JPP, ao atacar as propostas absurdas do Chega, mas o que é paradoxal, é a manifesta simpatia
pelas esquerdas, sempre que vem a talhe de foice uma oposição incompatível com
a sua actual filiação partidária. É caso para pensar que lhe foge sempre o pé
para a chinela, de excelentes memórias… Mas não se estranhem essas traiçõezinhas
bem humanas. O “struggle for life”
tem enorme força, mesmo que, por vezes, se doure a pílula a disfarçar…
OPINIÃO: Injectar lixívia em política
Nos seus “programas activos”, o BE e o
PCP caminharam para a democracia, o Chega caminha para fora dela e a força da
sua inegável vitalidade vem daí. Os eleitores do Chega não são inocentes, sabem
muito bem em que votam e o que votam.
JOSÉ PACHECO PEREIRA PÚBLICO,
14 de Novembro de 2020
Um dos principais argumentos dos
defensores do acordo com o Chega é a similitude entre
a unidade da direita sob a direcção do PSD e os vários acordos do PS com o BE e
o PCP. Se “eles”
o podem fazer, por que é que “nós” não podemos? Sim, admitem, o Chega é
pestífero, mas não o é mais o PCP ou o BE, com quem o PS se aliou para
governar? O Chega é racista e xenófobo, e o PCP e o BE não são contra a Europa
e a NATO, e amigos dos ditadores comunistas? Por aí adiante...Esta comparação não tem qualquer fundamento
nem factual, nem social nem histórico nem de ciência política, faz parte apenas
de uma narrativa política autojustificatória para 2020. É o equivalente aos
absurdos de Trump com a hidroxicloroquina ou o injectar lixívia nas
veias para “limpar” o corpo do coronavírus.
Para nos colocarmos em 2020 e não em
1917, ou em 1933, ou em 1975, façamos uma distinção entre a tradição e o
programa genético dos partidos e aquilo que é hoje o seu “programa activo”. O
“programa activo” é o que um partido faz de facto, como actua, como recruta,
como cresce ou diminui, o que é que o torna um sucesso ou um falhanço, que
imagem tem na sociedade e junto dos seus militantes, “o que é que o faz/os faz
mexer”, ou seja, a identidade prática do partido. A tradição, a história, o
conteúdo programático original são muito relevantes e estão sempre presentes,
mas, para analisar o que é a actuação, o carácter, a “natureza” de um partido,
sem ser de forma a-histórica, ou seja, no presente, o “programa activo” é mais
relevante porque toma em linha de conta a factualidade da sua actuação.
Esta diferenciação não é nova e já foi usada para a história do PSD,
distinguindo entre o conteúdo programático e a “história não-escrita”, ou seja,
a história do partido como fonte de identidade.
Voltemos à equivalência Chega/BE ou
PCP. São o BE e o PCP partidos “revolucionários” cujo objectivo é derrubar a
democracia, substituindo-a por uma ditadura do proletariado ou um eufemismo
como a “democracia avançada”? Se tivermos em conta a tradição dos vários grupos
esquerdistas que formaram o BE e a génese e a história do PCP, a resposta é sim. Ambos têm origem na tradição comunista de raiz
marxista-leninista. Mas de há muito que quer um, quer outro têm “programas
activos” bem longe dessa tradição. Não vemos nem o PCP nem o BE preparar-se
para a revolução, inevitavelmente armada e violenta, nem a organizar um sector
militar clandestino nem a cumprir nenhuma das explícitas obrigações de um
partido comunista traduzidas nas célebres 21 condições da Internacional
Comunista. E sempre foi claro desde Lenine que estas condições são para
cumprir, sob pena de estarmos a falar de partidos que se
“social-democratizaram” ou se “aburguesaram”.
Nem o PCP nem o BE, cuja
composição agrupa várias tradições esquerdistas, do maoísmo ao trotskismo, e
que têm génese no leninismo organizacional, o fazem. E toda a panóplia de elementos complementares, seja a
abolição da propriedade, a luta de classes, o anticapitalismo, é isso mesmo, de
elementos complementares, que não são exclusivos do comunismo, mas partilhados
pelo anarquismo, pelo fascismo, pelo nacional-socialismo, pelo socialismo
radical. E só a deslocação excessiva das classificações políticas para a direita
considera que sindicatos, greves, manifestações, combate aos despedimentos ou
mesmo propostas anticapitalistas (que o PAN e a Iniciativa Liberal também
fazem) são “revolucionárias”. Pode-se
perguntar se isto acontece por oportunismo, para disfarçar a sua natureza
aceitando as regras democráticas... Se é assim, já dura há muito tempo para que
seja um disfarce. O tempo conta para o “programa activo” porque ele condiciona
hábitos, práticas organizacionais, recrutamentos, processos, culturas. E isso
muda quase tudo.
Vamos ao Chega. Como é um
partido novo, o programa e
as propostas estão ainda próximas do “programa activo”, mas existe uma
diferença de conveniência entre o discurso oficial e o discurso real, aquele
que recruta, move os militantes, dá identidade ao partido. E esse é
claramente racista, xenófobo, violador dos direitos humanos e antidemocrático.
Podem-se apontar muitos exemplos, mas, por economia de espaço, fico-me pela pedofilia,
uma das bandeiras do Chega, que levou mesmo a manifestações de rua. Corrupção
e pedofilia são um par no discurso do Chega, mas as faces que são apresentadas
nos cartazes são apenas de políticos, excluindo qualquer referência, quer a
empresários ou a banqueiros, no caso da corrupção (“Portugal é um mar de
corrupção: Duarte Lima, Vara e Sócrates”, diz um cartaz), quer a padres, no
caso da pedofilia. O Chega entende que há uma ligação entre pedofilia e
corrupção e essa ligação é o “sistema político”: “Pedofilia é igual a podridão
do sistema político”, diz um cartaz. Esta obsessão com a pedofilia e com a
castração é reveladora, porque no discurso do crime e da ordem, que é vital no
Chega, não são todos os crimes que contam. Por exemplo, a violência doméstica, que mata
muitas mulheres por ano, não é crime para o Chega. Na verdade, nem é o crime
nem a injustiça nem a pedofilia nem a corrupção que contam, mas a sua
correlação com a política democrática. A solução para o problema é simples:
“Pedófilos, castrados já”, o que podemos traduzir, sem perda de sentido, por
acabe-se, castre-se o “sistema político”, ou seja, a democracia, que produz
pedófilos e criminosos.
Nos seus “programas activos”,
o BE e o PCP caminharam para a democracia, o Chega caminha para fora dela e a
força da sua inegável vitalidade vem daí. Os eleitores do Chega não são
inocentes, sabem muito bem em que votam e o que votam. Historiador
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COMENTÁRIOS:
Mário
Areias INICIANTE: Você é completamente
ingénuo ou quer fazer de alguns de nós parvos porque, muitos já o são há muito
tempo. Mais você começou no MRPP o que prova a sua ingenuidade congénita. Assim
que o PCP ou o BE tomassem conta do país por eleições democráticas, mudavam todas
as chefias militares e para militares, acabavam com todos os sindicatos que não
estivessem alinhados com a CGTP e nas eleições seguintes nunca mais perderiam a
maioria absoluta com mínimos de 70%.Deixe-se de programas activos que é apenas
uma treta para parecer politicamente correcto e muito inteligente. Conde
do Cruzeiro INICIANTE: J.P.P. num excelente artigo,
dá uma lição de política à direita anti democrática do século passado.
Infelizmente a direita que não aprendeu como é viver em liberdade, ainda é
maioritária no nosso país. Rui Barbosa.823113 INICIANTE:
É verdade que o PCP e o
BE não põem em causa a nossa Constituição, mas explica-se pelo facto de esta
também ser a sua constituição. Foi aprovada por PCP e UDP e tem como objectivo
o caminho para uma sociedade socialista. Estranho seria se a contestassem. Também
é verdade que o PCP e BE têm tido nas últimas décadas propostas que não entram
em choque com direitos humanos e recentraram as suas opções políticas. Mas isso
também se explica pelo facto de terem sido travados no 25 de Novembro de 75 a
passagem para uma ditadura de tipo socialista. A partir daí não restou outra
opção senão entrarem no sistema democrático e moderarem as suas posições. O
populismo de direita no sec. XXI tem o mesmo ímpeto de choque e anti-sistema,
que a esquerda revolucionária tinha nos anos 60,70. O radicalismo de esquerda até aos 60s era pró soviética e
menorizava ou omitia os seus crimes (como ainda hoje faz o PCP). Quando já
eram demasiado notórios, passou a haver um novo ideal: a China de Mao e a Albânia de Hoxha ( os crimes destes regimes ainda não
eram muito conhecidos e assentavam como uma luva na lógica isolacionista e
anti-imperialista Além da defesa ou relativização do terrorismo de esquerda que na altura
surgiu. Pacheco Pereira conhece bem esta realidade, pois foi um adepto maoísta.
A derrota destes regimes e movimentos abjectos fez com que houvesse uma
moderação e evolução para as causas fracturantes actuais, que são de facto uma
posição (concorde-se ou discorde-se) que não é violadora da dignidade humana. A extrema direita actual está ainda numa fase de histrionismo um pouco
parecido ( em sentido oposto claro) á dos movimentos de contra-cultura nos anos
60,70s por parte das esquerdas de então. Defende um outro tipo de soluções abjectas e isso deve
ser igualmente condenado. Diz-se porém que não há equivalência moral entre
estes 2 tipos de radicalismo. Eu penso que há. Por
um lado a esquerda radical apresenta propostas que não aparentam dividir nem
ostracizar, mas o objectivo é mesmo esse. A direita radical faz o mesmo mas sem
o talento para não o aparentar. É comum porém sentirmos mais empatia pelas propostas do
histrionismo revolucionário do que do reaccionário. São propostas sempre
apresentadas como justas e benignas. Toda a intelectualidade as apoia em
peso. Lenine e Mao foram inspiradores para os estudantes do maio de 68. Estes clamavam uma revolução cultural com o livro vermelho na mão. A
China vivia o terror e estes iluminados reclamavam belas palavras de ordem
inspiradas no grande timoneiro. Era uma defesa de valores abjeta mas nunca o
foi considerado como tal. É sobretudo esta a vitória das
extremas esquerdas. Matam e oprimem em nome de ideais supostamente benignos e
têm uma complacência tremenda por parte de intelectuais e imprensa. Isto aliado
á forma como a direita, e já incluo a democrática, foi sempre menorizada,
cria-se um sentimento de injustiça que resvala em muito do populismo actual. José
Luís Sousa EXPERIENTE: Em primeiro lugar não sou militante,
apoiante do chega ou parecido. Agora vamos ser claros, se o bloco e o partido
comunista são burguesia deve-se apenas e só ao facto de essa ser a única forma
de chegarem ao poder. Achar que estes partidos têm como objectivo a
manutenção da democracia é de uma inocência gritante. Não é claro o
discurso sobre as atrocidades do comunismo e dos seus actores, por parte destes
partidos, exemplo: Trotsky comandante do exército vermelho, durante uma guerra
civil sanguinária. Esta situação desculpabiliza PSD? Não o creio, mas também
não desculpabiliza o PS. Vamos ver, se fundassem um partido neo-fascista e lhe
chamassem: cilindro da direita e com tempo se tornasse mais dócil; alguém iria
crer que seriam democratas de gema? Claro que não. Então porque raio....
Magritte
EXPERIENTE: Contribuição exemplar. Há poucas que tenham uma capacidade de
síntese e um poder de análise tão pertinente quanto esta. JarDiniz
EXPERIENTE: São as contradições da Democracia! Uns, maoistas,
trotskistas, leninistas, estalinistas e outros revolucionários como o JPP
(Fec-ml, OCMLP, Grito do Povo, MRPP, etc...), que também defendiam, lutavam e
agiam por ideais autoritários, "social-fascistas" e totalitários como
o autor descreve, "aburguesaram-se", "arrependeram-se" ou
"normalizaram-se com o decorrer do tempo, passado que foi o fulgor da
juventude (25 anos?). Os que agora militam nesse partido não nasceram hoje e
estavam "escondidos" noutros partidos democráticos e saíram a
terreiro e têm força porque os partidos do sistema não cumpriram a sua missão,
como o JPP costuma denunciar. Cumpre, a quem acredita que a Democracia é o
melhor sistema, não deixar que se repitam as consequências da "República de
Weimar" . ricardo111
EXPERIENTE: O Bloco é complicado já que é essencialmente a Esquerda não
corrupta da Classe Média e dos altamente educados (de notar que não digo que
educação só por si é sabedoria) com muitas mas moderadas influencias da antiga
Esquerda da revolução. O PCP é mais um partido da luta revolucionária, ainda
com os chavões e os apelos ao "operariado" fazer isto ou aquilo mas
sem aquele ódio à burguesia dos tempos antigos. O Chega é quase inteiramente um
partido da raiva, do ódio e do egoismo: a unica evolução "positiva"
que eles propõe para Portugal é eles terem a liberdade de fazerem o que
quiserem e sugarem como quiserem e que sem lixe a comunidade (i.e. os outros
todos), tudo o resto ou é fazer mal a alguem (para disfarçar chamam-lhe punir,
tal e qual como faziam os Nazis) ou é destruir, nunca construir viana
EXPERIENTE: Uma lição de Política de um dos mestres! Mas... e agora JPP,
como é que fica o seu apoio a Rui Rio?... Quando é que temos uma "mea
culpa", admitindo que estava enganado quanto ao rumo político que o PSD
tomaria com Rui Rio?... Mario
Coimbra EXPERIENTE: Se acha que Portugal está hoje melhor
devido ao BE e PC, continue a votar e a defender as suas ideias e programas.
Agora não verdade não tem que dar lições a quem não concorda consigo. Assim
como os 70 milhões que votaram no Trump não são um grupo de deploráveis, quem
vota no chega também não o é. E se não perceber isto e combater isto só está a
engrandecer o partido. E este é o perigo. A indignação da esquerda vale o que
vale. Indignação. Eu já tive a minha quando Costa alargou o arco da governação.
E tive que aguentar. É a democracia a funcionar. Agora que está feito tem que
fiscalizar, discordar ou não seguir em frente. O mal já estava a sua porta Leitor
Registado EXPERIENTE: Se injectar lixívia no corpo é muito
mau, já injectar lixívia na politica, nos politiqueiros, comentadores
profissionais e assalariados, se calhar o resultado até pode ser positivo. Pelo
menos, em minha casa limpa-se muita porcaria com lixívia! Paco
Silva INICIANTE: O Chega pegou em 3 ou 4 temas fracturantes
para a sociedade portuguesa, para transmitir uma mensagem política. Para um
partido novo, não tem sentido comunicacional ter muitas mais mensagens. E fez
bem, porque a corrupção é uma epidemia sem confinamentos, a pedofilia um crime
com uma moldura penal ultraleve e muitas vezes desculpada ou pouco penalizada.
E isso as pessoas entendem. Em paralelo, fazer melhor que a actual classe
política não é nada difícil, pelo que o Chega andará por aqui por muitos anos. ricardo111
EXPERIENTE: O Chega não faz, só acusa - não têm uma única proposta
construtiva detalhada, só querem punir os "inimigos" deles. Até o
"acabar da corrupção" deles tem zero detalhes de como o pretendem
fazer - é o equivalente a dizer que com eles Portugal passa a ter sol todos o
dia onde há gente mas chuva onde há agricultura: fantasismo hipócrita para
enganar simplórios. Jorge
Sm MODERADOR: Muito bem! P.S. De facto, só tolinhos
ingénuos é que acreditam que o combate à corrupção é uma preocupação do chega.
O chega está-se completamente nas tintas para o combate à corrupção. O chega
apenas usa a treta do "combate à corrupção" para minar o sistema,
através da propagação da ideia (obviamente falsa) de que a corrupção é
generalizada, atingindo tudo o que mexe, e de que o sistema democrático está
"podre". JPR_Kapa
EXPERIENTE: Há radicalismos que se cruzam com os do Chega, quando menos
se espera - o registo é o mesmo, só que noutro quadrante, a regressão
civilizacional que defendem é a mesma, mas aplicada a alvos diferentes,
conforme a obsessão política e as "teses" fantasistas que perseguem.
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