Não é exclusivo algarvio, este, aliás,
remexido e bem vistoso. Corridinho é também a dança vária e impertinente da
nossa pobre herança política, que mata os bons e esfacela o que pode, no país
pelintra, que Maria João Avillez bem define,
na sua escrita desafiante, que, também remexida e vistosa, nos deixa apenas
admiradores basbaques mas inertes.
As heranças /premium
Um orçamento não estreado mas já
esfrangalhado entre a pandemia, as exigências das esquerdas radicais e o
oportunismo político. Haverá pior? Talvez, futuro é que não.
MARIA JOÃO AVILLEZ OBSERVADOR,
25 nov 2020
1.Já
se sabe, é inescapável: Francisco Sá Carneiro será lembrado e homenageado este mês de Dezembro em
todos os tons, e sabe Deus até por aqueles que ele detestaria que o fizessem
mas a natureza humana sendo o que é, passo adiante. (E não era agora que ia
haver uma estreia absoluta de homenageantes da 25ª hora: as lágrimas de
crocodilo têm a idade do mundo e a prática da batota também). Sucede que para
lá de efemérides que por definição se circunscrevem a um momento e no dia
seguinte se diluem em nova efeméride, recordar Sá Carneiro, interessa.
Politicamente interessa mesmo muito. O que ele representou ontem e simboliza
hoje está muito para além de qualquer data por emotiva ou sentida que seja. Mas
o então líder do PSD só interessa se se perceber… por que interessa. Isto é,
que o seu exemplo nos é acessível, que o que fez politicamente é exequível, que
o seu legado é absolutamente repetível.
Em
resumo: há que herdá-lo. Só isso vale a pena. Substituindo a tentação tão portuguesmente
sebastianista de o mitificar, pelo compromisso de rentabilizar a sua herança.
Os tempos estão feios e as vontades perderam qualidade? Paciência. Há, dentro e
fora de portas o espectro da deliquescência a consumir-nos? Há. O combate é
desigual? É desigualíssimo. O que distingue porém um lutador consequente e
patriota é lutar sem cansaço segundo cada circunstância e com os instrumentos
de que dispõe à passagem de cada tormentoso cabo. Foi o que Sá Carneiro fez.
Primeiro com a improvável Ala Liberal onde expôs a agonia do regime e adubou o
chão do futuro PPD; depois com o próprio PPD, um partido que viria a ser um
cabo dos trabalhos; depois com a dificultosa AD e finalmente com o entendimento
de que governar era simplesmente servir o país. (“primeiro o
país, depois a democracia, depois o partido”)
Sá
Carneiro agiu sempre cercado. Pelos
outros e pelos seus, que quantas vezes não se encarregaram eles mesmos da
montagem do cerco — e do circo. Um agregado familiar transversal e singular
onde, desde o primeiro minuto da sua existência até ao último da vida do
próprio Sá Carneiro abundaram, como em nenhuma outra formação partidária,
querelas, amores, ódios, abandonos, intriga, discordâncias, fracturas,
rupturas, cisões. Um solitário caminho de pedras. Em cada etapa, Sá Carneiro
deixava cair o joio e utilizava o trigo para fermentar a mudança por que sempre
se bateu. Na Ala liberal, no PSD, na AD, no Governo. O modelo foi sempre
o mesmo: a substituição do então estado das coisas pela plena democracia. Desde
os anos sessenta do século passado até 1980, nunca cedeu a mudá-lo. Nunca
desistiu, nunca contemporizou, nunca se bateu por ser popular — era-o nas suas
bases e nunca temeu estar sozinho na travessia. Politicamente teve a
coragem de protagonizar como poucos o “mais vale só que mal acompanhado”.
No auge da solidão política, tinha-se a si mesmo,
enroupado na sua convicção. Horas depois de (imperturbavelmente) ter visto em
1978 a saída de dezenas de deputados da sua bancada parlamentar, disse a alguém
(que está vivo e ouviu da sua boca o extraordinário desabafo) que “nunca
estivera tão só mas nunca sentira tanto que tinha razão”.
2.Dir-me-ão
que me repito e que isto é conhecido. Será. Mas ou se sabe porque na politica
se admira alguém ou não. Ou se faz politicamente caso de uma postura, uma
conduta e das razões que a justificam, ou não vale a pena homenagens. Ou se
alcança porque é que nos grandes combates vale mais a pena por vezes ser
impopular que acarinhado ou mais convicto que estabelecido, ou o combate se
torna estéril e inútil. Admirar Francisco Sá Carneiro não é de borla. Tem o
preço da responsabilidade. E a exigência moral, cívica e política da
rentabilização da sua herança.
3.No mundo
dos vivos a coisa está pior. António
Costa publicitou quanto pôde a sua resistência – que mais parecia um
sobranceiríssimo nojo – a negociar o Orçamento de Estado com o PSD. Com a
geringonça já esgotada, restava a salvífica autorização para uma prova de
vida do PCP aos seus camaradas: uma bombada de ilusão através de
discursos confrangedores sobre felicidades que nunca existiram. De modo
que agora, com um país praticamente trancado dentro de casa e com a polícia em
cima se nos destrancarmos, teremos a excepção inimaginável de uma farta reunião
partidária: centenas de
carros na rua, aglomerados de gente, movimento, perigo de contágios numa sala
com 600 pessoas lá dentro, num pavilhão em Loures. Assistiremos impotentes e
envergonhado à esmola indecentemente concedida aos comunistas, a troco da sua
(caríssima) viabilização do Orçamento. Umas contas de resto
ainda não estreadas mas já esfrangalhadas entre as exigências da pandemia, a
prepotência das esquerdas radicais e o oportunismo político. Haverá pior? Pode
haver mas futuro é que não há. E pior herança do que deve se a política também
não.
4.Ouvimos
falar da vacina para Covid a toda hora e momento, dia e noite. Prometem-nos
tudo, datas, acesso, marcas; falam-nos em quantidades e números, quase nos
prometem o céu com a garantia da cura. Pois bem: face à desorganização e ao
caos que ocorrem a nível nacional com a trivial vacina da gripe, como querem
que acreditemos nas generosas encomendas que nos asseguram sem pestanejar que
já fizeram, estão a fazer, irão fazer, vão chegar?
ORÇAMENTO DO ESTADO ECONOMIA FRANCISCO SÁ CARNEIRO POLÍTICA
COMENTÁRIOS:
Filipe Paes de
Vasconcellos: As Elites
Portuguesas! Os Homens de
excepção só aparecem na História de um País muito de vez em quando, De 30 em 30
anos. Quando um País
tem a sorte de os encontrar deve acarinhá-los.
Não
é o caso em Portugal. Vejamos a nossa elite. Para a aprovação do Orçamento de
Estado para 2021 veja-se a fotografia da gente que nos tem (des) governado nos
últimos 5 anos. Como é que o País se pode aguentar com esta gente? Vivam o
Marcelo, o Ferro, o Costa, a Catarina/Louçã, e o Jerónimo. Que grande “sextilha
“ de gente que é a nossa elite! Estes são a nossa elite. Que miséria! Continuemos
para trás, porque alguém nos há-de dar um pão. E, mais não digo! André Ondine: Um texto assertivo e com o qual concordo totalmente. Em
relação à política nacional, esta transformou-se, desde que Costa usurpou e
assumiu o poder, num jogo. Num jogo mal jogado e em que o VAR só faz aquilo que
lhe traz popularidade. E as discussões orçamentais são leilões para ver
quem aumenta mais a despesa pública, já que o PS dá a mão a todos os que lhe
permitirem perpetuar o poder. Portugal é o tabuleiro de jogo do Habilidoso
e do seu gangue. Jogam connosco e jogam baixo. A política nacional deveria ser
comentada por Freitas Lobo, Gabriel Alves, Ribeiro Cristovão e Rui Santos, que
já estão habituados à linguagem rasteira futebolistica que o Habilidoso trouxe
para a nossa política. Mas, mesmo no futebol, quem ganha por pouco, ganha. Mesmo
que seja por poucochinho. Quando o Habilidoso deixar o governo para preparar a
sua candidatura presidencial a política portuguesa será um espaço mais bem
frequentado. Isto, claro, se o PS tiver o talento de promover gente como
Seguro, Assis ou Sousa Pinto em vez de optar pela continuação na mediocridade
com Medina, Nuno Santos (Deus nos livre) ou Catarina Mendes. Portugal, que Futuro: Julgo que Francisco Sá Carneiro merecia que este
escrito lhe fosse integralmente dedicado. Sá Carneiro foi um político único,
com um sentido de estado e de dever público, que lhe permitiu não só perceber
os problemas intrínsecos da nossa então recente democracia, mas também lutar
contra aqueles que no seu próprio partido foram incapazes de o perceber. Que a
sua alma reste em paz. Joaquim
Moreira: Para falar sobre Sá Carneiro, sinto-me
perfeitamente, à vontade! No tempo em que viveu e morreu, foi tempo da minha
mocidade. Que não a pude gozar, na plenitude, em boa verdade. Porque foi o
tempo em que servi Portugal, por força da minha idade. E nessa altura apoiava,
em virtude da minha profissão, mas também por convicção, o maior responsável,
por, em “25 de Novembro”, ter reposto, no caminho, a Revolução. Curiosamente,
ou talvez não, o dia que continua esquecido, como se também tivesse falecido.
Já sobre Sá Carneiro o que posso dizer agora, é que muitas das suas qualidades,
não foram por este PSD, postas borda-fora. Antes são uma referência, pelos que
gostam de se afirmar pela coerência! O que me leva a achar que os cartazes a lembrar
algumas frases de Francisco Sá Carneiro, criados pelo Instituto com o seu nome,
são a prova real, de que é bom ter memória em Portugal. Mas, como diz e bem,
convém não esquecer os apoiantes, de última hora, que agora dizem ser. E,
embora haja quem o queira fazer crer, não são, e não é certamente, quem, no
momento, no PSD é poder! Carlos
Almeida: Excelente crónica na linha das prosas a
que já nos habituou. Saudades do Sá Carneiro. Viva o 25 de Novembro. Sem ele
provavelmente estaríamos presos a uma ditadura comunista. Manuel Barradas: Maria João, absolutamente a propósito recordar Sá
Carneiro Manuel
Magalhães: Nunca é demais
exaltar a coragem, a dignidade e a coerência de Sá Carneiro, é importante que
não esqueçamos este exemplo que nos dias de hoje é tão raro nos políticos de
hoje... António Sennfelt: O meu único comentário de hoje:
Viva o 25 de Novembro! advoga diabo: Mesmo com tradição em
"Velhos do Restelo" e situacionistas profetas da desgraça, Portugal,
como sempre, irá superar esta crise global! Manuel Magalhães > advoga diabo: Irá superar, mas com o governo que temos, como é que
Portugal irá ficar??? bento guerra: E a Europa vai entregar a presidência de seis meses ,a
este país. Só prova que aquilo continua um faz de conta, para os media Carlos Chaves: Caríssima Maria João, obrigado por mais esta crónica. Se
não for a sua “voz” e de mais “meia dúzia”, que insistem (e muito bem) em
mostrar a decadência a todos os níveis para que estamos a resvalar com esta
esquerda extremista, parece que o resto dos nossos concidadãos até apoiam esta
corrosão da democracia e da liberdade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário