domingo, 31 de maio de 2020

Uma no cravo



Outra na ferradura, como atitude aparentemente inesperada, embora sempre tenhamos reparado numa inconstância de pontos de vista em Pacheco Pereira, que um dos seus comentadores, Fernando Pires de Lima, neste caso, desmascara. Num país em que o fenómeno cultural sempre foi menosprezado – tirante os da marca, é claro – falar de brilho ou ocultação entre artistas e artífices é querer, talvez, com essas balelas anti-racistas seduzir a esquerda reinante, a que PP nunca deixou de pertencer por afinidade ou ilustração, embora tenha abandonado por conveniência.
OPINIÃO CORONAVÍRUS: Os ignorados e os invisíveis
Mesmo no meio das dificuldades, a crise não toca a todos. Não, toca mais a uns do que a outros. E nós ajudamos a que seja assim.
JOSÉ PACHECO PEREIRA   PÚBLICO, 30 de Maio de 2020
A pandemia, que poderia ter tido um efeito de revelação da realidade, acaba por não o ter, não por causa do excesso de visibilidade de alguns, mas pelo seu exacto contrário, a invisibilidade de outros. Porque, em Portugal, em que qualquer manifestação de preconceito rácico ou étnico é de imediato condenada, é-se indiferente aos preconceitos sociais. Na verdade, há muita comunicação dos segundos com os primeiros, algum do racismo é muito mais resultado da força dos preconceitos sociais do que de uma recusa da raça ou da etnicidade, mas isso não convém ao chapéu do anti-racismo. Os preconceitos sociais já cá estavam antes, e vão continuar depois. São uma marca de uma sociedade muito desigual, com uma forte inveja social, com muita pobreza e exclusão e com uma cultura cívica muito débil. Tudo isto se reflecte na força de um olhar social, que torna uns intocáveis e outros, alvo de comportamentos depreciativos, de desprezo, de ridículo ou, pura e simplesmente, de não-existência, são ignorados. A comunicação social, que acha que está acima destas coisas, está profundamente impregnada de preconceitos sociais, que vêm da sociedade e que não são sentidos como sendo preconceitos, mas como um pano de fundo inconsciente que faz valorizações e menorizações, sem se ter sequer consciência do que se está a fazer.
Não é preciso ir mais longe do que ver a forma como são tratados criminosos ou acusados de crimes de colarinho branco, com diferenças culturais e sociais sobre o modo como são apresentados, mesmo quando se enunciam os seus crimes. Ricardo Salgado nunca será tratado como Sócrates, Vara ou Lima, que têm em comum terem vindo “de baixo” e terem subido à custa da política e da corrupção. Aliás, esta é uma velha tradição de diferenciação social em que, por exemplo, o O Independente era exímio. Não tocava nos facilitadores que sabiam comer à mesa, e vestir-se à inglesa, mas atacava com desprezo social os políticos de “meia branca”, que vinham da província e que não tinham os pergaminhos daquilo a que o jornal chamava, de forma, aliás, errada e ignorante, a “velha riqueza”. Passemos adiante, para os dias da peste.
Os feirantes e itinerantes fizeram manifestações e houve algumas notícias sobre eles, mas nem de perto nem de longe com o mesmo tratamento e destaque que tiveram as manifestações da cultura e, acima de tudo, sem qualquer empatia. São ignorados, socialmente invisíveis, por isso mais mal tratados Os dias da pandemia mostraram, mais uma vez, a força dos preconceitos sociais no modo como duas comunidades atingidas pela crise económica são tratadas: a da cultura e a dos feirantes e itinerantes. Os artistas, trabalhadores da cultura, músicos, actores, “criativos”, etc., são um sector em que predomina o trabalho precário, e foram de imediato atingidos pelo confinamento e pelo encerramento dos espectáculos. Mas, sem contestar a dureza da crise, têm várias coisas a seu favor: uma é a grande visibilidade na comunicação social, um tratamento muito favorável (capas, variadas fotografias, artigos, etc., por exemplo só no PÚBLICO), que funciona como forma de pressão sobre o poder político, que tende a responder a quem tem mais voz mediática.
Acresce que é um sector fortemente subsidiado por Governos e autarquias, em que não há qualquer escrutínio, porque este é difícil para certas actividades criativas, mas também porque a pequenez do meio favorece o silenciamento das críticas por parte dos pares. Se apenas uma pequena parte das críticas que são feitas em privado, em conversas, fosse pública, ver-se-ia como é feito um julgamento muito duro das qualidades criativas e do valor de muitas “obras” e “artistas”, mesmo descontando a inveja do sucesso alheio, que também é muita. Acresce o facto de muitos serem jovens e, queira-se ou não, os jovens têm sempre uma vantagem e mais oportunidades do que as pessoas mais velhas. Mas a cultura é hoje um sector económico e mesmo industrial, e pode e deve ser tratado sem o mito da intangibilidade da criação, que é também uma expressão corporativa.
Em contraste, o sector dos feirantes e itinerantes, constituído, na maioria dos casos, por pessoas mais velhas e famílias inteiras, viu-se, de um dia para o outro, sem modo de vida. São os feirantes propriamente ditos, mas também os que fazem a vida com diversões de Verão, que transportam de terra em terra carrosséis, carrinhos de feira, circos, e vendedores itinerantes, todos dependendo de ajuntamentos e de “feiras”. Não é uma vida fácil e há nela muita pobreza.
Fizeram manifestações e houve algumas notícias sobre eles, mas nem de perto nem de longe com o mesmo tratamento e destaque que tiveram as manifestações da cultura e, acima de tudo, sem qualquer empatia. Muito são nómadas, alguns são ciganos, o que, numa sociedade sedentária, significa serem tratados como “feios, porcos e maus”, em contraste com o mundo glamoroso da cultura. O seu meio e os seus clientes, pela província fora, são também gente de poucas posses, que não compra a roupa em lojas finas, e que não come em restaurantes da moda, mas no meio de mesas de tábuas e bancos de madeira, ou ao lado das carrinhas, no meio do barulho e da poeira. Milhares de portugueses vivem assim a sua vida de trabalho, muito mais necessitados, com mais bocas para comer e menos visibilidade. São ignorados, socialmente invisíveis, por isso mais maltratados.
Poderia escrever o jornal inteiro com exemplos do papel dos preconceitos sociais na exclusão social. É por isso que, mesmo no meio das dificuldades, a crise não toca a todos. Não, toca mais a uns do que a outros. E nós ajudamos a que seja assim.    Historiador
TÓPICOS
COMENTÁRIOS
Anjo Caído MODERADOR: Excelente análise. E o mea culpa final é bem oportuno já que o próprio Pacheco Pereira fala muitas vezes com demasiado desprezo sobre as massas que adoram futebol e ignoram as bonnae literae...  DNG. MODERADOR: Não é o melhor paralelismo para discutir o tema. Chega a ser infantil.
JoseDCosta INICIANTE:"Se calhar é por não terem sindicatos afectos à GCTP ou algo assim". Pois, se calhar é!
Jose INICIANTE: São menos de 1% as grandes empresas que operam em Portugal. Mais de 99% são micro, pequenas e médias empresas onde trabalha quase toda a força de trabalho. É nas empresas que está a chave de repartição da riqueza criada em Portugal ou vinda do estrangeiro. Os prejuízos da pandemia passam por esta chave de repartição. Tomemos 9 empresas que distribuíram dividendos em 2020, ano da pandemia. Altri distribui 61,5 milhões para accionistas (200% do total das remunerações pagas); Amorim 24,6 milhões para accionistas; CTT 16,5 milhões; EDP 694,7 milhões para accionistas (150% do total das remunerações pagas); GALP 580,5 milhões (250% do total das remunerações pagas); Jerónimo Martins 216,8 milhões para accionistas; NOS 143 milhões para accionistas; Navigator 200 milhões para accionistas; Pestana 8,5. 30.05.2020
Jose INICIANTE: O poder executivo do Estado na sua resposta à pandemia recorreu a Lay-Off simplificada várias vezes à vontade do Patrão, sem ouvir os sindicatos, como prevê a lei. Foi, portanto, a coberto da lei de excepção Estado de Emergência. Das mais de 99% de micro, pequenas e médias empresas tiveram acesso à Lay-Off 7,4%. Das grandes empresas tiveram acesso 54,1%. Com a Lay-Off o Estado paga 84% dos custos salariais. 1 exemplo: sem lay-off a empresa pagava 1237 €, paga com lay-off 200€. O trabalhado recebia 1000€, passou a receber 666,7 €. No conjunto 800 000 trabalhadores têm 33% do salário cortado. A desigualdade social agrava-se com a pandemia. A esta chave de produção e reprodução das desigualdades sociais, juntam-se as desigualdades bem enfatizadas por PP neste artigo muito esclarecedor.    Tiago Vasconcelos INICIANTE: A razão do tratamento diferenciado é simples: dando uns rebuçados aos media e ao sector cultural, ao mesmo tempo que não aplica cortes ao funcionalismo público, o governo conseguirá comprar o silêncio dos sectores mais vocais. Os menos vocais -- feirantes e milhares de outras profissões -- poderão ser ignorados com relativa segurança.
Aónio Eliphis MODERADOR: Correctíssimo     Magritte EXPERIENTE: PP tem toda a razão. Este mesmo contraste poderia ser visto na diferença com que foram tratados os mercados municipais, alguns que albergam comerciantes com o perfil destes trabalhadores, e os centros de grande distribuição alimentar. Além destes casos há os das feiras, descuradas no planeamento que, com algumas instruções gerais, poderá ser adaptado pelas autarquias. Clássicos casos de filhos da mãe e filhos da p.... 30.05.2020
nelsonfari EXPERIENTE:  De facto, um abismo entre os elementos destes dois grupos. Numa crise fora do quadro das convulsões da macroeconomia, com uma causa com pouca frequência estatística mas que tudo se conjugava que aparecesse mais tarde ou mais cedo. O grupo urbano da cultura, com habilitações na área das humanidades, precarizados, muitos deles oriundos de famílias que se sacrificaram para os educarem, mas famílias estas sem poder de influência nas ofertas de lugares nas empresas da teia de poder do regime; os feirantes, oriundos de famílias pobres, mal acomodadas socialmente, muitos abandonando a escola precocemente, vendo no comércio organizado em feiras e mercados a sobrevivência. Interessante a hierarquia dos colarinhos brancos, mas o facto é que, com Salgado e Sócrates, de diferente pedigree, o dinheiro fugiu.
nelsonfari EXPERIENTE: E mesmo para os trabalhadores da cultura a escola, como pretenso elevador social, já teve melhores dias...Os invisíveis também andaram na escola, desistiram muito cedo e a feira e o mercado foram o destino instável...Os ignorados aprenderam na escola o sonho, a vida e a poesia, continuaram na escola de forma esperançosa e acabaram na precariedade, pois mais valia terem nascido em melhor berço. Foi isto que a professora Maria Rosa Colaço(1935-2004) viu ao longo da sua vida profissional e escreveu em "Outra Margem:"...vinham de longe, vinham sozinhos/lá da planície, lá da cidade/das casas pobres, dos bairros tristes/vinham p´rá escola: a novidade/e com uma estrela na mão direita/e os olhos grandes e voz macia/ali chegaram para aprender/o sonho a vida e a poesia". Mais práticos os jotas do centrão. 30.05.2020
tecosta.886754 INICIANTE: Obrigada Pacheco Pereira. Todos nós precisamos de vozes livres que, sem medo, com tesura e lisura, garantam que ninguém é invisível. Portugal é a nação que se perde com o fetiche da globalização pela batuta de uma elite mordomice. A uniformização dos gostos, das culturas e das vivências dos habitantes das diferentes províncias só conduz a uma maior desertificação territorial e à perda de identidade.
Espectro EXPERIENTE: Estes "Novos Miseráveis" é uma crónica, não de Vitor Hugo, não de um militante do BE ou do PCP, mas de um militante de mais de 30 anos do PSD (que serviu no PSD de Cavaco, Barroso, Marcelo, Ferreira Leite, Passos Coelho e agora Rio e com qualquer outro que se lhes siga!). Ele há cada paradoxo! E não é só em Abrantes que aparecem os fenómenos inexplicáveis! Também na Marmeleira! Lol 30.05.2020
rafael.guerra EXPERIENTE: A empatia e a inteligência não são exclusividades duma única cor política. Entre os mais corrosivos estão aqueles que têm o coração à esquerda mas a carteira à direita. 30.05.2020
Ceratioidei EXPERIENTE: Caro Espectro, os fenómenos acontecem no Entroncamento. Em Abrantes há tigeladas e palha, a arte pasteleira é um verdadeiro espanto, concordo que é um autêntico fenómeno, mas absolutamente explicável. Já na Marmeleira, a doçaria é outra, menos... elaborada. De Abrantes não é quem quer, é quem pode. :)   Espectro EXPERIENTE: Já vi que o Ceratiodei é de Abrantes e é bairrista. Mas tem razão, era Entroncamento. Mas o mais engraçado é que sempre que quero falar nos tais fenómenos hortícolas vou ter a Abrantes!   DCM EXPERIENTE: E nem sequer foi preciso Victor Hugo fazer parte do "clube " deles para sobre eles escrever um romance fenomenal,   Daniel A. Seabra INICIANTE: Mais uma boa análise de Pacheco Pereira com a qual concordo. Por isso raramente perco os seus textos aqui neste jornal. Pena é que o autor tenha também os seus preconceitos sociais. Exemplo disso é o que costuma dizer sobre futebol, bem como o seu discurso generalizador e redutor sobre os elementos das claques de futebol    joorge INICIANTE: Tudo o que o homem fala ou escreve sobre futebol é estupidez. Ponto final. Estupidez e muiiiiita dorzinha de cotovelo. Então o CR sem estudos é mais ouvido que eu? Plácido Domingo não se importa, mas o Pacheco, oh o inteligente Pacheco que apoiou veementemente o brilhante Silva, esse, não acha. É extraordinário. Até dá ternura.
DCM EXPERIENTE: Força P.P. ,há muitos mais a precisar de uma voz que os prestigie e defenda . 30.05.2020
Caetano Brandão EXPERIENTE: Só acrescentar a PP, os trolhas e muitos operários deste país, que durante o confinamento foram claramente descriminados e ignorados pelo poder e media (claro...), e continuaram nas obras, nas fábricas como se de seres imunes ao vírus se tratasse... 30.05.2020
Ceratioidei EXPERIENTE: Subscrevo na íntegra. Sublinho: „ Os preconceitos sociais já cá estavam antes, e vão continuar depois. São uma marca de uma sociedade muito desigual, com uma forte inveja social, com muita pobreza e exclusão e com uma cultura cívica muito débil. “ Os feios, porcos e maus, quem são? Toda a gente sabe quem são. O snobismo é uma expressão de ignorância e falta de empatia. Só discordo do “nós ajudamos que seja assim“, apesar de muito contra vontade ser obrigada a dar razão ao JPP. Remar contra a maré significa frequentemente não sair do mesmo sítio, não recuando e deixar-se levar, embora não se avance, o esforço para manter a posição é extenuante. O covid19 evidencia as fragilidades do sistema. Quem vive do trabalho diário não tem corporação nem sindicato, se não trabalha não come. Simples. 30.05.2020
Fernando Pires de Lima INICIANTE: Os objectivos de Pacheco Pereira são claros: defender o papel repugnante que têm tido as administrações de instituições culturais como a Casa da Música e a Fundação de Serralves, esta última onde Pacheco Pereira tem assento. (Esqueceu-se da declaração de interesses.) Aí sim, poderíamos falar de colarinhos brancos e inimputabilidade. Também na cultura falamos de pessoas que estão, em muitos casos, a passar dificuldades de sobrevivência. Mas Pacheco Pereira está mais interessado em defender a sua inutilidade em Serralves, usando este discurso populista e realmente preconceituoso: os artistas (esqueceu-se dos técnicos, dos formadores, dos assistentes de sala, etc.) vestem-se melhor que os feirantes, por isso vão ao colo da imprensa? Seja sério e faça o seu papel em Serralves. 30.05.2020
Mario Coimbra EXPERIENTE: ????  Aónio Eliphis MODERADOR: Sendo eu liberal e anti-comunista devo dizer que Pacheco Pereira é dos poucos intelectuais de esquerda a quem reconheço mérito. Todavia o JPP apresenta as premissas mas não as conclusões. A elite reinante no país sempre foi a "esquerda-intelectual-humanista-caviar" que gosta dos pobres mas jamais de estar entre os pobres (tenho um colega de trabalho marcadamente de esquerda e votante fiel no BE, que diz sempre que só viaja em executiva para evitar maus cheiros). Essa elite - e não, não quero fazer como os populistas e dizer que "somos nós contra eles" - é formada em ciências humanas, é erudita, urbana, abastada, politicamente muito correta, e normalmente tem um desprezo visceral pelos pobres, embora, tal como fazem as beatas que vão à missa, façam um esforço cívico para não o demonstrar.   Aónio Eliphis MODERADOR: Milton Friedman sempre alertou que, tal como os beatos católicos, os intelectuais que se arrogam serem os maiores defensores dos pobres são por norma os que mais contribuem para a pobreza. Essa elite por norma despreza o mercado livre e o capitalismo, exactamente aquilo que alimenta o orçamento da grande maioria da população que não vive do estado ou de heranças, essa elite tem um desprezo por métricas ou por números e um desconhecimento completo do meio rural.

“Fingir que é dor a dor…”



Margarida Abreu é médica e pretende pôr os pontos nos ii a respeito de um confinamento imperioso e ruinoso, a propósito de uma moléstia inesperada que, para além do monocórdico massacre noticiarístico diário, pretensiosamente orientador e compassivo, serve de ocultação a um cenário nacional já de fraqueza económica real, mas tornada ainda mais grave com o confinamento obrigatório – parcial - e pretexto para novo endividamento, que as políticas seguidas de alianças de ficção altruística há muito proporcionaram. Muitos comentadores, entre os cerca de 300, contestaram, é claro, e ironizaram dentro do seu possível, mas muitos outros houve que aderiram ao ponto de vista preocupadamente crítico de Margarida Abreu. Não, não somos esse poeta que Pessoa descreve, conceituosamente contraditório. Mas que há muita ficção ou manha - e de vária espécie - na questão da covid-19, isso há. Com que autoridade se impõe o encerramento de comércios, por exemplo, se tantos deles continuaram, nomeadamente na comida e na farmácia? Nos transportes públicos, nos construtores de casas… Para além dos médicos e enfermeiros, é claro. Como se arruína assim a nação? Se foram permitidas filas como não estendê-las a outros centros comerciais – e provavelmente algumas indústrias, como aconteceu com a das máscaras? Com que estúpida autoridade se encerram? O texto de Margarida Abreu parece-me bem correcto, e o Observador que o possibilitou, bem nobre. Quanto ao teatro imposto nas praias, produz vómitos…
Tornámo-nos num país de fingimentos
Fingimos que a calamidade Covid19, injustificada em Portugal, é superior à calamidade económica que se vive, completamente ocultada, essa sim, cada vez mais grave e sem perspectiva de melhoria.
Ultimamente passamos a vida a fingir. Fingimos que, em Portugal a Covid19 é muito grave, quando o número de doentes internados em enfermarias e em Unidades de Cuidados Intensivos, mesmo após o desconfinamento, é muito mais baixo do que antes do mesmo.
Fingimos que, em Portugal, a Covid19 é mais grave que a gripe, quando esta, na época de 2018/2019 matou 3331 pessoas, na época de 2017/2018 matou 3700 e a Covid19, em cerca de 3 meses, matou à volta de 1350. Só na semana de 21 a 27 de janeiro de 2019 foram internadas 23 pessoas em UCI por gripe. Para se ter uma ideia, numa única semana de janeiro de 2015 foram realizadas cerca de 18.000 consultas por síndrome gripal em Portugal (e não sabemos quantos assintomáticos é que também testariam positivo para o vírus da gripe, se tais testes fossem tão generalizados como os para o SARS-CoV-2)
Fingimos que o nosso país é o máximo, porque é o 6º país do mundo que mais testa, ocultando o disparate de dinheiro que se gasta com os testes, que se estão a testar um sem número de pessoas assintomáticas, sem doença, em quem a utilidade do teste é francamente questionável, criando problemas enormes às empresas e famílias dessas pessoas, bem como aos médicos de saúde pública que se encontram completamente exaustos com o seguimento de tanta gente com doença ligeira ou até sem sintomas.
Fingimos que o verdadeiro motivo pelo qual se fechou o país em março não foi a doença Covid19 grave (que continua a diminuir) mas toda e qualquer doença Covid19, enquanto esta existir, mesmo que assintomática ou causando apenas tosse. E que tal justifica que nada possa voltar a funcionar como dantes.
Fingimos que só há mortes e mais mortes e mais mortes por Covid19 porque a comunicação social, criminosamente manipuladora, das cercas de duas centenas de países que somos afectados pela doença, só fala da meia dúzia que está pior, ignorando propositadamente aqueles em que a pandemia (incluindo o nosso) não é calamidade nenhuma e calando todas as mortes que há por outras causas.
Fingimos que os profissionais de saúde não estão exaustos, ao lhes serem exigidas muito mais horas de trabalho do que o habitual, como se não fossem pessoas, como se não houvesse amanhã.
Fingimos que continuar com estabelecimentos comerciais encerrados, que já se encontram fechados desde março, em nome da doença em jovens assintomáticos ou com tosse, é um motivo válido e não faz mal, porque a perda de rendimento dos patrões e empregados desses estabelecimentos não tem importância, a possibilidade de despedimento é irrelevante, o desespero dessas pessoas não interessa a ninguém.
Fingimos que a calamidade Covid19, injustificada em Portugal, é superior à calamidade económica que se vive, completamente ocultada, essa sim, cada vez mais grave e sem perspectiva de melhoria.
Fingimos que não há calamidade social, quando há idosos e crianças institucionalizadas, sem visitas durante meses, doentes internados em hospitais sem verem um familiar e a morrerem sozinhos, aumento da violência doméstica, ausência de eventos familiares, como casamentos, ausência de prática desportiva de alta competição, ausência de avós a abraçarem os netos, ausência de liberdade para vivermos a nossa vida.
Fingimos que os nossos filhos têm aulas, quando se sentam à frente de ecrãs de computador ou de televisão e que, essas aulas são tão boas ou melhores que as presenciais.
Fingimos que as crianças e jovens não têm de brincar e conviver para crescerem saudáveis e felizes. Fingimos que não é pelos professores que elas não têm aulas na sua escola.
Fingimos que os motoristas de transportes públicos, os profissionais de saúde, os operadores de caixa de supermercados, entre outros, não têm que lidar com muitas pessoas em locais fechados, todo o dia e que têm que trabalhar, se querem ter o seu ordenado ao fim do mês, mas que os professores não podem dar aulas com normalidade.
Fingimos que as normas que a DGS preconiza, umas atrás das outras, à velocidade da luz, são para nosso bem e não impedem o normal funcionamento de toda a sociedade, favorecendo o aumento de despedimentos no comércio, restaurantes, hotéis e afins.
Fingimos que a doença que estamos a criar com tantas medidas, é menor que a suposta calamidade causada pelo Covid19.
Fingimos que usar máscara de forma obrigatória, em tudo o que é local fechado, cuja eficácia não está comprovada em pessoas assintomáticas e que nos obriga a andar com máscaras na carteira ou nos bolsos, que depois de forma recorrente colocamos e retiramos da cara, não é uma porcaria.
Fingimos que só se morre com Covid19 quando ontem, em Portugal, morreram 13 pessoas com Covid19 e 276 de outras causas.
Fingimos que, em todas as outras enfermidades, não são os nossos velhinhos que mais morrem.
Fingimos que desapareceram todas as outras doenças, tendo havido hospitais que destruíram paredes e serviços para criarem enfermarias para os doentes com Covid19, enfermarias essas  que permaneceram e permanecem praticamente ou totalmente vazias e hospitais esses que agora não têm onde realizar colonoscopias, endoscopias, broncoscopias porque arruinaram os locais onde esses exames se realizavam. Fingimos que deixaram de existir cancro do cólon, cancro do estômago, do esófago e do pulmão.
Fingimos que a fisioterapia não faz falta aos doentes com AVC para poderem fazer a sua reabilitação.
Fingimos que estamos a ser protegidos, quando mais não estamos que a ser destruídos. Destruídos fisicamente por todas as doenças que não foram diagnosticadas ou tratadas atempadamente, destruídos psicologicamente pela calamidade da doença mental que se instalou em tantos indivíduos, previamente sãos e que nunca mais vão voltar a ser os mesmos, pelo terror que criaram (e que lhes foi criado) à doença. Destruídos economicamente pelos milhares de empregos que já deixaram e vão continuar a deixar de existir. Destruídos socialmente, por olharmos, uns para os outros como potenciais ameaças, potenciais inimigos. Destruídos pelos milhares de regras completamente desadequadas à nossa essência e à nossa humanidade.
Com tanto fingimento que se tornou rotina, o meu maior receio é que, ao nos terem lançado tanta areia para os olhos, quando os tentarmos abrir, já não consigamos ver nada, porque nos cegaram.
COMENTÁRIOS:
Rui Vilela:
Se não "fingíamos", e não havia confinamento, no pior supomos que 6 milhões de residentes são infectados. A taxa de mortalidade em Portugal é 4,6%. São 280 mil mortes. Se for 9% como em Itália porque o SNS transbordou, é só pouco mais de 500 mil mortos, cuja mente humana tem dificuldade em quantificar. Ou seja, em cada 20 pessoas que conhece uma morre. Provavelmente um pai/tio/avó. O que é que isto tem a ver com os números da Gripe comum, nada. A gripe pneumónica há 100 anos, que não houve confinamento, nem conhecimento, matou bem mais de 100 mil portugueses durante 3 anos para uma população mais reduzida, não teve vacina e felizmente desapareceu.
Rogério Abreu Queiroz > Rui Vilela: Em toda a verdade as estimativas mais credíveis para a taxa de mortalidade do COVID-19 estão em redor de 1% (em comparação com os 0,04% da gripe sazonal). O que mesmo assim é altíssimo e não faz o seu argumento menos relevante de forma alguma.
Paradigma da Matrix > Rogério Abreu Queiroz: Não corresponde minimamente à verdade, tanto uma como outra taxa de mortalidade. A mortalidade não se pode medir com um rácio de diagnosticados / mortos, mas sim infectados / mortos, como é óbvio. Sendo que mais de 90% das pessoas são assintomáticas, a grande maioria de infectados não foi diagnosticada, o que aliás tem vindo a ser comprovado pelos testes serológicos que têm vindo a ser feitos um pouco por todo o lado, e que indicam que de 10 a 50 vezes mais pessoas já foram infectadas, o que traz os índices de mortalidade para próximo da Gripe (E isto sem sequer ter em conta a fraude que têm sido as declarações de óbito da COVID, ao indicar COVID como causa de morte, mesmo que esta tenha sido outra, mas nem precisamos ir por aí). Portanto, desinformação ao mais alto nível.
Andreia Monteiro: Embora concorde com grande parte, questiono onde se baseou para dizer que alunos não têm aulas por causa dos professores. Ao que me parece, desconhece esta realidade. Quando criticamos a comunicação social por nos dar informação manipuladora e longe da realidade, temos que ter cuidado para não fazermos o mesmo.
José Pedro Faria >Andreia Monteiro: Estranho que questione apenas essa parte, talvez porque a atinja pessoalmente. Desculpe, mas toda a crónica é um atentado à inteligência e a todos os dados científicos conhecidos.
Manuel Pinheiro > José Pedro Faria: Claro que é! Um verdadeiro atentado á vida em troca de férias nas Maldivas com crédito bancário
José Pedro Faria: Para a extrema-direita raivosa, choramingona e frustrada, os velhos são apenas empecilhos, estorvos, inúteis. Mas quando eles próprios forem velhos, irão rastejar para não terem o tratamento que eles preconizam agora para os nossos pais e avós. É o "humanismo" da extrema-direita.
Alfredo Vieira: Mais uma gota no oceano. Excelente artigo!
Mafalda Santos: Alguém explique à Sra. uma coisa elementar: não pode comparar a mortalidade da gripe sem confinamento com a da COVID-19 com confinamento. Tudo o que diz a seguir pouco importa, quando parte logo de uma análise cientificamente errada. Não saberemos como seria a COVID-19 sem confinamento, mas podemos prever e até já foi publicado por cientistas. Se cada um só opinasse sobre o que sabe ou estudasse, a publicação em jornais valeria mais.     Tó Phareto > Mafalda Santos: E quem é a Mafalda para saber mais do que uma médica de família confrontada dia após dia às mais diversas situações patológicas ?
António Duarte > Mafalda Santos: Penso que sabemos: basta pensar na Suécia e multiplicar por 10 (não esquecer que a Suécia tem dos melhores sistemas de saúde de todo o mundo).O nosso grande problema é a mensagem demasiado amplificada e contraditória das autoridades (não esquecer que a DGS disse em Janeiro que o bicho não chegaria cá, depois de chegado que não seria mortal, mais tarde não era preciso usar máscara para depois ser fundamental, etc., etc.).      Rogério Abreu Queiroz > Tó Phareto: Médicos de família? Os principais responsáveis pela crise de anti-depressivos em Portugal? Onde mais de 20% dos Portugueses é receitado pelo menos uma vez por ano? É dessa classe, a maioria da qual sem especialidade, que fala? Você deve tomá-los às colheres e ainda dá Ritalina aos filhos. 
josé maria: Pessoas com gripe comum nos EUA de out/2019 a fev/2020: 31 MILHÕES, sendo que 370 mil foram hospitalizadas. 30 mil faleceram Fonte :CDC EUA.
josé maria > josé maria: Mortes por covid- 19 nos EUA em apenas 3 meses de 2020: 100.000. Nota diferenças, Margarida ou o seu populismo militante não lhe permite relatar a verdade?
JORGE PINTO: BRAVO!!! Acrescentaria: ‘Fingimos não ser assustador ter sido tão fácil impor esta “realidade virtual”. Fingimos não ser aterrador tantos terem prescindido tão facilmente de liberdades fundamentais. Fingimos não perceber a impotência dos cidadãos perante esta lavagem cerebral, nem a evidência de quão fácil é, afinal, instaurar uma tirania.
Júlio Menezes > JORGE PINTO: Digo exactamente isso todos os dias, desde março...
Jaime Fernandes: Margarida Abreu Felicito-a pela sua clareza de análise e a da exposição. Há muito que tenho também esse raciocínio. As máscaras, os desinfectantes teriam sido o suficiente ??? A nível nacional talvez controlar as fronteiras em função  da origem dos passageiros. Deixe-me dizer-lhe que em plena crise do COVID aterrei em Lisboa. Lá estavam na Portela dois grandes aviões da Air China e de outras proveniências de risco. Nem uma bata branca nem nenhum controle sanitário.... Aliás nenhum país poderá provar que mandar encerrar os negócios foi a solução. Ainda hoje, não há uma base cientifica que permita provar aos governos, que o encerramento ou a abertura foram a medida certa. Vamos ver se não se irão pedir indemnizações por destruição de negócios einsolvências ????? 
Paul C. Rosado: Tem razão nuns pontos, noutros pontos perde-a toda. Mais uma a querer comparar números de gripe SEM confinamento, com os números da Covid APESAR do confinamento. E a crise provocada pelo Covid era inevitável com ou sem confinamento obrigatório. Aliás a maioria dos conselheiros económicos governamentais dos governos do mundo, inclusive de governos de direita, aconselhou o confinamento como melhor para a economia a longo prazo. Foi um confinamento mal feito? Sim. Devia ter sido mais curto e muito mais coordenado? Sim. E imposto à força em certos bairros? Sim. 
João Sousa > Paul C. Rosado: Você até sabe quantos teriam morrido sem confinamento. Olhemos para a Suécia que tem o triplo dos mortos. Mesmo com o triplo dos mortos em Portugal não se chegará à gripe do ano passado e nunca se parou o país devido a gripe. Estou lhe a dar o exemplo de um país similar. Outros com confinamento como a Bélgica ainda estão piores.  Ela não pode comparar já você pode assumir que sem confinamento tinham morrido uns 10 vezes mais .... porque sim.
José Pedro Faria > João Sousa: Só velhos é que morrem, não faz mal. Tal como você diz "Prefiro que morram mais 2 mil velhotes que condenar uma geração inteira, milhões, à miséria". Sim, o valor "vida" abaixo de uma suposta "miséria". Vergonhoso egoísmo, típico da extrema-direita de tasca.
Tó Phareto > Paul C. Rosado: o que é criticado e criticável é a maneira não selectiva de confinar. Um golpe de controlo da população.     Maria Alva: Excelente, oportuno e realista: Parabéns, Margarida.
João Costa: Não podia estar mais de acordo.
Frederico Bernardes: Se tivéssemos tido dezenas de milhares de mortes como os nossos vizinhos o que é que acham que esta sra estaria a dizer aqui? Não se pode ganhar sempre, malta, mais fairplay, please!!!
João Sousa > Frederico Bernardes: Nós temos das piores mortes por milhão .... como se fosse preciso comparar.      José Pedro Faria > Frederico Bernardes: O confinamento resultou? Então não era preciso. É essa a filosofia da extrema-direita.
Joaquim Moreira: Margarida Abreu, lamento só agora me ter percebido que é uma combatente do medo, como eu. Deixe-me só corrigir, com todo o respeito, nós não nos tornamos, "num país de fingimentos". Nós (salvo seja) somos assim desde os descobrimentos. Não fossemos nós um país de poetas. E o poeta, é um fingidor. Seja na alegria ou na dor! Mas vamos ao que interessa. Este seu combate tem muito detractor. Desde logo, porque a maioria do jornalismo é diferente - sobretudo no caso - do que se faz aqui no Observador. Mas deixe-me dizer-lhe com toda a convicção, não se trata de fingimento, trata-se de haver uma maioria a quem nunca falta o alimento. Se reparar bem, quem decide não vai perder um vintém. E muitos dos que aceitaram, o “#fiquememcasa”, de imediato, já lá estavam antes desse momento exacto. E como diz, e bem, para haver tantos fingidores, teve e tem que haver muitos que são apenas e só trabalhadores. Que não beneficiam de tais favores. Tiveram e têm que trabalhar, para manter tanta gente a receber o ordenado por inteiro, antes em casa e agora a veranear!
joão reis > Joaquim Moreira: O seu comentário tem o objectivo de provocar risos ou gargalhadas.
Joaquim Moreira > joão reis: É o que quiserem as mentes aparvalhadas ou apenas assustadas!
joão reis > Joaquim Moreira: Você considera detractores/aparvalhadas as princip ais vítimas desta pandemia ??? os 1396 óbitos ou os 343 mil novos desempregados ??? Você também ficou em casa, certo ??? imagino que não teve direito a tais favores, basta percorrer notícias de outros dias e verificar a sua presença/confinamento 'forçada/o' em períodos/horários laborais. ...Não sei se "a direita se habituou a perder".........Independentemente, de eventuais falhas processuais,..... ...Este elogio a Rui Rio, deve causar em muitos um grande calafrio.......
João Diogo: A senhora doutora têm toda a razão mais uma vez um artigo lúcido, mas dou-lhe um conselho, não gaste o seu latim , com a matilha raivosa dos adeptos do confinamento, eles estão tão cegos que só vêem o que se lhes põe à frente, ontem o instituto sueco de estatística comunicou as contas do 1 trimestre , foi o único país da europa que não teve recessão, dá para pensar, se não podíamos ter feito as coisas de maneira diferente.
Tó Phareto > João Sousa: A economia já estava de rastos, a caminhar para mais uma bancarrota socialista. Agora, a dupla Costa/Marcelo arranjou uma desculpa.
Clarisse Seca: Sim, é verdade, é mesmo a impressão que se tem. Se de um lado era importante proteger a população de um vírus desconhecido, por outro,  passados 2 meses, o partido socialista anda a fingir que ainda nos protege, para parecer o salvador da pátria deixando para trás uma economia arrasada, doentes de todas as especializadas sem consultas e sem tratamento, pelo medo que incutiram nas pessoas e pela falta de preparo do SNS. O PS arranjou um óptimo alibi para culpar a Covid-19 por toda a sua má governação e falta de preparo do país para esta crise violenta. O controlo era necessário, mas parece que agora exageram propositadamente na propaganda, para camuflar a falta de recursos, desemprego e fome, e morremos da cura. Até chegar o dinheiro Europeu vai fingindo que não é nada com o partido, valendo-se das costumeiras habilidades ou mentiras para manter o povo adormecido. E o partido põe Portugal sempre a mendigar.
João Alves: Grande artigo, parabéns.   Manuel Ferreira: Muito bem! Felizmente que alguma comunicação social independente pública artigos de opinião como este que saem fora das notícias de cartel e nos alertam para uma certa teatralidade que estamos a viver actualmente. 
Fernando Costa > joão reis: Eu concordo com ela a 100%, também sou médico de família, tenho 41 anos de carreira e o número de cartão da Ordem dos Médicos 22027. Qualquer médico que se preze é livre de discordar de opiniões, directivas ou estudos, por uma razão simples: a ciência vive do constante colocar em causa das razões e, ao contrário da política, não aceita dogmas e não vive de gentinha obediente e subserviente. No caso particular da OMS e DGS, tem havido muito que se lhe diga de más orientações e opções desastrosas, estando aliás a OMS totalmente desacreditada junto da maioria da classe médica. Só já tem crédito junto de políticos, jornalistas e facebookers, o que diz tudo.
Adelino Lopes: Vejo finalmente alguém a questionar esta pantomina; não, não é uma pandemia. E sim, o vírus pode infectar, mas a esmagadora maioria que o contrai não contribui para os números da suposta pandemia, ou seja, não se verifica um dos fundamentos da pandemia. Eu sei que os números serão aquilo que em princípio iremos ver; nalguns casos por extrapolação de valores no passado. Mas como não se fizeram testes aos que foram falecendo, não teremos alternativa.
Sérgio Santos: "Com tanto fingimento que se tornou rotina, o meu maior receio é que, ao nos terem lançado tanta areia para os olhos, quando os tentarmos abrir, já não consigamos ver nada, porque nos cegaram.", Provavelmente já o conseguiram. Parabéns pela coragem em escrever este artigo. Mas aguarde, quando o desemprego lhe bater à porta pode ser que perceba.                     …………………………………………………….

sábado, 30 de maio de 2020

“A melhor das vidas”




Tempo da “Caranguejola”. É como nos tratam, afinal. E como aceitamos estar. Alberto Gonçalves não o aceita, certamente que repugnado da forma sorridentemente despótica com que se manipulou o caso, e se continua, na atrocidade do ridículo em que a ignorância, a mândria, a acomodação nos vai transformando, indiferentes ao futuro, como vegetais que crescem na sujeição do tempo. Sá Carneiro o descreveu, está-nos na alma. No sangue, algodão em rama do nosso bolor:

CARANGUEJOLA
Ah, que me metam entre cobertores,
E não me façam mais nada!...
Que a porta do meu quarto fique para sempre fechada,
Que não se abra mesmo para ti se tu lá fores!

Lã vermelha, leito fofo. Tudo bem calafetado...
Nenhum livro, nenhum livro à cabeceira...
Façam apenas com que eu tenha sempre a meu lado
Bolos de ovos e uma garrafa de Madeira.

Não, não estou para mais; não quero mesmo brinquedos.
Pra quê? Até se mos dessem não saberia brincar...
Que querem fazer de mim com estes enleios e medos?
Não fui feito pra festas. Larguem-me! Deixem-me sossegar!...

Noite sempre plo meu quarto. As cortinas corridas,
E eu aninhado a dormir, bem quentinho– que amor!...
Sim: ficar sempre na cama, nunca mexer, criar bolor –
Plo menos era o sossego completo... História! Era a melhor das vidas...

Se me doem os pés e não sei andar direito,
Pra que hei-de teimar em ir para as salas, de Lord?
Vamos, que a minha vida por uma vez se acorde
Com o meu corpo, e se resigne a não ter jeito...

De que me vale sair, se me constipo logo?
E quem posso eu esperar, com a minha delicadeza?...
Deixa-te de ilusões, Mário! Bom édredon, bom fogo –
E não penses no resto. É já bastante, com franqueza...

Desistamos. A nenhuma parte a minha ânsia me levará.
Pra que hei-de então andar aos tombos, numa inútil correria?
Tenham dó de mim. Co'a breca! levem-me prá enfermaria! –
Isto é, pra um quarto particular que o meu Pai pagará..

Justo. Um quarto de hospital, higiénico, todo branco, moderno e tranquilo; (…)

Habituem-se: um retrato da “nova normalidade”/premium
A RTP, pelo menos, continua a pendurar a “hashtag” #fiqueemcasa no cantinho do ecrã. O governo manda-nos sair de casa. A DGS tem dias. O meu vizinho dorme na sala do condomínio. Obedeça a todos.
ALBERTO GONÇALVES, Colunista do Observador
OBSERVADOR, 30 MAI 2020

António Costa.
Um príncipe da política, um imperador da pandemia. Além da competência, do amor à verdade e da empatia face ao cidadão comum, esta boa alma conduziu-nos pela tormenta com a leveza de um anjo. Quem não se sentir agradecido, não merece ser português. Quem se sentir, merece.
Álcool-gel.
Desinfecte as mãos de 4 em 4 minutos. “As Mãos Sujas”, de Sartre, relata o drama de um sujeito que não o fez e desatou a contaminar os vizinhos.
Austeridade.
Conforme prometido, não haverá austeridade. No máximo, há fome, um capricho amaricado e destinado a promover a dra. Jonet da “caridadezinha”.
Autoridades.
A palavra inclui governantes, autarcas, técnicos, polícias e articulistas do “Público”. Todos são excelentes, todos contribuíram para o milagre português, que consiste em aumentar o número de infectados numa fase em que a Europa já quase erradicou o bicho – o que deixa o bicho confundido. A miséria e a humilhação são uma factura razoável por tão magnífico trabalho. Agradeça-lhes, de mão no peito, sempre que os vir.
Casa.
A RTP, pelo menos, continua a pendurar a “hashtag” #fiqueemcasa no cantinho do ecrã. O governo manda-nos sair de casa. A DGS tem dias. O meu vizinho dorme na sala do condomínio. Obedeça a todos.
Crianças.
Não as tenha. Se já as teve, desenrasque-se.
Cultura.
Antigamente, a cultura no sentido lato terminava nos habitantes da polinésia que davam cabeçadas em rochedos com propósitos de acasalamento. Agora o conceito alargou-se a qualquer desvairado que guinche umas cançonetas. Grave é que a cultura sofre com a crise e nós sofremos com a cultura. Felizmente, o governo vai ajudar a cultura, em nome dele e com o nosso dinheiro.
DGS.
Ao longo de toda a epidemia, a DGS mostrou ser exactamente o que se esperava de uma organização de burocratas instruídos nas fileiras do socialismo: um espectáculo. Já a senhora que dá a cara e os palpites por aquilo é um espectáculo dentro do espectáculo. O fundamental é respeitarmos as recomendações que dali vêm, mesmo, ou sobretudo, se estas são absurdas, prepotentes, divertidas ou contraditórias entre si. Em qualquer das hipóteses, são sempre para o nosso bem.
Espectáculos.
Todos proibidos excepto os protagonizados por comunistas ou, desculpem a redundância, artistas cómicos.
Etiqueta respiratória.
A “nova normalidade” implica novos conceitos, que dão aos que os utilizam sem se rir a ideia de que estão a par dos tempos.
Jornalismo.
Ontem, dia 29, o secretário de Estado da Saúde fez questão de agradecer “aos senhores jornalistas pelo papel que têm desempenhado”. Não vale a pena comentar: o papel que vão receber justifica o papel que desempenham.
Marcelo Rebelo de Sousa.
Passou os primeiros tempos da epidemia a lavar calções em casa, passa os últimos a passeá-los na rua. Pelo meio, disse umas coisas sobre a mola. Um senhor.
Máscaras.
Obrigatórias em espaços fechados, à chave ou com o trinco. Também ficam impecáveis quando se conduz sozinho ou se passeia nos cumes do Parque Natural do Montesinho. Davam uma falsa sensação de segurança até começarem a dar uma verdadeira sensação de segurança. O seu uso mostra obediência às regras e, de brinde, permite que uma pessoa respire o seu próprio ar, e não o ar que anda por aí à solta sabe-se lá em que condições.
Praias.
Um pequeno grupo de estudiosos calculou a lotação ideal para cada praia nacional. Um grupo maior de contribuintes paga o justo esforço dos estudiosos. O manual da DGS, com meras 34 páginas, oferece ao banhista tudo o que este precisa saber acerca dos comportamentos a adoptar. Basta respeitar semáforos, “sinalética”, orientações de circulação, trigonometria do toalhão e, principalmente, obedecer à directiva de não se deitar em cima de desconhecidos. Se o cidadão for presidente da República, arranja um “esquema” e contorna os regulamentos com facilidade. Se o cidadão for irresponsável, arranja um voo e vai espraiar-se em lugares desprovidos de instruções.
Projecções.
 Incontáveis gráficos foram criados por incontáveis génios a descrever, por prestidigitação ou vidência, a evolução da epidemia. A coisa só falhou enquanto os génios não perceberam que o segredo estava em ajustar as previsões aos factos. A partir daí, não houve engano possível. É fácil, por exemplo, saber quantos casos haverá no dia 5 desde que se faça a previsão no dia 6.
Restaurantes.
Apenas frequentáveis em conjunto por membros do mesmo agregado familiar, o que limita o grupo de comensais a umas quatro pessoas – ou 57, se integrarem a “comunidade cigana”. Leve comprovativos de parentesco e residência. E leve máscara, claro, opcional no momento de enfiar a comida na boca.
Segunda vaga.
Inúmeros especialistas, que disseram tudo e o seu contrário sobre a primeira vaga do vírus, receiam particularmente a segunda. Eu confesso-me apreensivo com a quinta, a sétima e a décima oitava. À cautela, fuja dos picos e das curvas chatas e proteja-se até 2067.
SNS.
Graças ao PS e ao dr. Arnaut, é o melhor serviço de saúde do mundo. Não fora a escassez de material básico, a mais baixa “ratio” de unidades de cuidados intensivos da Europa (incluindo Bulgária, Roménia e quiçá Albânia) e a necessidade de matar poucos milhares de pacientes com outras doenças de modo a abrir alas para a Covid, o SNS roçaria a perfeição. Certo é que, fora os sofredores de maleitas oncológicas, cardiovasculares, respiratórias, hepáticas, renais e etc., hoje não há ninguém que admita recorrer aos hospitais privados, de resto a nacionalizar com urgência. Se se sentir mal, não vá ao “público”, mas louve-o com o fervor de uma, ou duas, Catarina Martins.
Trump.
Uma anedota de homem, que matou com as próprias mãos cem mil americanos. Permite que a rapaziada das nossas televisões se convença de que faz jornalismo e mordisca o poder. O poder de lá, obviamente.


Nobres discursos



Também Pascal os teve, Pensamentos que se prolongaram pelos séculos, falando na infinita pequenez humana contraposta à sua grandeza de reflexão: “L´Homme n’est qu’un roseau, le plus faible de la nature. Mais c’est un “roseau pensant”. Tiveram sorte, os franceses, com estes seus discursadores que lhes orientaram a caminhada futura, como nós teríamos, se quiséssemos ater-nos a propostas de moral ou de doutrina, que ainda há quem siga ou interprete. O mal é que dificilmente já se encontrarão figuras de respeitabilidade resultante das suas leituras e do seu saber clássico. Como Francisco Assis. Ainda bem que temos esse prazer de o ler, movido, é certo, pela sua doutrinação política que os comentadores explicam poeticamente, com as palavras do canto de Sérgio Godinho, impregnadas de lirismo e de amor humanitário, que é o que está a dar, entre nós, mais fácil de curtir, com música. E de compreender. Repito: “Que força é essa? Amigo Que força é essa? Amigo Que te põe de bem com outros E de mal contigo? Que força é essa? Amigo Que força é essa?...”
OPINIÃO
A democracia e os tiranetes
As circunstâncias que vivemos favorecem o surgimento de uma cultura de dependência incompatível com as exigências de uma democracia séria.
FRANCISCO ASSIS
PÚBLICO, 23 de Maio de 2020
Étienne de La Boétie, o jovem e genial amigo a que Montaigne se refere nas suas célebres reflexões sobre a amizade, legou-nos uma pequena obra de inestimável valor teórico-prático intitulada Discurso sobre a Servidão Voluntária. O texto, escrito ainda antes de o autor atingir os vinte anos de idade e publicado postumamente em 1576, procurava responder a uma questão suscitada por um acontecimento da época mas dotada de uma pertinência trans-histórica: a de conhecer as razões que levam as pessoas a aceitar voluntariamente a tirania. La Boétie compreendeu claramente que o exercício abusivo da autoridade política só é possível porque há nos seres humanos, ou pelo menos nalguns deles, uma propensão para o consentimento da servidão. Essa estranha inclinação resulta da auto-inibição do desejo de liberdade e da acomodação a um modo de distribuição do poder assente numa hierarquização de diferentes níveis de comportamentos tirânicos. O tirano sobrevive tiranizando os tiranetes e estes, por sua vez, tiranizam todos os demais.
A figura do tiranete é apresentada com uma exactidão descritiva de tal ordem que a nossa imaginação se aventura de imediato a projectá-la cruelmente nas manifestações concretas em que a reconhecemos. O tiranete é a peça-chave de todo este sistema. Representa a dupla negação do que na natureza humana corresponde ao impulso da liberdade. Nega-o pela condição submissa que ostenta face ao tirano e pela atitude autoritária que exibe perante os outros membros da sociedade em que se integra. Da sua cartilha só consta um preceito – obedecer ao princípio da obediência. É um dogmático da submissão, um idólatra do conformismo. A sua identidade consiste em não ter identidade porque tudo o que o substancializa limita a sua margem de manobra. Nesta vocação camaleónica experimenta uma leve e confusa sensação de liberdade que pode chegar ao ponto de lhe despertar momentaneamente um impulso libertino. Esse é o instante em que está receptivo a mudar de destinatário da sua servidão. Não nos iludamos, contudo: o tiranete adere e rompe por razões de cálculo, já que lhe são estranhos os mecanismos das paixões políticas.
Para La Boétie, o grande escândalo antropológico residia nesta vontade de servidão que considerava contrária à verdadeira natureza humana. Custava-lhe admitir a veracidade da extraordinária conclusão a que chegou – há nos homens uma predisposição para o servilismo. Ser livre é desejar ser livre. São muitas as circunstâncias históricas em que se assiste à anulação desse desejo. Por compreensível cautela, o autor recorreu a exemplos anteriores à sua própria época procurando furtar-se, desse modo, a qualquer retaliação política ou penal.
Por muito grave que seja a crise que enfrentamos, nada legitima a instauração na prática de um estado de excepção conducente à redução dos direitos reais de intervenção no espaço público
Quinhentos anos depois, que utilidade podem ainda ter estas singulares reflexões numa Europa caracterizada pelo predomínio das democracias liberais? Muito mais do que pode parecer à primeira vista. Já não há tiranos e os tiranetes adornam-se com outras roupagens, mais consentâneas com o ar dos tempos actuais. Subsiste, porém, a melíflua propensão para a prática do servilismo, particularmente em sociedades estruturalmente pobres e com escassa tradição demo-liberal. Aí, uma crise como aquela que estamos a viver pode estimular quase inconscientemente a adopção de comportamentos similares aos retratados por La Boétie. Sem se dar muito bem por isso, as coisas começam a mudar. Vozes que se calam, contrapoderes que se demitem, comentadores que se tornam hagiógrafos, jornalistas que curvam a cerviz. Lentamente vai-se instalando um “novo normal”, como agora se diz, sem que quase ninguém se incomode ou reaja. Chegará então o tempo da multiplicação dos burocratas, dos bajuladores, dos bufões. Debater passará a ser uma excentricidade, questionar transformar-se-á numa provocação. As palavras perderão o seu sentido original e o silêncio terá a promessa de uma recompensa. Quando derem por si, os homens serão habitantes de um mundo diferente.
Como é óbvio, não é inevitável, e talvez não seja sequer provável, que isto venha a suceder na realidade. Importa, contudo, agir de modo preventivo dispensando particular atenção a princípios e a regras fundamentais e imprescindíveis para o funcionamento plenamente democrático de uma sociedade. Antes de mais, convirá assinalar que, por muito grave que seja a crise que enfrentamos, nada legitima a instauração na prática de um estado de excepção conducente à redução dos direitos reais de intervenção no espaço público. A ninguém pode ser atribuído o privilégio de determinar arbitrariamente o que pode ou não ser objecto de discussão política. Se assim não fosse, quem tivesse o poder de decidir a agenda teria a capacidade de condicionar drasticamente o debate, desvirtuando a essência da cultura democrática. Para além disso, é ainda imperioso acautelar um conjunto de procedimentos formais que garantam o respeito pelo pluralismo das ideias e das opiniões e assegurem o exercício das liberdades de expressão e de participação na vida pública. O Estado deve sentir-se obrigado a especiais deveres de isenção e de transparência numa altura em que a sociedade civil está natural e visivelmente enfraquecida. Temos que ter consciência que circunstâncias económico-sociais dramáticas favorecem o surgimento de uma cultura de dependência incompatível com as exigências de uma democracia séria.
Militante do PS
TÓPICOS
Jose INICIANTE: Vi-te a trabalhar o dia inteiro Construir as cidades pr'ós outros Carregar pedras, desperdiçar Muita força p'ra pouco dinheiro Vi-te a trabalhar o dia inteiro Muita força p'ra pouco dinheiro Que força é essa? Que força é essa? Que trazes nos braços? Que só te serve para obedecer? Que só te manda obedecer? Que força é essa? Amigo Que força é essa? Amigo Que te põe de bem com outros E de mal contigo? Que força é essa? Amigo Que força é essa? Amigo Que força é essa? Amigo Não me digas que não me compreendes Quando os dias se tornam azedos Não me digas que nunca sentiste Uma força a crescer-te nos dedos E uma raiva a nascer-te nos dentes Não me digas que não me compreendes Que força é essa Que força é essa? Que trazes nos braços? Que só te serve para obedecer? Que só te manda obedecer?  23.05.2020
Jose INICIANTE: Que força é essa? Amigo Que força é essa? Amigo Que te põe de bem com outros E de mal contigo? Que força é essa? Amigo Que força é essa? Amigo Que força é essa? Amigo Que força é essa? Amigo Que força é essa? Amigo Que força é essa? Amigo Que força é essa? Amigo Que força é essa? Amigo Autor: Sérgio Godinho. 23.05.2020
Colete Amarelo EXPERIENTE: A necessidade... de comer, por exemplo.  23.05.2020