Fomos – ainda somos, apesar de uma progressiva grosseria e sem-cerimónia no trato – um povo do fado, dos coitadinhos e das coitadinhas, e simultaneamente dos doutores e doutoras, (sucessores, estes, dos títulos da heráldica antiga), e para obviar a essa linguagem – quer a melada, fruto de uma sensibilidade ternurenta mas esmagadoramente rebaixante de uma condição humana que se preze, quer de arrogante preconceito insuportável - numa sociedade dos nossos dias que se pretende igualitária - para obviar a tais disparidades, criou-se um ridículo jargão que não é carne nem peixe, destinado a eliminar todo o tipo de distinções que não contemplem esse igualitarismo social, proposto pelas delicodoces (dependendo, é certo, dos seus alvos) – doutrinas em vigor. O texto de Alberto Gonçalves, uma vez mais chama a atenção para essa ficção moralizadora que preside à criação desse jargão ridículo, destinado a poupar as novas sensibilidades, substituindo designações antigas de uma gramática e de um léxico ultrapassados, em complicação vocabular insidioso e ridículo.
Quando nos tomam por retardados, perdão, pessoas com limitações cognitivas /premium
Há uma ofensiva em curso contra o
nosso passado, o nosso presente e o nosso futuro, a fim de construir o “homem
novo”, na terminologia em desuso, ou o “novo normal”, no repulsivo jargão em
voga.
ALBERTO GONÇALVES Colunista do Observador
OBSERVADOR, 20 mar
2021
Parece
que existe um penduricalho chamado Conselho Económico e Social, que ninguém
sabe para que serve [Nota do CES: Serve a promoção da
participação dos agentes económicos e sociais nos processos de tomada de
decisão dos órgãos de soberania, no âmbito de matérias socioeconómicas, sendo,
por excelência, o espaço de diálogo entre o Governo, os Parceiros Sociais e
restantes representantes da sociedade civil organizada]. Não servindo para a essa linguagem nada [Nota
do CES: Falso. Ver nota anterior], é natural
que as criaturas que lá caíram se sintam obrigadas a entreter o ócio e
justificar, ainda que em vão, o salário [Nota do CES:
Calúnia! Nós trabalhamos imenso].
Nesse
sentido, uma senhora do CES, Sara Casaca [Nota do CES: É
abusiva a presunção de que Sara é nome de mulher, e que a/o dra./dr. Sara
Casaca se define enquanto tal], resolveu
amanhar um manual de 16 páginas destinado a promover o uso de “linguagem
neutra e inclusiva” em “documentos
oficiais”. Podia ter-lhe dado para fazer um “cheesecake” que
adoçasse as reuniões [Nota do CES: Repulsivo e estafado
estereótipo que relaciona as mulheres com a cozinha – tolerável se a dra. ou o
dr. Sara Casaca se definir como homem].
Mas não, deu-lhe para o manual.
E
o que quer o manual? Quer que as pessoas passem a falar a língua de trapos da
“correcção política” [Nota
do CES: Nítida má-fé. A designação é “linguagem neutra e inclusiva”], no pressuposto de que o português autêntico [Nota
do CES: Autêntico, não: ofensivo] ofende [Nota
do CES: Isso] os
patetas [Nota do CES: E as patetas] mais “sensíveis” [Nota
do CES: Naturalmente que sim, coitadinhos e coitadinhas].
O manual fornece uma data de
exemplos. Pelos
vistos, referir “os contribuintes” exclui e ofende as mulheres que pagam
impostos. Logo, o manual recomenda [Nota do CES: E muito
bem] que se diga “os
contribuintes e as contribuintes” ou “as pessoas contribuintes”. No caso em
apreço, o que me ofende é a contribuição propriamente dita, leia-se o roubo dos
meus rendimentos para patrocinar lixo [Nota do CES: O
cumprimento das regras fiscais é um acto de cidadania e o “lixo” a que o autor
irresponsavelmente alude inclui instituições vitais à democracia como, não
desfazendo, o CES].
Além
das tretas de “género” [Nota
do CES: Isto é inaceitável], o manual
não se esquece dos eufemismos:
as pessoas deficientes transformam-se em meras “pessoas com deficiência”,
embora continuem cegas ou mancas [Nota do CES: Isso está
por provar]. E os ciganos passam a implicar os
substantivos “etnia”, “comunidade” ou “povo”, como em: “Fascina-me a cultura da
comunidade cigana” [Nota do CES: Também a nós].
Isto
é grave? Depende da perspectiva. Por um lado, a língua que por aí se fala, do
jornalismo à administração pública, já está tão estuprada com “empoderamentos”,
“resiliências”, “sinalizações” e “pró-actividades” que é difícil ficar pior [Nota do CES: Não percebemos]. Quando, nas televisões, “comentadores” iniciam
frases por “Dizer que…” e não há risos generalizados, constata-se
que não vale a pena. Quem ainda sabe escrever e falar mete-se na sua vida e
deixa ministros e treinadores partilharem grunhidos, “identitários” ou não [Nota
do CES: Dizer que selvagem é o #&%*@].
O
problema é o “conteúdo” destas palermices [Nota
do CES: Mau!], que não
difere na essência das tentativas de punir o piropo, demolir o Padrão dos
Descobrimentos e “contextualizar” Eça de Queiroz. A ideia é
alterar a realidade até esta se parecer com os unicórnios [Nota do CES: E as unicórnias] que povoam as cabeças dos moralistas [Nota do CES: Das pessoas
moralistas]. O controlo da linguagem destina-se a
controlar os comportamentos e não é nada de novo. Sob cognomes e pretextos
diversos, beatos e inquisidores [Nota do CES: População
beata e inquisidora, se faz favor] nunca
faltaram, empenhados em martelar a humanidade para encaixá-la nas
medidas do Bem. O
pormenor de agora se inspirarem em metástases do marxismo não os distingue
particularmente dos que agitavam interpretações literais das escrituras: o
fanatismo não tem género, raça ou credo. Exactamente por isso, o objectivo dos
fanáticos [Nota do CES: E das
fanáticas] é dividir as
pessoas por género, raça ou credo. Para reinar, escusado acrescentar.
O
que fazer, como perguntava um santo padroeiro destes transtornados e
transtornadas [Nota do CES: Muito bem]? Num
mundo ideal, enquanto não reabilitassem os autos-de-fé, os campos de reeducação
ou os saneamentos à Saramago [Nota
do Alberto Gonçalves: Cof, cof], eu
recomendaria ignorar essa gente. Os progressos da caça às bruxas tendem a
devorar-se a si próprios: cada campeão da virtude conta com um virtuoso maior
pronto a destruí-lo. Com jeito, chegaria o belo dia em que não sobraria
virtuoso [Nota
do CES: E virtuosa, caramba!] nenhum
e os indivíduos [Nota do CES: Na falta de feminino, abole-se o
indivíduo] saudáveis seguiriam em paz.
Infelizmente, não vivemos num mundo
ideal. E vivemos num país muito aquém disso. A história da Covid mostrou a
ligeireza com que se abdica da liberdade em benefício de dogmas e patranhas.
Uma população que, sobre os “confinamentos” e as “emergências”, engole a
“ciência” despejada pelos “telejornais”, engole tudo. Quando não engole à
primeira, surge-lhe a polícia com o livrinho de multas e o bastão para engolir
à segunda. Se até em
sociedades civilizadas a educação das almas causa danos irreparáveis, nas
sociedades sem grandes hábitos democráticos é muito simples submeter um povo
aos delírios de um punhado de parasitas. Basta os parasitas [Nota do CES: E as parasitas] assim decidirem.
Aprisionar as palavras em nome da “sensibilidade” alheia não é
diferente de encarcerar as pessoas a propósito de um risco para a saúde. E os que exigem uma coisa não diferem
dos que obrigam à outra. Aliás, são basicamente os mesmos. Em suma, há uma
ofensiva em curso contra o nosso passado, o nosso presente e o nosso futuro, a
fim de construir o “homem novo”, na terminologia em desuso, ou o “novo normal”,
no repulsivo jargão em voga. Convinha
que o homem velho [Nota do CES: E a mulher velha?] e o velho normal resistissem um bocadinho. Na
apatia em que andamos, a luta só não está perdida na medida em que não há luta.
E era importante haver. E começar por mandar o CES para um sítio que nós
sabemos [Nota
do CES: Qual?].
PUB CONSELHO
ECONÓMICO E SOCIAL POLÍTICA POLITICAMENTE
CORRETO SOCIEDADE
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