Que provocaram reacções de simpatia e adesão na maioria dos seus comentadores. Breves arrebites de esperança, certamente, num país acomodado por excelência. Maria João Avillez teve esse condão de, com os seus arrebatamentos e ironias bem sugestivas, conseguir um levantamento quase unânime de protestos de adesão a uma boa causa, recordando o antigamente... Tempestade num copo de água, é claro, nem Maria João Avillez é do jeito de uma Catarina Eufêmia, inspiradora essa, de entendimentos mais consensuais, porque menos punhos de renda, à maneira de uma esquerda amante dos pobrezinhos. Nós, os da direita fascista, preferimos chorar as nossas mágoas, ao jeito da Marquesa de Alorna, em tempos passados, é certo que por motivos diferentes… E continuaremos a contentar-nos, sem fazer ondas.
Eu cantarei
um dia da tristeza
por uns termos tão ternos e saudosos,
que deixem aos alegres invejosos
de chorarem o mal que lhes não pesa.
Abrandarei das penhas a dureza,
exalando suspiros tão queixosos,
que jamais os rochedos cavernosos
os repitam da mesma natureza.
Serras, penhascos, troncos, arvoredos,
ave, ponte, montanha, flor, corrente,
comigo hão-de chorar de amor enredos.
Mas ah! que adoro uma alma que não sente!
Guarda, Amor, os teus pérfidos segredos,
que eu derramo os meus ais inutilmente. (Marquesa de Alorna)
Perguntas com importância /premium
A vida continua. Para os signatários é
que pode vir a correr menos bem se um dia tiverem que tocar a campainha da
esquerda. Ou sem abrigo, nalguma “terra de ninguém”
MARIA JOÃO AVILLEZ OBSERVADOR, 18 nov 2020
1Aqui
há muitos anos, num programa semanal de entrevistas que então tinha na SIC, ouvi
o meu convidado desse domingo dizer que “os Açores eram o sítio mais bonito de
Portugal”. Ainda pensei uns segundos se era ou não, e evoquei o Douro,
sugerindo um ex aequo entre ambos, mas Carlos César, que então governava o arquipélago, tinha razão: concordei
em absoluto, os Açores eram o nosso melhor. E no fundo eu sabia-o, há décadas que uma ou duas
vezes por ano era – e é – nosso poiso obrigatório, por vezes com aluguer de
casa e tudo. Conheço (quase) bem as ilhas, interesso-me pelo que lá se passa,
acompanho as governações, entrevistei João Bosco Mota Amaral,
Vitor Cruz, Carlos César, Vasco Cordeiro. E
ao contrário da dupla César/Cordeiro – um na sombra, outro ao sol – nunca
acreditei que das recentes eleições saísse a maioria absoluta de que não só
estavam certos, como estavam certos por se acharem os proprietários naturais
das nove ilhas.
Mas
não é preciso ter casa alugada nas ilhas para saber as coisas. Ou querer
sabê-las (para além do “rendimento social de inserção” assegurado na freguesia
de Rabo de Peixe). E por isso fui estranhando sempre a falta de informação
real, concreta, que me chegava através da media continental que para lá fora
cobrir a campanha eleitoral. O que houve foi o tratamento de
grande vitória garantida ao PS e seus responsáveis, a subalternização do líder
do PSD, uma curiosidade desinteressada pelos restantes, a obsessão com o Chega.
Num cenário quase sempre marcado pela escassa ou pouca informação sobre a vida
política, social, económica dos Açores e das suas populações. Alguém referiu – por exemplo – com a ênfase
necessária que a dívida pública experimentou uma evolução telúrica – 248
milhões de euros em 2000 e 2298 milhões de euros em 2020 (avaliação referente
ao segundo trimestre deste ano)? A seguir, estranhei ainda mais os “days-after”. Onde esteve a procura da razão do resultado eleitoral
da governação socialista? Que argumentos ou números nos mostraram que a
contextualizassem? Quem se ocupou em analisar a partilha de responsabilidades
políticas entre o Presidente do Governo Regional, Vasco Cordeiro, e Francisco
César, actual líder parlamentar do PS e, no caso, director da campanha
socialista nestas eleições?
Mais estranho ainda – as últimas
estranhezas serão as primeiras – é a não indigitação de Vasco Cordeiro pelo
Ministro da República: porquê? Não
venceu ele a corrida? Não manda a Constituição que os que ganham sejam
indigitados, formem governo e o levem ao parlamento? Então? Vasco Cordeiro não
conseguiu formar governo? Não quis? Ou trocou o que acha ser um futuro político
certo por um presente que seria obviamente incerto porque obrigado a uma
coligação indesejada? Ou Lisboa… não deixou? E qual o
papel de Marcelo nisto tudo? Que
conversas tiveram e que combinações fizeram os que mandam no continente e nas
ilhas? Em resumo: que se passou de tão subitamente diferente por aquele oceano
e à revelia da Constituição? Desculpe o leitor tanta pergunta, mas
mais opaco que isto não há. E no entanto… que eu saiba ou tenha visto alguém se
ocupou da estranheza? E porquê? Ah, porque havia agenda mais premente e era aí
que eu queria chegar hoje. A esse premente – deprimente: há quantas semanas nos bombardeiam, sarrazinam,
atordoam e maçam com o Chega? Sem alcançar que ele agradece e talvez até se
comova (ou mesmo contrate quem assim lhe dá votos de borla).
Não
deixa alias de ser um caso de estudo – sociológico mas também político e com
isto exibindo onde desceu a política e a media – que em jornais e
écrans se opte editorialmente por deitar ácido sulfúrico sobre um partido com
UM deputado UM – em vez de reflectir sobre a dimensão política e alcance
eleitoral dessa opção: por
este andar, um dia, o nosso actualmente desgraçado e mal entregue país acorda
com Ventura a liderar o segundo ou terceiro partido nacional sem quase nada ter
feito para isso. Por agora Ventura é o totobola que saiu ao PS: o mediático e
incendiário alarido criado intencionalmente à sua volta permite tudo ao
governo, das suas erráticas decisões e atrasadas medidas sanitárias aos abusos
de poder do seu poder em queda. Mas daqui a uns meses, largos ou menos largos,
já outro galo poderá cantar: Ventura, que cantará de galo (mais deprimente não
há).
2Uma
novidade, pertenço a direita com apelido: incivilizada. Um grupo pouco
inspirado de gente (da civilizada) escolheu esta altura para redigir uma carta
à incivilizada. Já nem falo da redacção sem propósito definidor ou em missiva
tão esponjosa e sonsosa (de sonso). Também não evoco a particular
dificuldade do momento – todos os
dias empobrecemos, o país está sem economia, sem saúde, sem meios, futuro e sem
timoneiros para cada um desses “sem” – que exigiria energia,
responsabilidade e projecto. Falo que foi
agora, quando o poder socialista se esboroa e o governo se desnorteia, agora
que a centro e a direita tiveram uma vitória que tardava e estão em condições
de arquitectar outras, agora que os sinais de outro ciclo político se começam a
somar, agora é que ocorreu a uns escribas de redacção atrapalhadiça, nos
mostrarem duas coisas de que aliás suspeitávamos: ficam sem oxigénio se a esquerda
não lhes der direito de cidade, de preferência amando-os e jantando fora com
eles; que as suas convicções de “direita civilizada” passaram para décimo plano
face à vital – mas oh quão eloquente – necessidade de ajustar contas ou com
congressos mal sucedidos, ou com chefes que os preteriu, ou com medo de
televisões que podem deixar de os convidar porque podem não ser “de confiança”
e então há que mostrar que são. E mostrar que são, é mostrar serviço; e mostrar
serviço é escrever uma carta como esta.
A direita incivilizada – segundo os respeitados padrões da esquerda – não
fará – já não fez – o menor caso de nada disto obviamente. A vida continua,
como se viu e vê. Para os signatários é que pode vir a correr menos bem, se
se virem um dia levados a tocar a campainha da esquerda. Ou sem abrigo nalguma
“terra de ninguém”. Consta ate que já há “arrependidos.” Tão pouco tempo
depois, pouca sorte a deles.
3Nunca
fui próxima de Gonçalo
Ribeiro Telles mas para
considerar (muito) alguém não é preciso ser próximo, amigo, conhecido, ou
intimo. O arquitecto Ribeiro Telles era alguém que valia a pena, como é o
caso dos visionários avant la lettre, dos que se cruzaram com a
utopia e deram corda ao aparentemente irrealizável. Sem nunca perder, norte nem valores. Encontrei-me
muito com ele nas campanhas da AD e lembro-me de um patriota, civilizado e
amável, empenhadíssimo com o seu pequeno PPM em levar –como levou – aquela
carta a Garcia. De braço dado com Sá Carneiro, Freitas do Amaral, António
Barreto, Medeiros Ferreira e Francisco Sousa Tavares. Que tempos santo Deus.
Acreditávamos. E que gente! Todos bons, todos sérios. Não precisávamos de mais.
POLÍTICA AÇORES PAÍS EXTREMA-DIREITA PARTIDO CHEGA
COMENTÁRIOS:
Alexandra Mendes: Obrigada, eu ultimamente ando completamente incivilizada, a ponto de já ter
afirmado que o PSD perdeu o meu voto, eu que sempre me mantive firme, pese
embora muitas vezes já tivesse discordado da direcção que levavam. Mas
ultimamente ninguém questiona ninguém, parece tudo amorfo, à espera que algum
milagre venha do céu. Não há aí ninguém que questione o governo ao estilo de Sá
Carneiro ou Adelino Amaro da Costa? Joao Figueiredo
> Alexandra Mendes: Eu questiono mas ninguém me
ouve, mas somos mais, andamos por aí e mais tarde ou mais cedo vamos surpreender
o pessoal ... aguardem-nos, até lá temos os esquerdoides de serviço a espumar
pela boca, vamos com calma Maria Antonieta
Barona: Grande artigo
Maria João e terminou-o com chave d’ouro! Bem haja Joaquim Moreira: Espero, sinceramente, que a
direita "incivilizada" não queira ser enganada. Pela direita
civilizada, que não é direita nem é nada! Na verdade, admito que haja
excepções, a grande maioria está só interessada, em não ter qualquer maçada.
Por isso, sabendo da pressão da esquerda, quando se vê apertada, desiste logo
ou foge em debandada. Estamos perante gente, que, dizendo-se de direita, tem os
mesmos gostos da outra seita. Que tem sobre eles uma grande vantagem, sabe como
os dominar em ambiente de vadiagem. Não é por acaso que o Bairro Alto, é, e
sempre foi, o reduto da direita civilizada e da esquerda caviar capitalizada! Por
isso, as perguntas que faz, mais do que serem importantes, são perguntas com
respostas simples e redundantes. Mas há duas que me parecem muito
relevantes: os açoreanos já correram com esta grande Famiglia de Tratantes; e
no Continente, irá acontecer o mesmo, a esta mesma Famiglia e aos tais
civilizados pedantes. Velha do Restelo: Muito bom, soube-me tão bem ler
mais este seu artigo. "Direita incivilizada", genial! Filipe
Paes de Vasconcellos: A DIREITA EM PORTUGAL: A direita
portuguesa, PSD, CDS, IL, e a grande maioria silenciosa de direita, não pode, nem
deve ser aquela direita envergonhada, tipo tio Marcelo!
A nossa direita não pode ser aquela que se preocupa mais com o que a
esquerda diz dela, e menos com o que ela diz ao País.
Como exemplo veja-se o caso dos Presidentes da República socialistas. Mário Soares nunca se envergonhou em
agradar à sua base de apoio, e mais, fez, enquanto PR, uma oposição vergonhosa
à direita que estava legitimamente no poder. Com
Sampaio, idem idem aspas aspas! Quando tivemos Cavaco
Silva, PR que fez
mais por este País que todos os outros juntos, e porque nunca se acanhou de ser
um PR de direita, foi tratado pelos socialistas e comunistas de forma
completamente miserável, e com a direita a alinhar. A direita que compare
com o actual PR. Enquanto tivermos uma
direita preocupada em demonstrar à esquerda que é democrata, quando a maioria
dessa esquerda o não é, não vamos a lado nenhum. Por
favor deixem de se agachar. E, fico-me por
aqui!
O Serrano > Filipe Paes de Vasconcellos: Muito bem Sr Filipe
Vasconcelos, é como diz, a direita é uma corja de cobardolas que têm medo de
dizer o que são, preocupam-se só com o que a esquerda pensa deles e depois há
dezenas ou centenas de milhares de portugueses que não encontram um único partido
à direita, excepção talvez ao actual CDS, que fale por eles e não se admirem
que corram para os braços do CHEGA, que ainda estou para saber que tem este
partido para ser tão perseguido a não ser o medo de todos os outros da sua
eventual estrondosa votação que receiam, eu não, não falam em acabar com
eleições, portanto não vejo motivo para tantos receios. JORGE PINTO: Excelente! Obrigado!
Pode a Autora contar com a
minha humilde assinatura num possível (desejável?) manifesto desta direita
“incivilizada”. Com toda a certeza teria sumo, abriria caminhos e acariciaria a
língua portuguesa, como é seu padrão. antonyo antonyo: Muito bom ! Subscreveria tudo . Então a carta da direita
civilizada ... manuel
soares Martins: 3 tiros na mouche : 1 - o atropelo (inexplicável?)
do ministro da República nos Açores ; 2 -o desprezo da
carta dos "nefelibatas" contra o acordo do PSD com as outras forças
políticas na mesma região; 3 - a homenagem sentida a
Gonçalo Ribeiro Teles. Nunca estive tão de acordo com a autora. Dou-lhe os
parabéns ou sou eu que estou de parabéns? Bruno Duarte: Somos coligação negativa? Será
esta a sua direita, direita por vezes sem direito? São Rio e Ventura direita? O
Chega intitula-se conservador liberal e a promoção da iniciativa privada parece
ser o seu mote - mas nada diz sobre empreendedorismo e, quando de inovação se
trata, prefere que seja o Estado a dinamizá-la à revelia do ímpeto privatizador
aplicado a todos os outros sectores... Isto é direita? Inovação mandatada pelo
Estado? Parece-me ineficaz ditadura das ideias que mais não faz que manter
aqueles cujos interesses e capacidade financeira sustentam os partidos que se
candidatam para se manter no poder. Há que bem ler - podemos estar a promover a estagnação
e não a iniciativa privada a que o capitalismo apela e tão bem funcionou com
PPC . F A: Excelente artigo. Especialmente
as dúvidas legitimas sobre a pressa em nomear para formar Governo o líder do
PSD. Não deveria o representante da República nomear o PS para formar governo? Se
não passa no Parlamento regional, caía o Governo e convidava o PSD, para formar
Governo , passava no crivo do Parlamento Governava. Assim Vasco Cordeiro pode
se candidatar a novo mandato. Penso que esta foi a razão por detrás desta
nebulosa. Uma vez mais o Presidente da República não esteve bem Joao Figueiredo > F A: Mesmo que se candidate de novo e ? ... o estrago está
feito, não volta e daí estarem amuados, zangados, frustrados, e a minha
provecta idade e esmerada educação não me permite ... Pho...Piiiii Luis Ferreira: As esquerdas é só táctica, cara de pau e falsa
moral... governar para desenvolver o país e não o tamanho dos seus bolsos,
já é pedir demais! Quanto a esta lista de direita higiénica; faz lembrar os
ratos e os sonsos. Já ninguém contava com eles de qualquer forma. Só têm o
palco que os média dependentes lhes dão, para cumprir com o papel sujo de
ataque aos seus pares, como se tivessem mais credibilidade para o fazer do que
as Catarinas e Carlos Césares deste mundo... Alberto Sérgio Sousa: Texto claro! Sem as
angustiantes hesitações daqueles que se querem aquecer mas têm medo de se
queimar... fracos esses civilizados com uma fibra apenas qb. Que recusam uma
luta de punhos erguidos... copinhos de leite, como diria o outro... Maria
Nunes: Excelente artigo.
Obrigada. bento
guerra: O Chega ajuda a
lixívia. E já tardava nos Açores. José Martins: adoro ler os seus artigos! Deixe estar que eu também
não me importo de pertencer à direita incivilizada. Pedro Campos: Excelente análise!
Manuel Ferreira: Ora bolas, afinal também sou um incivilizado de direita! Se Costa e César “concubinaram”
uma armadilha ao PSD obrigando-o a coligar-se com o Chega - original, e bem
visto - pode ser que o tiro lhes saia pela culatra. Costa, César e os seus,
estão a jogar xadrez num barco à deriva em alto mar, apanhado por uma enorme
tempestade, e quiçá, com tanto balanço, não vá o peão desgovernado comer a
rainha !Manuel
Ferreira > Manuel Ferreira: Original e bem visto a análise
da autora, como é obvio!
Cisca Impllit: Bem analisado e bem enunciado! Gavião dos Mares: Ao lê-la lembrei-me do Principe
de Salina. O seu tempo morreu!
Cisca Impllit > Gavião dos Mares: É corrente dizer-se que há mais
marés que marinheiros, mas há umas que afogam línguas tenebrosas! Manuel Vilhena: Que maravilha Maria João Avillez.
Um prazer sempre lê-la. Martelo
de Belem . Bom artigo, mete
pessoas nos lugares certos, pontos nos iii, descomplexa, revela dados e
descreve a mediocridade dos medias e da gente política. Resta pois a revolta a
quem ainda e lúcido
Nenhum comentário:
Postar um comentário