O que se analisa hoje, no texto de Salles da Fonseca, preocupado
e dinâmico sempre: segundo as perspectivas da actual inversão ética, que assentava
no trabalho repartido e nos valores da moral religiosa mas que os zelosos da
justiça achando que não havia igual correspondência nos lucros, trataram de destruir
para igualar, porque a igualdade de direitos foi a grande batalha a parecer
justa. O certo é que o caos se instalou de vez, com as batalhas de rua e as
montras partidas, a substituir as batalhas campais de outrora, resultantes,
essas, da ambição de domínio das nações fortes ou dos homens de coragem. Hoje,
as ambições estão mais controladas e desapercebidas porque se manifestam
escondidamente, no segredo da falcatrua e do ardil. Mas o mundo “pula e avança” na mesma, mesmo com a
natureza a colaborar na batalha, e haverá sempre quem escape, tenhamos
esperança. Pelo sonho, também, poderemos escapar, como já dizia Sebastião da Gama, que morreu cedo, a provar o contrário.
Mas os versos ficaram, e igualmente os seus outros escritos patéticos, que também
contribuíram para a desordem, com essa tal de bondade…
Pelo sonho é que vamos,
Comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não frutos,
Pelo Sonho é que vamos.
Basta a
fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
Que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
Com a mesma alegria,
Ao que desconhecemos
E ao que é do dia-a-dia.
Chegamos?
Não chegamos?
-Partimos. Vamos. Somos.
HENRIQUE
SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 20.03.21
ou
DAS PEDRAS DA CALÇADA
A
propósito do meu escrito «MOVENDO MONTANHAS», o meu Amigo Dr. …(mantenho o
anonimato por que ele optou)… enviou-me o seguinte comentário que muito
apreciei e me levou a pensar em Gilles Lipovetsky:
«M/ Caro Dr. Salles da Fonseca, Viver sempre foi perigoso - e
hoje os perigos nem sequer são mais
agudos, muito pelo contrário. Só que nós, ocidentais, nos tornámos sociedades hedonistas que se sentem
perdidas quando se vêem fora das suas bolhas de segurança e de prazer.
O chato é que a História nos mostra que sociedades hedonistas não têm grande
futuro.»
Para
mim, este comentário vale por si próprio e muito mais do que o texto comentado
e, sobretudo, porque num ápice nos remete para o sumo do livro «A ERA DO VAZIO»
do Autor que cito.
*
* *
Ao
estilo de duas ou três pinceladas de Picasso…
… tudo
começou com a perda do medo da ira divina e com a militante laicização
dos processos sociais – o
Modernismo, com o Poder de inspiração divina a ser substituído pelo de génese popular. A não muita distância, a perda das normas
da moral estrita em que os séculos anteriores haviam enquadrado os nossos
antepassados de então - agnosticismo
e ateísmo de tendência amoral a que há quem chame Pós-Modernismo, «anarcho
friendly». Seja!
A
partir do momento em que se deu início a um meticuloso processo de
desregulamentação, a fragilidade
da ética laica
evidenciou-se até ao limiar do crime. Assim se criaram espaços de livre
movimentação que são amiúde utilizados fora das rotas do bem-comum.
Livres de constrangimentos bélicos, desconfinadas de rígidos códigos
éticos, orientadas por quadros legais de índole benigna gerados em consenso por
estruturas políticas pluripartidárias, as
sociedades ocidentais, depois de reinventarem a globalização, de vencerem a Guerra Fria e
de esvaziarem o conteúdo da actuação sindical dos «colarinhos azuis», gerem
a paz em ambiente de descontracção e a seu bel-prazer - o reino do hedonismo. E porque
vida só há uma, acresce o «carpe diem».
Sociedades do prazer, pelo prazer e
para o prazer e, tudo, já!
Assim,
a questão que se coloca é a de saber se um tal modelo é
sustentável.
O
primeiro abanão é este por que ora passamos, o do pandémico Covid que começou por ser 19 e já vai no 21. O prazer
ruiu e a pergunta seguinte é: - E
agora?
Agora vamos ter que optar entre
continuarmos ou não a assentar num modelo
cada vez menos produtor de bens transaccionáveis e cada vez mais assente em
serviços mais ou menos transaccionáveis, globalmente distantes da
autossuficiência cujo
défice
é suprido por quem não tem um quadro
jurídico benigno, não respeita os
Direitos Humanos e nos destrói com os
vírus que liberta; vamos ter
que optar por voltar a sujar as
mãos ou continuar
a importar quem nos desentupa os esgotos, pinte as paredes e esquadrinhe as
pedras da calçada; enfim, temos que optar entre continuarmos a consumir prazeres efémeros e autofágicos
no vazio de sonhos mobilizadores ou encontrar um rumo
democrático que reponha os grandes objectivos no horizonte de sociedades livres
que queremos continuar a ser. E esta
última perspectiva, sem opção alternativa.
Sonho, procura-se!
Março
de 2021
Henrique
Salles da Fonseca
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