Estávamos lá e vimos. E viemos. E
assistimos. E nos fixámos. E sorte tivemos. Porque o pequeno rincão não deixou
de estender a mão, retornados que fomos, conquanto aplicados.
Mas li a entrevista de Eugénio Lisboa, saída num dos últimos Expressos. A recordar com saudade aquilo por lá, o que fora e o em que se tornou. Dizendo-se filho de duas pátrias, mas a lembrar os momentos maravilhosos do Moçambique de então, a que eles, os intelectuais de lá, tanto deram do seu brilho cultural. E prestou homenagem a todos aqueles grandes professores do Liceu Salazar, expatriados para lá, que também foram nossos, que muito admirávamos, pelo seu saber, Reis Costa, Cardigos dos Reis, Rodrigues Martins … e ignorando outros que também foram bons, mas pertenciam ao sistema – Pires dos Santos, Francisco Maria Martins, Rosa Pinto, professores empenhados, e de grande saber e exigência… Uma entrevista notável, que revela um Eugénio Lisboa vivo e culto como o conhecemos, que tudo lia e de tudo expunha, com empenho e sabedoria. Mas acinte, também, como lembro alguns seus artigos verrinosos contra o Rui Baltazar, por exemplo, que viria a ser ministro por lá, quando a Frelimo tomou posse, e que tanta surpresa me causou a mim, que fora amiga do Rui e desconhecia as suas manobras pró-frelimistas. Mas pelo menos, esse não mostrou duas caras, partidário que foi dos seus irmãos africanos, indiferente aos da pátria portuguesa. Lisboa e Knopfli pertenciam à civilização mas eram contra o regime, apanhados que foram, talvez, na mesma onda de loucura que os forçou a partir para o sossego da pátria pobre e maneirinha, que, apesar de tudo, lhes estendeu a asa protectora, pelo menos a um Lisboa aprumado e estudioso. Que o Knopfli, esse não aguentou, desenraizado e expulso do seu Moçambique, que amara, no desprezo do seu próprio país, e que, naturalmente, soçobrou, desenraizado por cá, buscando fora, no Reino Unido, um sentido de existência que por aqui não encontrou. Mas a pátria recompunha-se por cá, aos trambolhões embora, graças ao apoio exterior, e finalmente entrando, talvez definitivamente, no caminho desses detentores da verdade, que Salles da Fonseca repudia, como pertencentes a uma filosofia que ele define como apoiada num “sillogismus invidiae” que veio para ficar, no país definitivamente encaminhado segundo o modelo que Salles da Fonseca não tem pejo em condenar.
HENRIQUE SALLES DA
FONSECA
A BEM DA NAÇÃO,05.03.21
Nascida a filosofia marxista, Lenine
serviu-se dela para instaurar a ditadura
do proletariado e aos brados de «Proletários
de todo o mundo, uni-vos», preconizou a sovietização
mundial.
A Lenine, seguiram-se lutas tremendas pelo protagonismo de que
saiu vencedor Staline e Trotsky
exilado e assassinado no México
depois de algumas «faenas» com Frida Kahlo.
Não
tive o interesse suficiente para tentar identificar a reunião do
Comité Central do Partido Comunista da União Soviética (nem sequer imagino se a informação está acessível) em que
foi decidido intervir em Espanha com o claro intuito de sovietizar a Península
Ibérica e ensanduichar a Europa capitalista levando-a ao colapso e ao predomínio
de Moscovo sobre todo o velho continente.
No raciocínio expansionista
soviético, uma vez dominada a Europa, o resto seria «trigo limpo». Não foi.
Mas os revezes são
atirados para trás das costas e o desígnio fundamental de levar a Europa
capitalista ao colapso continuou na «Ordem do Dia».
Falhada
a «conquista de Granada», decidiram tomar África para se
substituírem às potências colonialistas europeias. Mas
tanto Inglaterra como França já tinham dado a independência política (não a
económica) às suas colónias e à URSS mais não restou do que apoiar a criação
de Movimentos de contestação à presença de Portugal em África. Assim nasceram o PAIGC (Guiné-Bissau), o
MPLA (Angola) e a FRELIMO (Moçambique).
Seguiram-se 13 anos de luta
armada naqueles três teatros e apenas na Guiné-Bissau é que Portugal não
saiu claramente vencedor.
Então,
se a URSS nada conseguia de substancial naquelas três frentes de luta, terá
sido decidido «cortar o mal pela raiz» levando a cabo um golpe de
Estado em Portugal colocando em Lisboa um Governo sovieto-amigável.
Apanhado pelas costas, foi no Largo
do Carmo, em Lisboa, que em 25 de Abril de 1974 Portugal perdeu o Império o
qual passou, mais ou menos descaradamente, para a esfera soviética.
Entretanto,
em 1961 já se tinham passado para outras esferas de influência o forte
de São João Baptista de Ajudá (Lomé) e o Estado Português da Índia (União
Indiana).
*
* *
No
ínterim, uma nota que pode parecer extemporânea neste local
do presente texto: durante parte substancial do consulado salazarista, o
Director dos Serviços de Informações portugueses (PIDE), o Capitão
Agostinho Lourenço, era homem
de confiança (membro?) do britânico MI6 e, quando deixou de exercer a função em
Portugal, foi para Director Geral da Interpol.
* * *
Identificado
o «Espírito Santo de orelha» do Doutor Salazar, não admira que naquelas épocas
predominasse em Portugal (e, pelos vistos, mais além…) a opinião
de que Bandung e os ditos «não alinhados» não passassem de uma mistificação
totalmente manipulada por Moscovo. Disso dão testemunho (gatos escondidos com
os rabos de fora) as políticas económicas levadas a cabo por Nehru e por
Sukarno nos respectivos países.
CONCLUSÕES:
Os Serviços de Informações do Doutor
Salazar não estavam
organizados apenas à escala doméstica;
É admissível que o Doutor Salazar se
considerasse (e como tal se visse reconhecido internacionalmente) o grande
defensor da Europa contra a sovietização do seu «centro do mundo»;
Num transe tido por global, o
agredido não podia negociar sem que isso demonstrasse fraqueza;
Quando estava em condições de poder
negociar, Portugal capitulou nos bastidores, o Largo do Carmo.
Segue-se a continuação da História…
(continua)
Março de 2021
Henrique Salles da Fonseca
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