De ALBERTO
GONÇALVES.
Terraplanistas são eles /premium
A “ciência” viu-se apropriada por devotos da virologia
de veterinários, da fancaria das TVs e da hipocondria do inquilino de Belém.
Isto é, por místicos que não fazem a mínima ideia do que é a ciência.
ALBERTO GONÇALVES,
Colunista do Observador
OBSERVADOR, 27 mar
2021
Antes
da Covid, o “argumento” mais revelador da falta de argumentos e de neurónios de
quem o utilizava era o da Rennie.
Quando alguém confrontava um palerma com alguma coisa que lhe desagradasse, o
palerma respondia imediatamente: “Toma Rennie que isso passa”, e a
seguir retirava-se triunfante e seguro de que ganhara o debate. Num país cujo
serviço de saúde não colapsasse à primeira oportunidade, o palerma ganharia a
avaliação de uma junta de psiquiatras, mas esse é outro ponto. Aqui, o ponto é
o recurso ao refluxo gástrico, vulgo azia, para encerrar uma
discussão. Às
vezes, o Kompensan
substituía a Rennie, embora
não houvesse massa encefálica que substituísse o ar morno na caixa craniana
dessa gente. Bons tempos.
Em
tempos de Covid, e contra todas as expectativas, o nível da “argumentação”
conseguiu baixar. Hoje, a
turba indistinta do “fique em casa”, do “confinamento” eterno e das máscaras
permanentes é tão desprovida de razão que faz o pessoal da Rennie parecer
sofisticado por comparação. O caso é particularmente irónico na medida em que,
no lugar dos antiácidos, a nova estirpe de magos da retórica invoca a ciência. Ou melhor, aquilo que julga ser ciência, na
verdade umas curvas estatísticas
apresentadas em reuniões no Infarmed por matemáticos e veterinários desejosos
de agradar ao governo. Não
importa que as curvas sejam inúteis a descrever o presente e desastrosas a
prever o futuro. Não
importa que ninguém perceba a sensatez de trucidar uma economia débil a partir
de curvas mal amanhadas. E não
importa que as curvas se limitem a confirmar as conclusões previamente tomadas
pelo dr. Costa e pelo prof. Marcelo: manter os cidadãos em clausura parcial,
rebentar com a iniciativa privada e produzir mais dependência face ao Estado e
às quadrilhas que o controlam. Importa que, na cabeça dos tontos, as curvas e
as desumanas restrições que delas “decorrem” são “ciência”. E importa sobretudo
que, armados com solenidade “científica”, os tontos se sentem habilitados a
insultar e perseguir quem deles discorda.
Quem sugerir que o estado de
emergência não é adequado para lidar com uma doença que quase só afecta
gravemente velhos é “negacionista”. Quem
lembrar que teria sido decente proteger os velhos, em alternativa a prender a
população em peso, é “terraplanista”. Quem notar que a evolução da Covid
não depende exclusivamente de “confinamentos” e regras abstrusas é “medieval”. Quem inventariar os países e as regiões
em que a falta de “confinamento” e de regras abstrusas coabita com o decréscimo
nos infectados e nos mortos é “conspiracionista”. Quem insiste em conviver com familiares e amigos é “bolsonarista”. Quem repara que o Brasil tem menos
mortos “com” ou “de” Covid do que Portugal é “primitivo”. Quem não respeita as normas decretadas por governantes que não se dão
ao respeito – nem respeitam as próprias normas – é “fascista”. Quem
questiona a prepotência é “nazi”. Quem
não sai de casa sem se disfarçar de iraniana ou assaltante de bancos é
“anti-social”. Quem não reduz a vastidão do universo a um vírus é
“inconsciente”. Quem recorda que a existência implica sempre riscos é
“criminoso”. Quem previne que esta demência colectiva terá consequências muito
feias para todos, excepto para os irresponsáveis que a provocaram, é
“assassino” e indigno de merecer o proverbial ventilador no dia em que precisar
de um.
Estamos nisto. É, literalmente, o mundo ao contrário. De repente, a “ciência” viu-se apropriada por devotos
da virologia de veterinários, da fancaria dos telejornais e da hipocondria do
inquilino de Belém. Ou seja,
por místicos que não fazem a mínima ideia do que é a ciência. Boa parte destes “cientistas” instantâneos até se diz
de esquerda, o que os coloca logo no mesmo campeonato da credibilidade de astrólogos,
cartomantes, homeopatas e cultores do Feng Shui. Muitos não sabem ler uma tabela estatística. Muitos
são incapazes de alinhavar uma frase sem dois erros ortográficos e três de
sintaxe. Muitos julgam que Steinmetz é um defesa do Dortmund. Mas nenhum abdica de uma ideia
infantil acerca do que é ciência para fundamentar o seu dogmatismo.
Em
circunstâncias normais, não custaria deixar os fanáticos a berrar sozinhos e
assistir de bancada ao espectáculo. Afinal, há certa graça em ver em acção as
principais características do método científico: a intolerância, a fúria e a vontade de
enfiar blasfemos na cadeia ou na fogueira. A
chatice é que as circunstâncias não são normais, e estes adeptos do pensamento
mágico (sem a parte do pensamento) não contam apenas com a força da cegueira,
que já é bastante. Para azar dos que prezam a civilização, os
fanáticos contam com a força literal, a dos senhores que legislam alucinações e
a da polícia que as executa. A
boçalidade, enfim, tomou por completo o poder, através dos que o ocupam e
através dos que os apoiam. Salvo
milagre, os factos estão condenados a subjugar-se a indivíduos que enchem a
boca com ciência como antes a enchiam com liberdade, embora desconheçam a
primeira e detestem a segunda. Terraplanistas, negacionistas e primitivos são
eles.
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COMENTÁRIOS
Carlos Grosso: Todo este carnaval chegaria depressa ao fim se fosse aprovada uma lei que
diminuísse, na mesma proporção, o rendimento dos funcionários públicos relativamente
aos privados. Eu sou funcionário público.
Esta fantochada não afectou em nada, de momento, o meu rendimento. Mas não ser
capaz de olhar para o que aconteceu aos outros, não ser capaz de pensar no dia
de amanhã, é triste, desumano, criminoso. Tristeza
Pakivai: Há vários tipos
de negacionistas. Há aqueles básicos que são contra ou desconfiam de tudo o que
seja dito por pessoas qualificadas, sejam eles cientistas ou outro tipo de
especialistas, pois acham sempre que estes os estão a querer enganar. Estes
procuram todo o tempo de verdades alternativas no submundo da internet e redes
sociais para alimentar as suas teorias da conspiração. Depois há aqueles que
até são dotados de alguns neurónios, mas que recusam aceitar verdades
inconvenientes, verdades que mostram o quão errados estavam, como acontece por
exemplo com aqueles que defendem que o holocausto nunca existiu. É nesta
categoria que encaixa AG. Manuel Ferreira21
> Tristeza Pakivai: O Holocausto existiu como o
Holodomor (genocídio de milhões de ucranianos) e os Gulags (sistema prisional
com trabalhos forçados para criminosos e presos políticos). Os comunistas como
a Rato do Museu não sabem de nada. Luis Martins:
Como não fazem ideia do que é a ciência? O dr Costa é
o maior sábio de Portugal, tipo rei-sol e o Marcelo o grande ancião tipo
oráculo mitológico ou, pelo menos, comportam-se como tal. Técnicos e cientistas
para quê? Eles sabem tudo. Graças a Deus que temos os mãos largas e generosos
Costacovid e o Marcelinho na liderança ao invés de líderes frugais europeus...
Com estes 2 líderes é sempre a subir mas nos parâmetros mais negativos claro,
naqueles que nos garantirão que seremos a curto prazo o país mais atrasado e
pobre da zona UE, a Bulgária pode estar descansada que a concorrência tuga é de
grande qualidade e peso. João Manuel Maia Alves:
Gostava de ver
este fulano a mandar um mês. Tristeza Pakivai:
O que o Gonçalito
queria era ver isto tudo transformado em spring breakers de Miami, mas o melhor
que tem são meia dúzia de gatos pingados a tocar jambé no Rossio. É tramado... Rui
Machado: Alberto, Este
País é para velhos. É como uma espécie de ironia perversa: voltámos à
Ditadura pela mão de um Marcelo afilhado de outro ditador chamado Marcelo. Dois
velhos ditadores indiferentes à realidade. Dois fanáticos. Se antes se vivia da
exploração das colónias, agora somos vivemos da grande Teta Europa. A diferença
para pior mesmo é a qualidade dos ministros... João
Manuel Maia Alves > Rui Machado: Marcelo era afilhado do Eng. Camilo de Mendonça, não
do outro Marcelo. Manuel
Ferreira21: Excelente artigo.
Faltou referir, desta vez, o colaboracionismo do jornalixo cá do
"sítio". Não concordo totalmente com o AG nas suas teses, mas chega de
verdade Oficial. Ciência é dúvida e começam logo por negar um dos pais da nossa
ciência: Descartes. Temos direito à discussão e
vejam bem: a Índia e o Brasil têm menos mortes por Covid que nós! Onde
passa esta verdade na comunicação social? Maria Pedro: Touché, Caro AG.
Aos “ líderes”
cá do sítio só interessa a sua manjedoura, nem que para isso tenham de rebentar
com o país. Hoje Gonçalves traveste-se de Kuhn com
acenos a Proust... Eis o descoberto filósofo da ciência sobressaltado dans l'air du temps ... Maria Augusta: Eu diria que os terraplanistas
xuxarecos e os cartomantes comunas não vão gostar deste artigo do AG.
Não tarda nada e
eles aparecem por aí para o insultar. No circo levantam-se cedo como toda a
gente sabe. Tristeza
Pakivai > Maria Augusta: Levantam-se cedo, sim sra, por isso é que também já cá
estás, certo Maria? Jose Costa: Muito bem. Nos livros do
Astérix, eles apenas tinham medo que o céu lhes caísse na cabeça. A nós
caiu-nos o socialismo e ninguém tem medo! Carlos Quartel: Continua a campanha negaciocionista,
sem argumentação. É uma fezada do autor, é uma convicção e é também pouca
capacidade de raciocínio. A informação é vasta, os exemplos vários, onde há
confinamento as mortes diminuem, nos países da balda escasseia madeira para os
caixões. Nova Zelândia, Austrália, Coreia do Sul, Japão, "confinadores" a
comparar com os "inteligentes" USA e Brasil. O que dá que pensar é o que
leva alguém a estas posições de ridículo, será uma nova versão do politicamente
correcto ??? Será que acham bonito e "cool" juntar-se aos motoqueiros
americanos de 140 KGs ?? Ou pura vaidade pessoal, como o caso do juiz de Odemira ?? António
Silva: Infelizmente não
adianta tentar iluminar cabeças quando a lâmpada, há muito, se encontra
fundida. Ainda julgam que o COVID provém de uma “ferradela” de um morcego num
mercado chinês e que o barco encalhado no canal de Suez foi um mero acidente.
Não, este é o maior ataque não
declarado ao ocidente. A economia está a ficar arrasada e as guerras hoje
começam a ser vencidas pela economia pois não se ganham guerras sem economia. JB Dias: Saber juntar as letras em nada
ajuda quem não é capaz de entender o que lê e ainda menos é capaz de pensamento
autónomo ... com raras e honrosas excepções, a "geração mais bem preparada
de sempre" não parece fazer minimente jus ao chavão! Coronavirus
corona: Não adianta. Não
adianta mostrar que o Brasil tem menos mortos por milhão que Portugal. Não
adianta mostrar que, de repente, os EUA desapareceram das notícias. Não
adianta mostrar que a Suécia, onde não há a obrigatoriedade de máscaras em
nenhum lado, onde nunca fecharam cafés e restaurantes, tem menos mortos por
milhão que Portugal. É incrível como uma coisa ridícula e sem nexo, desde que
devidamente injectada pela propaganda estatal, consegue enraizar-se como uma
verdade científica. Isto só demonstra uma coisa: não, não foi pelo facto dos nossos
antepassados serem analfabetos que Salazar esteve no poder. Essa ideia, snob
por natureza, já era desmentida com o exemplo alemão, onde uma população
alfabetizada tinha posto no poder um tirano. Mas agora podemos constatar na
prática: se esta população de hoje fosse transposta para 1930 tínhamos acolhido
Salazar. Com mais fervor que os portugueses daquela época. Porque a
escolaridade para muitos só serviu para serem lobotomizados pela ideologia vigente.
Saber juntar as letras não torna a pessoa mais perspicaz. Manuel
Ferreira21 > Coronavirus corona: Muito bom comentário, parabéns! Rui
Machado > Coronavirus corona: É o círculo perfeito. O velho
ditador Marcelo de 74 passa testemunho ao velho Marcelo de 2020. Ambos
desfasados do tempo e da razão Maria Jordão
> Coronavirus corona: Gosto
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