Terras, referências, estranhezas, como
essa de Basileia, que nunca imagináramos com tão escasso nome suíço. E aí vamos
nós, apenas imaginando, no prazer de uma fuga momentânea a este preguiçar encerrado,
de que Salles da Fonseca nos pretende
afastar, qual Mefistófeles caseiro e sem pacto, na devassa de mundos não
imateriais mas concretos, que generosamente nos transmite, pobres Faustos de trazer
por casa, apanhados nas malhas de um vazio inerme e sombrio.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO,13.05.20
Agora
que a cidade está no retrovisor e antes que me esqueça, devo dizer que prefiro
Basel a Basileia porque esta versão aportuguesada do nome desta cidade
suíça me faz lembrar uma geleia de um qualquer fruto ou mistela gordurosa feita
com o pó do basilisco moído fino. E não vá isso fazer mal aos meus leitores que
possam estar a contas com os diabetes, opto pelo nome original alemão, Basel,
foneticamente mais agradável para o interior das minhas orelhas.
De
Basel a Montreux são 165 quilómetros e isso fez-me lembrar que a Suíça
não é assim tão estreita como nos possa parecer num relance sobre o mapa que a
Senhor Professora lá tinha pendurado na sala das aulas. E porque desta vez íamos com mais pressa do que com
vagar, de Montreux vi o lago Léman
que se estendia a perder de vista à minha direita e, à minha esquerda, uma
mansão pintada de creme com varandas convidativas para um drink ao pôr do Sol
sobre as águas ali em frente, do outro lado da estrada. Lembrei-me também de
que devia andar por ali o Festival de Música da cidade mas àquela hora não vimos ninguém nesses preparos
festivos. Era cedo, o Sol ainda não passara por cima das montanhas por trás da
mansão creme.
A
estrada começou a ameaçar subir pouco depois de sairmos da cidade. Não faltou muito para que fosse mesmo estrada de
montanha e o nosso destino era o Grande São Bernardo, dali a 80 quilómetros,
para passarmos os Alpes e descermos para Itália.
Tínhamos que chegar ao cume no pino do Sol para termos mais probabilidades de
não apanharmos alguma borrasca que nos deixasse em aflições. Ainda faltavam
umas décadas para que passassem a funcionar túneis pelas entranhas dos Alpes. E o nosso fidelíssimo «pão de forma» lá nos
pôs nos píncaros dos monges
da regra de S. Bernardo e donos do
cão «Barry» que nos inícios do séc. XIX salvou, durante a dúzia de anos que
trabalhou, cerca de 40 peregrinos em apuros na rota de Roma.
Lembro-me
de termos parado lá no cimo para deixarmos algumas marcas territoriais mas não
procurámos o mosteiro. A passagem da fronteira deve ter sido fácil pois não me
lembro sequer dos Carabinieri que por ali estivessem.
A
descida ao longo do Vale d’Aosta
seria de 53 quilómetros até chegarmos à cidade de Aosta propriamente dita. Mas o nosso destino era o Castello di
Pavone em Ivrea, propriedade do Dr. Ruy d’Andrade, pai do nosso
Comandante, a 68 quilómetros depois da capital do vale, a meio caminho para Turim.
A
parte baixa do vale é relativamente aprazível mas pergunto-me como é que há
quem viva lá para cima. Deve ser para guardarem algum afluente do Pó enquanto menino. Só pode.
Fiquei
cansado da subida suíça e da descida italiana. Hoje, fico-me por aqui, amanhã
conto mais…
Maio
de 2020
Henrique
Salles da Fonseca
Tags::
"viagens
na minha casa"
HENRIQUE
SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO 14.05.20
Foi
no séc. XIX que Júlio d’Andrade
comprou as ruínas que tinham sido o Castello di Pavone, em Ivrea, a meio
caminho entre Aosta
e Turim. Era esse o
nosso destino onde nos aguardava toda a família dos meus companheiros de
viagem, os proprietários do castelo. Para além da família restrita, estavam
também uns primos italianos que ocupavam o quarto que tinha sido imaginado para
mim. Daí, fiquei na «sala de armas» numa confortável cama de campanha colocada
aos pés de uma armadura de corpo inteiro que os anfitriões, no meio de grande
galhofa, cuidaram de me demonstrar que estava vazia, sem vivo nem vestígios de
fantasmas.
Ficaríamos,
sem prazo certo, o tempo suficiente para descansarmos e visitarmos os pontos de
interesse na região subalpina.
Assentados
e descontraídos, visitámos a fábrica da Olivetti cuja sede ainda era naquela cidadezinha. Num dos dias seguintes, fomos a Turim (a cerca de 50 quilómetros), sede da Fiat (que não visitámos) e, como nas outras cidades por
que já passáramos, demos uma volta de carro para ficarmos com uma ideia
genérica daquela que me pareceu uma magnífica cidade. À semelhança da
Praça do Giraldo de Évora, vi muitas arcadas e deu-me para pensar se esta
solução corresponde ao abuso do espaço público, o passeio, a entrar pelos
prédios dentro ou se, pelo contrário, são os prédios que se voluntariam na protecção
do espaço público. Há 75 anos que não chego a uma conclusão mas também digo
que não estou muito nem pouco preocupado.
Daí
a uns dias foi o próprio Dr. Ruy D’Andrade que nos levou a visitar uns quantos castelos
ao longo do Vale d’Aosta
que, à semelhança do seu aquando da compra pelo seu pai, estavam em ruínas e foram
reconstruídos. No caso do castelo dele, a expensas exclusivas do seu pai,
nestes outros, por uma parceria entre uma Associação (dos amigos dos castelos?)
e o Estado Italiano. Uma particularidade a merecer nota: o castelo dele está
situado num morro com domínio visual duma grande extensão do vale, tinha uma
vocação militar e administrativa; estes que agora visitávamos tinham uma missão
administrativa, sim, mas sobretudo de apoio aos peregrinos a caminho de Roma ou
de outros locais de romagem e, por isso, se situam na planície, no caminho mais
natural dos romeiros. Abertos ao público, todos tinham um guarda
residente com a missão de cicerones e de «sinaleiros» de alguma obra de
conservação necessária. Todos velhotes, reformados de uma qualquer outra
função, acolhiam o Dr. Ruy como um patrão amigo que saudavam à moda antiga na
região, três beijinhos cerimoniosos.
Passado
mais um dia ou dois e o nosso Comandante começou a dar sinais de que estava na
hora de seguir caminho rumo a Genève, a
cidade do repuxo.
(continua)
Maio de 2020
Henrique Salles da Fonse
Tags: "viagens
na minha casa"
NOTAS DA INTERNET:
Basileia
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Basileia (em alemão:
Basel, em francês: Bâle, em italiano: Basilea) é a terceira maior cidade da Suíça (atrás
de Zurique e Genebra) com a
população de cerca de 195 000 habitantes. No grego koinê, Basileia significa
"reino" ou "domínio". A cidade foi fundada pelos romanos
com o nome de Basilia. É considerada a capital cultural da Suíça.
Localizada entre a fronteira da Suíça com
a Alemanha e França,
Basileia também tem subúrbios nesses dois países. Em 2014 a
aglomeração urbana de Basileia foi a terceira maior de seu país, com uma
população de 537100 habitantes em 74 municípios na Suíça e um adicional de 53
municípios nos países vizinhos. A trinacional área metropolitana de Basileia
tem cerca de 830 000 habitantes em 226 municípios. Basileia é sede do Banco de Compensações
Internacionais (uma espécie de banco central dos bancos centrais) e por
isso batiza também o acordo que trata da normatização dos
procedimentos bancários. É sede ainda de indústrias, bancos, seguradoras e
empresas de transporte. A cidade também referência mundial no campo da
indústria farmacêutica e abriga sedes de diversas empresas, entre as quais Roche, Novartis, Syngenta, Ciba
Specialty Chemicals, Clariant, Basilea Pharmaceutica e Actelion.
Na cidade há um zoológico famoso pela
quantidade de espécies raras que abriga, como o Asno-da-somália,
o Leopardo-das-neves e o Ocapi.
Geografia
Localizada no
noroeste da Suíça, Basileia faz fronteira com a Alemanha e com a França. É
cortada pelo rio Reno, que a divide
em Grande Basileia (Gross Basel) e Pequena Basileia (Klein Basel), esta na
margem oposta do rio, junto a Lörrach. Sua
localização favoreceu o desenvolvimento da cidade como polo financeiro e de
transportes. …
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