbia, um centro de investigação dedicado à Europa de Leste e Rússia, num número especial de 2007 do Harriman Review, dedicado aos 75 anos da Grande Fome na Ucrânia, afirma que foram instaurados mais de 2500 processos por canibalismo no contexto da Grande Fome. Desses, e cito, “the documents for 1,000 of these cases have survived. They include photographs of the material evidence and of those who committed these crimes” (p. 30). O investigador termina dizendo que, apesar de disponíveis ao público, na sua opinião “society is still not ready today to accept these grizzly photos and textual records. It is a matter for the future” (p. 30).

Para último deixo uma citação de um livro de Timothy Snyder, Historiador de Yale, que escreveu Bloodlands – Europe Between Hitler and Stalin. Nesse livro, Snyder escreve que “survival was a moral as well as a physical struggle. A woman doctor wrote to a friend in June 1933 that she had not yet become a cannibal, but was ‘not sure that I shall not be one by the time my letter reaches you’. The good people died first. Those who refused to steal or to prostitute themselves died. Those who gave food to others died. Those who refused to eat corpses died. Those who refused to kill their fellow man died. Parents who resisted cannibalism died before their children did.” (p. 50).

Em reacção ao livro de Timothy Snyder, Ta-Nehisi Coates, uma das vozes mais activas nos Estados Unidos a denunciar o racismo sistémico da sociedade Norte-Americana, escreveu, em 2014, na Atlantic, um artigo no qual diz que, apesar de ter um estômago forte a ler sobre o Mal, não conseguiu ler o livro até ao fim.

O Dr. Louçã prefere ser um negacionista do Holomodor, um dos maiores genocídios da História. Está no seu direito. A estupidez, a mentira e a conivência com o Mal ainda não pagam impostos. A SIC-N e o Expresso também estão no seu direito de lhe dar visibilidade mediática. Charlatões é o que mais há para aqueles lados. Quem não se lembra de Artur Baptista da Silva? Todavia, que um membro do Conselho de Estado de Portugal brinque de forma leviana em prime-time com um genocídio parece-me, no mínimo, de gosto duvidoso. 

POLÍTICA  FRANCISCO  LOUÇà PAÍS  BLOCO DE ESQUERDA EXPRESSO   JORNAIS   MEDIA

SOCIEDADE  SIC   TELEVISÃO   UCRÂNIA   EUROPA MUNDO

COMENTÁRIOS:

Pedro Ferreira:Mas ele não foi o único a ouvir Aline e por isso nós também temos opinião sobre o que ela disse e não me parece que ele tenha distorcido o que quer que seja .         Mario Guimaraes: A televisão deveria obrigar o Dr Loucã a retratar-se. A ler partes deste texto originais. Por favor envie este texto ao Dr Loucã para ele se rir na TV. Os comunistas têm uma grande capacidade em alterar a história.        censuraautomatica censuraautomatica: Quem sabe tratar deste Loução é a Guardia Civil Espanhola! Lembram-se de quando queria ir protestar a Madrid contra a adesão da Espanha á NATO? Não passou de Badajoz e "aqueceram-lhe a focinheira", devolvendo-o á procedência      Jorge Almeida: Obrigado pelo seu artigo. É um imperativo moral denunciar sem descanso o esgoto que esta gente, como o louçã, é. A palavra à SIC, ao Expresso e à Presidência da República, que, caso tenham alguns valores básicos, têm agora a oportunidade de higienizar a sua grelha de programação, lista de comentadores e o Conselho de Estado.     António Alves: E ainda há quem defenda estas ideologias sangrentas, alimentadas pelo egoísmo e ignorância, que só levam o povo à miséria e à morte. O comunismo e o nazismo deveriam causar igual repulsa.               Ivan Simões: Um dos melhores artigos que li no observador!           Carlos Quartel: O PC foi. durante muitos anos, a única oposição visível ao salazarismo. Isto rendeu-lhe uma aura de lutador pela liberdade, pela democracia, pelo progresso. Nos espíritos  de muita gente e de muito boa gente. Após o 25A fez o possível por capturar as universidades e é o controleiro das chamadas "ciências sociais" e tem 80% do jornalismo na algibeira. No clima de ignorância nacional é difícil desmascarar a sua narrativa e hoje vemos o pessoal do PC a falar de liberdade e democracia como se fossem eles os paladinos desses valores. Há que viver com isto, há que ver centenas de milhar no funeral de Cunhal, um implacável fanático com um total desprezo pelo povo e há que viver com Louçãs, oportunistas e mentirosos.           Amilcar Pires: Dois camaradas comentadores, rapidamente a fazer o que os comunistas muito gostam de fazer: reescrever a historia ao jeito do comunismo! Anarquista Inconformado: "Os aparelhos ideológicos e intelectuais da burguesia estão em trabalho frenético para nos 100 anos da Revolução Russa difamar como podem a primeira experiência de poder operário consolidada da história — não sem contribuição fundamental, como sempre, de sectores expressivos da esquerda. Um dos maiores mitos, isto é, uma construção historiográfica sem qualquer base factual e referencial em pesquisa histórica séria, mas que se sustenta de acordo com sua função política-ideológica na luta de classes, é a da grande fome ucraniana ou Holodomor. É afirmado que o Estado soviético através de uma política de fome planejada operou o extermínio de 6 ou 10 milhões (o número depende do grau de anticomunismo do autor) de ucranianos. Evidentemente, esse suposto episódio serve para equiparar o socialismo soviético com o nazismo: os ucranianos teriam sido o equivalente aos judeus no Holocausto. Vejamos com breves comentários como esse mito não tem qualquer base factual.- Os documentos secretos da alta administração e dos serviços de inteligência dos EUA, França, Inglaterra e Itália já estão disponíveis há anos para consulta e pesquisa. Nenhum desses país, nos seus documentos da época, retrata uma política de fome provocada em escala industrial tendo como resultado o extermínio de milhões. Nenhum! Na época do alegado auge da fome, ou seja, em 1932–1933, existia uma grande guerra pelo poder no seio do PCUS (Partido Comunista da URSS) e ninguém da oposição ao grupo majoritário, Leon Trotski à frente, fala de qualquer genocídio na Ucrânia. Os grandes jornais burgueses da época, como The Economist, também não citam esse suposto episódio. Também não existe fotos e registros desse “extermínio em massa” — Robert Conquest, historiador ligado a CIA e um dos grandes defensores da existência do “Holodomor”, não apresenta qualquer prova material desse suposto massacre. Será esse episódio o primeiro da história da humanidade onde supostamente uma grande máquina industrial de genocídio em massa foi montada sem que ninguém — inclusive os serviços secretos dos países mais poderosos do mundo! — tenha tomado conhecimento (compare, por exemplo, com o número de provas que temos da existência do Holocausto)?- Entre 1931–32 houve sim uma redução da oferta de alimentos com aumento da fome, mas não uma escalada industrial de fome matando milhões. As duas principais razões que explicam essa redução de alimentos são de ordem económica-climática e sociopolítica. A URSS, no período 1930–33, ainda não tinha operado sua industrialização, desenvolvimento tecnológico e se recuperado totalmente dos estragos da Primeira Guerra Mundial e da Guerra Civil. Os eventos naturais acabavam tendo um impacto muito maior. Tivemos em 1932 uma seca catastrófica que reduziu e muito a produtividade das colheitas e havia um intenso e forte conflito político entre o Estado soviético e os camponeses ricos em luta contra a colectivização da agricultura; nesse confronto, como forma de resistência, muitos camponeses ricos queimavam colheitas e matavam animais, o que reduziu a oferta de alimentos. A questão, contudo, é que essa fome não atingiu especialmente a Ucrânia, mas foi algo de todo território soviético, e no segundo semestre de 1933, como mostra qualquer pesquisa básica, a colheita teve alta produtividade e os efeitos mais nocivos da fome já tinham sido contornados. Basta estudar a história da agricultura soviética para ver que na época (1933) que os anticomunistas dizem que milhões estavam morrendo por fome tínhamos uma das melhores colheitas da história soviética depois da Primeira Guerra. Os “nacionalistas” ucranianos e os historiadores anticomunistas que defendem a existência do “Holodomor” como símbolo de “resistência nacional” gostam de esconder que o grande promotor da suposta existência de uma opressão nacional soviética sobre a Ucrânia nos anos 30 foi a Alemanha Nazista. Devido à posição estratégica de Kiev, seus recursos naturais e a fertilidade de sua terra, era central para o Reich em seus planos de guerra conquistar essa região. Para isso o nazismo buscou criar uma associação com os “nacionalistas” visando combater o socialismo soviético. É notório a colaboração dos grupos independentistas ucranianos com os nazistas. Nos anos 60 em diante, com foco maior nos anos 90, a lenda da opressão nacional contra a Ucrânia ganhou cada vez mais peso, ocultando, é claro, as origens nazistas desse mito histórico — hoje os liberais e conservadores de toda ordem com ajuda não desprezível de sectores da esquerda continuam o “trabalho” dos nazistas. "A minha verdade é diferente da sua, qual delas é um panfleto publicitário?          Amando Marques > Anarquista Inconformado: Já vi muitos anarquistas, mas agora um anarquista comuna, essa é nova !!            josé maria: O Dr. Fernandes convive bem com a remoção dos comentários de que não gosta ? O meu anterior comentário foi rapidamente levado para a "moderação" porque não consegue aguentar com uma crítica incisiva, nem com a desmontagem da sua desonestidade intelectual, quando usa a falácia do espantalho para atacar Francisco Louçã e distorcer aquilo que exactamente foi escrito pela Aline e por ele estritamente citado?

 

NOTAS DA INTERNET

Holodomor

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

«1932-1933: o Holodomor ucraniano:  A escalada da crise

Em 1931 - em consequência das más colheitas na Sibéria Ocidental e no Cazaquistão - milhares de kolkhozes da Ucrânia, do Cáucaso do Norte e da região do rio Don, foram alvo de requisições acrescidas.

Desse modo, os órgãos estatais de colecta, apesar de uma colheita bastante medíocre (69 milhões de toneladas), conseguiram obter perto de 23 milhões de toneladas.

A Ucrânia foi obrigada a contribuir com 42% da sua produção cerealífera, o que provocou o agravamento da desorganização do ciclo produtivo, iniciada com a colectivização forçada e a deskulakização.

Na Ucrânia e em outras regiões, a partir da primavera de 1932, assistiu-se ao alastramento da fome e ao êxodo dos camponeses em direcção às cidades, suscitando a preocupação das autoridades, nomeadamente dos dirigentes de várias repúblicas. Por seu lado o governo, animado com o êxito das requisições, fixou o plano de colecta para 1932 em 29,5 milhões de toneladas, dos quais 7 milhões deveriam ser obtidos na Ucrânia. Deste modo, tornou-se inevitável o conflito entre os camponeses, determinados a usar todos os meios para conservar uma parte da produção, e as autoridades locais, obrigadas a cumprir o plano de colecta, o qual, nas palavras do dirigente soviético Sergei Kirov, representava:

A pedra de toque da nossa força ou da nossa fraqueza, da força ou da fraqueza dos nossos inimigos.

Com efeito, esses planos são de tal modo elevados, que os obrigam a tentar esconder a maior quantidade possível de cereais, para garantir as reservas alimentares indispensáveis à sua sobrevivência.

A campanha de colecta de 1932 depara-se, por isso, desde o início, com numerosas dificuldades: manifestações dos camponeses atingidos pela fome; fuga dos kolkhozes de um crescente número de trabalhadores; roubo dos bens pertencentes aos kolkhozes (gado, alfaias e sobretudo colheitas) e recusa de muitos funcionários locais e regionais do partido ou dos sovietes em aplicar planos de colecta que condenariam à fome dezenas de milhões de pessoas. Inicialmente, Estaline manifestou a sua crescente impaciência face ao ritmo lento que caracteriza a campanha de requisições na Ucrânia, acusando os dirigentes locais de serem os responsáveis pela situação, devido ao seu laxismo e falta de firmeza perante os "actos de sabotagem" e de "terrorismo". Para superar essas dificuldades, a 7 de Agosto de 1932, entrou em vigor a lei sobre o " roubo e delapidação da propriedade social " (mais conhecida por "lei das cinco espigas"), punível com dez anos de campo de trabalho forçado, ou com a pena capital.

 As brigadas encarregues da colecta efectuaram autênticas expedições punitivas, nomeadamente nas regiões cerealíferas. Estas requisições foram acompanhadas de numerosos abusos, violências físicas e detenções maciças de kolkhozianos.

Apesar de uma ligeira diminuição nos objectivos dos planos de colecta e de uma repressão extremamente dura (mais de 100 000 pessoas foram condenadas nos primeiros meses de aplicação da lei),  em 25 de Outubro, Moscovo só colectara 39% da quantidade de cereais exigida à Ucrânia.

……. A "interpretação nacional" de Stalin: Mas entre Julho e Agosto de 1932, Stalin concebeu uma nova análise da situação na Ucrânia e das suas causas, expressa a 11 de Agosto, numa carta endereçada a Kaganovitch:

[A Ucrânia] é hoje em dia a principal questão, estando o partido, o Estado e mesmo os órgãos da polícia política da república, infestados de agentes nacionalistas e de espiões polacos, correndo-se o risco de se perder a Ucrânia, uma Ucrânia que, pelo contrário, é preciso transformar numa fortaleza bolchevique sem olhar a custos.

 A repressão do campesinato ucraniano: As medidas repressivas: Em resultado da "interpretação nacional" que Estaline fez da situação ucraniana, a decisão de utilizar a fome nesses territórios adquire características específicas de natureza genocidária, confirmadas pela recente desclassificação de milhares de documentos provenientes dos arquivos ucranianos.

Vyacheslav Molotov. Membro do Politburo e responsável pela campanha de requisições na Ucrânia …Assiste-se a uma escalada de medidas repressivas, em grande parte diferentes das aplicadas noutras regiões da União Soviética:……………»

 

Et lux facta est


Mesmo que – segundo algumas opiniões – Teresa de Sousa talvez não seja inteiramente isenta de preconceito político, o certo é que nos vai esclarecendo sobre as manobras diversas de um mundo que mal conhecemos, neste cantinho da nossa vivência cultural na sua maioria distante e alheia, como é o meu caso. Por isso lhes estou grata, a ela e aos seus comentadores.

ANÁLISE

A triste história de um Conselho Europeu deprimente

O último Conselho Europeu terminou como começou. Sem qualquer solução à vista.

TERESA DE SOUSA

PÚBLICO, 28 de Março de 2021

1. Acabou mais cedo, revelando o cansaço e a falta de soluções dos líderes europeus, depois de um ano tremendo. Teve como convidado especial o Presidente Joe Biden, que foi, por um breve período de tempo, um líder europeu honorário. Remeteu as questões mais intragáveis para os representantes permanentes. Fez um arremedo de ameaça aos países onde o processo de vacinação é mais rápido – leia-se Reino Unido –, que não será mais do que uma forma de pressão. Seria muito pouco avisado proibir a exportação de vacinas para países que exportam para a União Europeia matéria-prima essencial para o seu fabrico, incluindo o funcionamento dos biorreactores necessários para as produzir. A proposta da Comissão para travar a exportação de vacinas teve desde o início a oposição de vários países, entre os quais os nórdicos ou a Bélgica (e também de Portugal, embora mais discretamente, porque tem de manter a isenção própria de quem exercesse a presidência).

O Conselho Europeu terminou como começou. Sem qualquer solução à vista.

Tudo estaria melhor se a Europa não enfrentasse uma terceira vaga da pandemia, que volta a obrigar ao confinamento mais ou menos generalizado e a aumentar a pressão sobre os sistemas de saúde. Na sexta-feira passada, durante toda a tarde, o título que fez manchete no site do Financial Times foi este: “A Europa avisa que os hospitais se aproximam da ruptura com a terceira vaga a crescer”. “Se não houver forma de a conter, corremos o risco de o nosso sistema de saúde atingir o seu ponto de ruptura em Abril”, disse em Berlim o ministro da Saúde alemão. O Bild, o tablóide mais vendido na Alemanha e um indefectível apoiante da chanceler, questionava-se sobre se “Merkel não estaria cansada demais para a tarefa”.

2. Talvez o sintoma mais deprimente da reunião tenha sido o facto de ter passado horas e horas a discutir as queixas do chanceler austríaco, Sebastian Kurz, que diz que o seu país foi prejudicado na distribuição de vacinas, arrastando com ele a Bulgária, Croácia e Letónia. Quer agora que a próxima remessa da Pfizer compense a Áustria dessas alegadas perdas. Não convenceu ninguém. Há uma chave de distribuição das vacinas pelos Estados-membros em função da população que tem sido cumprida. Houve países que apostaram mais na AstraZeneca por causa do preço, e que agora pagam pelas falhas na sua distribuição. Mas isso não parece desencorajar Sebastian Kurz, que aponta o dedo à incompetência da Comissão, irritando profundamente a chanceler.

Depois de horas de discussão, o assunto foi, pura e simplesmente, remetido para o Coreper, que reúne os embaixadores permanentes dos Estados-membros em Bruxelas. A imprensa europeia fala nas dificuldades internas do chanceler austríaco para explicar o seu comportamento. O Governo de coligação entre os conservadores de Kurz e os Verdes está envolvido em vários escândalos e o jovem chanceler vê a sua popularidade baixar. Vale a pena recordar que a Áustria ameaça vetar a ratificação do tratado de comércio livre entre a União Europeia e o Mercosul, que se arrasta há anos, porque os ecologistas não aceitam as práticas agrícolas do Brasil. A França ainda levanta algumas objecções, mas por razões mais concretas: sendo o maior produtor agrícola da Europa teme a concorrência brasileira. A questão não é apenas económica. É uma questão de influência política num subcontinente com fortes afinidades com o velho continente, hoje disputado abertamente pela China.

A ironia desta história é que a União chegou ao Verão do ano passado cheia de orgulho e de confiança pela forma como estava a enfrentar a pandemia. Hoje, esse espírito parece ter-se esfumado

3. As expectativas de recuperação económica ficam para cada vez mais tarde. O esforço dos governos para compensar empresas e pessoas é cada vez maior. As perspectivas de crescimento económico para este ano vão sendo reduzidas. Nos Estados Unidos, com a vacinação a cobrir já mais de 100 milhões de americanos e com Biden a garantir 200 milhões até ao 100.º dia da sua presidência, no início de Maio, as previsões da Reserva Federal são de um crescimento de 6,5% – um valor quase “chinês”.

A ironia desta história é que a União chegou ao Verão do ano passado cheia de orgulho e de confiança pela forma como estava a enfrentar a pandemia – quer do ponto de vista da saúde pública, quer do ponto de vista económico. Houve quem falasse, ainda que com algum exagero, em “Momento Hamiltoniano”, quando os líderes europeus aprovaram em Julho um impressionante fundo de recuperação de 750 mil milhões de euros para fazer face aos efeitos económicos devastadores da pandemia, sobretudo nos países mais frágeis, financiado pela emissão de dívida conjunta.Esta decisão marcou uma mudança em relação à última década, durante a qual a União avançou de crise em crise recorrendo a soluções conservadoras e de curto prazo, que não enfrentaram os problemas da zona euro, da segurança, das migrações ou de um ambiente internacional hostil”, escreve Rosa Balfour, directora do Carnegie Europe.

Hoje, esse espírito parece ter-se esfumado. O Fundo de Recuperação e Resiliência continua à espera de ratificação pelos parlamentos nacionais para poder chegar ao terreno. Talvez lá para o Verão. Na sexta-feira, a sua ratificação enfrentou mais um obstáculo, quando o Tribunal Constitucional alemão decidiu suspender o processo de ratificação, depois de um grupo de cidadãos ter interposto recurso contra a emissão de dívida conjunta. O fundo já tinha sido aprovado pelo Bundestag por uma ampla maioria, ainda que pondo a ênfase na sua natureza provisória. Entretanto, Joe Biden tomou posse a 20 de Janeiro, apresentou algumas semanas depois um pacote de recuperação da economia de quase dois biliões de dólares (o terceiro desde o início da pandemia), o Congresso aprovou no dia 10 de Março e o dinheiro já chegou às empresas, às pessoas e aos governos estaduais. É verdade que os Estados Unidos são um país e a União reúne 27 países, tornando os processos de decisão mais demorados. Mas isso não explica tudo.

4. A presença de Joe Biden foi o único momento agradável e descontraído do encontro dos líderes. As palavras de boas-vindas de Charles Michel foram simpáticas, mas não mais do que isso. Aliás, partiu dele o convite ao Presidente. As de Biden e as do primeiro-ministro português, a quem coube falar em nome dos 27, foram mais do que circunstanciais. Para além das referências ao combate às alterações climáticas, que os EUA querem liderar, Biden falou da importância vital de reforçar a competitividade das duas economias e voltou à mensagem mais forte da sua política externa, desafiando a Europa a juntar-se aos EUA no “desafio mais galvanizador do nosso tempo” – enfrentar a ascensão do autoritarismo no mundo. A sua esperança é que os EUA e a União, se agirem em conjunto, possam levar a uma mudança de comportamento da China e a resolver alguns problemas com a Rússia.

O primeiro-ministro português disse duas ou três coisas politicamente relevantes. Referiu o interesse dos dois lados numa recuperação que permita reconstruir “melhor”, assente em três vectores essenciais: uma transição verde e digital que seja justa; um comércio mundial aberto e justo, mesmo em tempo de crises; uma aposta em energias mais sustentáveis e mais seguras. A nota mais importante da sua intervenção foi sobre as mudanças a que assistimos à escala global, as quais “aconselham a revitalização da parceria única com os EUA”, incluindo uma abordagem cooperativa para lidar com os seus principais “competidores”, de forma a garantir a defesa dos seus valores comuns à escala global.

António Costa não mencionou a China ou a Rússia, mas também não invocou o novo chavão europeu da “autonomia estratégica”. Pelo contrário, Angela Merkel elaborou longamente sobre o tema, na conferência de imprensa final, insistindo que a Europa não precisa da caução dos EUA para tomar as suas decisões. No seu espírito estava certamente o Acordo de Investimento com a China e o Nord Stream 2 – duas manifestações do que Berlim entende ser essa “autonomia”. A Europa está longe de um consenso sobre as suas relações com os Estados Unidos e com as potências autoritárias a que Biden se referiu. Seria uma pena se viesse a desperdiçar a oportunidade que Biden lhe oferece e que não durará para sempre. Como disse também António Costa, a sua eleição “foi uma vitória da esperança” e “as decisões que já tomou, bem como a determinação de que a sua administração dá mostras, são impressionantes”.

tp.ocilbup@asuos.ed.aseret

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COMENTÁRIOS:

DemocrataXXI  EXPERIENTE: Uma belissima utopia, esta a da UE, que a cada dia que passa, mais comprova isso mesmo 28.03.2021           AARR EXPERIENTE: ... e o mundo pula e avança ... lá diz o Gedeão ... TdS lê demasiado o Financial Times e similares e depois só sabe debitar por essa cartilha. É muito fel. É bom voltar a repetir os factos, pois há muitas mentiras e meias mentiras que circularam durante muito tempo e ainda continuam... O Reino Unido produz vacinas mas não exporta. Recebe muitas da UE. Os EUA produzem muito e recebem também de fora, tendo acumulado um grande stock da Astra-Zeneca (que nem sequer tinha aprovação lá). Quando lhes foi pedido para dispensar algumas para outros países, qual a resposta dos EUA? Uma nega. Açambarcam. Agora parece que finalmente aceitaram "emprestarem" umas quantas para o Can. e para o Méx. E é a UE que é deprimente e que pratica o nacionalismo nas vacinas. É precisamente o contrário, e não vale a pena vir com meias verdades à la Boris.          Roberto34  MODERADOR: O RU não tem praticamente capacidade de produção nenhuma. Só 1/3 das vacinas que usou foram produzidas lá, o resto veio da UE e da Índia. E não esquecer que a A AstraZeneca não forneceu nem metade das vacinas ao RU que deveria também ter fornecido. Apesar dos erros na aquisição de vacinas e da reacção de alguns líderes Europeus, os factos não podem ser ignorados. Tendo em conta a escassez de vacinas, se tivesse sido cada país por si, teríamos neste momento a Alemanha com metade da população vacinada e Malta ou Portugal ainda a zeros. Imagem o que era a Bélgica bloquear a exportação das vacinas que são produzidas lá. É fácil criticar, mas é preciso também ser realista. AARR  EXPERIENTE: Caro Roberto34 E quanto aos EUA? Também não têm capacidade de produção? Voltando ao RU - entendo o que diz, mas então porque se pavoneiam tanto e acusam a UE de nacionalismo de vacinas? E vêm com a conversa de ser uma vitória do brexit e coisas do género. E depois no Público artigos à la TdS a enaltecer tudo o que seja britânico ou anglo-saxónico e a lançar fel sobre tudo o que tenha que ver com a UE? Sim, a UR fez/faz coisas mal ... mas por isso é interessante fazer comparações!             Roberto34  MODERADOR: Tem toda a razão. Não faz sentido. A atitude do RU é apenas para tentar manipular os Brexit porque não têm razão no que dizem obviamente.   PAULO CARVALHO FREIRE  INICIANTE: E sobre esse aumento do PIB ``chinês'' dos EUA de 6.5 %, que eu saiba, é mais ou menos o previsto para a Europa pós-pandemia - e um efeito de recuperação normal depois de uma grande queda provocada pelo covid-19. Só que nos EUA vão imprimir uma quantidade de dinheiro colossal. Vamos a ver no que dá, se der certo, a Europa poderá fazer o mesmo. Sobre os crescimentos, sempre ouvi dizer que os EUA crescem muito mais que a Europa, mas, misteriosamente, o PIB per capita entre a Europa e os EUA está há décadas estacionário num rácio de 3/4. Algo não bate certo.           Jonas Almeida  INICIANTE: Tem razão, os seus números não batem certo, dê um salto ao Google para os actualizar. Acabo de o fazer e os números do site do trading Economics dizem $56k per capita para os EUA e $37k para a UE. A UE tem uma população bem maior 440M vs 330M mas não o suficiente para mais ser a 1a zona económica que era há uns anos. Caiu para 3o lugar, atrás dos EUA e China. O facto que é difícil de admitir por aqui, apesar de uma mão cheia de nóbeis da economia o terem previsto, é que o monopólio monetário do euro estagnou completamente a inovação na UE. De Cloud à AI e agora até nas farmacêuticas. O crescimento económico da UE está há anos desproporcionadamente fora da zona euro, em países como a Polónia, que acaba de nos passar em per capita.     Roberto34  MODERADOR: O Jonas gosta muito de mostrar números mas depois não sabe como usá-los. Primeiro você compara PIB per capita e nem usa PPP. Mas se for a esse site que cita pode ver que o PIB per capita dos EUA já era superior a da UE desde os anos 90 e antes do Euro. E nos últimos anos o PIB per capita da UE aumentou mais que nos EUA. E quanto ao facto de passar a ser a 3 maior economia no mundo, é apenas porque o RU deixou de contar para a média. E não existe nenhuma previsão de Nóbeis. Nem o crescimento está fora da zona Euro. E a inovação continua a ser forte na UE e muito tem a Comissão Europeia contribuído para isso através de programas como o Horizonte 2020. Deixe lá de manipular a informação e olhe para os factos.          IZANAGI01  EXPERIENTE: Jonas Nestes últimos anos quanto dinheiro imprimiu os USA? Naturalmente que assim o PIB per capita aumenta. Deixe o mundo de comprara com $dollars e vamos ver qual o aumento do PIB americano. jvgama.1051342 INICIANTE: "Vale a pena recordar que a Áustria ameaça vetar a ratificação do tratado de comércio livre entre a União Europeia e o Mercosul, que se arrasta há anos, porque os ecologistas não aceitam as práticas agrícolas do Brasil." Fazem muito bem. Jair Bolsonaro afirmou «O interesse da Amazónia não é o índio nem a porra da árvore. É o minério» e, apontando para um mapa de depósitos minerais por explorar, «são [as] reservas indígenas no Brasil. Onde tem uma reserva indígena tem uma riqueza por baixo dela. Temos que mudar isso daí.». Coerente com esta "perspectiva", a desflorestação tem batido recordes ano após ano, e o homicídio de povos indígenas também. Queremos contribuir para esta destruição irreversível da biodiversidade e para este genocídio? Mesmo sabendo que o acordo vai baixar os salários?          viana  EXPERIENTE: "(...) a Áustria ameaça vetar a ratificação do tratado (...) entre a União Europeia e o Mercosul (...) porque os ecologistas não aceitam as práticas agrícolas do Brasil. A França (...) levanta (...) objecções, mas por razões mais concretas: sendo o maior produtor agrícola da Europa teme a concorrência brasileira.(...)" ?!! Ser contra o aumento da destruição da floresta amazónia, bem como outros ecossistemas no continente sul-americano, que aconteceria se o acordo com o Mercosul fosse avante, não é uma razão concreta?!... É o quê então?!! TdS deve achar que a "politicamente relevante (...) transição verde" que António Costa mencionou é apenas um chavão para papalvos engolirem. Na verdade, também acho. Mas enquanto eu denuncio-o, TdS ajuda à manipulação da opinião pública. Não passará.            Jonas Almeida  INICIANTE: Essa também me ficou atravessada - que o acordo que troca o diesel europeu pelas cinzas da Amazónia persista como um objectivo da Comissão Europeia é absolutamente espantoso. É um nível de criminalidade ambiental à escala do genocídio. Não acredito que a Áustria seja a única a levantar objecções, aliás não estou certo de conhecer pessoalmente alguém capaz de assinar uma monstruosidade dessas. Uma coisa é certa, que a Comissão Europeia persista nessa direcção anula qualquer pretensão de genuinamente querer uma "economia verde". É difícil não concluir que a Comissão Europeia tem como alma os lobbies com apetites neoliberais completamente à solta. A Áustria não é o único membro da UE que está com dificuldades em digerir a cumplicidade criminosa.          MH  INICIANTE: Exactamente, Jonas Almeida, totalmente de acordo. Quando se deixará de, como aqui faz TdS, ver o mundo como um xadrez de influências e se passará a vê-lo como o planeta ameaçado e injusto em que se tornou? Como já nem a economia lhes dá argumentos, agora é a "influência política", à descarada, quer se trate de um acordo em total contradição com o Pacto Verde, ou não. E depois acena-se sempre com o espectro do proteccionismo, que é sempre uma narrativa fácil. Comércio sim, mas pelas pessoas e o planeta, não para o negócio das multinacionais. Muito menos para trazer carne para a Europa, quando temos todos é de comer menos carne. Para não falar nos pesticidas que são proibidos na Europa e que a Europa exporta para o Brasil e no fim vêm cá parar, bem contaminados. Basta de tanta incongruência.              Amélia - you're fired :) INFLUENTE: "..que o acordo que troca o diesel europeu pelas cinzas da Amazónia!!!!!??? What? Que diesel? O Brasil é produtor de combustível e também faz a refinição de combustíveis. Já ouvi falar na PETROBRAS? Por outro lado, é proibida a venda de gasóleo para as viaturas ligeiras. Só os pesados é que utilizam o diesel no Brasil. Também o Jonas já ouviu falar em viaturas ligeiras eléctricas? Na caverna onde vive já chegou esta informação? O Brasil, tal como várias outras economias emergentes, também está a desenvolver o seu carro eléctrico. É uma oportunidade de ouro para cortar a hegemonia dos construtores clássicos de automóveis. O acordo vai falhar porque a UE também tem uma força motriz na Agricultura que é altamente subsidiada. O que actualmente não acho errado neste novo Mundo.               Amélia - you're fired :)  INFLUENTE: "Para não falar nos pesticidas que são proibidos na Europa e que a Europa exporta para o Brasil " Saiu de coma hoje? O Brasil tem capacidade química para produzir qualquer pesticida que quiser. Alias, durante décadas até foi o contrário. A Europa recusava exportar pesticidas para Africa por causa da contaminação, mas também por motivos económicos. O que quer dizer que na Europa utilizava-se pesticidas que não eram exportados para não aumentar a concorrência do exterior. O Brasil tem as maiores multinacionais químicas e metalomecânicas do Mundo em seu solo. Para além de muitas indústrias nacionais. P.ex. a EMBRAER é a 3ª maior construtora mundial de aviões de passageiros e que investe também em Portugal. Há muito desequilíbrio social no Brasil. É um facto. Mas está longe de pobre e coitado. jvgama.1051342 INICIANTE: Que o Brasil importa pesticidas da UE que são proibidos na UE é um facto. A questão aqui não é a capacidade, é aquilo que de facto acontece. De resto, que o acordo vai estimular a destruição irreversível da biodiversidade (seja fazendo disparar a desflorestação na Amazónia, no Cerrado, no Gran Chaco, ou destruindo outros ecossistemas únicos) e contribuir para as alterações climáticas no processo, isso é algo que as organizações ambientalistas dos dois lados do Atlântico têm dito.         Amélia - you're fired :)  INFLUENTE: Os pesticidas são utilizados em todo o mundo. Inclusive nos EUA. Até nós no canto da Europa fabricamos pesticidas e os utilizamos. Tem de ser mais específico. Que pesticida? O Brasil já utiliza pesticidas, como a UE, há décadas. Não se trata de engenharia aeroespacial (que o Brasil também o tem) fabricar pesticidas. Aliás, uma das profissões que existem no interior do país é o de piloto de avião agrícola. Se o Brasil respeita ou não as convenções internacionais é outra coisa. O certo que a massificação produtiva está em todos os continentes. 29.03.2021       Amélia - you're fired :) INFLUENTE: Sugiro ao Jonas e multis que façam Google: Produtos Químicos e Pesticidas Agrícolas. Entrem no site do NEI para não escreverem tanta besteira. Já agora, há instalações químicas industriais maiores que algumas aldeias em Portugal.        Dantes  INICIANTE: Parece-me que o Brasil está a importar este produto não por incapacidade produtiva/industrial, mas por questões comerciais. De referir que o Reino Unido também é um dos maiores exportadores deste produto. Por outro lado, se há culpa, a maior é de quem utiliza pesticidas proibidos pela ONU. É nisto que o mundo deve apostar. O Brasil é o maior produtor de mundo de soja. A sua gigante parte é para exportação. Ora, a Europa e os EUA consomem muito desta soja do Brasil. Se o Brasil está a utilizar pesticidas proibidos, estes acabam por chegar aos frigoríficos e armários dos europeus e dos norte americanos.           Antonio Pacheco  INICIANTE: Não estaremos a exigir demais da comissão europeia, que é simplesmente uma organização de acomodação de interesses comerciais? Se queremos mais, precisamos de um estado federal. Mas ainda não existe um ideal de pátria Europeia. Isso demora décadas a construir... Agora questões práticas. Sendo uma organização comercial, estamos a exportar vacinas em mercado aberto. Só estaríamos melhor se não as exportássemos, como fazem alguns estados produtores. Devemos aplaudir a abertura da Europa em exportar para países pobres e devemos apontar o dedo aos proteccionistas. A nível de capacidade industrial estamos perto da capacidade de outros blocos. Em poucos meses o problema da escassez das vacinas será resolvido.       MMRdM  EXPERIENTE: Do que aqui leio a única parte deprimente foi a Austríaca. Foi uma primeira reunião colectiva com Biden, não se exigiria ou recomendaria um entrar matador...          Roberto34  MODERADOR: O Conselho Europeu quis eleger uma espécie de marionete Alemã para poderem controlar bem a Comissão Europeia, agora colhem o que semearam. Merkel foi e é uma estadista mas nota-se cansaço. É preciso alguém novo na liderança da Alemanha, quem sabe os Verdes. Macron tinha e tem grandes ideias mas infelizmente não as consegue implementar sozinho. Mas o que esta situação demonstra é que a UE precisa de continuar com o processo de integração, com instituições mais ágeis e acima de tudo mais democráticas. Os cidadãos Europeus não querem acabar com a UE, só querem é políticos competentes e uma UE que realmente funcione bem.            Rita Cunha Neves  INICIANTE: O problema talvez não seja o cansaço de Merkel, mas sim ser cada vez mais claro que a Alemanha está a trilhar o seu próprio caminho. E isso não se compagina em ser locomotiva da UE ou pau-de-cabeleira dos EUA. Roberto34 MODERADOR: A Alemanha sempre seguiu o seu caminho Rita, tal como os outros países Europeus. A Alemanha enquanto grande economia que é, irá continuar a ser a locomotiva da Europa. O essencial é que a oposição que se está a definir para as próximas eleições continua a ser pró Europeia. 28.03.2021   o gaivotas  INICIANTE: o bouquet anti-UE atacou logo de madrugada e em grupo! Realmente não perdem uma oportunidade de desancar na União, sem admitirem que sem esta seríamos um país autónomo e independente (lol) do género da Mauritânia, com o escudo cotado a 0,01 dólar, hotéis em barda só para turistas e um PIB comparável ao do Bangladesh...    PAULO CARVALHO FREIRE  INICIANTE: Que falta de paciência. A vacinação começou há três meses. Creio que daqui a um mês ou dois as coisas vão parecer bastante diferentes. Aconselho ler as entrevistas do Thierry Breton, o comissário Europeu encarregado deste assunto. Ele diz que a 14 de Julho a Europa vai atingir a imunidade de grupo. Em três meses de vacinação, a Europa já distribuiu 100 milhões de vacinas, e vai até meio de Junho receber mais 350 milhões. A nova fábrica da Biontech em Puurs (Bélgica) está agora a produzir 50 milhões de vacinas por mês, acelerando em Junho para 100 milhões, só essa fábrica vai entregar até ao fim do ano mais de mil milhões de vacinas. A Europa vai continuar a ser o produtor e exportador #1 de vacinas, em 2022 serão 2-3 mil milhões, que serão importantes para vacinar o resto do mundo. Jonas Almeida  INICIANTE: TdS explica claramente "Seria muito pouco avisado proibir a exportação de vacinas para países que exportam para a União Europeia matéria-prima essencial para o seu fabrico, incluindo o funcionamento dos biorreactores necessários para as produzir", como tb explicou mais suavemente António Costa esta semana. Mas a Comissão Europeia mantém a proposta de o fazer. Eu acho que deviam ignorar os nórdicos e parar mesmo a exportação, para a propaganda ficar exposta como aquilo que é: o encobrimento do facto de a UE não ter um ano depois de rebentar a pandemia a capacidade de produção própria. Um desastre inqualificável com todas as probabilidades de agravar a crise económica da qual o Covid é apenas o preâmbulo. Não é obviamente a primeira crise assassina que a UE catalisa           Joao  MODERADOR: Bom, face a isto, e decerto é bem mais sombrio do que a Teresa descreve, há que carregar mais ainda na propaganda e dezenas de vezes por dia os euroactiv, os europress, os euronews, os similares e o meio milhão de "jornalistas" publicarem e publicarem artigos inúmeros a laurear a Comissão e a elogiar Bruxelas pelo "excelente" trabalho e desempenho que já matou escusadamente mais de meio milhão de pessoas.      Jose MODERADOR: Realmente, Caro Jonas Almeida, a acta da reunião do chamado Conselho, feita por TdS, mostra que o valor mais transversal e intenso da união é a desunião. Outra coisa não seria de esperar. Os altos funcionários da união não respondem politicamente perante nenhum eleitorado, na realidade não respondem perante nada e ninguém. São autocratas servidos por tecnocratas que trabalham para lobbies. Os representantes dos Estados membros têm de responder perante os seus eleitorados e isso retira-lhes qualquer possibilidade de estarem de acordo uns com os outros. Não há vacinas, nem economia, nem clima, política externa, acordos comerciais....Há problemas que se acumulam de crise em crise. Há impotência a gerar arrogância. Já não são capazes de ir juntos às compras.     Jonas Almeida  INICIANTE: Para lá das opiniões e anseios há os factos e o senso comum. Nesses dois últimos junto-me a vocês numa vénia a TdS. Agora virá um dilúvio da propaganda do costume.     graça dias EXPERIENTE:UE - o espírito dos seus co-fundadores Robert Schuman e Jean Monnet há muito se perdeu. Desde há muito que a UE é um grande Offshore onde se cruzam múltiplos interesses protagonizados por gente não eleita democraticamente.     Roberto34  MODERADOR: Graça dias, Schuman e Monnet eram federalistas, e sabiam que só uma Federação Europeia iria realmente funcionar bem. Devia-se acabar esse processo.

 

terça-feira, 30 de março de 2021

Lá se ia o secretismo


Caso os seus sectários se pusessem a divulgar a sua pertença à tal maçonaria, que tem os seus rituais próprios, de que provavelmente se envergonhariam se tivessem que disso falar. Seria como desnudar a vida íntima, que a ninguém deve interessar, a menos que seja intriguista. Julgo que o que interessa na postura de um governante – como, de resto, de qualquer um de nós – é sempre um comportamento baseado em integridade, no cumprimento das funções próprias, independentemente de pormenores do foro pessoal ou íntimo, que não devem ser submetidas à opinião pública – sempre pronta a criar enredos, de resto, quantas vezes de forma truculenta ou pedante.  Por isso concordo com Rodrigo Rocha Andrade que acha que “não havia necessidade”, como, embora este com malícia, diria o diácono Remédios. Não, não há necessidade.  Sem malícia.

A institucionalização do voyeurismo preconceituoso e conspiracionista

Uma democracia saudável deve respirar transparência, mas transparência exigida pela vox populi e não pela vontade do legislador popularucho de colocar os governantes a viver em casas de vidro.

RODRIGO ROCHA ANDRADE, Advogado, Assistente Convidado da Faculdade de Direito da Universidade do Porto

OBSERVADOR, 27 mar 2021

Feche os olhos e imagine um mundo em que todos os titulares de cargos públicos estão obrigados a declarar a sua filiação a organizações que exijam aos seus aderentes a prestação de promessas de fidelidade ou que, pelo seu secretismo, não assegurem a plena transparência sobre a participação dos associados. Abra os olhos. Agora, volte a fechá-los e imagine um mundo em que tal obrigação não existe. Reparou na diferença? Exacto, não existe.

Sim, é verdade. Exigir uma declaração nos termos propostos pelo PSD e pelo PAN é, de facto, um exercício inútil sem qualquer consequência prática óbvia que não, talvez, a institucionalização de um voyeurismo encapotado que vê, na transparência burocrática, a panaceia para todos os males da democracia.

Uma democracia saudável deve respirar transparência, mas transparência que se sinta ser exigida pela vox populi e não pela vontade do legislador popularucho de colocar os governantes a viver em casas de vidro, por mero prazer de ver.

Gostava de poder conhecer os fundamentos que levam a que se sucumba a teorias conspiracionistas e se exija conhecer alguns interesses ou hobbies de quem nos governa. Mas o único argumento que foi sendo disparado é o clássico (mas pobre) “quem não deve não teme”.

Esta justificação sob forma de brocardo popular não é nada mais do que uma preguiçosa tentativa da inversão do ónus justificativo, demonstrativa de um vazio justificativo. Eu não tenho de prestar todas as informações que me pedem só porque não devo nada a ninguém. Na verdade, é exactamente o contrário. Se eu não devo nada a ninguém, não tenho de me preocupar em mostrar que assim é.

É igual com os nossos governantes: se tomarem decisões que visam prosseguir o interesse público – ninguém quer saber que organizações insólitas frequentam nos seus tempos livres nem se lhes devia exigir que connosco partilhassem as suas taras e manias.

Se não existe um motivo universal que justifique que queiramos conhecer as filiações dos titulares dos cargos públicos, então que não se lhes exija tal divulgação. Se existir um motivo político concreto que justifique que se exija conhecer as filiações de um específico governante – por exemplo, se ele se afasta da prossecução do bem comum, que se exponham em praça pública os factos, e deixe-se a democracia baseada na dialéctica e na informação funcionar. Se os motivos são criminais, então tal declaração é um meio de investigação inútil e ocioso, que deve ser substituído pela competência e pela atribuição de meios de combate à corrupção.

No fundo, a ideia é simples: se estamos perante informações que a demo exige conhecer (ou deveria exigir conhecer) para tomar as suas decisões em democracia, então os candidatos a estes cargos sentirão necessidade de prestar as informações que lhe são exigidas ou os seus adversários deverão fazê-los sentir essa necessidade. Se assim for, a declaração será redundante porque tais informações serão já do conhecimento público.

Se a declaração se exige com base na ideia preconcebida (e, portanto, preconceituosa) de que em causa estão associações criminosas, então também esta declaração é inútil. Se as instituições são criminosas, trate-se de as investigar em condições. Também neste caso existem já meios suficientes para o efeito – e esta declaração não ajudará em nada.

Feche os olhos. Se esta declaração é inútil, faz sentido obrigar alguém a preenchê-la?

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COMENTÁRIOS:

Joaquim Moreira: A ver pelo apelido, esta crónica parece ter sido a pedido. E se não for, e a ver pela idade, pode ser só uma certa ingenuidade. Mas vamos lá analisar, o que parece ser uma preocupação socialista, ou seja: "A institucionalização do voyeurismo preconceituoso e conspiracionista"! E, atenção, o facto de ser socialista, não quer dizer que também não seja, social-democrata, democrata-cristã, direitista ou até comunista. Ou seja, de largo ponto de vista! Até porque, tendo como pretensão, melhorar o poder da Nação, é muito natural que tenda para a intervenção. Por isso, tenho muita dificuldade em compreender que, quando quer, directamente, o poder exercer, tenha receio de dizer, que, a tão benemérita, e altruísta organização faça o favor de pertencer. Mesmo sabendo que não quer que o povo, de algum modo, lhe possa agradecer!  Mas também não posso deixar de dizer, que também sei que este tipo de declaração, não garante, só por si, que vai acabar com a velha corrupção. No entanto, pode ser, uma boa contribuição. Para acabar com uma grande dúvida e uma maior suspeição!

bento guerra: Suponho que o Rio alguma vez quis entrar para "pedreiro" e decidiram que não tinha os mínimos. Na política, também não, mas é encomenda