sexta-feira, 15 de maio de 2020

VIAJAR, REVIVER



Terras, referências, estranhezas, como essa de Basileia, que nunca imagináramos com tão escasso nome suíço. E aí vamos nós, apenas imaginando, no prazer de uma fuga momentânea a este preguiçar encerrado, de que Salles da Fonseca nos pretende afastar, qual Mefistófeles caseiro e sem pacto, na devassa de mundos não imateriais mas concretos, que generosamente nos transmite, pobres Faustos de trazer por casa, apanhados nas malhas de um vazio inerme e sombrio.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO,13.05.20
Agora que a cidade está no retrovisor e antes que me esqueça, devo dizer que prefiro Basel a Basileia porque esta versão aportuguesada do nome desta cidade suíça me faz lembrar uma geleia de um qualquer fruto ou mistela gordurosa feita com o pó do basilisco moído fino. E não vá isso fazer mal aos meus leitores que possam estar a contas com os diabetes, opto pelo nome original alemão, Basel, foneticamente mais agradável para o interior das minhas orelhas.
De Basel a Montreux são 165 quilómetros e isso fez-me lembrar que a Suíça não é assim tão estreita como nos possa parecer num relance sobre o mapa que a Senhor Professora lá tinha pendurado na sala das aulas. E porque desta vez íamos com mais pressa do que com vagar, de Montreux vi o lago Léman que se estendia a perder de vista à minha direita e, à minha esquerda, uma mansão pintada de creme com varandas convidativas para um drink ao pôr do Sol sobre as águas ali em frente, do outro lado da estrada. Lembrei-me também de que devia andar por ali o Festival de Música da cidade mas àquela hora não vimos ninguém nesses preparos festivos. Era cedo, o Sol ainda não passara por cima das montanhas por trás da mansão creme.
A estrada começou a ameaçar subir pouco depois de sairmos da cidade. Não faltou muito para que fosse mesmo estrada de montanha e o nosso destino era o Grande São Bernardo, dali a 80 quilómetros, para passarmos os Alpes e descermos para Itália. Tínhamos que chegar ao cume no pino do Sol para termos mais probabilidades de não apanharmos alguma borrasca que nos deixasse em aflições. Ainda faltavam umas décadas para que passassem a funcionar túneis pelas entranhas dos Alpes. E o nosso fidelíssimo «pão de forma» lá nos pôs nos píncaros dos monges da regra de S. Bernardo e donos do cão «Barry» que nos inícios do séc. XIX salvou, durante a dúzia de anos que trabalhou, cerca de 40 peregrinos em apuros na rota de Roma.
Lembro-me de termos parado lá no cimo para deixarmos algumas marcas territoriais mas não procurámos o mosteiro. A passagem da fronteira deve ter sido fácil pois não me lembro sequer dos Carabinieri que por ali estivessem.
A descida ao longo do Vale d’Aosta seria de 53 quilómetros até chegarmos à cidade de Aosta propriamente dita. Mas o nosso destino era o Castello di Pavone em Ivrea, propriedade do Dr. Ruy d’Andrade, pai do nosso Comandante, a 68 quilómetros depois da capital do vale, a meio caminho para Turim.
A parte baixa do vale é relativamente aprazível mas pergunto-me como é que há quem viva lá para cima. Deve ser para guardarem algum afluente do Pó enquanto menino. Só pode.
Fiquei cansado da subida suíça e da descida italiana. Hoje, fico-me por aqui, amanhã conto mais…
Maio de 2020
Henrique Salles da Fonseca

HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO 14.05.20
Foi no séc. XIX que Júlio d’Andrade comprou as ruínas que tinham sido o Castello di Pavone, em Ivrea, a meio caminho entre Aosta e Turim. Era esse o nosso destino onde nos aguardava toda a família dos meus companheiros de viagem, os proprietários do castelo. Para além da família restrita, estavam também uns primos italianos que ocupavam o quarto que tinha sido imaginado para mim. Daí, fiquei na «sala de armas» numa confortável cama de campanha colocada aos pés de uma armadura de corpo inteiro que os anfitriões, no meio de grande galhofa, cuidaram de me demonstrar que estava vazia, sem vivo nem vestígios de fantasmas.
Ficaríamos, sem prazo certo, o tempo suficiente para descansarmos e visitarmos os pontos de interesse na região subalpina.
Assentados e descontraídos, visitámos a fábrica da Olivetti cuja sede ainda era naquela cidadezinha. Num dos dias seguintes, fomos a Turim (a cerca de 50 quilómetros), sede da Fiat (que não visitámos) e, como nas outras cidades por que já passáramos, demos uma volta de carro para ficarmos com uma ideia genérica daquela que me pareceu uma magnífica cidade. À semelhança da Praça do Giraldo de Évora, vi muitas arcadas e deu-me para pensar se esta solução corresponde ao abuso do espaço público, o passeio, a entrar pelos prédios dentro ou se, pelo contrário, são os prédios que se voluntariam na protecção do espaço público. Há 75 anos que não chego a uma conclusão mas também digo que não estou muito  nem pouco preocupado.
Daí a uns dias foi o próprio Dr. Ruy D’Andrade que nos levou a visitar uns quantos castelos ao longo do Vale d’Aosta que, à semelhança do seu aquando da compra pelo seu pai, estavam em ruínas e foram reconstruídos. No caso do castelo dele, a expensas exclusivas do seu pai, nestes outros, por uma parceria entre uma Associação (dos amigos dos castelos?) e o Estado Italiano. Uma particularidade a merecer nota: o castelo dele está situado num morro com domínio visual duma grande extensão do vale, tinha uma vocação militar e administrativa; estes que agora visitávamos tinham uma missão administrativa, sim, mas sobretudo de apoio aos peregrinos a caminho de Roma ou de outros locais de romagem e, por isso, se situam na planície, no caminho mais natural dos romeiros. Abertos ao público, todos tinham um guarda residente com a missão de cicerones e de «sinaleiros» de alguma obra de conservação necessária. Todos velhotes, reformados de uma qualquer outra função, acolhiam o Dr. Ruy como um patrão amigo que saudavam à moda antiga na região, três beijinhos cerimoniosos.
Passado mais um dia ou dois e o nosso Comandante começou a dar sinais de que estava na hora de seguir caminho rumo a Genève, a cidade do repuxo.
(continua)
Maio de 2020
Henrique Salles da Fonse

NOTAS DA INTERNET:
Basileia
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Basileia (em alemão: Basel, em francês: Bâle, em italiano: Basilea) é a terceira maior cidade da Suíça (atrás de Zurique e Genebra) com a população de cerca de 195 000 habitantes. No grego koinê, Basileia significa "reino" ou "domínio". A cidade foi fundada pelos romanos com o nome de Basilia. É considerada a capital cultural da Suíça.
Localizada entre a fronteira da Suíça com a Alemanha e França, Basileia também tem subúrbios nesses dois países. Em 2014 a aglomeração urbana de Basileia foi a terceira maior de seu país, com uma população de 537100 habitantes em 74 municípios na Suíça e um adicional de 53 municípios nos países vizinhos. A trinacional área metropolitana de Basileia tem cerca de 830 000 habitantes em 226 municípios. Basileia é sede do Banco de Compensações Internacionais (uma espécie de banco central dos bancos centrais) e por isso batiza também o acordo que trata da normatização dos procedimentos bancários. É sede ainda de indústrias, bancos, seguradoras e empresas de transporte. A cidade também referência mundial no campo da indústria farmacêutica e abriga sedes de diversas empresas, entre as quais Roche, Novartis, Syngenta, Ciba Specialty Chemicals, Clariant, Basilea Pharmaceutica e Actelion.
Na cidade há um zoológico famoso pela quantidade de espécies raras que abriga, como o Asno-da-somália, o  Leopardo-das-neves e o Ocapi.
Geografia
Localizada no noroeste da Suíça, Basileia faz fronteira com a Alemanha e com a França. É cortada pelo rio Reno, que a divide em Grande Basileia (Gross Basel) e Pequena Basileia (Klein Basel), esta na margem oposta do rio, junto a Lörrach. Sua localização favoreceu o desenvolvimento da cidade como polo financeiro e de transportes. …


Nenhum comentário: