Da Internet extraio os dois textos que seguem, - o soneto de Florbela Espanca às Árvores do Alentejo, e o texto em prosa sobre a importância do velho sobreiro, descascado, que fornece a este país, desde há muito, as rolhas do seu sustento, servindo a cortiça, além do “vinho do Porto” e do azeite, para manter, desde há muito, o prestígio exportador do nosso pacífico território.
1 - ÁRVORES
DO ALENTEJO
Ao Prof Guido
Battelli
Horas mortas... Curvada aos pés do Monte
A planície é um brasido... e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a bênção duma fonte!
E quando, manhã alta, o sol pesponte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!
Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!
Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
- Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água!
2 - Alentejo
O sobreiro é um “escudo protector” no combate às
alterações climáticas
Regional 02
Out. 2019
Apesar
de ameaçado pelo aumento da temperatura, a diminuição da precipitação e o empobrecimento
dos solos, o montado tem potencial para resistir e ainda ajudar a travar a
desertificação que ameaça o Alentejo.
O
montado (sobreiro e azinheira) é um suporte essencial à nossa biodiversidade e
aos ciclos da água e do clima, sendo mais resistentes aos fogos e dando um
contributo muito importante de CO2.
Anualmente,
os gases de efeito estufa emitidos que resultam de incêndios e desmatação de
florestas, são superiores aos resultantes dos veículos e indústria.
É
necessário não apenas reduzir as emissões, assim como plantar e preservar as
florestas, para fazer face às alterações climáticas.
O montado é uma espécie de floresta
montada pelo homem, que domina a paisagem alentejana, composto maioritariamente
por sobreiros e azinheiras. É um bosque ordenadamente alinhado e
organizado, planeado estrategicamente, visando proteger o sobreiro, responsável
pela produção de cortiça e ressalvando o papel de destaque que Portugal tem
como maior exportador desta matéria.
A
biodiversidade dos montados caracteriza-se pela prevenção que traz aos fogos,
pelas ervas aromáticas que o envolvem e pelas espécies animais que abriga,
desde o porco alentejano à cabra serpentina.
Felizmente que, para além das rolhas e de algumas solas, a cortiça vem
agora a ser explorada para tapetes – para mais de ioga, propícia à meditação
dos mais sedentos - e o texto de Inês
Duarte Freitas sobre a americana sábia que
lança a nossa cortiça no fabrico de tapetes para o bem-estar meditativo, traz-nos
uma esperança de vida, a nós que, como Florbela, também andamos há muito a clamar pela gota de água
da nossa sede territorial. Ficaremos, pois, gratos à americana Christine Moghadam por ajudar à
economia, mas, sobretudo, por amar o país de tantos nossos complexos…
Uma americana apaixonou-se pela cortiça
portuguesa: assim nasceu a Corc Yoga
Com recurso apenas a cortiça, os
tapetes de ioga são hipoalergénicos e antimicrobianos. Em 2021, Christine
Moghadam quer conquistar o mercado europeu a partir de Portugal.
PÚBLICO, 29 de
Março de 2021
Antes de 2016, Christine Moghadam
nunca tinha ouvido falar de Portugal, muito menos de cortiça. Pouco mais de um
ano depois, a americana fundou a Corc Yoga — uma marca de colchões de ioga
sustentáveis feitos a partir de cortiça, 100% produzidos em Portugal. Em 2021,
quer começar a conquistar o mercado europeu a partir da “ocidental praia
lusitana”.
Foi
num “período muito difícil da vida” que Christine Moghadam conheceu Portugal,
conta a empresária americana ao PÚBLICO. “Fechei os olhos e pus o meu dedo num
mapa e disse: ‘Onde o meu dedo aterrar, é para onde iremos.’ E acertou em
Portugal”, recorda. Num passeio por Lisboa, as peças em cortiça — típicas
das lojas para turistas — chamaram-lhe a atenção, explicaram-lhe o tipo de
material e que era tipicamente português.
Quando
regressou a casa, no Sul da Califórnia, começou a fazer pesquisa intensiva
sobre cortiça. “Nasci na costa do Noroeste Pacífico, em Washington, conhecida
como a zona mais verde dos EUA, e sempre fui fascinada por árvores. O que mais
me fascinou com os sobreiros é que, quando se remove a casca, é terapêutico
para a árvore”, explica,
acrescentando que se tornou “uma nerd da cortiça”, ou seja, alguém
que sabe e pesquisa obsessivamente sobre determinado tema.
“Quanto mais estudava a cortiça,
mais começava a perceber Portugal como um todo e a sentir uma ligação.” A sua paixão pelo ioga —
um refúgio para a saúde física e mental — fez com que pesquisasse e descobrisse
que “não havia um tapete que fosse
feito de forma tão sustentável quanto pode ser com cortiça”. Voltou então a Portugal com o plano traçado e
visitas marcadas a fábricas de cortiça. Apenas uma se mostrou disponível para
embarcar no projecto e criar um tapete feito apenas de cortiça, sem borracha.
Ser o mais sustentável possível é o mote da Corc Yoga, que
quer também “fazer uma ponte entre o
ioga e a saúde mental”, duas das grandes paixões de Christine Moghadam.
Aliás,
a marca tem,
desde o primeiro dia, uma parceria com a associação portuguesa Desafio
Jovem. Parte dos
lucros da venda dos tapetes de ioga destina-se a ajudar jovens com
comportamentos aditivos. “Temos de cuidar do nosso corpo inteiro. Sou uma
grande crente nisto: é tão importante fazer exercício como é cuidar da nossa
mente”, defende a empresária.
O que torna este tapete tão
especial?
Christine Moghadam sabe resumir de trás para a frente e da frente
para trás o processo da cortiça. Depois de se retirar a casca
ao sobreiro, é necessário que seque ao ar durante nove meses. Os pedaços de
casca são depois cuidadosamente seleccionados e granulados em tamanhos
diferentes. Só depois a cortiça é prensada — “é o processo que lhe dá
valor”, sublinha a empresária.
Demoraram seis a oito meses a
encontrar o tapete de ioga perfeito. Tipicamente,
é a borracha que dá a flexibilidade ao tapete, mas usar plástico estava fora de
questão. Com recurso apenas a cortiça, os tapetes da Corc
Yoga são hipoalergénicos e antimicrobianos. “O ioga tem tudo que ver com
a respiração, e quando se inspira e a pele está em contacto com o
tapete, nenhum químico da cortiça é prejudicial para o corpo”, assegura. Os
tapetes já foram, inclusive, usados num projecto de recuperação de doentes de
cancro da mama, por não acumularem pó ou micróbios, avança.
Desde 2017 que a Corc Yoga estava focada no mercado norte-americano,
mas “é muito difícil”, lamenta a empresária, que explica que aquele “não
percebe o valor” deste material. Por
isso, o objectivo agora é conquistar o mercado europeu, onde, até agora, os
tapetes só estavam à venda em hotéis de luxo. A marca está “tão ligada a
Portugal que faz mais sentido que nos estabeleçamos no país
de origem, de onde é tudo”, defende
a empresária, que planeia mudar-se em breve para o país.
A
norte-americana reconhece que os tapetes, com preços a partir de 145 euros, são
para “um mercado de nicho”, mas garante que “não é sobre o dinheiro, mas
sobre as pessoas”. Com esse espírito, está a organizar o retiro The
Renewal em Évora, entre os dias 27 de Junho e 3 de Julho. “Não é só um retiro,
é uma extensão da marca, onde as pessoas podem experienciar o que é a Corc
Yoga”, informa.
Durante
uma semana, os participantes —
para já, são sobretudo americanos —
vão fazer ioga, meditação, workshops de culinária, provas de vinho
e azeite no Ecork Hotel. Christine Moghadam considera que esta é uma forma de retribuir a
Portugal, “depois de um ano em que o turismo perdeu tanto”. Não tem
quaisquer laços familiares ao país, mas, garante, já se sente totalmente
portuguesa.
O que anda a ser feito em cortiça?
Segundo
a Associação
Portuguesa da Cortiça, 34% da área mundial do montado
do sobro localiza-se em Portugal. Aliás, 49% da cortiça de todo o mundo é de
origem portuguesa. Ainda que
72% dos produtos tenham como destino a indústria vinícola — há muito
mais a ser produzido com recurso a este material 100% natural.
São
exemplo os Sugo Cork Rugs — a primeira marca mundial de tapetes a
incorporar a cortiça em técnicas tradicionais de tapeçaria. Já existem desde
2017, mas lançaram agora uma novidade: os Wall Rugs, tapetes de parede
feitos à medida.
Os tapetes em cortiça portugueses
estão no Palácio de São Bento, a
residência oficial do primeiro-ministro. A Sugo Cork Rugs também está no edifício Justus-Lipsius, em
Bruxelas, no âmbito da Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia
(PPUE).
ASPORTUGUESAS já é conhecida há vários anos pela
utilização da cortiça na sola de sapatos. Há pouco tempo, lançaram o modelo Zero Waste, que
usa uma sola que, além de aproveitar os excedentes de cortiça, junta uma gáspea
de fibra natural biodegradável produzida a partir de folhas de ananás. Estrearam, ainda, a linha FLOW, com uma sola ainda mais leve, para proporcionar
um conforto inigualável e potencializar o contacto directo dos pés com a
cortiça.
O grupo Amorim Cork
Composites — especializado em produtos em cortiça — lançou também duas novidades: as linhas Materia e Alma Gémea. Esta
última une a cortiça à cerâmica da Matceramica. São vários produtos para
casa e cozinha que usam a cerâmica como base e são complementados com cortiça. A Materia dedica-se a objectos de decoração em
cortiça, desenhados por vários designers, nomeadamente Miguel Vieira
Batista.
TÓPICOS
ÍMPAR BEM-ESTAR
CORTIÇA
IOGA DESIGN PORTUGAL AS CARAS POR
TRÁS DAS MARCAS
COMENTÁRIOS:
Manuela INICIANTE: A
minha escola de yoga, em Matosinhos, já utiliza tapetes de yoga de cortiça há
anos,... nada que ninguém venha descobrir agora,... 29.03.2021
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