segunda-feira, 30 de novembro de 2020

“Tenho dito”


Isso é lá muito atrás, esses tempos da monarquia - de que trata o Dr. Salles, em que os discursos dos reis não tinham grande ênfase, talvez por estarem mais ocupados em agir do que em discursar. Não me sai da memória, mais recentemente, no entanto - mas já lá vão 40 e tal anos - o “Portugueses!” arrogante e despachado do general Eanes, não finalizante mas introdutório dos discursos que aplicou quando libertou o país das garras traiçoeiras do Copcom, embora fosse por pouco tempo, porque a semente - da traição - ficou e parece que vingou bem, na terra adubada com a pecúnia externa.

Vindo dos tempos da primeira república, salvo erro, usou-se o “pela lei e pela grei” que mostrou a afinidade dos instruídos republicanos, com as doutrinas que mandavam proteger o povo, seguindo critérios justiceiros, mas não sei se a expressão é ainda mais antiga, com a sua etimologia alatinada. O que não esqueço são as cantorias da infância, não sei se cantadas cá, na escola primária, se já em África. Era, salvo erro, o Hino da Restauração que me ficou na memória, tarda hoje em expressões mais comuns, mas com o seu cantinho da infância na reserva, como acontecia com a minha mãe, cujas memórias já lembrei. Era o seguinte, o Hino da Restauração:

“Lusitanos, é chegado

O dia da redenção.

Caem do (peito?) pulso as algemas.

Ressurge livre a Nação.

O deus de Afonso em Ourique

Dos livres nos deu a lei -

Nossos braços a sustentem,

Pela pátria, pelo rei …

Às armas, às armas

O ferro a empunhar

A pátria nos chama,

Convida a lidar.

Trá lá lá lá lá lá lá

A - a lidar

Às armas, às armas,

Trá lá lá

A pátria nos chama…

Já agora, também recordo a Maria da Fonte, que cheguei a cantar aos meus alunos, por alturas da querela do Bom Senso e Bom Gosto da evolução para o realismo, para lhes lembrar como o povo é entidade livre e corajosa, já desde a “padeira de Aljubarrota”, D. Brites de Almeida, e a findar na “Catarina Eufêmia”:

Viva a Maria da Fonte

A cavalo, sem cair,

Com a corneta na mão

A tocar a reunir,

Mas essa, encontro-a no Youtube cantada pelo Vitorino e com letra mais adequada.

Tudo isto me acode a propósito da fórmula que o Dr. Salles pretende que devia haver nos tempos monárquicos, de desfecho dos discursos reais, mas provavelmente não havia assim tantos discursos, gente essencialmente de acção, como se lê n’Os Lusíadas, com o D. João I, no Canto IV, a acompanhar os seus homens antes da Batalha de Aljubarrota e onde Nuno Álvares Pereira , esse sim, pronuncia umas falas alterosas contra os que se mancomunavam com os castelhanos, antes da batalha de Aljubarrota:

12
«Joane, a quem do peito o esforço crece,
Como a Sansão Hebreio da guedelha,
Posto que tudo pouco lhe parece,
Cos poucos do seu Reino se aparelha;
E, não porque conselho lhe falece,
Cos principais senhores se aconselha,
Mas só por ver das gentes as sentenças,
Que sempre houve entre muitos diferenças.

13
«Não falta com razões quem desconcerte
Da opinião de todos, na vontade;
Em quem o esforço antigo se converte
Em desusada e má deslealdade,
Podendo o temor mais, gelado, inerte,
Que a própria e natural fidelidade.
Negam o Rei e a Pátria e, se convém,
Negarão (como Pedro) o Deus que têm.

14
«Mas nunca foi que este erro se sentisse
No forte Dom Nuno Álvares; mas antes,
Posto que em seus irmãos tão claro o visse,
Reprovando as vontades inconstantes,
Àquelas duvidosas gentes disse,
Com palavras mais duras que elegantes,
A mão na espada, irado e não facundo,
Ameaçando a terra, o mar e o mundo:

15
– «Como? Da gente ilustre Portuguesa
Há-de haver quem refuse o pátrio Marte?
Como? Desta província, que princesa
Foi das gentes na guerra em toda parte,
Há-de sair quem negue ter defesa?
Quem negue a Fé, o amor, o esforço e arte
De Português, e por nenhum respeito
O próprio Reino queira ver sujeito?

16
«Como? Não sois vós inda os descendentes
Daqueles que, debaixo da bandeira
Do grande Henriques, feros e valentes,
Vencestes esta gente tão guerreira,
Quando tantas bandeiras, tantas gentes
Puseram em fugida, de maneira
Que sete ilustres Condes lhe trouxeram
Presos, afora a presa que tiveram?

17
«Com quem foram contino sopeados
Estes, de quem o estais agora vós,
Por Dinis e seu filho sublimados,
Senão cos vossos fortes pais e avós?
Pois se, com seus descuidos ou pecados,
Fernando em tal fraqueza assim vos pôs,
Torne-vos vossas forças o Rei novo,
Se é certo que co Rei se muda o povo.

18
«Rei tendes tal que, se o valor tiverdes
Igual ao Rei que agora alevantastes,
Desbaratareis tudo o que quiserdes,
Quanto mais a quem já desbaratastes.
E se com isto, enfim, vos não moverdes
Do penetrante medo que tomastes,
Atai as mãos a vosso vão receio,
Que eu só resistirei ao jugo alheio.

19
«Eu só, com meus vassalos e com esta
(E dizendo isto arranca meia espada),
Defenderei da força dura e infesta
A terra nunca de outrem sojugada.
Em virtude do Rei, da pátria mesta,
Da lealdade já por vós negada,
Vencerei não só estes adversários,
Mas quantos a meu Rei forem contrários!» ….

E tudo isto – que não responde à dúvida posta pelo Dr. Salles, por deficiência técnica, mas que nos embala o prazer da memória antiga – serve apenas de recreio, por falta, pois, de alimento para a linfa da sua História, linfa, em todo o caso, sagrada, que nos ajudou por certo a seguir em frente, embora com os volteios e os emaranhamentos de quem talvez não atribua o mesmo valor às palavras, em fórmulas de uma cortesia nem sempre sincera, porque mais ou menos convencional, sobretudo nos tempos de hoje, em que as ideologias abastardam o conceito de pátria, em hiperbólico e falso amor pela humanidade. O “A Bem da Nação”, que é também título do seu blog, é suficientemente limitado mas sagrado, para cobrir todo um percurso histórico, no coração do seu autor, como no de todos os portugueses menos ambiciosos de universalidade.

 

A LINFA DA HISTÓRIA

Henrique Salles da Fonseca

30.11.20

Na actualidade, não me consta que haja uma fórmula obrigatória para as mensagens emitidas pelos diversos Departamentos oficiais mas no tempo do Estado Novo, os ofícios da Administração Pública encerravam com a fórmula «A bem da Nação»;

Durante a 1ª República, a fórmula equivalente era «Saúde e fraternidade».

A questão que aqui deixo aos Leitores monárquicos, aos historiadores e aos curiosos é:

Tendo havido, qual era a fórmula protocolarmente definida para encerramento das comunicações oficiais escritas no tempo da Monarquia constitucional?

Claro está que se trata de um tema menor, literalmente, quase de pé de página mas que dá uma ideia sobre o tom genérico da alma de um Regime. Não é o sangue das grandes proclamações, não, mas é por certo a linfa dos pequenos momentos que ajudam a roda da vida a girar.

Aguardemos pela ajuda de quem saiba…

Novembro de 2020

 

Abre-te, Sésamo!


Tanto o texto de Helena Matos como os dos seus muitos Comentadores são lição esclarecedora a respeito da hipocrisia generalizada em torno de muitos desses casos de polícia que não são devidamente esclarecidos, pela institucionalização da má-fé demagógica e unilateral, por conveniência de um governo sujeito ao preconceito dos seus apoiantes numéricos, favorecedores da sua estabilidade governativa.

A demagogia em torno da violência policial /premium

Questionamos o SNS de cada vez que um médico falha? Pomos em causa a justiça por causa de um juiz corrupto? Porquê então a desconfiança em torno das forças policiais de cada vez que um agente erra?

HELENA MATOS, Colunista do Observador

OBSERVADOR, 29 nov 2020, 08:0893

Das mil vagas abertas este ano no concurso de recrutamento para agentes da PSP apenas foram preenchidas 793. Nunca nada de semelhante aconteceu no nosso país. Habitualmente o número de candidatos aprovados superava largamente o número de vagas, o que levava à constituição de reservas de recrutamento, com os candidatos aprovados a ficarem como excedentários. Agora os candidatos nem chegam para preencher as vagas quanto mais para manter reservas.

Porque aconteceu isto? Algumas das explicações mais frequentes e directas prendem-se com as questões materiais, sobretudo no início da carreira: o baixo vencimento ou a colocação longe de casa. Mas não só. Basta seguir as notícias e as fúrias soltas das redes sociais para perceber que será cada vez mais difícil alguém escolher ser polícia.

Quem ler, vir ou ouvir os nossos noticiários tem razões para acreditar que existe um problema das autoridades policiais neste nosso mundo democrático. (E só neste, claro, porque aceita-se como uma fatalidade a repressão nas ditaduras, como na China, na Turquia ou em Cuba.) Enquanto escrevo, a França está mais uma vez a ferro e fogo por causa da nova lei de segurança apresentada pelo governo, para mais nos mesmos dias em que foi conhecido um vídeo onde se vê um homem a ser agredido por três polícias. Em Portugal, foi confirmada a condenação de oito polícias da Esquadra de Alfragide que, segundo deu como provado o Tribunal da Relação de Lisboa, a 5 de Outubro de 2015 terão agredido seis jovens. Em Espanha, com o caos instalados nas Canárias após a chegada este ano de mais de 18 mil imigrantes de Marrocos, exploram-se as falhas das autoridades policiais no controlo dos imigrantes para iludir o estrondoso erro político do governo de Sanchez quando o seu governo acolheu com pompa e propaganda os “refugiados” do Aquarius: as mafias da imigração perceberam que tinham rota livre e usam-na.

Por cá essas 207 vagas que ficaram por preeencher no concurso de admissão à PSP dão conta de um mal-estar de que não se fala. Nem se quer falar. Afinal no mundo-bolha dos jornalistas, políticos e activistas (esse mundo-bolha em que se desliza por ciclovias e não em comboios apinhados, esse mundo-bolha em que só se ouvem as músicas do mundo e não o inquietante ruído de passos num corredor do metro, esse mundo-bolha em que se fazem compras em lojas tradicionais e não em supermercados de baixo preço em cujo interior os seguranças, quase sempre negros, parecem cada vez mais altos) nesse mundo-bolha, repito, os polícias só são notícia quando erram, como aconteceu na esquadra de Alfragide. Caso contrário, por exemplo quando são atraídos a emboscadas, resta-lhes o Correio da Manhã e umas notícias breves para que os fact check possam garantir que se abordou o assunto.

Qualquer notícia acerca de um abuso cometido por polícias, seja em Portugal, em França ou nos EUA leva a que, passo seguinte, se questione a própria autoridade policial. Despedimento imediato ou a expulsão na hora dos agentes envolvidos é o mínimo que se exige. O passo seguinte tem sido apresentar-se a ausência de policiamento como algo de positivo: «Na “Zona Autónoma” de Seattle a polícia não manda, a comida é grátis e as ideias fluem» lia-se este ano no Expresso aquando dos tumultos que tiveram lugar nos EUA. Como era mais que expectável não passaram muitos dias até que se impusesse a lei do mais forte nas tais zonas livres de polícia: pilhagens, tiroteios, agressões sexuais… foram acontecendo mas na falta de um polícia, de preferência branco, para culpar, essa violência não gerou grande comoção. Em França, proliferaram as zonas onde “a polícia não manda” nem entra, são os chamados territórios perdidos da República. O alarme só tocou nas instituições quando o presidente Macron teve de ser retirado de um teatro pelos mesmos polícias cuja actividade inicialmente depreciara.

Entendamo-nos, é óbvio que existe violência policial. E abusos praticados por polícias. Mas também temos de entender que cavalgando casos de violência policial estamos a viver uma tentativa de deslegitimação das autoridades policiais nos países democráticos. Se a isto, que já não é pouco, se juntar a racialização de tudo o que acontece temos um inferno pronto a servir. Perante um quadro destes quem é se candidata à PSP sabendo que nos primeiros anos de serviço poderá ser colocado na periferia de Lisboa com um salário base que não chega aos 800 euros? E, mais importante ainda, como é a vida nessas periferias quando o policiamento falha? Ou nesse interior que, visto do mundo-bolha, parece um bilhete-postal bucólico mas tem esquadras e postos da GNR fechados à noite por falta de viaturas e homens?

Da próximas vez que se ouvir repetir como um dogma inquestionável – não há liberdade sem segurança – não podemos esquecer: este ano das mil vagas abertas para agentes da PSP apenas foram preenchidas 793. Para o ano como será?

PS. Onze milhões de euros por uma conferência que não vai passar de um evento on line? A Câmara Municipal de Lisboa e o Governo português resolveram manter o pagamento de 11 milhões de euros relativamente à edição da Web Summit de 2020. Só que a Web Summit de 2020 vai ser apenas um encontro digital. A śério que não vai ser invocada a cláusula do contrato que permite suspender o pagamento em caso de força maior como uma pandemia? Alguém está a gozar com os contribuintes portugueses!

POLÍCIA  SEGURANÇA  SOCIEDADE  VIOLÊNCIA POLICIAL  VIOLÊNCIA  CRIME  PSP

COMENTÁRIOS

…..Maria Narciso > Joao Figueiredo: Fazemos parte da UE. Não somos nem mais, nem menos que os outros Estados Europeu, não se podem fazer programas ideológicos, mas Sim - uma política económica, como ficou provado, os programas económicos conduzem ao caos e até á guerra civil. O desprezo pelas massas populares não pode existir, o modelo social europeu, a coesão têm de voltar, sem isto , haverá sempre a luta de classes. Joao Figueiredo > Maria Narciso: Maria, estou demasiado velho para esse tipo de lengalengas e contos de fadas, eu conheço a Europa e trabalhadores de todo o mundo, os Alemães e os holandeses, são o modelo a seguir, até os mexicanos, chilenos e colombianos os seguiam se pudessem. Macron e os franceses estão fora de tempo, deixaram atrasar-se na grande roda que é o mundo. Alemães, japoneses, sul coreanos são óptimos modelos ... se gosto dos modelos deles? Tem dias, mas são práticos, pragmáticos, trabalhadores, metódicos.RespoLuis Manuel Ferreira: A demagogia da frente de extrema esquerda que desgoverna o país só sabe atacar as autoridades policiais no seu difícil desempenho da ordem pública, quanto ao resto estão calados e assobiam para o lado!!!    José Afonso: Obrigado por mais uma esclarecedora crónica.     Joaquim Moreira: É sempre bom ver, ouvir e ler Helena Matos a falar, não podemos ignorar! Na verdade, esta é uma clara situação de calamidade, que é vista por muita gente com normalidade. Mas que revela à saciedade, que estamos a construir o contrário do que devia ser uma sociedade. Moderna e civilizada, que respeite a autoridade, devidamente instruída, ressarcida e por todos reconhecida. Mas sobretudo, e antes de mais, pelos responsáveis do Estado, por criar as condições ideais. Pelo contrário, temos um Estado em que o responsável da tutela, teve uma vez uma cena em pleno AR, que nunca mais me esqueço dela. E que, muito de muito mau revela. Sempre ouvi dizer e consegui reter, quando as lideranças são fracas e perniciosas, as sociedades tendem a ser muito perigosas. Por este andar, se isto não parar, vamos certamente chegar a um ponto, em que a própria polícia vai ter que se revoltar. Até lá, encontrará no Chega quem o poderá politicamente representar. Contra o grande agrupamento de esquerda muito responsável, por esta situação deplorável! Sobre o seu "PS" no final, é a prova real da miserável prepotência do poder em Portugal. Pior que o vírus do mal!         Matinha da Mata 007 > Joaquim Moreira: Não é nos EUA que o Joe Biden e o partido democrata querem cortar os fundos às policias? Aqui vão fazer o mesmo? Ou vão substituir pela policia política?        António Tomé: Compare-se com os concursos de admissão ao CEJ, para magistrados, em que só uma ínfima parte dos concorrentes entra. Mas sejamos honestos, só o subsidio de residência dos magistrados tem um valor superior ao ordenado base de um policia em inicio de carreira. Não pagam impostos sobre o mesmo e não têm que ir ao Bairro da Moura. Simplesmente apreciam as atitudes das vítimas deste sistema, de um e outro lado. Maria Alva: Muito bem. Um artigo cheio de oportunidade. Em França, o presidente Macron quer criminalizar a colocação de vídeos na net que suscitem o ódio ás forças policiais, depois de serem truncados e editados para só mostrarem as cenas mais violentas, tirando-as do contexto que originou esse uso da força.    Artur Parracho: Assertiva como sempre HM. Caminha-se em direcção ao Caos, amanhã será tarde demais ...    Alfaiate Tuga: Se não conseguem atrair candidatos para os novos cursos de polícia, é porque pagam pouco para o que é exigido, simples. Costumo dizer que quem paga mal tem sempre um placard na porta a dizer precisa-se funcionários, na polícia é igual... Zacarias Bidon: Valha-nos Helena Matos para falar dos assuntos que interessam.    Gil Lourenço: As minorias (os coitadinhos de Abril, como bem caricaturou um deputado) vitimizam-se para conseguirem privilégios. Os do politicamente correcto (que vivem em cidadelas muradas, incluindo os meios de comunicação e comentadeiros do costume e os antropólogos e sociólogos e mais gentinha dessa) aplaudem. Quem tem que levar com essas taras todas são as forças de segurança e por isso são um alvo a abater.    Manuel Magalhães: Uma chamada de atenção que só peca por tardia, o que não retira o mérito à autora do artigo. Na verdade a democracia está de facto em risco, com este ataque sistemático às instituições que zelam pela nossa segurança, erros há os em todas as organizações, mas isso não lhes pode retirar a sua enorme importância como pretendem muitas das organizações nefastas que por aí abundam mais as suas caixas de ressonância dos nossos média, essa gente que tanto diz defender a democracia mais não faz do que debilitá-la e penso que de propósito!!!       Gil Lourenço: Excelente como sempre. Desde que Rousseau teorizou a ideia do Bom Selvagem, de que nascemos bons e livres mas é a sociedade e as suas instituições que nos retiram essa mesma liberdade e que os marxistas e neo-marxistas pegaram nessas sentenças e chegaram a ir para a rua proclamar que é proibido proibir (os burguesinhos parisienses, a primeira geração que não passou por uma guerra e por dificuldades económicas e portanto estavam enfadados) que os extremistas atacam por tudo e por nada as forças de segurança. Mas depois quando se vêem aflitos lá as vão chamar (como o mamadou e as deputadas bloquistas). Na realidade não nascemos livres, só nos tornarmos livres porque essas instituições nos garantem as liberdades, zelando pela nossa segurança. Rousseau enganou-se e para isso basta ver o grau de violência e de manhas nos tais "selvagens tribais" que Rousseau tanto admirava. Os esquerdistas e mesmo a direitinha fofinha que vão viver para zonas complicadas e depois venham falar. Acredito que se confinavam em casa, borrados de medo. E se deixassem a sua ideologia de parte, talvez conseguissem perceber por que razão a profissão de polícia (e de professor também) é uma das mais atingidas pelo burnout. Dá que pensar não é, que na polícia haja uma taxa de suicídio tão elevada? Claro que os tontos esquerdistas vêm dizer que a polícia tem de ser mais pedagógica etc. Mas os adultos e os criminosos precisam de pedagogia para perceberem o básico dos básicos? Estou mesmo a ver um polícia chegar ao pé de um criminoso ou de um jovem mal educado e dizer: olha, vê lá que o teu comportamento não deve ser assim, por isto ou por aquilo. Se não actuasse, no final da conversa pedagógica provavelmente já estaria morto.    Vera Oliveira: Muito bom. A democracia a ser questionada por umas minorias bem activas e com a nossa conivência silenciosa        António Marques Mendes: Muito oportuno!          Paul C. Rosado: Tem razão em tudo o que disse. É urgente tirar a extrema-esquerda do poder, não só em Portugal, mas no mundo Ocidental. Caso contrário vão acabar por destruí-lo. Sempre foi esse o objectivo.       Antes pelo contrário: Em França, essa questão está ao rubro. Os franceses estão num momento semelhante ao da Revolução Francesa, em que o poder caiu na rua por causa do populismo e da mentira. Para recordar, em 1789 os radicais de esquerda culpavam o Rei e a Monarquia pela pobreza do povo, e os intelectuais acusavam-no de ter milhares de presos políticos nas prisões. Nem uma nem outra acusação eram verdadeiras, pois a situação do povo existia desde sempre, não tinha começado com Luís XVI, a fome nos dois anos anteriores devia-se à seca que tinha destruído as colheitas, e afinal havia 7 presos na Bastilha, dos quais 6 por delitos comuns e 1 louco. Claro está, o que havia era a exploração do sentimento popular - o populismo - através de uma tomada de consciência de classe promovida pelo ideário pré-marxista, que tal como o marxismo se baseava na inveja dos ricos e na vontade de impor uma ditadura. Tudo o que afinal foi conseguido, com a Revolução, foi a institucionalização do "Terror", com perseguições e assassinatos em massa, seguido de uma ditadura, com o Directório, e outra, com Napoleão, que coroando-se ele próprio imperador, acabou por pôr a Europa a ferro e fogo durante mais de 30 anos, com consequências até aos dias de hoje. O que ficou da Revolução Francesa? Não, não foram os governos nem as constituições democráticas: Essas já existiam antes, em Inglaterra, há vários séculos, e em vários Estados italianos e alemães. Ficou o palavreado populista, a utopia revolucionária, e a contestação de rua. E a "Déclaration des Droits de l'Homme et du Citoyen", que diz no artigo 1º "Les hommes naissent et demeurent libres et égaux en droits." Mas diz logo a seguir na mesma linha: "Les distinctions sociales ne peuvent être fondées que sur l'utilité commune." Ou seja: a meritocracia - que eu defendo, mas da qual toda a gente parece ter-se esquecido. Mais recentemente, os franceses - que julgam inovar, mas na realidade não evoluem - juntaram à tradição de 1789 a de Maio de 68, acrescentando-lhe as revoltas estudantis e regressando aos temas do desrespeito pelas instituições e da inversão da ordem estabelecida. Não aprenderam ao longo dos últimos 230 anos, infelizmente, que o progresso e as liberdades se obtêm apenas quando são cimentados por um longo caminho de construção democrática, e que pelo contrário os movimentos súbitos e revolucionários, se servem de facto para inverter ou destruir a ordem estabelecida, redundam invariavelmente em novos abusos - de qualquer um dos lados - numa nova ordem e em novos ditadores, quer sejam os ditadores "institucionais", quer aqueles que manipulam as massas através da demagogia, do oportunismo ou do populismo!!! Como fizeram Robespierre, Napoleão, Lenine, Mussolini, Hitler, Fidel, Mao, Kim Il-sung, etc.    Antes pelo contrário > Antes pelo contrário: Para voltar à actualidade, reféns do seu ideário de "liberdade", da tradição revolucionária, e dos populistas, os franceses e outros povos tornaram-se presas dos oportunistas estrangeiros, que viram aí a sua fraqueza. Inconscientes de que a liberdade de uns acaba sempre onde começa a dos outros, têm permitido - como cá - a imigração ilegal a uma escala nunca vista. O que se tem traduzido recentemente numa cada vez maior ousadia dos migrantes. Duas práticas estão em vias de se institucionalizar: a instalação de acampamentos de migrantes ilegais em locais emblemáticos de Paris como a Place da la République, e a travessia da Mancha em botes de borracha, ao assalto das costas britânicas... Mas não se pense que os migrantes se vão embora para outro lado, quando aparece a polícia... pelo contrário, resistem, em flagrante desrespeito pela Lei e a Ordem do Estado onde se encontram. E obviamente, aquilo que era antes um regime pacífico, baseado nessa Lei e Ordem, comummente aceites pela grande maioria dos cidadãos, que lhes permitia viver em liberdade sem invadir a liberdade dos outros - é para isso que existe o Estado de Direito - vê-se obrigado a adoptar medidas repressivas. No caso concreto, o desmantelamento do campo de imigrantes na Place de la République, e um novo acordo entre a França e o Reino Unido para um patrulhamento reforçado das águas e das costas da Mancha, com recurso a drones e a meios de vigilância sofisticados. O que acontece a seguir?... Os franceses que ainda estão - coitados - obnubilados pela demagogia e pelo populismo das esquerdas, não correm a defender a sua cidade, o seu território, as instituições ou o Estado de Direito. Não, apenas defendem os migrantes, que querem ocupar o seu território, mas atacam a polícia!!! Ontem, na "marcha pelas liberdades", houve 61 polícias e gendarmes feridos!!! E nas "redes sociais" há apelos para filmar os polícias, mais sites criados para dar a conhecer as suas identidades e endereços, apelando à agressão e intimidação das suas famílias!!! Face a esta situação, está em estudo na Assembleia Nacional francesa um projecto de alterações à Lei de Segurança, que inclui mais câmaras para a vigilância dos manifestantes e dos locais públicos, proíbe a filmagem e divulgação de imagens de polícias e gendarmes, etc. E já está a ser contestado na rua, em nome das "liberdades"...!!! E agora pergunto: Será que a defesa do Estado de Direito é permitir o abuso institucionalizado, permanente, e em total impunidade, das Leis da República, por parte de estrangeiros ilegais e multidões contestatárias? Acaso a liberdade é mais bem servida por quem se serve dela, não para defender, mas para ignorar ou contestar a Lei e a Ordem - e não por via democrática, mas na rua, querendo impor pela força a todos os outros os seus modos de vista, sem hesitar no uso da força contra a polícia??? E que dizer dos "activistas", "populistas", etc. que fazem uma autêntica lavagem ao cérebro dos mais jovens e exploram sentimentos de culpa sem qualquer justificação, manipulando as populações mais vulneráveis para imporem as suas ideologias e subverterem, precisamente, o Estado de Direito que nos protege a todos, e favorecerem aqueles que pelas suas acções e inconsciência têm comportamentos criminosos, limitam ou destroem a liberdade dos outros - e ficam impunes???       Y H W H > Antes pelo contrário: De modo algum é possível reduzir à meritocracia as implicações implícitas em «"Les distinctions sociales ne peuvent être fondées que sur l'utilité commune."»          Antes pelo contrário > Y H W H: Não pode é ser reduzido a outra coisa!!! Além de ser necessário conhecer bem o francês da época para entender a formulação dessa frase, é necessário entender o contexto. Trata-se da recusa das distinções pelo nascimento ou pelo sangue, que eram a base do "Ancien Régime", e são substituídas pela utilidade, ou seja, o valor ou o mérito que é reconhecido pela sociedade a qualquer indivíduo. Não se trata da sociedade sem classes. Trata-se da sociedade com mobilidade social...! Não é dito que as distinções sociais servem a utilidade comum, mas sim que só se podem basear nela.         Maria Nunes: Excelente crónica onde HM chama a atenção para um assunto que o governo não valoriza. Mas hoje em dia o que é importante é dar voz aos Mamadous e construir estórias da carochinha na comunicação social. Comunicação social essa que desvaloriza o trabalho da polícia, principalmente nas zonas periféricas das grandes cidades. Assim, não me admira haver poucas pessoas a candidatarem-se às forças de segurança. É evidente que há violência policial, que tem de ser reprimida, mas a tensão e as situações de risco, que os polícias enfrentam têm que ser tidas em conta…………. Zacarias Bidon > Luís Soares Ribeiro: O gajo foi detido porquê? O SEF não detém pessoas à toa. É óbvio que a comunicação social e a Associação de Ucranianos de Portugal andam a esconder informação relevante. A velhacaria é, em primeiro lugar, da parte do ucraniano, depois, da parte da comunicação social e da associação de ucranianos e só por último da parte dos inspectores. Eu dou o benefício da dúvida aos inspectores do SEF. Força, SEF! Força PSP e forças de segurança em geral! Os patriotas portugueses estão convosco.      Paulo Cardoso: Helena Matos, mais uma vez, correctíssima!!! No entanto, uma pequena ressalva: Quando se refere a um vídeo onde se vê um homem (uma vez mais correctíssima, homem é o termo certo) a ser agredido por 3 polícias, não devia ser tão sucinta. Ao ser exposto desta forma, as mentes mais condicionadas e menos curiosas, poderão associar a agressão ao significado de ataque/assalto gratuito, ainda por cima quando se limitam a ver um excerto de 20s, cirurgicamente escolhidos, de um vídeo que tem um tempo total de 7m19s. Pois eu dei-me ao cuidado de ver o vídeo na totalidade e não vi qualquer agressão gratuita. O que vi, durante o 1.º minuto do vídeo, foi 3 polícias a tentarem deter civilizadamente um cidadão que insistia em fugir para dentro de um imóvel, agarrado que nem uma lapa à porta da entrada, tentando fechar-se no seu interior. Quando por fim a consegue fechar, há um momento de maior tensão onde, num total de uns 20s intercalados, são-lhes distribuídos uns sopapos, enquanto os polícias continuam a tentar deter o homem e, em simultâneo, tentam impedir a entrada de amigos do mesmo (que mais tarde se percebe serem cerca de 10). Resumindo. No vídeo não se vê um homem a ser agredido de forma gratuita. O vídeo mostra um homem a resistir a uma ordem de detenção civilizada da autoridade que, na sequência da referida resistência, se vê obrigada a uma intervenção mais musculada. A quem pretende viver num estado de direito e seguro, não chocará esta intervenção da polícia. A outras, menos atentas, tem de ser bem explicada.     bento guerra: O que está a acontecer em França é perigoso. A comunicação social, mesmo a paga pelos contribuintes, exerce "bullying" sobre as polícias, através de imagens, que manipula, sempre que há oportunidade. Depois, nas manifestações "pacíficas" aparecem os "black block" que partem montras e incendeiam carros, mas nada a fazer, dentro da esquizofrenia social. Aqui acontece algo semelhante, à escala periférica. Ainda não vi explicado por que o ucraniano, morto pelo SEF, despertou tamanho ódio. Problemas de tradução? Corroer a autoridade, é um dos objectivos.         Faisal Al Meida: Mais uma Helana Matos à altura, mais um agradecimento meu e, daqui a nada, mais um chorrilho de disparates dos Zé Marias, Carminda de-appelidos-comm-váriass-conssoantes e outros comediantes habituais. Obrigado a todos. Já somos como uma família, não acham? Não nos podemos vir a admirar quando mais cedo do que tarde aparecer alguém - a quem será imediatamente colado o rótulo de populista, se se quiser ser simpático - e com um murro na mesa se propuser pôr este circo todo na ordem. Levará muita e entusiástica gente consigo, tal como aconteceu vezes sem conta na História. E quando tal acontecer só nos podemos queixar de nós próprios, que não nos governamos nem nos deixamos governar. Se há uma má imagem generalizada da policia a responsabilidade é, apenas e só da própria polícia!    Carlos Quartel: Assunto para aprofundamento, penso. Há que ver de onde viemos, com o Cap Maltez e o seu bando a desancar forte e feio, a pide a bufaria sufocando jornais e jornalistas. Muito do actual poder vem dessa gente violentada e nunca ultrapassou o ódio e a desconfiança nas polícias. Houve mesmo um ministro das polícias, Costa de seu nome, que declarou "esta não é a minha polícia". Quanto a jornais e jornalistas, os mais velhos lembram-se do lápis azul, da necessidade de lamber as botas ao censores e lembram-se também das reportagens impedidos de fazer sobre os vários Maios, durante toda uma vida. Juntemos uma dose de marxismo e está o cozinhado pronto para diabolizar polícias. A imigração em massa e a marginalidade aproveitam a maré, pondo achas na fogueira. Voltando à Terra, a carreira é fraca, o ordenado impróprio, sem horário, arriscando uma pedrada ou um tiro, com uma imprensa hostil, com a opinião pública pronta a esquartejá-lo, só como último refúgio. Adelino Lopes: Minha definição de populismo? Quando um político se coloca do lado (defendendo-os) da maioria dos votos. Quem fica do outro lado? Os isolados: professores, polícias, patrões, árbitros, juízes, etc, etc. Só existe falta de polícias? E de professores? E acrescento. Os que lá forem ter serão os piores dos piores. Nunca poderemos esquecer a realidade. No que à polícia diz respeito, nunca poderemos esquecer a realidade das cidades que fazem parte da lista das “50 cidades mais perigosas do mundo” da ONU. Por cá, para olharmos para as 207 vagas, para além das acções políticas, temos de juntar algumas decisões dos tribunais. Sou sincero, tenho muito medo da pistola dos polícias porque muitos deles nunca deveriam ter sido aceites como polícias. Mas terei muito mais medo quando os polícias forem proibidos de trazerem a pistola.

…………..

Espertezas no equilibrismo


Um texto de António Barreto que mereceu críticas gerais, como, de resto, vem sucedendo a quem o conhece melhor. Sim, as vacinas, as descobertas científicas, o que favorece o espírito humano, para defesa da saúde do homem… António Barreto fica feliz com essa eficiência e rapidez na descoberta, pondo a nu, como é seu lema, outros valores, para além da inteligência e da solidariedade, favorecedores dessa rapidez, alguns mais do foro interesseiro, que ele alinha com o costumado êxito discursivo, a mostrar vaidosamente saber e argúcia próprios, mas desta vez sem zanga. Mas a recente derrota de Trump deixa-o igualmente feliz, autêntica vacina contra o seu vírus anti trumpista. E vá de o escarrapachar no seu texto de felicitações, reconciliado com a vida e com os homens. Não, também não gostei.

OPINIÃO:     O melhor também é possível

O que uns milhares de cientistas fizeram, em menos de doze meses, sob enorme pressão humanitária, merece o aplauso universal e é credor de admiração sem reservas.

ANTÓNIO BARRETO        PÚBLICO, 28 de Novembro de 2020

Por entre desastres e ameaças, os últimos tempos também nos trouxeram boas notícias. A derrota de Donald Trump e a vitória de Joe Biden estão nesse número. Assim como as primeiras vacinas contra o vírus covid-19.

Os cientistas e a sua investigação acabam de prestar inesquecível serviço à humanidade. Raramente ou nunca os esforços dos profissionais e dos laboratórios chegaram tão depressa a resultados tão promissores. Sabe-se que há concorrência excessiva, com propaganda e mentira à mistura. Sabe-se que há muito dinheiro em causa e que, com a competição descomunal, se perdem meios e recursos. Que há quem exagere na demonstração de bons resultados e quem esconda as insuficiências. Que as vacinas estarão prontas para uns, mas não para todos. Que os que têm mais poder, mais dinheiro, mais reputação e a nacionalidade certa terão vacinas mais rápidas e mais eficazes do que os outros. Que há quem, pessoa, governo, empresa ou Estado, use as vacinas para obter vantagens económicas, comerciais ou políticas, legítimas ou não. Sabemos isso tudo.

Também sabemos que, para certas doenças, não se encontram facilmente vacina e tratamento. E quando ambos existem, nem sempre estão acessíveis. Sabemos que doença de pobre não tem vacina fácil nem cura pronta. Como sabemos que doença de todos ou de país rico depressa tem tratamento e vacina. E não ignoramos que, por vezes, mesmo quando há vacina, tratamento e cura, não chegam sempre a todos e a tempo. Tudo isso e muito mais não impede que o que se está a conseguir, neste ano de triste memória, é motivo de regozijo e encanto. E admiração.

Dá alegria viver com a certeza de que, em certas circunstâncias e sob determinadas condições, as capacidades técnicas e científicas estão de tal modo desenvolvidas que nos é possível ter confiança na humanidade. Habituámo-nos às missões espaciais que exigem uma precisão e uma coordenação inacreditáveis e consideramos que são banais, que qualquer um pode chegar lá. A ponto de pensarmos que a ciência e a técnica são coisas de todos, banais. É com facilidade que julgamos que uma peça musical barroca, uma escultura gótica, um belo romance ou um grande filme contemporâneo são o supra sumo da criação e da inteligência, enquanto admitimos que qualquer dispositivo técnico ou um adiantamento da ciência fazem parte da rotina. De um cientista ou de um engenheiro, rapidamente diremos que “não faz mais do que as suas obrigações”, mas de um poeta ou de um pintor, não hesitamos em classificar de genial a sua obra. E assim não deveria ser.

O que uns milhares de cientistas fizeram, em menos de doze meses, sob enorme pressão humanitária, merece o aplauso universal e é credor de admiração sem reservas. E deixa-nos uma réstia de esperança, a certeza de que o espírito humano, a organização científica e o esforço dos profissionais são capazes de feitos memoráveis. São equipas e organizações como estas, em vários países, em muitas universidades, em diversos laboratórios e em diferentes empresas que nos reconciliam com o tempo presente. Não conhecemos ainda as consequências e a eficácia de tais vacinas. Nem percebemos os êxitos obtidos nas áreas do tratamento e da cura. Mas sabemos já que um grande empenho científico, sem entraves artificiais, com nenhumas ou poucas distorções políticas, produz obra de que a humanidade se pode orgulhar.

Notícias boas também as que chegam da América. Eleições muito renhidas deram uma vitória clara a Joe Biden, um sensato e cinzento democrata, contra Donald Trump, uma das maiores ameaças contra as liberdades e o equilíbrio das nações. Não foi vitória simples nem folgada. Para surpresa de muitos, os resultados eleitorais do Presidente Trump foram muito altos para uma presidência tão contestada. A verdade é que foi a democracia que impediu os riscos que a democracia corria. Como é sabido, também os sistemas democráticos podem destruir as democracias e as liberdades. Uma decisão democrática não é necessariamente justa, solidária e livre. Como se sabe hoje, as democracias “caem por dentro”, quantas vezes através de processos democráticos. Como se vê hoje na Europa, na América Latina, em África e na Ásia.

Há vinte anos que a democracia conhece um processo de inversão ou de captura. Há duas décadas que forças radicais ameaçam eleitoralmente as democracias, conquistam posições nos parlamentos e até tomam conta de governos. Na América Latina, graças a eleições com demagogia e populismo, os maiores e mais ricos países daquele continente têm hoje democracias frágeis ou fictícias. Em África, quase todas as experiências auspiciosas de poder democrático fizeram uma reversão, retomando estruturas de poder violentas, procedimentos contestáveis e governos de absoluta hipoteca partidária, militar e tribal. Na Ásia, enquanto alguns países nem sequer ergueram estruturas aparentes de democracia, a maior parte recorre a esses procedimentos e na verdade os governos estão cada vez mais prisioneiros de famílias, empresas e partidos. Na Europa, países de antiga e sólida democracia vêem crescer movimentos e partidos não democráticos e antidemocráticos, radicais de direita ou de esquerda, enquanto países de novas e recentes democracias dão já sinais inequívocos de quererem, com apoio do eleitorado, aprisionar e manipular a democracia.

A democracia também é o regime dos não democratas. E dos antidemocratas. É a sua força. E a sua fraqueza. Dentro da democracia, está o seu próprio veneno, a sua morte. Mas também está o seu remédio. A sua salvação

Estes têm sido anos de dificuldade democrática excepcional. E os democratas nem sempre parecem ter percebido ou terem meios de obstar, por vias democráticas, ao declínio da democracia. Donald Trump e os Republicanos causaram danos à democracia americana e ao mundo ocidental cujas consequências não conhecemos ainda. Felizmente que os eleitores americanos, isto é, um pouco mais de metade deles, reagiram, reduzindo assim a quatro anos pretéritos o período de verdadeira violação da democracia que se anunciava para durar muito mais. Os eleitores americanos acudiram a tempo, por pequena margem, acrescente-se, mas por vias democráticas. A mensagem enviada ao resto do mundo é clara: é possível que a América e os americanos não embarquem em períodos de democracia alucinada, quem sabe se iliberal e caprichosa. É possível, dentro da própria América, encontrar forças de resistência a todas as tentativas demagógicas que proliferam por esse mundo.

A democracia também é o regime dos não democratas. E dos antidemocratas. É a sua força. E a sua fraqueza. Dentro da democracia, está o seu próprio veneno, a sua morte. Mas também está o seu remédio. A sua salvação.

Sociólogo

TÓPICOS:    OPINIÃO  COVID-19  VACINAS  INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA  DEMOCRACIA  ELEIÇÕES EUA 2020  JOE BIDEN

COMENTÁRIOS

Por bom caminho e segue INICIANTE: Não se entende este azedume em relação ao que Barreto escreve se não se perceber primeiro que se origina em rancor partidário, ignorância ou pura estupidez, características demasiado frequentes do povo português. 28.11.2020  Fowler Fowler INICIANTE: Este optimismo não é inocente! Na verdade, à segunda-feira, todos acertam no totobola! Foi preciso o democrata, o “cinzento” Biden, ganhar as eleições nos USA para AB começar, pela 1ª vez, a qualificar o Trumpismo. Antes disso, e depois disso, este liberal de pacotilha resume a democracia apenas a um consenso de regras simples, uma pessoa um voto e todos se podem candidatar a eleições, esquecendo, deliberadamente, que a democracia é muito mais que isso.

Raquel Sousa INICIANTE: e qual seria a equivalência aqui no Putregal senhor Barreto depois de ter possibilitado a venda do Alentejo aos espanhóis logo a seguir a defender o Alqueva? Aqui deixam-se entrar os pais dos mexicanos só porque são mais ricos e assim não fecharam as fronteiras no covid, pois não podiam- tem negócios chorudos do lado de áa....Ou talvez as negociatas que agora foram pela primeira vez proibidas pelo BE, PCP e PSD, do PS o seu partido senhor Barreto? Ou as anteriores todas , e mais uma vez a Tap? Porque não podemos ser um pais sem uma frota nossa perdulária, dado os ministros voarem e não na easy jet como o comum dos mortais e vá lá que á é uma sorte? Ou vender a plataforma continental aos chineses como O costa prepara há anos senhor Barreto? Bloco central em queda nos 2 lados isso for sure.       Responder Qualquer coisa EXPERIENTE: Haja esperança! Claro que mensagem de glória a nós próprios por termos inventado a vacina rapidamente é desmontada em copos sucessivamente menos cheios, porque isso é que dá negócio para os media. Eu sou dos que acha do feito, um autêntico milagre civilizacional. Se todos nós tentássemos viver mais os que nos une do que o contrário seríamos mais felizes. Já agora alguma vez se sentiu feliz a queixar se do mundo? Sorria, é de borla.        Pirandello INICIANTE: Que muitos o leiam e bem entranhem as suas palavras. Sobretudo, as abundantes personalidades Portuguesas que não se acanham em admitir que de Matemática e Física pouco percebem, mas às quais jamais poderíamos fazer a desfeita de os dizer ignorantes de Séneca ou Baudelaire. A estes junta-se um rol de pais que se perguntam por que razão devem os filhos ter boas notas em Ciências se vão seguir carreiras em Marketing ou Direito...      Jonas Almeida MODERADOR: Estou em crer que a Democracia - a da Demos, não a do clientelismo partidocrático ou a de aldrabices "sem alternativa" - é a grande pela qual lutará o cidadão este século.      Roberto34 MODERADOR: A luta pela Democracia já dura há muito tempo não é deste século. Foi essa luta que originou a UE por exemplo, uma união de Democracias Europeias prósperas.

domingo, 29 de novembro de 2020

As formas de tratamento

 

Mas isso não se passa cá, foi lá fora que sucedeu, nós, é mais as sopas e o repouso. Tudo quanto cheire a dogma, torna-se, de resto, demasiado drástico, nesta fugacidade do tempo sobre as coisas. E ainda bem que nem mesmo o Maomé conseguiu fazer deslocar a montanha. Era demasiado transtorno, teve ele mesmo que lá ir. Nem os nossos maomezinhos estariam para aí virados, apesar das suas vozes épicas. No fundo, o que eles querem é o mesmo que os outros, acho eu. Mas, de facto, nunca se sabe, o Dr. Salles tem mais experiência e saber, talvez tenha razão em se preocupar com essa coisa da fé.

 

«FASTEN SEAT BELTS»

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO28.11.20

ou

AS MARAVILHAS DA FÉ

Sim, Caro Leitor, este é um texto polémico e por isso começo por lhe sugerir que aperte o cinto de segurança. É que, pese embora eu achar que a fé não se discute, não me sinto obrigado a nem sequer referir esse tipo de matérias. Cito-as acriticamente e cada Leitor que se dedique à adivinhação sobre o que penso.

E se a maior parte das vezes que se cita a fé se esteja a tratar de temas religiosos, aparecem também outras ocasiões em que podemos citar dogmas laicos.

Num calendário coincidente com a realização do Congresso dos comunistas leninistas stalinistas portugueses, os dogmas laicos jorram por tudo quanto é sítio do Pavilhão Paz e Amizade de Loures e basta escolher…

Então, começo logo pelo nome do próprio pavilhão em que se realiza o Congresso, o da paz e amizade, quando é sabido que o comunismo é militarista, expansionista, unicitário e, portanto, monolítico e, bem pior, taliónico. Ou seja, o comunismo é autista e só cultiva a paz e a amizade consigo próprio. À semelhança do islamismo cujo primeiro grande dogma consiste na atribuição a Maomé da autoria do Corão apesar de se saber que o Profeta não lia nem escrevia. Mas os dogmas são assim mesmo, não se discutem e são apenas para quem neles crê.

A semelhança que existe entre o comunismo e o islamismo é o tratamento dado aos não comunistas e aos infiéis: o fuzilamento e a decapitação. A paz com os decapitados e a amizade com os fuzilados.

E se quanto a semelhanças entre estes «benignos» me fico por aqui, o marxismo tem outras facetas que me levam ao espanto por ainda haver quem, nestas primeiras décadas do séc. XXI, nele veja um caminho para o bem comum.

Que bem comum é possível num cenário em que a uma classe social é atribuído o monopólio das decisões com prejuízo total das demais classes?

Que bem comum é possível quando o conceito de democracia consiste no nivelamento por baixo pelo despojamento de todo o conforto individual?

Que bem comum é possível quando a diabolização do lucro conduz inevitavelmente ao aniquilamento do investimento?

Que bem comum é possível quando a iniciativa individual é esmagada pelo planeamento central?

Que bem comum é possível prometer quando o determinismo histórico falhou clamorosamente em 1989 pela queda do muro de Berlim e pelo desmoronamento da URSS?

Pois é Caro Leitor, vejo-me obrigado a reconhecer que já escrevi textos mais imparciais e acríticos.

Mas com tanto dogmático por aí além a apregoar loas, também eu me sinto no direito de afirmar um dogma: este é um texto imparcial e… adogmático!

Apesar da minha «imparcialidade», o melhor é mantermos os cintos de segurança apertados não vá aparecer alguma verdade jorrada lá do pavilhão de Loures e nos magoarmos caindo de espanto.

Novembro de 2020         Henrique Salles da Fonseca

Tags: "política portuguesa"

COMENTÁRIOS

Adriano Lima 28.11.2020: A sobrevivência entre os portugueses do seu partido comunista é um caso curioso e costuma suscitar reflexões. Mas actualmente creio que o PCP é mais um folclore que uma realidade sociológica a sério. Não creio que esteja muito longe a sua extinção, face ao emergir de outras tendências e algumas pouco recomendáveis e, porventura, mais perigosas na actualidade do que o PCP.

Anónimo 29.11.2020:  excelente. Luís Soares de Oliveira

Francisco G. de Amorim: 29.11.2020: Da extrema esquerda tudo se pode esperar, sobretudo NADA de positivo. É uma espécie de movimento, que se movimenta demais, sempre num espírito de negação sistemática a um avanço em prol da melhoria da humanidade. Não é nem utopia. É só uma doença que pode transformar-se em algo que só quer destruir.

Anónimo 29.11.2020: Caro Henrique, segui o avisado alerta teu e tenho permanecido com o cinto de segurança apertado. Terminado o Congresso há pouco, sem que eu tenha caído de espanto, resolvi libertar-me do cinto e enviar-te umas palavras, a título de comentário, evitando repetir o que já tiveste a gentileza de publicar em momentos recentes quando o tema do comunismo e do PCP foi também tratado. Sobre o PCP, tenho dúvidas que possa evoluir da sua posição habitual nos próximos tempos, até porque acaba de receber uma importante garrafa de oxigénio, aquando da discussão do OE/21. No momento em que o meu colega de ano do curso universitário, Carlos Carvalhas, deixa o Comité Central, a seu pedido, segundo as notícias, expresso a opinião que ele deve ter dado um contributo decisivo, como secretário-geral (1992-2004), para que o PCP não se tivesse eclipsado, como aconteceu a tantos partidos comunistas, por essas alturas. Pelas notícias não me pareceu que as correntes (suspeito que as há) de geringonça e não geringonça (seja ela plena ou coxa) se tenham confrontado. Foi pena… Quanto ao título ou subtítulo do teu post – “As maravilhas da Fé” – nada mais apropriado do que saber o que um dos maiores historiadores ingleses do século XX, homem de ciência, com reputação mundial, marxista, anti estalinista, membro do PC Britânico até ao fim da sua vida, em 2012, tem a dizer. Refiro-me a Eric Hobsbawn, com abundante bibliografia publicada em Portugal. Vou recorrer-me ao seu livro “A Era dos Extremos 1914-1991” (pág. 483). “Foi bastante superficial o domínio do comunismo sobre a enorme área que conquistou mais rapidamente do que qualquer outra ideologia desde o islamismo no seu primeiro século. Embora uma versão simplificada do marxismo-leninismo se tornasse a ortodoxia dogmática (secular) (…) desapareceu de um dia para o outro com os regimes políticos que impôs”. E porquê? O comunismo não se baseava na conversão de massas, mas era uma fé de quadros ou (nos termos de Lenine) “vanguardas”. E esclarece: “Por outro lado, todos os partidos comunistas governantes eram, por opção e definição, elites de minorias. A aceitação do comunismo pelas “massas” dependia não das convicções ideológicas ou outras semelhantes, mas de como julgavam o que a vida sob os regimes comunistas fazia por elas, e de como comparavam a sua situação com a de outros. Assim que deixou de ser possível isolar essas populações do contacto e do conhecimento com outros países, os seus julgamentos foram cépticos. Também aqui o comunismo era uma fé instrumental: o presente só tinha valor como meio de alcançar um futuro indefinido”. E acrescenta: “Os próprios quadros de partidos comunistas começaram a concentrar-se nas satisfações comuns da vida assim que o objectivo milenar de salvação terrestre, ao qual dedicaram as suas vidas, passou para um futuro indefinido”. E resume: “Em suma, pela natureza da sua ideologia, o comunismo pedia para ser julgado pelo sucesso e não tinha protecção contra o fracasso”. Henrique, desta vez não termino, como habitualmente, com um abraço. Aprendi ontem num livro que o tinha desde 1996, mas só agora o estou a ler, numa luxuosa edição da Mobil (onde ela já vai), de autoria de José Hermano Saraiva e intitulado “Os últimos 100 anos”, que a expressão que dá nome ao teu blog, e com que os ofícios das entidades públicas terminavam no tempo do Estado Novo, foi antecedida por uma outra, no tempo da 1ª República. E é com essa que me despeço: Saúde e fraternidade. Carlos Traguelho