Há aspectos, nas opiniões de André Ventura, que parecem certeiros e ditados por
quem se esforça por sair da apatia em que nos quedamos, em relação ao encaixe
das medidas que vão saindo, com que o Governo vai bolando as suas resoluções,
na crise. É o caso – leio no Observador – da questão que aquele pôs “no debate parlamentar bimestral com o chefe
do Governo”:
"No início do seu mandato
disse que a idade da reforma não é para descer. Todos soubemos como a idade da
reforma aumentou esta semana. Num país que dá borlas fiscais à EDP, esbanja dinheiro no
Novo Banco que nunca mais acaba, que paga subvenções vitalícias a presos,
sente-se bem com o facto de serem os pensionistas a pagar a factura da
crise?", perguntou o deputado único da extrema-direita parlamentar.”
Não me parece que a pergunta seja
despicienda, e pelo contrário, denota uma sã questionação sobre questões vitais
para a sobrevivência da nação portuguesa.
Mas, segundo a crónica de JMT, e os seus
comentadores, assim vamos reagindo, entre farsas e comédias, distraindo-nos com
as opiniões deste e daquele, a maioria entretida na gozação, como neste caso,
sobre um André Ventura que, jovem
e corajoso, não se deixa cair na apatia que vai corroendo a sociedade
portuguesa. E isso parece bem positivo.
OPINIÃO A
diabolização pavloviana do Chega é uma burrice
É bom ter consciência de que há um tom
recorrente de humilhação que apenas faz sorrir os convertidos e entrincheirar
os ofendidos. É um tom que acaba por dar trunfos ao Chega, ao ser depois
amplificado até ao zénite da estupidez nas redes sociais.
JOÃO MIGUEL TAVARES PÚBLICO, 18 de Março de 2021, 0:01
Tenho esta tese: André Ventura e os
militantes do Chega dizem suficientes barbaridades para não ser necessário
inventar barbaridades que eles não dizem. É
fundamental que a comunicação social e os comentadores não se transformem em
cãezinhos de Pavlov, que começam a salivar de indignação assim que Ventura toca
à campainha, ainda antes de ele abrir a porta. Não digo isto para proteger
o Chega – pelo contrário. Digo isto para impedir radicalizações
desnecessárias e para não continuarmos a alimentar a fogueira da perpétua
vitimização, onde o Chega vai buscar o seu combustível.
Nuno Graciano foi apresentado como candidato do Chega à
Câmara de Lisboa. É uma novidade importante, porque é a primeira vez que o
partido apresenta a eleições um candidato diferente, e, portanto, será uma
boa forma de avaliar se o Chega consegue ter vida para além do seu líder. A
conferência de imprensa de Graciano foi normalíssima e surpreendentemente
articulada. Só que parece ser sempre irresistível a tentação de sublinhar o
quão horrível a galáxia Chega é, independentemente dos seus protagonistas. Filipe
Santos Costa, na TVI24, recuperou a ideia de Lisboa-capital-do-Minho-a-Timor só
porque a apresentação foi junto ao Padrão dos Descobrimentos, e declarou que,
depois de Nuno Graciano e de Maria Vieira, só faltava o Chega ir buscar os
palhaços Croquete e Batatinha.
Note-se
que aprecio bastante – e até pratico – o humor no comentário político, mas é
bom ter consciência de que há um tom recorrente de humilhação que apenas faz
sorrir os convertidos e entrincheirar os ofendidos. É um tom que acaba por
dar trunfos ao Chega, ao ser depois amplificado até ao zénite da estupidez nas
redes sociais. Um dos momentos mais conseguidos da conferência de imprensa
foi quando Nuno Graciano lamentou o hashtag “Graciano
bom é Graciano morto”, inventado mal se soube que ele seria candidato do Chega
a Lisboa, e o impacto que a sua decisão já estava a ter na sua família e nos
seus quatro filhos. Não custa acreditar que tenha razão: ele foi
transformado em saco de pancada antes de ter pronunciado uma única palavra.
Isso
não é razoável. O Chega é um partido do nosso sistema democrático. Existe
uma imensa diferença entre discordar de forma veemente das suas ideias e
demonizar qualquer pessoa que se atreva a orbitar na sua esfera. Essa
diabolização pisa tanto as fronteiras da democracia como algumas declarações de
André Ventura. Ventura é mau, logo, tudo o que ele diz é mau, logo, os que
estão com ele são maus, logo, todos são horríveis por defeito, logo, se são
carecas devem ser skinheads (levo essa particularmente a peito).
Pergunto: é esse o critério que
usamos à esquerda? Ainda há poucos dias tivemos largas avenidas de
Portugal decoradas com bandeiras do
Partido Comunista, a um ponto tal que um turista distraído pensaria
estar na URSS. Felizmente, sabemos que o PCP não é o PCUS estalinista,
responsável pela morte de milhões de pessoas. Contudo, se usássemos a mesma
lógica do odioso-por-afinidade que aplicamos ao Chega, não seria tudo aquilo
absolutamente obsceno? Não deveria o PCP ficar marcado para sempre com o ferro
do genocídio, e a sua foice e martelo merecer o mesmo tratamento da suástica?
Na medida do possível – e das
regras da Constituição –, os
extremos devem ser integrados no sistema democrático. Combater firmemente as
suas más ideias vale bem a pena. Diabolizar todos aqueles que a elas aderem é
um erro enorme, que se paga caro. Jornalista
TÓPICOS OPINIÃO
CHEGA CÂMARA DE LISBOA ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS ANDRÉ VENTURA PARTIDOS POLÍTICOS
COMENTÁRIOS:
João Santos.499137 INICIANTE: Na maioria das vezes estou em completo desacordo co
JMT, mas este artigo espelha uma verdade difícil de contestar. O crescimento do
Chega assenta em vários fatores, entre os quais a promoção e diabolização da
imprensa sempre, nos últimos tempos ávida de sensacionalismo. Para se manter o
Chega não precisa de muito, basta-lhe estar quieto e observar a restante
paisagem político-partidária, que nunca foi tão fraquinha. Por cada
diabolização é mais um potencial eleitor que aparece. Não chegando diabolizar o
André Ventura, agora até os candidatos deste partido são diabolizados como se
de leprosos se tratassem. Ontem houve eleições na Holanda e o número de
partidos, no parlamento, já chega a 15. é a democracia a funcionar. Cá o ideal
é só 5, tudo o resto é extremista. Só resta sorrir... roberto.gomes.1034586 INICIANTE: 1. É claro
como água que JMT não simpatiza com o
Chega e André Ventura. Dizer o contrário é pura desonestidade. 2. O Chega, e
acho que é isso que o autor tenta dizer neste artigo, só pode ser combatido no
campo das ideias e da democracia. Com raiva e ódio, só o estamos a alimentar,
pois não nos esqueçamos que a génese do partido assenta sobre esses mesmos
valores. Ahfan Neca EXPERIENTE: Pavloviana: Já estou a salivar. Sondagem saída ontem:
Chega 10%, PS 37%, PSD 24%, BE 8%, PCP 5%, CDS 4%. Vai ser preciso todo um
regimento de trauliteiros pavlovianos de esquerda a dizer barbaridades para
atirar o Chega às malvas.
Alexandre Pinto-Fernandes EXPERIENTE: Clarinho como a
água. JMT está carregado de razão. O Bloco faz as propostas mais indecentes
como o roubou de patentes, o saque fiscal, a humilhação dos portugueses que têm
uns trocos no bolso etc. e passa pelos pingos da chuva sem se molhar. O Chega
pode ter mil e um defeitos mas as barbaridades que se escrevem nas redes
sociais sobre ele são em tudo semelhantes àquelas que André Ventura vomita. FMTC INICIANTE: JMT, estou de
acordo consigo, mas o Nuno Graciano diz que foi presidente de uma associação de
estudantes quando na realidade não foi, tem de ser denunciado. jmtavares EXPERIENTE: Com certeza.
Parece que foi vice-presidente. O escrutínio é sempre fundamental, e haverá
muito para escrutinar.
jorge morais INICIANTE: Quero lembrar ao
FTC que o Sócrates também dizia que era engenheiro e afinal não era. Novo Humbo EXPERIENTE: O Chega vai
inchar e desinchar num ciclo tão rápido como rápida e eficaz é a nossa
consciência colectiva relativamente ao que é inequivocamente mau e inaceitável.
Dou 3 a 5 anos para o Sr. (a)Ventura ficar a falar sozinho com os 1500
luso-nazis que são o "core" da sua base de apoio. Não é por acaso que
se olha para o mapa da Península Ibérica e, do que pareceria ser uma
inevitabilidade geográfica - aquela jangadinha de pedra - este rectângulo a
oeste insiste em negar. Construiu-se com muitos séculos de cimento e muito siso
como argamassa. Lá terá que voltar aos programas desportivos, o hitlarilas,
empurrado pelo dito colectivo bom-senso genético. Vão ver. Nelson Sousa EXPERIENTE: Vai inchar e
desinchar mas não assim tão rápido. Depende muito do caminho político que
Portugal seguir. A continuar assim, o inchaço vai ser prolongado. Não é que A.
Ventura seja inteligente ou trabalhe muito. Basta que haja quem seja burro e
faça o trabalho por ele. E isso é coisa que não falta. OldVic1 MODERADOR: … e essa burrice
demonstra que entre o Chega e alguns dos que o combatem da pior forma possível
a diferença que existe é de rótulo. Pedem-nos que os julguemos pelas intenções
e não pelos resultados trágicos das suas ideologias: podemos ser ingénuos, mas
nessa já não caímos. miguelc EXPERIENTE: tem muita razão
jmt, concordo com a necessidade de, democraticamente, não eliminar à partida.
Continua com o paralelismo à esquerda, com que não concordo - os da esquerda
não são potencialmente desumanizantes, o chega sim. Novo Humbo EXPERIENTE: "não são
potencialmente desumanizantes"...!!?? Todo o vector filosófico e prática
política da "esquerda" é o esmagamento do indivíduo em benefício
tribal de um "colectivo" imaginário. Criar o "homem novo" -
lembra-se? - sempre fez passar todo o tipo de atrocidades (…as de proporções
bíblicas e as mais comezinhas...) como actos virtuosos. Não estranhe os
paralelismos. Aqueles são umas bestas e os outros, também. miguelc EXPERIENTE: o PC anda cá há
décadas - o que fez/propôs que nos tornasse uma sociedade menos humana e
inclusiva. A mesma pergunta acerca do BE. Algum destes tem alguma acção/proposta
que nos torne uma sociedade menos saudável (opções económicas à parte)? É que o
risco do Chega está nestas coisas. Eu acho que na realidade objectiva comparar
uma coisa com a outra é demagogia, mesmo que na definição filosófica de ambas as
partes sejam extremistas. OldVic1 MODERADOR: O PREC, o apoio
incondicional a ditaduras do seu campo ideológico, a constante proposta de medidas que atentam contra a
liberdade individual, etc. E se entrarmos em linha de conta com os partidos
fundadores do BE, todas essas coisas também lhe podem ser atribuídas. Adolfo-Dias EXPERIENTE: Bom artigo, JMT.
Claro que já houve aqui quem dissesse que está a defender ou a branquear o
Chega, mas isso é gente que não percebe (ou não quer perceber), e por isso
distorce os escritos. bukowski INICIANTE: Tu é que não
percebes nada. Não sabes ler nas entrelinhas, otário. Isto é um apologismo do
Chega, puro e duro. Mas claro que o JMT não vai dizer isso explicitamente. Ahfan Neca EXPERIENTE: Pelos vistos,
temos dois tipos de trauliteiros contra o Chega. Os trauliteiros parvos que
dizem barbaridades e os trauliteiros inteligentes como o JMT que deixam que
seja o Chega a dizer as suas barbaridades. A minha questão perante tanta
trauliteirice é a seguinte: é mesmo preciso haver um corpo de trauliteiros
especializados em Chega? Quem lhes passou a carta de alforria? Não serão eles
os maiores de todos os bárbaros? Mario Coimbra: INFLUENTE: Esta crónica é válida
para o Chega como para qualquer partido com ideias mais extremistas. É na casa
da democracia que temos que combater estas chagas e correr riscos ao combatê-las.
Elas podem mesmo chegar ao arco da governação. E para quem não gosta, existem
rennies e outros comprimidos. Custa muito mas é assim a democracia.
Ventura questiona idade da reforma e
subsídio para PSP e GNR. Costa garante ambos
Presidente
do Chega ouviu o chefe do Executivo adiantar que as compensações a agentes da
PSP ou a militares da GNR estão a ser regulamentadas "por portaria".
O presidente do
Chega questionou esta quarta-feira o primeiro-ministro sobre o anunciado
aumento da idade da reforma e a falta dos subsídios de risco para forças de
segurança e António Costa garantiu que o limite de idade vai baixar já em 2022.
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