O recomeço. Apesar das dúvidas que faz
despertar o último comentário – de ana cristina – sobre a lisura de São José
Almeida
na defesa que, na sua crónica, esta faz de Mário Centeno, na questão do empréstimo de 850 milhões
de euros ao Novo Banco, contraditório com anterior argumentação da mesma,
parece-me correcta, no texto, a sua visão crítica desse debate e continuação, que também
segui, com o mesmo sentimento de repulsa pelo jogo hipócrita dos vários
intervenientes, como ela bem explica. A Covit-19 foi apenas uma pausa de transtorno momentâneo, na comédia habitual. A acção da nossa farsa retoma, impante e impiedosa, na sua trajectória de desvergonha.
OPINIÃO
Centeno cumpriu as obrigações do Estado.
Marcelo, Costa e a oposição cavalgaram a demagogia
Seria sensato
e benéfico um ministro com a obra, o currículo e o prestígio de Mário Centeno
sair do Governo?
SÃO JOSÉ ALMEIDA
16 DE MAIO DE 2020
Sejamos
claros, o ministro de Estado e das Finanças, Mário Centeno, não fez nada de
errado ao autorizar a transferência do empréstimo de 850 milhões de euros do
Fundo de Resolução para o Novo Banco. Apenas cumpriu a sua obrigação e a do
Estado português de libertar o financiamento anual que estava acordado desde a
venda daquela instituição bancária ao fundo Lone Star. Empréstimo aprovado, aliás, no Orçamento do Estado para 2020.
Se
em todo este folhetim, transfigurado em crise política e governativa, houve
quem estivesse mal, esses foram o primeiro-ministro, António Costa, o
Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e alguns partidos da oposição,
sobretudo o líder do PSD, Rui Rio, e a deputada do BE Mariana Mortágua,
demonstrando algum desespero na tentativa de desgastar o Governo. Todos eles se deixaram levar pela politiquice
mediática de ocupar espaço nos noticiários e pela tendência para surfar espuma
dos dias da onda da demagogia, provocando uma situação de tensão que poderia
ter levado à demissão do ministro de Estado e das Finanças, quando o país vive
um gravíssimo momento de crises de saúde pública, da economia e da sociedade. E
que, sem dúvida, fragilizou António Costa e Mário Centeno.
Esteve mal o primeiro-ministro ao não ter em conta que havia
compromissos assumidos pelo Estado que tinham de ser cumpridos e ao ter dado a
garantia ao BE, no Parlamento, a 22 de Abril e a 7 de Maio, de que não seria feita nenhuma
transferência sem que a auditoria em curso fosse feita.
Um
erro grave de António
Costa, quando o próprio, no final de Fevereiro, tinha assumido: “Da
parte do Estado, o Estado contribuirá única e exclusivamente com aquilo que
consta do Orçamento do Estado e foi aprovado pela Assembleia da República e
contribuirá — e reitero — numa modalidade de empréstimo, como tem sido até
agora.”
Mas esteve também mal o Presidente da República ao, na quarta-feira, em directo da Autoeuropa,
aproveitar uma pergunta de jornalistas para tirar o chão a Mário Centeno, ao
afirmar: “O senhor primeiro-ministro esteve muito bem no Parlamento, quando
disse que fazia sentido que o Estado cumprisse as suas responsabilidades, mas
naturalmente se conhecesse previamente a conclusão da auditoria.”
Cavalgando a demagogia, Rui Rio que
sabe de certeza do que estava a falar, esteve mal também ao dar o salto em
frente e declarar: “O primeiro-ministro é que entende se demite o ministro. Se
eu estivesse no lugar dele, se [ele] não se demitisse, seria demitido.”
Assim como, Mariana Mortágua ao comentar: “Ou estamos a assistir a uma remodelação
em directo e o ministro das Finanças sairá do Governo, porque considera o seu
primeiro-ministro ‘irresponsável’, ou já assistimos a uma remodelação e o
ministro das Finanças passou a dirigir o Governo”.
Mário Centeno pode até, de facto, querer sair do Governo. O “folhetim”, como o próprio ministro de Estado e das Finanças lhe chamou,
das notícias sobre a sua saída dura há um ano e o próprio nunca as desmentiu.
Pelo contrário, alimentou-as pela ambiguidade de respostas que deu, em entrevista ao Expresso, sobre o seu
possível regresso ao Banco de Portugal, como presidente. Tal como tem
sido ambíguo sobre a recandidatura à presidência do Eurogrupo, cujo mandato
acaba a 13 de Julho. Se o desejo de voltar ao Banco de Portugal é real,
não se percebe o passo, pois significa “descer de cavalo para burro”, passe a
expressão.
Mas
a verdade é que quem tem o mínimo de informação sobre o assunto percebe que o
Estado português não pode deixar de cumprir o acordo que fez ao vender o Novo
Banco. Se o Presidente da República, o primeiro-ministro e os partidos
parlamentares não querem enterrar mais receitas fiscais do Estado no Novo
Banco, renegoceiem o acordo com a Lone Star. Assim como, se não querem que
sejam pagos prémios de dividendos aos accionistas do banco,
o façam de forma legal.
Agora, lançar a confusão e fazer
demagogia, baralhando os níveis de auditoria em jogo e fazendo de conta que
Mário Centeno decidiu, por sua alta recriação, emprestar 850 milhões ao Novo
Banco, sem fiscalização prévia, é que não é politicamente sério. Houve três auditorias prévias previstas, como confirma o comunicado do
primeiro-ministro de quinta-feira — em que António Costa reafirma
a confiança pessoal e política em Mário Centeno — e como o no
sábado passado. Não são a auditoria posterior a cada empréstimo, a qual fica
pronta em Julho, mas o Novo Banco tem sido fiscalizado.
Insisto. O rigor e a seriedade na
política são essenciais. De que
servem ao país estas falsas polémicas? Seria sensato e benéfico um ministro com
a obra, o currículo e o prestígio de Mário Centeno sair do Governo? Faz sentido
deixar de respeitar o compromisso contratual de injecções de empréstimos anuais
no Novo Banco, provocando com isso uma crise bancária, que iria adensar as
graves crises de saúde pública, economia e de sociedade que vivemos?
TÓPICOS POLÍTICA NOVO BANCO MINISTÉRIO DAS FINANÇAS MÁRIO CENTENO PRIMEIRO-MINISTRO ANTÓNIO COSTA PRESIDENTE DA REPÚBLICA
COMENTÁRIOS:
Kr. Passos INICIANTE São José Almeida, uma das melhores jornalistas
portugueses. A Sra. devolve a esperança dos leitores que ainda o que gere o
clima da média são as verdades políticas, a independência e honestidade pessoal
e profissional dos que podem dominar para bem ou mal a decisão dos eleitores:
os jornalistas influentes. Mais uma vez, obrigada pelas honestas e correctas
informação e comentários.
"O
meu mandato termina a 13 de julho. Eu irei decidir se vou candidatar-me ou não
para novo mandato na presidência do Eurogrupo mais perto da data", afirmou
Centeno ao jornal alemão Süddeutsche Zeitung. "Agora estou focado em
concluir a agenda do primeiro semestre de 2020". Portanto não havia
despedidas, só houve sonhos dos liberais e direita da esquerda do centro (PSD
do Rio) e declarações públicas (MM na SIC) bastante mal comprovadas. Veremos os
acontecimentos, mas as verdadeiras contas certas continuam ao lado do
Centeno. Apesar da sondagem de Intercampos ter sido realizada em plena
crise com o primeiro-ministro, o governante não saiu beliscado. Prova disso é
que 30,2% dos eleitores consideram o Centeno o melhor ministro do Governo.
Rui
Rio anda nervoso, quer fazer oposição e não tem paciência para esperar,
correndo atrás das canas dos foguetes. RR pedir a demissão de Centeno? Só
depois de fazer uma crítica clara às responsabilidades de Passos, Maria Luís e
Cristas na resolução do BES. Até lá, a RR recomenda-se decoro. A. Costa, mesmo
em choque com o Centeno em torno da polémica do NB, tem a subida intensa do
último mês e quase iguala o Marcelo na popularidade. Marcelo? Como PR, esta já
é a segunda vez que tenta empurrar Centeno para fora do Governo. Coisa que não
lhe cabe, como qualquer constitucionalista sabe. P. Silva, PS Marcelo quer uma
reeleição histórica usando o NB para desviar as atenções da crise que aí vem. E
já mostrou que é capaz de tudo para lá chegar. Mas descer tão baixo?
JPGarcia INICIANTE: Excelente artigo. Claro como água. Assim é que é
informar e esclarecer.
Espectro EXPERIENTE: Considero este comentário exemplar. Explico-me: 1 - Porque
objectivo e factual (até cita as declarações dos intervenientes); 2 - Qualifica
correctamente as desastrosas intervenções de Rui Rio, PSD, e Mortágua, do BE
(chamando-lhes oportunistas, isto quer dizer que sacrificaram o interesse do
país pensando que enfraqueciam o governo e com isso ganhavam uns votinhos); 3
-Qualifica correctamente a intervenção de Centeno: Correcta, porque cumpriu o
contratado e a lei do OE. 4 - Por fim, não se esqueceu de Marcelo (de facto o
tal major acertou no "papagaio-mor", e mais não vale a pena dizer -
aturem-no, os que nele votaram; Também Costa não esteve muito bem,
principalmente ao precipitar-se no apoio ao papagaio. lol
ana cristina MODERADOR: Eles estiveram todos mal. E a jornalista também,
quando há uns dias tentou minimizar a dimensão demagógica do episódio,
explicando que tinha sido um mal-entendido sobre a palavra «auditoria». Um
pouquinho de autocrítica não ficava mal, quando se faz uns dias depois uma
análise substancialmente diferente, com os mesmos dados.
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